Aula 17. Competência Internacional Parte II
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- Lúcia Gusmão Leal
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1 Turma e Ano: Direito Processual Civil - NCPC (2016) Matéria / Aula: Competência Internacional (Parte II) / 17 Professor: Edward Carlyle Monitora: Laryssa Marques Aula 17 Competência Internacional Parte II Como foi dito na aula anterior, na competência internacional concorrente, existe a possibilidade de que uma demanda esteja tramitando no Brasil e outra demanda idêntica esteja tramitando perante o juiz estrangeiro. Na competência internacional exclusiva isso também pode acontecer, no entanto, neste caso, pouco importa o conteúdo da decisão prolatada pelo juiz estrangeiro, não há como produzir efeitos no Brasil. No caso de competência internacional concorrente - em que existe a possibilidade de a sentença estrangeira produzir efeitos no Brasil -, para que de fato estes efeitos venham a ser produzidos aqui há necessidade desta sentença ser homologada. Imagine que a demanda estrangeira transite em julgado antes da demanda brasileira, hipótese em que ela fará coisa julgada material. Isto não quer significar que ela necessariamente irá produzir efeitos antes da sentença brasileira, uma vez que, como já mencionado, para que a sentença estrangeira produza efeitos no Brasil ela deve passar por um processo de homologação. A homologação de sentença estrangeira é de competência do STJ, conforme art. 105, I, i da CRFB/88. O seu procedimento está disposto nos arts. 960 e seguintes do NCPC, bem como no art. 216-A a até art. 216-X do Regimento Interno do STJ (incluído pela Emenda Regimental 18/2014). Essa homologação de sentença estrangeira tem natureza jurídica de ação. Sendo ação, precisa ter partes, que são basicamente as mesmas da demanda original (interessado querendo que os efeitos da decisão proferida no exterior se produzam dentro do território brasileiro). O pedido, no entanto, é diferente daquele da demanda original (divórcio; declaração de relação jurídica; condenação em obrigação de fazer; etc.), pede-se, no caso, a homologação da sentença estrangeira com a produção dos respectivos efeitos.
2 A causa de pedir também é diferente. Na causa original, a causa de pedir tinha relação com o pedido que estava sendo feito. Ex.: se você pedia a condenação de outrem a determinada prestação, a causa de pedir poderia ser a violação de um contrato. Já na homologação de sentença estrangeira, a causa de pedir é o cumprimento dos requisitos estabelecidos pela legislação. Esquematicamente: Basicamente as mesmas partes Interessado querendo que os efeitos da decisão proferida no exterior se produzam dentro do território brasileiro Demanda estrangeira x Homologação de sentença estrangeira Pedidos diiferentes Demanda Estangeira - qualquer um: divórcio; condenação a determina prestação; etc. Homologação - que a sentença estrangeira seja homologada e produza seus respectivos efeitos Causas de Pedir também diferentes Demanda estrangeira - ex.: violação de um contrato, caso o pedido seja o cumprimento de uma obrigação Homologação - cumprimento dos requisitos legais Transitando em julgado a homologação de sentença estrangeira, haverá coisa julgada. Neste caso, qual delas produzirá efeitos no território nacional? A demanda brasileira transitada em julgado ou a homologação de sentença estrangeira também transitada em julgado? É preciso identificar qual das duas transitou em julgado em primeiro lugar. Se porventura transitou em julgado em primeiro lugar a demanda brasileira, é ela que irá produzir efeitos. Hipótese em que a homologação de sentença estrangeira vai ser extinta sem resolução do mérito, por violação a coisa julgada superveniente. Caso a homologação de sentença estrangeira transitar em julgado primeiro, ela produzirá efeitos. E a demanda brasileira será extinta sem resolução do mérito, também por violação a coisa julgada superveniente.
3 NCPC, Art. 485, V. O juiz não resolverá o mérito quando: V - reconhecer a existência de perempção, de litispendência ou de coisa julgada. Na jurisprudência do STJ, há uma predisposição desta corte a privilegiar a sentença brasileira (proferida por juiz brasileiro). Por exemplo: demandas envolvendo direito de família, principalmente quando se tem menores envolvidos, há uma predisposição do STJ há fazer prevalecer a sentença do juiz brasileiro, principalmente se este juiz brasileiro tiver proferido alguma medida de natureza antecipatória ou cautelar. Homologação de sentença estrangeira (Art. 960 e seguintes do NCPC) NCPC, Art A homologação de decisão estrangeira será requerida por ação de homologação de decisão estrangeira, salvo disposição especial em sentido contrário prevista em tratado. Este dispositivo evidencia a natureza jurídica de ação da homologação de sentença estrangeira. A expressão salvo disposição especial em sentido contrário prevista em tratado se aplica a casos em que a legislação estrangeira não exige que a decisão seja proferida por um juiz. Exemplo: em alguns países, o divórcio pode ser feito em cartório, desde que as partes maiores de idade e em comum acordo assim queiram. Não há nenhum óbice que este divórcio celebrado em cartório no exterior venha a produzir efeitos no Brasil. rogatória. 1º A decisão interlocutória estrangeira poderá ser executada no Brasil por meio de carta A decisão interlocutória pode produzir efeitos por carta rogatória, independente de homologação. Só a sentença depende de homologação. 2º A homologação obedecerá ao que dispuserem os tratados em vigor no Brasil e o Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça. Art.216-A até art. 216-X do Regimento Interno do STJ. 3º A homologação de decisão arbitral estrangeira obedecerá ao disposto em tratado e em lei, aplicando-se, subsidiariamente, as disposições deste Capítulo.
