O EPISTOLARIO LEOPARDIANO NAS HISTÓRIAS LITERÁRIAS

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1 O EPISTOLARIO LEOPARDIANO NAS HISTÓRIAS LITERÁRIAS Anatália Corrêa da Silva (PGET/UFSC) Considerado um dos maiores escritores italianos, Leopardi é conhecido principalmente como o poeta dos Cantos. No entanto, Leopardi foi também escritor de prosa: das Operette morali, passando pelos Pensieri e o Zibaldone di pensieri, além de se dedicar à escrita epistolar. Entre 1809 e 1837, o autor dos Cantos se correspondeu com amigos, familiares, editores e literatos por meio de mais de novecentas cartas que tratam desde assuntos de caráter pessoal a questões filológicas, filosóficas e literárias. Como se sabe, Leopardi foi um escritor precoce e muito jovem sentiu necessidade de se integrar ao meio literário italiano. Por um longo tempo, a comunicação epistolar foi o meio usado pelo recanatense de se manter em contato com o mundo e participar dos acontecimentos e das discussões que permeavam o seu tempo. Em uma época em que as cartas eram um meio de comunicação comum, elas se revelam para Leopardi como uma necessidade para um relacionamento mais estreito com os seus destinatários. Tonucci (2002) em La letteratura italiana dell Ottocento salienta a importância dessa interação epistolar para o escritor italiano, pois segundo essa historiadora crivere lettere era per lui un modo di tenersi in contatto con gli altri, specialmente gli intellettuali e i letterati della sua epoca, di raccontare la sua vita interiore e i suoi progetti poetici, di coltivare amicizie, di cercare e di dare tenerezza (TONUCCI, 2002:140). Dessa forma, o objetivo deste estudo é verificar como o epistolário de Leopardi se insere em algumas histórias italianas. Francesco De Sanctis foi um dos primeiros historiadores a compreender Leopardi. Na sua Storia della letteratura italiana, publicada entre 1870 e 1872, De Sanctis considera o poeta dos Cantos o anunciador do fim do mundo teológico metafísico da literatura e o fundador da nova literatura e salienta a importância do escritor para a literatura do século XIX. Além da Storia della letteratura italiana, em Ensaios críticos, De Sanctis (1888) dedica três ensaios sobre Leopardi que são: o Epistolario de Giacomo Leopardi, Alla sua Donna: poesia de Giacomo Leopardi e Schopenhauer e Leopardi. 776

2 Mario Sansone (1960) em sua Storia della letteratura italiana dispensa um pequeno parágrafo ao Epistolario leopardiano no qual considera as mais de novecentas cartas escritas pelo recanatense como documento singular de uma anima travagliata (SANSONE, 1960:436), além de expressar os acontecimentos da vida de Leopardi. Para Sansone: L Epistolario è, dopo i Canti, l opera che esprime più pienamente la spiritualità leopardiana; in esso solo raramente appare il peso del dottrinarismo filosofico, l asperezza del sarcasmo e l amarezza acre; ma più spesso vi è il senso di quella intimità trepida e dolente, che è l accento più vero e profondo dello spirito leopardiano (SANSONE, 1960:436). Aldo Borlenghi (1990), em Storia letteraria d Italia, não aborda o epistolário como tema de argumentação, as informações das cartas são utilizadas ao longo dos capítulos para sustentar as observações sobre outras obras de Leopardi como, por exemplo, as Operette morali e a Crestonomazia. De Caprio e Giovannardi em I testi della letteratura italiana (1998) confirmam as palavras de Contini que considera o Epistolario leopardiano uma obra que está Fra i piú bei libri della letteratura italiana (CAPRIO; GIOVANNARDI, 1998:535). Para esses historiadores, as cartas do recanatense se constituem em um documento que vai além de um importante testemunho biográfico do poeta, é também prova do desenvolvimento dos seus conceitos, da sua poética, do seu estado psicológico e da sua posição política-cultural. A importância do Epistolario não se limita somente ao conteúdo, apesar de Leopardi não ter tido intenção de publicá-lo, enquadra-se em um perfetto modello di stile colloquiale, costruito con una naturalezza che ben si adegua alla profonda sincerità di quanto viene espresso (CAPRIO; GIOVANNARDI, 1998:535). Na abordagem ao epistolário, De Caprio e Giovannardi (1998) selecionam fragmentos de três cartas. O primeiro fragmento da carta de fevereiro de 1817, escrita a Giordani, é mencionada para ilustrar o forte vínculo de amizade que Leopardi começa a cultivar com o literato. Na carta, o escritor relata a origem das suas condições físicas já precárias, expõe sua triste condição de vida e, apesar das condições adversas, fala do desejo de deixar a terra natal, a pacata Recanati, em busca de um convívio intelectual mais intenso e cosmopolita. O segundo fragmento reproduz a carta escrita ao pai pela ocasião da tentativa de fuga da casa paterna. Em julho de 1819, Leopardi projeta um plano para fugir de Recanati em oposição à renúncia do pai, Monaldo, ao seu pedido de viajar para Roma. O 777

