Aula 07 AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. De forma geral, as características da ação direta de inconstitucionalidade são:

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1 Turma e Ano: 2016 (Master A) Matéria / Aula: Controle de Constitucionalidade Avançado - 07 Professor: Marcelo Leonardo Tavares Monitor: Paula Ferreira Aula 07 AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 1. Conceito e características De forma geral, as características da ação direta de inconstitucionalidade são: - Competência do STF (diferentemente do que ocorre no controle difuso, no qual a competência é difundida, por qualquer órgão do poder judiciário). - A tese é discutida de forma abstrata, não vinculada a um caso concreto (não há um debate subjetivo a determinado bem da vida), isto é, se discute a inconstitucionalidade em tese, de forma abstrata. - É uma ação que se debate na via principal, isto é, não é incidental, ela vai para o dispositivo. Assim, como há uma decisão colocada na conclusão do provimento, sobre constitucionalidade ou inconstitucionalidade da lei, ela estará abrangida pelo manto da coisa julgada. - O pedido é na via de ação direta, formula-se diretamente um pedido de declaração de inconstitucionalidade (o que não é cabível no controle difuso). No difuso, há um interesse subjetivo na proposta da ação (quem propõe a ação está perseguindo um bem da vida concreta e, nesta perseguição, alega-se a inconstitucionalidade de alguma norma como forma de obter esse bem da vida), já na ADI pressupõe que exista um pedido de inconstitucionalidade. Não se discute na ADI em nome próprio direito subjetivo. O que importa é a validade ou não da norma. O pedido na ADI é certo, fechado, e, a rigor, o STF deve analisar aquilo que for objeto do pedido. Se aquele que propõe a ADI pleiteia a declaração de inconstitucionalidade do artigo 3º de determinada lei, o Supremo somente pode analisar este artigo 3º. Eventualmente, o Supremo pode pronunciar a declaração de inconstitucionalidade por arrastamento (exceção ao fato do pedido ser fechado).

2 Entretanto, a causa de pedir é aberta, significa dizer que se há o pedido de declaração de inconstitucionalidade de um dispositivo por um determinado fundamento, o Supremo, mesmo que entenda que a norma é inconstitucional por outro motivo, irá declarar a inconstitucionalidade desta norma. O pedido é fechado, mas a causa de pedir é aberta! O fundamento da causa de pedir ser aberta vem de uma jurisprudência que foi sendo intensificada ainda na década de 70. Antes da CRFB/88 apenas havia um legitimado para propor ação direta de inconstitucionalidade, que era o Procurador da República. Isso sensibilizou alguns procuradores que, mesmo entendendo que a norma era constitucional, verificava que havia um debate sobre a inconstitucionalidade da norma em diversos tribunais na via difusa. Assim, a Procuradoria passou a propor a representação de inconstitucionalidade não para pedir a inconstitucionalidade da norma, mas para que o Supremo se pronunciasse sobre a constitucionalidade ou inconstitucionalidade desta norma, o que fez com que houvesse uma abertura da causa de pedir. 2. Fundamento e objeto O fundamento é o artigo 102, I, a da CF e a Lei 9.868/99. Em uma ADI pretende-se proteger dispositivos constitucionais, incluindo o ADCT, as Emendas Constitucionais e as Convenções de Direitos Humanos editadas de acordo com o artigo 5º, 3º, CF. Esses são os paradigmas. O objeto é a Emenda Constitucional, lei federal ou estadual (ou distrital, desde que tenha natureza estadual) e atos normativos federais ou estaduais. Se o objeto da ADI envolver uma Emenda Constitucional, o paradigma será restrito, isto é, havendo alegação de violação formal, o paradigma apenas pode ser dispositivo do corpo principal constitucional que trate de processo legislativo ou, havendo imputação de vício material, o paradigma é uma cláusula pétrea. O Distrito Federal não é dividido em municípios, assim, pode criar leis federais e estaduais. No caso de direito tributário, o Distrito Federal pode criar lei tratando de ICMS (competência estadual) ou IPTU (competência municipal), por exemplo. Se a lei tratar de IPTU, ela não pode ser objeto de ADI, porém, se tratando de ICMS, pode ser objeto. Mesmos as leis de efeitos concretos, se forem formalmente leis, podem ser objetos de ADI. STF alterou seu entendimento, que até então entendia que leis de efeitos concretos (leis orçamentarias, por exemplo), não podiam ser objetos de ADI, porém, agora ele entende que

