Aula 02. I - COOPERAÇÃO JURÍDICA INTERNACIONAL (Continuação)
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- Pedro Alfredo Barreiro Branco
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1 Turma e Ano: 2016 (Master A) Matéria / Aula: Direito Internacional Privado - 02 Professor: Marcelo David Monitor: Paula Ferreira Aula 02 I - COOPERAÇÃO JURÍDICA INTERNACIONAL (Continuação) HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇAS ESTRANGEIRAS Estamos estudando a Cooperação Jurídica Internacional, e, em relação a esta temática há três institutos jurídicos importantes: carta rogatória (já estudada na aula anterior), homologação de sentença e extradição. No final da aula passada, o professor começou a explicar o sentido da homologação de sentença estrangeira dando um exemplo de um casal de italianos que se casaram na Itália, e, depois de um tempo, se divorciam; Após o divórcio, o italiano vem ao Brasil, conhece uma brasileira e quer se casar. Perguntou-se se era possível ele se casar e a resposta foi negativa. Nesta seara, é necessário diferenciar os atos jurídicos realizados no exterior e a sentença estrangeira: (i) Ato jurídico produzido no exterior válido no Brasil. Ex.: Caso você vá a Paris e compre um apartamento, essa compra e venda é perfeitamente válida no Brasil. No âmbito do direito brasileiro, você é dono de um imóvel no exterior. Ex2: Dois brasileiros resolvem se casar em Las Vegas, este casamento é perfeitamente válido, não sendo necessário fazer nada para que produza efeitos no Brasil. Ex3: Da mesma forma está um brasileiro que faz um testamento no exterior, sendo este perfeitamente válido no território brasileiro. No exemplo do italiano, o casamento dele na Itália é válido no Brasil, isto é, para o Brasil, ele é um homem casado. Não é necessário registrar o ato no consulado brasileiro do
2 exterior; Esse registro no consulado brasileiro é recomendável, mas ele não dá validade, o ato já é válido! A única hipótese de um ato produzido no exterior não ser valido no Brasil é se aquele ato fere a moral, os costumes ou a ordem pública brasileira. Ex. se um brasileiro se casar em Londres com uma inglesa, esse casamento é perfeitamente válido no território brasileiro, sendo, este brasileiro, considerado, para todos os efeitos, aqui no Brasil, como homem casado. Porém, o Elton John se casou em Londres com um homem brasileiro, e lá em Londres pode (lei inglesa permite casamento entre homossexuais), esse casamento não valia no Brasil, porém, recentemente esse entendimento mudou, uma vez que já é admitido no âmbito do direito brasileiro (portanto, tal exemplo, hoje em dia, já não faz sentido, porém, antes de ser admitido o casamento entre homossexuais no Brasil, tal ato realizado no exterior não valeria aqui). (ii) Sentença estrangeira não é valida no Brasil Como dito na aula passada, juiz estrangeiro não manda no Brasil, não julga, não diligencia, não tem jurisdição que alcança o território nacional, e, portanto, as decisões do poder judiciário estrangeiro não alcançam o direito brasileiro. Assim, quando um casal de italianos se casa em Roma, este ato é válido no Brasil, porém, quando ele se divorcia, o divórcio não é ato jurídico, é sentença estrangeira, e esta não é valida no Brasil. Para fazer valer esse divórcio, é necessário entrar com um processo chamado de homologação de sentença estrangeira, para fazer com que a justiça brasileira admita aplicar no âmbito do direito brasileiro uma sentença que foi proferida no exterior. Aí sim o italiano será homem divorciado também no direito brasileiro e poderá se casar aqui no Brasil. - Teorias acerca da Homologação de sentença estrangeira Em relação a sentença estrangeira e sua validade no território nacional, o Brasil adota, segundo o professor, a melhor posição sobre o assunto. Existem três escolas diferentes, duas antagônicas e radicais e uma que fica no meio, exatamente onde está a posição brasileira.