3 terceiro fragmento reproduz uma carta de 25 de novembro de 1822, na qual Leopardi, após o consentimento do pai e a partida para Roma, relata para o irmão Carlo suas primeiras impressões sobre aquela cidade, sobre os tios e a família e os intelectuais que ali viviam. Após essa pequena exposição sobre o epistolário os historiadores passam a tratar de outras obras, sendo que algumas de forma mais extensa como é o caso dos Canti e das Operette morali. Remo Ceserani e Lidia De Federicis (2004), em Il materiale e l immaginario, reservam um pequeno tópico ao Epistolario, no qual abordam superficialmente o assunto das cartas. Os historiadores atestam alguns dados das publicações da obra e ressaltam que o início da escrita epistolar nasce da necessidade de Leopardi em ter um relacionamento com outros literatos. Dessa forma, abordam as cartas leopardianas em três partes, na primeira citam alguns dos principais intelectuais que se correspondiam com Leopardi na juventude, colocando Giordani em primeiro lugar. Na segunda parte, mencionam as cartas endereçadas à mãe, aos irmãos e ao pai, principalmente a carta de julho de 1819 que registrava os motivos pelo qual Leopardi deixaria Recanati. Finalizam com a parte em que fazem um comentário sobre as cartas que o recanatense trocava com intelectuais tratando de assuntos vários, porém ressaltam que Leopardi não costumava tratar do próprio trabalho nem expor suas idéias por meio das cartas, com exceção de alguns literatos com quem falava sobre literatura, mais especialmente sobre poesia. Em sua Storia della letteratura italiana, Ugo Dotti (2007:388) considera o Epistolario leopardiano uma verdadeira história de uma alma, certamente o mais bonito de toda a história literária italiana. Considera as cartas escritas por Leopardi a Pietro Giordani na sua juventude talvez as mais bonitas de todo o epistolário, pois é por meio delas que o jovem poeta encontra o ponto de referência no grande, afetuoso, paterno amigo que lhe proporciona respostas aos seus ideais. Dotti (2007:388) evidencia como ponto mais importante dessa amizade o sentimento de liberação que Leopardi experimentava, visto que se sentia sufocado e fechado no ambiente da casa paterna e na sua cidade. A partir desse sentimento liberatório, Dotti diz que as cartas se comportam como um espelho onde Leopardi encontra a possibilidade de refletir suas próprias paixões. O primeiro reflexo das cartas é da primeira insurreição na qual o jovem procura mostrar a imagem de um grande estudioso dos clássicos e ansioso em se integrar nos acontecimentos do presente. O 778