4 Significa que deve se respeitar os termos da legislação que rege a arbitragem, Lei nº 9.307/96. No art. 35 desta lei, o legislador estabelece que a legislação arbitral estrangeira para produzir efeitos no Brasil precisa ser homologada. Art A decisão estrangeira somente terá eficácia no Brasil após a homologação de sentença estrangeira ou a concessão do exequatur às cartas rogatórias, salvo disposição em sentido contrário de lei ou tratado. 1º É passível de homologação a decisão judicial definitiva, bem como a decisão não judicial que, pela lei brasileira, teria natureza jurisdicional. 2º A decisão estrangeira poderá ser homologada parcialmente. 3º A autoridade judiciária brasileira poderá deferir pedidos de urgência e realizar atos de execução provisória no processo de homologação de decisão estrangeira. 4º Haverá homologação de decisão estrangeira para fins de execução fiscal quando prevista em tratado ou em promessa de reciprocidade apresentada à autoridade brasileira. 5º A sentença estrangeira de divórcio consensual produz efeitos no Brasil, independentemente de homologação pelo Superior Tribunal de Justiça. A sentença estrangeira de divórcio consensual é a única hipótese em que uma sentença estrangeira não precisa ser homologada perante o STJ para produzir efeitos no Brasil. O juiz de primeiro grau pode analisar o preenchimento dos requisitos para que esta sentença possa produzir efeitos. E verificando que estão presentes tais requisitos, o próprio juiz de primeiro grau pode tomá-la como válida e determinar que se produzam os efeitos que a parte requer: 6º Na hipótese do 5º, competirá a qualquer juiz examinar a validade da decisão, em caráter principal ou incidental, quando essa questão for suscitada em processo de sua competência. urgência. NCPC, Art É passível de execução a decisão estrangeira concessiva de medida de A decisão estrangeira que concede medida de urgência também pode ser homologada pelo STJ e no Brasil executada. 1º A execução no Brasil de decisão interlocutória estrangeira concessiva de medida de urgência dar-se-á por carta rogatória (art. 960, p. 1º). 2º A medida de urgência concedida sem audiência do réu poderá ser executada, desde que garantido o contraditório em momento posterior.
5 3º O juízo sobre a urgência da medida compete exclusivamente à autoridade jurisdicional prolatora da decisão estrangeira. Quem tem que saber acerca da urgência da medida é o juiz que decide a causa. Não cabe a autoridade nacional se era o caso ou não de urgência. Se assim fosse, a autoridade nacional estaria revisando uma decisão estrangeira. Não se admite uma nova análise do mérito ou do pedido formulado. É apenas uma análise do preenchimento dos requisitos da lei para que a decisão seja homologada e produza efeitos. 4º Quando dispensada a homologação para que a sentença estrangeira produza efeitos no Brasil, a decisão concessiva de medida de urgência dependerá, para produzir efeitos, de ter sua validade expressamente reconhecida pelo juiz competente para dar-lhe cumprimento, dispensada a homologação pelo Superior Tribunal de Justiça (art. 961, pp. 5º e 6º). Requisitos para homologação de sentença estrangeira: NCPC, Art Constituem requisitos indispensáveis à homologação da decisão: I - ser proferida por autoridade competente; II - ser precedida de citação regular, ainda que verificada a revelia; III - ser eficaz no país em que foi proferida; IV - não ofender a coisa julgada brasileira; V - estar acompanhada de tradução oficial, salvo disposição que a dispense prevista em tratado; VI - não conter manifesta ofensa à ordem pública. Parágrafo único. Para a concessão do exequatur às cartas rogatórias, observar-se-ão os pressupostos previstos no caput deste artigo e no art. 962, 2o. Inciso VI -> exemplo: Sentença estrangeira que condena a mulher a prestar favores sexuais -> no Brasil, acarreta manifesta violação a ordem pública -> STJ irá adentrar no mérito e não irá homologar. NCPC, Art Não será homologada a decisão estrangeira na hipótese de competência exclusiva da autoridade judiciária brasileira. Parágrafo único. O dispositivo também se aplica à concessão do exequatur à carta rogatória.
6 Se a hipótese é de competência internacional exclusiva, somente o brasileiro possui competência para processamento e julgamento daquela causa. Diante disso, a sentença estrangeira não poderá ser homologada. NCPC, Art O cumprimento de decisão estrangeira far-se-á perante o juízo federal competente, a requerimento da parte, conforme as normas estabelecidas para o cumprimento de decisão nacional. Parágrafo único. O pedido de execução deverá ser instruído com cópia autenticada da decisão homologatória ou do exequatur, conforme o caso. Como se sabe, o STJ homologa a sentença estrangeira. Mas, se a sentença estrangeira precisa ser executada, não é o STJ que promoverá a execução. Cabe ao juiz federal de primeiro grau executar (produzir os efeitos da) decisão homologada pelo STJ, conforme o art. 109, X da CRFB/88: CRFB/88. Art Aos juízes federais compete processar e julgar: X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta rogatória, após o "exequatur", e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização. Obs.: Há na doutrina divergência sobre a natureza desta competência. Uns afirmam que se trata de competência da justiça federal em razão da matéria; outros afirmam que é competência funcional da justiça federal. Isso será aprofundado em momento oportuno.
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