3 se formalmente forem leis, independente do conteúdo, podem ser objeto. Em relação aos atos administrativos, apenas os atos administrativos normativos podem ser objeto, e somente os federais ou estaduais (ou distritais na competência estadual). 3. Competência e Legitimação Competência é do Supremo Tribunal Federal (não é difusa, e sim concentrada). O STF, pela previsão da lei 9.868/99, irá julgar a ADI tendo a presença de 8 ministros, com voto de 6 desses. Não havendo 8 ministros, sequer se inicia o julgamento, porém, havendo esse número, mas não havendo número necessário de votos, suspende-se o julgamento. Art. 22. A decisão sobre a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo somente será tomada se presentes na sessão pelo menos oito Ministros. Art. 23, parágrafo único. Se não for alcançada a maioria necessária à declaração de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade, estando ausentes Ministros em número que possa influir no julgamento, este será suspenso a fim de aguardar-se o comparecimento dos Ministros ausentes, até que se atinja o número necessário para prolação da decisão num ou noutro sentido. Não existe tecnicamente a figura da parte na ADI, pois não existe ninguém com interesse subjetivo de determinado bem da vida. Parte é quem tem interesse no julgamento do processo, porém, na ADI, ninguém tem interesse no julgamento de inconstitucionalidade da via principal, portanto, quem ocupa o polo passivo é requerido e, no polo ativo, requerente. Integram o polo passivo, na qualidade de requeridos, os órgãos que participaram da edição na norma. Assim, se for uma lei estadual, aprovada pela assembleia e sancionada pelo governador, esses dois integram o polo passivo, sendo notificado para prestar informação no prazo de 30 dias. No caso de Medida Provisória (ato administrativo normativo com força de lei), o Presidente da República que ocupará o polo passivo. A legitimação ativa está no artigo 103, CRFB/88 ou no artigo 2º lei 9.868: Art Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: I - o Presidente da República; II - a Mesa do Senado Federal; III - a Mesa da Câmara dos Deputados; IV - a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal; VI - o Procurador-Geral da República;

4 VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; VIII - partido político com representação no Congresso Nacional; IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional. Estes legitimados ativos podem ser divididos em dois grupos, o primeiro são aqueles que possuem legitimação universal, sendo eles: Presidente da República, PGR, Mesas da Câmara e do Senado, partido político com representação no congresso e Conselho Federal da OAB. Significa dizer que podem propor qualquer tipo de ADI. Obs. O partido político não representa uma categoria profissional. Não se agregam num partido um interesse corporativo e sim pessoas com interesses ideológicos semelhantes, por isso que não é necessária a pertinência temática. Assim como o Conselho Federal da OAB que possui um papel de defesa do ordenamento jurídico. As outras entidades possuem legitimidade restrita, exigindo a demonstração de pertinência temática, isto é, especial interesse de agir que liga o objetivo institucional do requerente ao objeto da ADI. Ex. pode uma Confederação sindical propor ADI sobre uma lei que trate de fixação de salário ou piso salário de determinada categoria profissional que ela represente? SIM. Necessitam demonstrar a pertinência temática: Governador de Estado ou do Distrito Federal; a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; e a confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional. Atenção! O governador do Estado X pode propor ADI contra lei do Estado Y, por exemplo, ou uma lei federal, desde que demonstra o interesse jurídico do Estado X naquela lei. - Algumas observações sobre os legitimados: Obs. Não é o presidente da câmara ou do senado e sim a mesa (órgão colegiado). Obs2. Partido político deve ter um deputado ou um senador no congresso Nacional, não precisa dos dois. Obs3. Estrutura sindical brasileira envolve uma representação regional ou municipal (sindicato), no âmbito estadual (federação sindical) e existe a confederação (representação em âmbito nacional), apenas esta ultima possui legitimidade. Obs4. Classe no sentido de trabalhador, empresário ou servidor, assim, não entra nesses legitimados representação de estudantes. Se essa associação apenas representar pessoas jurídicas (associação de associações), não terá igualmente legitimidade. Entretanto,

5 se esta entidade, além de representar pessoas jurídicas, representar também pessoas físicas, passa a ter legitimidade. Os órgãos públicos não precisam estar representados por advogado (Presidente, PGR, Governador, Conselho Federal OAB, Mesas), os outros precisam, obrigatoriamente de advogado, com poderes específicos para propor a ADI (independente se é facultativo ou obrigatório a presença do advogado, havendo advogado, este deverá ter poderes específicos). 4. AGU, PGR e AMICUS CURIAE 4.1. Advogado Geral da União O AGU é o curador de constitucionalidade da norma. A Constituição prevê uma atuação específica ao AGU, este é obrigado a proteger a norma, sendo citado para tanto. Depois que o polo passivo apresenta suas informações, o AGU é citado para proteger a constitucionalidade da norma em 15 dias. Em princípio o AGU é obrigado a defender a constitucionalidade da norma, seja ela federal ou estadual. Entretanto, o STF tem reconhecido a possibilidade dispensa dessa obrigatoriedade em alguns casos: (i) quando o Supremo já tiver declarado a inconstitucionalidade da norma, não há necessidade do AGU defender a constitucionalidade; (ii) quando houver interesse da união na declaração de inconstitucionalidade. Ex. seja proposta uma ADI atacando lei estadual que invade atribuição da União Procurador Geral da República O Procurador Geral da República atua sempre como custus legis sendo intimado antes do julgamento para apresentar um parecer, mesmo nos casos em que ele mesmo propôs a ADI. Inclusive, o PGR pode opinar pela constitucionalidade quando ele mesmo propôs ADI (é incoerente, mas não há vedação legal) Amicus Curiae Na ADI não se admite nenhuma figura tradicional do processo civil de intervenção de terceiros, apenas o amicus curiae ( amigo da corte ), sendo uma instituição de grande representatividade que irá se manifestar em uma causa relevante a favor ou contra a inconstitucionalidade. Supremo não vê o amicus curiae como parte totalmente desinteressada,

6 ele pode defender pontos de vista, desde que tenha boa representatividade na sociedade. O ideal é que seja aceito mais de um amicus curiae com pontos de vista diversos. O STF entende que não cabe recurso da decisão que admite o amicus curiae, porém, caberia no caso de indeferimento (agravo regimental para o plenário).