4 segundo reflexo que as cartas apontam, segundo Dotti (2007:389), é o da rebelião da virtude que surge das desilusões sofridas por Leopardi em uma época em que o recanatense decide não viver mais em Recanati, seguido da desilusão da tentativa frustrada de deixar a cidade. A resposta a esses acontecimentos se reflete posteriormente nas cartas escritas por Leopardi, segundo o historiador, de um lado pela affermazione del nulla que é a existência e de outro pela contestação dessa afirmação que se nega enquanto se afirma e que é colocada como um problema enquanto aparece como uma certeza. Na sequência, Dotti (2007:389) afirma que o epistolário é para Leopardi mais que um instrumento de troca de informações, consolida-se como uma forma de registrar as reflexões que o jovem vinha anotando no Zibaldone di pensieri. Evidencia sobre essas reflexões a contraposição entre illusioni e realtà, tema que o recanatense desenvolve no Zibaldone e que servirá de base da poesia e das Operette morali. Outros sentimentos ainda são registrados por Leopardi nas cartas, segundo Dotti (2007:389), como o jogo dialético entre real e imaginário, ilusão e verdade, dor e prazer, que se multiplicam em uma série de pensamentos. Para finalizar o historiador ressalta que mais que a história de uma alma o epistolário leopardiano se manifesta como a história do seu pensamento. Alberto Asor Rosa (2009), em Storia europea della letteratura italiana, não aborda o Epistolario como tema de discussão. No capítulo que dedica a Leopardi as cartas leopardianas são mencionadas para traçar a biografia do autor. Cita a carta de 30 de abril de 1817 enviada a Giordani para ressaltar a amizade entre os dois literatos. Rosa disserta sobre a importância do início desta amizade e do papel que Giordani exerce na vida do escritor. O mesmo acontece para tratar do relacionamento familiar entre Monaldo, Adelaide e os irmãos Paolina e Carlo enquanto Leopardi ainda se encontra na cidade natal e depois das suas viagens pela Itália. No que concerne à vida do poeta fora de Recanati, Rosa faz uso das cartas para traçar o itinerário de Leopardi por várias cidades italianas e enfatizar a amizade de Leopardi com Antonio Ranieri. Nas histórias literárias analisadas, percebe-se que o Epistolario de Giacomo Leopardi é abordado ora com mais, ora com menos interesse pelos historiadores. É, porém, consenso entre eles a importância do epistolário para melhor compreender aspectos da vida e da obra de Leopardi. Apenas uma das histórias literárias aqui analisadas, a de 1998, chama a atenção para a importância do epistolário para além do conteúdo, reconhecendo o 779

5 seu valor também para o desenvolvimento dos conceitos e da posição política-cultural do autor. Essas explanações vão de encontro à opinião de Contini apud Diafani (2000) quando afirma que: La grandeza di uno scrittore si misura già dal suo valore com epistolografo. Quest affermazione[...] è certo vera per il nostro primo e pieno Ottocento: se di Foscolo, di Leopardi, e forse anche di Manzoni (come fuori d Italia, un po più tardi, di Flaubert) fossero rimasti solo gli epistolari, essi avrebbero già dignità di veri scrittori (CONTINI apud DIAFANI, 2000:9). Reafirmando e ampliando a questão acima, Laura Diafani (2000), no livro La stanza silenziosa : Studio sull epistolario di Leopardi, acredita que a crítica tem considerado o epistolário leopardiano como uma compilação com fim documentário, usado para nutrir as edições biográficas. Com isso, a autora propõe um estudo sobre o epistolário leopardiano com o intuito de valorizar sua autonomia como escrita expressiva e mostra que o epistolário associa alla funzione testimoniale una scrittura e una complessità di motivi che lo rendono un libro autonomo dotato di valore artistico documento umano [...] monumento stilistico di somma importanza, forse la miglior prova del Leopardi prosatore (DIAFANI, 2000:10). Diafani (2000) divide o epistolário leopardiano em 5 fases que correspondem ao desenvolvimento da vida do escritor. A primeira fase, classificada como Giochi e studi, refere-se às cartas escritas e recebidas por Leopardi entre 1810 a 1816 em um total de 32 cartas; a segunda fase classificada como Gli anni eroici abrange o período de 1817 a 1819, compila 239 cartas; a terceira fase classificada como Tra vero e illusioni, entre 1820 e 1823 acolhe um total de 333 cartas; a quarta fase, Il bisogno di sopravivere, comporta o período de 1823 a 1826, com 396 cartas e a quinta e última fase, Il risorgimento delle passioni, abrange o período de 1827 a 1837, com 969 cartas. Na primeira fase classificada por Diafani como Giochi e studi ( ), estão reunidas as cartas referentes à juventude de Leopardi endereçadas principalmente à família Monaldo, Carlo e Paolina, ao educador Sebastiano Sanchini e a Franceco Cancellieri, Alessandro Mattei, Antonio Fortunato Stella, Filippo Solari, Angelo Mai, Giuseppe Acerbi e Mariano De Romanis. As primeiras cartas desse período, segundo Diafani, se dividem em sofferte pagine di impeccabile retorica (italiana, latina, francese) e in gustose prove di estrosa comicità 780