3 Uma primeira posição é aplicada por alguns países que afirmam que as sentenças estrangeiras não valem no território nacional e, para que aquilo que foi decidido por um juiz estrangeiro possa também valer no direito nacional, terá que haver outro processo com idêntico objeto, agora no poder judiciário nacional. A segunda posição, também muito criticada, afirma que a decisão estrangeira é valida no território nacional, ou seja, o que um juiz decidiu no exterior será aplicado no território nacional. A terceira posição, adotada pelo Brasil, não admite, de imediato, aplicar uma decisão de um juiz estrangeiro no território nacional, mas também não exige um novo processo com idêntico objetivo. O que o Brasil prevê é um juízo de delibação, feito exclusivamente pelo STJ. Aqui no Brasil, pega-se a sentença proferida no exterior e apresenta ao STJ para que ele faça o juiz de delibação, isto é, para que ele examine aquela sentença estrangeira e veja se ela é compatível com o ordenamento nacional, não ferindo princípios, valores, a ordem jurídica interna nacional. Se ferir, o STJ não homologa, e, assim, aquela sentença não terá eficácia no Brasil, porém, se entender que não fere, ele homologa e aquilo que foi decidido lá, será aplicado aqui. Não é um novo julgamento, não há reexame de mérito e de provas, o que foi decidido lá, não será reexaminado aqui, simplesmente será examinado se o que foi decidido no exterior é aceitável no âmbito do direito nacional. Ex. até 1977 o Brasil não admitia o divórcio, então era comum, naquela época, que casais fossem ao Uruguai se divorciarem, pois lá era admitido, voltando ao Brasil dizendo que era um casal divorciado. Aquilo era apenas para efeito de opinião público, pois, do ponto de vista jurídico, eles continuavam casados, para o direito brasileiro, pois não é possível homologar algo que o ordenamento jurídico não admite. Assim, o STJ analisa se a sentença passou por um devido processo legal, se respeitou princípios constitucionais que são para nós inarredáveis, examina se aquilo que foi decidido é aceitável no ordenamento nacional. Se for, é homologado, se não, é negado o pedido. No momento em que você é contratado pelo cliente italiano para que ele possa ser considerado um homem divorciado e tenha que ingressar com um pedido de homologação de sentença, o que é necessário apresentar ao STJ para que tenha seu pedido deferido?
4 - Pressupostos/requisitos para a homologação estrangeira. 1) Tradução juramentada: não é possível apresentar uma sentença escrita em língua 2) Autenticação consular: quando entramos, na justiça brasileira, com uma prova documental, é necessário demonstrar ao juízo que aquele documento é autentico, verdadeiro, e, para fazer isso basta ir a um cartório e fazer a autenticação do documento, apresentando uma cópia autenticada. Assim, da mesma forma, é preciso autenticar a sentença estrangeira para apresentá-la ao STJ, sendo necessário ir a um cartório do Brasil na Itália, isto é, o consulado. Na maioria das vezes, os dois primeiros atos, considerados de procedimento, são feitos ao mesmo tempo, no Consulado. 3) Trânsito em julgado: é imprescindível demonstrar ao STJ que aquela sentença tem caráter definitivo, pois o STJ não vai homologar algo que é provisório, que pode ser reformado. Obs. Os pressupostos listados a seguir são aqueles que, em qualquer processo que corre no Brasil, se não forem respeitados, tornam o processo nulo; questões pétreas de um devido processo legal no Brasil, não sendo possível homologar uma sentença estrangeira que desrespeitassem esses pressupostos. Portanto, os itens 4, 5 e 6 podem ser resumidos como o devido processo legal. 4) Citação válida: essa citação válida não necessita ser na forma do direito brasileiro, e sim, na forma do direito estrangeiro. O oficial de diligência italiano não precisa cumprir o direito brasileiro e sim o italiano. incompetente. 5) Competência do juízo: jamais será possível homologar uma sentença de um juiz 6) Contraditório e ampla defesa: é necessário provar que o processo teve contraditório e ampla defesa.
5 7) Não ofende a ordem pública interna: requisito de cunho material, no qual deve ser provado que o objeto/conteúdo daquela decisão não contraria o direito brasileiro, isto é, está dentro da lei brasileiro. Estes 7 requisitos, em qualquer processo de homologação, devem ser demonstrados, caso contrário, o STJ não irá homologar a sentença estrangeira. Cuidado! A vida toda, no momento em que o professor fechava esse assunto, afirmava que todas as sentenças estrangeiras devem passar pela homologação e pela prova desses pressupostos, porém, o artigo 15, parágrafo único da lei de introdução as normas de direitos brasileiro, trazia uma exceção: as sentenças meramente declaratória quanto ao estado das pessoas independem de homologação. Assim, havia a regra e a exceção. Contudo, a lei de 2009 veio expressamente revogando o parágrafo único do artigo 15 da LINDB, assim, a única exceção que existia, deixou de existir. Portanto, a partir dessa lei, TODAS as sentenças estrangeiras, para terem eficácia no Brasil, devem passar pelo processo de homologação, não havendo exceção.
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