Impacto do NCPC no Direito Eleitoral

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Levi Jardim
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1 Turma e Ano: 2016 (Master B) Matéria / Aula: Direito Eleitoral - 09 Professor: André Marinho Monitor: Paula Ferreira Aula 09 Impacto do NCPC no Direito Eleitoral 1. Introdução O processo eleitoral é um processo civil, regido, em boa parte, por regras de direito civil. Quando se fala em processo eleitoral, não significa a eleição propriamente dita, mas sim os procedimentos e processos típicos de competência da justiça eleitoral. 2. Resolução /2016 Esta resolução, editada pelo TSE em maio de 2016, estabelece as diretrizes gerais para aplicação do novo CPC no âmbito da Justiça Eleitoral. Esta resolução não é obrigatória (não trata-se de imposição), porém, possui força e costuma ser observada, servindo de norte para os magistrados eleitorais. O art. 2º prevê que o NCPC tem caráter supletivo e subsidiário. Art. 2º Em razão da especialidade da matéria, as ações, os procedimentos e os recursos eleitorais permanecem regidos pelas normas específicas previstas na legislação eleitoral e nas instruções do Tribunal Superior Eleitoral. Parágrafo único. A aplicação das regras do Novo Código de Processo Civil tem caráter supletivo e subsidiário em relação aos feitos que tramitam na Justiça Eleitoral, desde que haja compatibilidade sistêmica. A doutrina define que os processos eleitorais estão dentro do âmbito dos direitos coletivos. As ações eleitorais não procuram defender um direito individual do candidato, e sim buscam preservar os princípios que regem o direito eleitoral (principio da lisura das eleições, estado democrático, etc.).

2 A justiça comum possui como princípio a inércia, isto é, ela deve ser provocada, assim como ocorre na justiça eleitoral. Entretanto, há situações em que a justiça eleitoral age como verdadeira justiça administrativa, coibindo determinadas condutas ilegais. Por exemplo: um determinado juiz observa determinada propaganda irregular. Ele, no exercício de seu poder de polícia determina a retirada daquela propaganda. Trata-se de atividade iminentemente administrativa, agindo de ofício. Entretanto, se aquela propaganda, de alguma forma, for ofensiva, podendo caracterizar algum ilícito, por exemplo, abuso de poder econômico ou político, o juiz não poderá agir de ofício. Desta forma, a ideia da inercia aplicável aos outros órgãos do judiciário deve ser vista com cuidado na justiça eleitoral. se segue: Em relação a aplicabilidade, o Código de Processo civil, em seu artigo 14, prevê o que Art. 14. A norma processual não retroagirá e será aplicável imediatamente aos processos em curso, respeitados os atos processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revogada. Há uma dúvida quanto ao rol de ações que podem ser ajuizadas no âmbito da justiça eleitora. Esta, como visto, se desenvolve no âmbito do processo coletivo. No âmbito civil, há as seguintes ações: Ação de investigação judicial eleitoral; Ação de impugnação ao registro de candidatura; Ação de impugnação do mandato eletivo; Recurso contra expedição de diploma (tem natureza de ação e não de recurso, apesar do seu nome); Representações genéricas quando há o exercício de condutas vedadas. Essas ações que serão julgadas pela justiça eleitoral, observar-se-ão um microssistema estabelecido em lei (LC 64/90 e lei 9.504/97 lei geral das eleições), além das resoluções do TSE. Percebe-se que não há apenas um Código Eleitoral, por isso o CPC é aplicado de forma supletiva e subsidiária naquilo que houver lacuna.

3 O direito eleitoral é célere, daí que o CPC não pode ser aplicado de forma indiscriminada, considerando as suas especifidades. Art. 3º Aplicam-se aos processos eleitorais o contido nos arts. 9º e 10 do Novo Código de Processo Civil (Lei nº /2015) verbis: Neste sentido, os artigos 9º e 10º do NCPC, trazem o princípio da não surpresa, in Art. 9º Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida. Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica: I - à tutela provisória de urgência; II - às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 311, incisos II e III; III - à decisão prevista no art Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício. Não se permite, no âmbito do processo civil, as chamadas decisões surpresas. Não é incomum encontrar decisões nas quais o juiz adota um fundamento que não foi ventilado pelas partes. O princípio da não surpresa nada mais é do que estabelecer/dar efetividade a um contraditório substancial. Isto é, o contraditório não pode ser meramente formal, é preciso entender os argumentos suscitados pela parte e combate-los, explicar porque esses argumentos não servem para modificar a conclusão adotada pelo julgador. Nesta seara, destacam-se os artigos 7º e 23 da Lei Complementar 64/90: Art. 7 Encerrado o prazo para alegações, os autos serão conclusos ao Juiz, ou ao Relator, no dia imediato, para sentença ou julgamento pelo Tribunal. Parágrafo único. O Juiz, ou Tribunal, formará sua convicção pela livre apreciação da prova, atendendo aos fatos e às circunstâncias constantes dos

4 autos, ainda que não alegados pelas partes, mencionando, na decisão, os que motivaram seu convencimento. Art. 23. O Tribunal formará sua convicção pela livre apreciação dos fatos públicos e notórios, dos indícios e presunções e prova produzida, atentando para circunstâncias ou fatos, ainda que não indicados ou alegados pelas partes, mas que preservem o interesse público de lisura eleitoral. O art. 7º trata da ação de impugnação ao mandato eletivo e o art. 23, ação de investigação judicial eleitoral. Ambos possuem uma redação parecida e, fundamentalmente, estabelecem a possibilidade do juiz ou corregedor adotar como razões de decidir qualquer fundamento que ainda não tenha sido invocado pelas partes, mas que o juiz possa conhecer de ofício. Ou seja, tais artigos estão na contramão do que estabelece o artigo 10 do NCPC sendo que, o art. 3º da própria resolução prevê a aplicação do art. 10 do NCPC. Como compatibilizar essas duas ideias? Não há na jurisprudência uma resposta. O professor entende que, dada a natureza do processo eleitoral e o princípio da celeridade, não é possível a aplicação do art. 10 do NCPC. Até porque são interesses coletivos que estão em jogo. Outra questão importante é a relativa ao princípio da razoável duração do processo previsto no art. 4º do NCPC: Art. 4º As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa. A resolução não trata muito deste tema, porém, há uma situação interessante disciplinada no art. 97-A da Lei 9.504/97: Art. 97-A. Nos termos do inciso LXXVIII do art. 5º da Constituição Federal, considera-se duração razoável do processo que possa resultar em perda de mandato eletivo o período máximo de 1 (um) ano, contado da sua apresentação à Justiça Eleitoral. 1º A duração do processo de que trata o caput abrange a tramitação em todas as instâncias da Justiça Eleitoral.

5 2º Vencido o prazo de que trata o caput, será aplicável o disposto no art. 97, sem prejuízo de representação ao Conselho Nacional de Justiça. Quando o parágrafo primeiro fala em todas as instancias da justiça eleitoral, significa juiz eleitoral, TRE e TSE. Em relação ao disposto no artigo 97: Art. 97, 2º No caso de descumprimento das disposições desta Lei por Tribunal Regional Eleitoral, a representação poderá ser feita ao Tribunal Superior Eleitoral, observado o disposto neste artigo.

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