6 (DIAFANI, 2000:17). Entre as primeiras cartas estão aquelas escritas em latim ao pai Monaldo ao qual Leopardi escreve em oferecimento como prova de agradecimento aos estudos, e a Sabastiano Sanchini, responsável pela educação dos Leopardi, como comprovação dos estudos. Além das correspondências familiares, são deste período algumas cartas que fazem referência à fase de estudos de Leopardi, época em que outras pessoas passam a fazer parte da sua vida. Algumas dessas cartas revelam o desejo do poeta de se tornar conhecido no campo literário, a sua relação com a terra natal e com seus conterrâneos. Além disso, expressam la sua nattiva ingenuità quel suo temperamento veritiero a ogni costo, confidente e magnanimo, l umiltà e la modestia che conservando gli facevano nascondere la sua vasta erudizione e l altezza dell ingegno (2005:3006). A partir de 1815, Leopardi começa a se corresponder também com intelectuais influentes no meio literário. O primeiro impulso vem do reconhecimento do filósofo Akerblad ao seu ensaio Porphyrii de vita Plotini et ordine librorum ejus Commentarius. Leopardi escreve uma carta a Carlo Antici Francesco Cancellieri em um stile signorile impeccabile e pervaso da una appena percettibile emozione, una profonda e doverosa umiltà si combina con la determinazione a prosseguire sulla strada intrapresa e ad estendere i propri orizzonti culturali (DIAFANI, 2000:24). Nessa carta a Cancellieri datada de 15 de abril de 1815, Leopardi declara que il commercio coi dotti non mi è solamente utile, ma necessario, ed io cercherò con ogni studio di profittare delle struzioni, che ne riceverò. Floresce em Leopardi um sonho de glória e consequentemente o interesse de se relacionar com os intelectuais e de se inserir nos influentes centros literários das cidades de Roma e Milão, considerados como os maiores centros culturais da época. Entre 1815 e 1816, Leopardi realiza uma grande produção literária e intelectual. As cartas que pertencem a esse período registram quase exclusivamente assuntos eruditos e literários, o que demonstra a ânsia de se inserir de forma ativa no debate cultural contemporâneo. As cartas desse período assumem um importante papel a respeito da preferência de Leopardi pelos estudos e pelos modelos literários não só dos clássicos, mas também de escritores contemporâneos. 781

7 No ano de 1816, Leopardi dá início também a discussões sobre tradução em correspondência com Francesco Cancellieri, Filippo Solari, Angelo Mai e Antonio Fortunato Stella. As considerações que Leopardi faz sobre tradução serão tratadas especificamente no terceiro capítulo deste trabalho. Diafani evidencia que o sonho de glória e as dificuldades que se somam começam a influenciar no tom das cartas de Leopardi, as palavras humildes dão lugar àquelas aflitas, de impaciência e apreensão, pela demora da publicação de suas traduções. Em parte, Leopardi acredita que o insucesso da publicação das suas traduções ocorre pelo fato de ele se encontrar muito distante dos centros da cultura italiana. Isso provoca em Leopardi o desejo de sair de Recanati, e expressa a Francesco Cancellieri as razões pelas quais acredita não ter sucesso com as suas publicações. A partir desse período, as cartas testemunham o esforço de Leopardi para se tornar conhecido e se afirmar como escritor. Diafani classifica o período entre 1817 a 1819 como Gli anni eroici, anos que se revelam como uma fase intensa de trabalho e de desejo de glória. A autora coloca em evidência, nesse período, a correspondência entre Leopardi e Giordani. Entre julho e agosto de 1817, Leopardi dá início a redação do Zibaldone. Nesse momento da vida, Leopardi sente a necessidade de possuir um interlocutor real, além dos livros. Na pequena cidade de Recanati, o epistolário assume um papel importante, se caracteriza como o único meio de comunicação e de contato com o mundo le lettere diventano per Leopardi uno spazio di libertà e di autenticità ritagliato a margine dell insodisfazione quotidiana, una rivincita su di essa, l unica possibilità di tradurre la sua rinnovata personalità in vita vissuta (DIAFANI, 2000:32). Em 1817, Leopardi escreve para Francesco Cancellieri, Angelo Mai, Antonio Fortunato Stella editor da revista Spettatore italiano, Giuseppe Acerbi editor da revista Biblioteca Italiana, Vincenzo Monti e Pietro Giordani em busca de contato com os literatos considerados mais ilustres da época. As cartas trocadas com Pietro Giordani são consideradas por Diafani talvez as mais importantes do epistolário leopardiano. A partir da segunda carta de Leopardi a Giordani, os dois discutem sobre as condições da literatura contemporânea, os clássicos, a cidade de Recanati e a importância do exercício de tradução. Segundo Diafani, dall insieme del carteggio scaturisce così un vero e proprio autoritratto, col sapore della verità umana e 782

8 dell immediatezza, ma dotato di valore programmatico e caratterizzato da un consistente spessore letterario, per temi e stile (DIAFANI, 2000:35). Pietro Giordani, que além de conselheiro profissional se torna um grande amigo, ocupa uma posição privilegiada no epistolário em relação ao número de cartas trocadas no período entre 1817 a 1832, o que indica que de 1817 a 1825 ele se torna um ponto de referência humana e intelectual importante na vida de Leopardi. Vicenzo Guarracino diz que Giordani rappresenterà per il Leopardi non solo il sapiente e discreto confidente, un vero e proprio maestro di cultura e umanità, ma anche e soprattutto il fecondo contatto con un mondo di idee e di uomini ben più ampio e gratificante dell angusto microcosmo recanatese (GUARRACINO, 1998:36). Esse profícuo relacionamento iniciará um processo de chiarificazione della natura della propria infelicità, attraverso una ricognizione drammaticamente meticolosa di sintomi e aneliti (GUARRACINO, 1998:36-37), que continuará nas confidências do epistolário e na produção do Zibaldone. Por meio das correspondências com Giordani, Leopardi conhece nomes como Brighenti, Montani, Niccolini, e Vieusseux que terão grande importância na sua vida. No período classificado como Tra vero e illusioni que compreende os anos de 1820 a 1823, Diafani (2000:112) evidencia as cartas que registram a descoberta da fuga e a reação de Leopardi à frustração de não poder partir de Recanati. Entre 1819 e 1820, Leopardi se dedica mais intensamente à escrita do Zibaldone em um período de intensa e solitaria meditazione que logo se refletirá também nas cartas. Diafani (2000:113) evidencia principalmente as cartas que registram o profundo descontentamento de Leopardi, l apressamento della morte, il nulla. Destaca a composição de Il sogno, La vita solitaria, Ultimo canto di Saffo, Bruto minore, Sera del dì di festa que tiveram como base os argumentos das cartas desse período. A partir de julho de 1820, segundo Diafani (2000: ), o epistolário registra la maturazione di un programma esistenziale di aderenza alle cose, che si traduce in vocazione al pensiero, os temas que prevalescem nas cartas a partir desse período são vero e illusioni, principalmente o vero. Na parte que segue o estudo de Diafani, o período de 1823 a 1826, classificado pela autora como Il bisogno di sopravivere, registra o retorno de Leopardi a Recanati, bem como assinala o início de um período de produção intensa que resulta na composição das Operette morali e uma pequena diminuição da escrita epistolar. Segundo Diafani 783

9 (2000:153), l epistolario suggerisce un ripiegamento dell autore nel suo mondo interiore, registrando un silenzio interrotto soltanto da alcune missive di servizio e da sporadiche lettere confidenziali al Giordani. Entre 1823 e 1824, a correspondência com os antigos interlocutores permanece diminuída tanto em número quanto em qualidade das cartas. Segundo Diafani, pela primeira vez Leopardi prefere escrever all amichevole, come viene, senza affaticare il cervelo [...] e di non pretendere di più dai suoi corrispondenti: la certa cura [...] messa nella scritura epistolare al passato[...] (2000:153). No ano de 1824, segundo Diafani, o epistolário registra a ausência das composições de poesia. Leopardi comenta sobre a sua infecondità e rarità di ispirazione e durante este período não faz comentários sobre criação literária. O período entre 1825 e 1826 assinala a conclusão do quadro temático entre a permanência de Leopardi a Roma e a sua viagem para Milão. As cartas do início de 1825 registram o profundo descontentamento que o isolamento da cidade de Recanati proporciona a Leopardi, pela dificuldade de trabalho e pela distância dos centros literários. A última parte do estudo de Diafani Il risorgimento delle passioni vai de 1827 a 1837 e contempla as cartas que se referem ao retorno momentâneo de Leopardi a Recanati para passar o período do inverno, época em que a saúde de Leopardi é delicada. Em particular, as cartas desse período discorrem sobre dois temas centrais, l aspirazione a godere del conforto della civiltà e il dramma della malattia Diafani (2000:201) e registram as últimas viagens de Leopardi a Florença, Pisa, Roma e Nápoles. As cartas de 1826 e 1827, segundo Diafani (2000), registram os planos para o futuro, nas quais Leopardi traça seu próprio destino; Giacomo registra situazioni e progetti di vita concreta, nella sua ricerca inesausta di un mondo che soddisfi il suo desiderio di autenticità e vivacità esistenziale (Diafani, 2000:201). Leopardi deixa Recanati ainda em 1827 com destino à Florença. As cartas desse período, segundo Diafani, foram remetidas principalmente à família e se reservam a dar um panorama das cidades. Florença é descrita como um mondo civilizzato, e em Pisa Leopardi fica admirado com o spettacolo urbano o qual descreve nas cartas para Paolina. Ao final do seu estudo através do Epistolario leopardiano, Diafani conclui acima de tudo que: 784

10 La sensazione che scaturisce dalla lettura dell epistolario è quella di un mancato incontro spirituale con gli uomini del suo secolo, o comunque di un incontro non centrato in pieno, benché per lungo tempo affannosamente cercato e poi oggetto di una rinuncia dolorosa, in funzione autoprotettiva di fronte all incapacità o non volontà di recezione degli altri (Diafani, 2000:254). Dessa forma, pode-se concluir que o epistolário leopardiano se apresenta como uma obra que vai muito além de uma simples referência para a biobibliografia de Leopardi, mas se mostra também como um espaço de reflexão sobre o mundo e sobre a literatura. REFERÊNCIAS BORLENGHI, Aldo. Storia letteraria d Italia: l Ottocento. A cura di Armando Balduino. Nuova Libraria: Padova, CAPRIO, Vincenzo de; GIOVANNARDI, Stefano appud Contini. I testi della Letteratura Italiana: l Ottocento. Milano: Einaudi, CESERANI, Remo; DE FEDERICIS, Lidia. Il materiale e l immaginario. Vol. III-2. L Antico Regime, riforme, rivoluzioni. Torino: Loescher, DIAFANI, L. La stanza silenziosa. Studio sull epistolario di Leopardi. Firenze: Le Lettere, Dizionario Bompiani delle Opere, Bologna: Bompiani, DOTTI, Ugo. Storia della letteratura italiana. Roma: Carocci, GUARRACINO, Vincenzo. Guida alla lettura di Leopardi. Milano: Mondadori, ROSA, Alberto Asor. Letteratura italiana. L età moderna. Vol. 9. Torino: Giulio Einaudi/La Biblioteca di Repubblica L Espresso,

11 SANCTIS, Francesco De. Epistolario de Giacomo Leopardi. In: Saggi Critici. 5ed. Napoli: Cav. Antonio Morano, p , Francesco. Storia della letteratura italiana. Torino: Einaudi-Gallimard, SANSONE, Mario. Storia della Letteratura Italiana. Milano: Principato Editore, TONUCCI, Antonia Mazza. La letteratura italiana dell Ottocento. Roma: Carocci,