Tribunal de Justiça de Minas Gerais

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1 Número do /001 Númeração Relator: Relator do Acordão: Data do Julgamento: Data da Publicação: Des.(a) Carlos Roberto de Faria Des.(a) Carlos Roberto de Faria 04/07/ /07/2017 EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - EXECUÇÃO FISCAL - MUNICÍPIO DE MONTE CARMELO - DÍVIDA ATIVA - VALOR IRRISÓRIO - PRETENSÃO AMPARADA PELA LEGISLAÇÃO MUNICIPAL - DISCRICIONARIEDADE CONFERIDA AO MUNICÍPIO - INTERESSE DE AGIR CONFIGURADO - SENTENÇA CASSADA. 1. A Administração Pública é regida pelo princípio da indisponibilidade dos bens públicos, não podendo o administrador funcional deixar de cobrar as dívidas que constituem crédito ao Poder Público, mormente quando a Lei Municipal traz expressamente que "o crédito tributário regularmente constituído não pode ser dispensado, sob pena de responsabilidade funcional" (art. 22, º único da Lei nº 082/97). 2. Deve ser cassada a sentença que extinguiu indevidamente a execução fiscal por falta de interesse de agir considerando que o valor do crédito é inferior ao custo médio da execução fiscal. APELAÇÃO CÍVEL Nº /001 - COMARCA DE MONTE CARMELO - APELANTE(S): MUNICÍPIO MONTE CARMELO - APELADO(A)(S): MIGUEL FERNANDES NOGUEIRA A C Ó R D Ã O Vistos etc., acorda, em Turma, a 8ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, em dar provimento ao recurso para cassar a sentença. DES. CARLOS ROBERTO DE FARIA 1

2 RELATOR. DES. CARLOS ROBERTO DE FARIA (RELATOR) V O T O Trata-se de apelação cível interposta pelo Município de Monte Carmelo, em face da sentença proferida pelo Juízo da 2ª Vara Cível, da Comarca de Monte Carmelo, nos autos da execução fiscal que move em face de Miguel Fernandes Nogueira. O juiz fundamentou que a execução judicial de créditos de pequeno valor não se reveste de interesse de agir, pelo que extinguiu o processo sem resolução do mérito. Sem honorários e custas. O apelante alega que a extinção da execução fiscal de ofício em razão de seu valor ínfimo viola o Princípio do Livre acesso ao Judiciário. Colaciona julgado do STF favorável à sua pretensão. Aduz que "o interesse de agir diz respeito à adequação da tutela pretendida, sem se confundir com o bem jurídico material objeto do pedido" e defende que ante à inadimplência do executado o seu interesse de agir é notório. Sustenta que a Administração Pública tem discricionariedade para cobrança de débito, sendo uma faculdade e não uma obrigatoriedade do poder público cancelar créditos fiscais de valores inferiores ao custo de cobrança. Ressalta que é um Município de pequeno porte, com apenas habitantes, e que 90% das dívidas que cobra são de pequena monta. Por fim, pugna pelo provimento do recurso, para que seja reconhecido o interesse de agir e determinado o prosseguimento da execução. 2

3 Sem contrarrazões, sendo que o executado não possui procurador constituído nos autos (fl. 39-v). É o relatório. Inicialmente, considerando que a legislação processual que rege os recursos é aquela da data da publicação da decisão judicial, a presente apelação cível deverá ser analisada segundo as disposições do Novo Código de Processo Civil. Em atenção à Teoria do Isolamento dos Atos Processuais, conforme dicção do art. 14 do CPC, a norma processual não retroagirá e será aplicável imediatamente aos processos em curso, respeitados os atos processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revogada. Conheço da apelação cível, porquanto presentes os pressupostos de admissibilidade. A análise dos autos revela que o Município de Monte Carmelo ajuizou ação de execução fiscal em face de Miguel Fernandes Nogueira, com o objetivo de receber o crédito tributário, referente ao ISSQN e Taxa de Localização, conforme consta da CDA à fl. 05. O cerne da questão devolvida a esta instância cinge-se a determinar se a sentença deve ser reformada para que a execução fiscal tenha seu regular andamento processual, pela alegada presença de interesse processual do ente público municipal. A princípio, registre-se que a Lei 6.830/80, que dispõe sobre a cobrança judicial da Dívida Ativa da Fazenda Pública, não estabelece qualquer limitação no valor que pode ser cobrado por meio da execução judicial, senão vejamos: 3

4 Art. 2º - Constitui Dívida Ativa da Fazenda Pública aquela definida como tributária ou não tributária na Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964, com as alterações posteriores, que estatui normas gerais de direito financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. 1º - Qualquer valor, cuja cobrança seja atribuída por lei às entidades de que trata o artigo 1º, será considerado Dívida Ativa da Fazenda Pública. No mesmo sentido, o Código Tributário Municipal de Monte Carmelo, Lei nº 082/97, não traz qualquer dispensa de execução fiscal em casos de que a dívida seja de pequeno valor. Vejamos: Art O crédito tributário regularmente constituído somente se modifica ou se extingue, ou tem sua exigibilidade, não afeta a obrigação tributária que lhe deu origem. PARÁGRAFO ÚNICO - Fora dos casos previstos nesta Lei, o crédito tributário regularmente constituído não pode ser dispensado, sob pena de responsabilidade funcional na forma da Lei, a sua efetivação ou as respectivas garantias. Art Constitui Dívida Ativa Tributária do Município proveniente de impostos, taxas, contribuição de melhoria e multas de qualquer natureza, decorrentes de quaisquer infrações à Legislação tributária, inscrita na repartição administrativa competente, depois de esgotado o prazo fixado para pagamento pela Legislação tributária ou por decisão final proferida em processo regular. No caso concreto a dívida ativa, ao tempo da emissão da CDA, totalizava o montante de R$ 1.157,16 (mil cento e cinquenta e sete reais e dezesseis centavos), sendo notório o interesse do Município de Monte Carmelo em obter pela via judicial o valor que já deveria lhe ter sido pago. 4

5 Saliente-se que a Administração Pública é regida pelo princípio da indisponibilidade dos bens públicos, não podendo o administrador funcional deixar de cobrar as dívidas que constituem crédito ao Poder Público, ressalvando-se as hipóteses previstas na lei, uma vez que é dotada de poder -dever quanto à suas atribuições. Nesse sentido é o conteúdo do art. 141 do CTN: Art O crédito tributário regularmente constituído somente se modifica ou extingue, ou tem sua exigibilidade suspensa ou excluída, nos casos previstos nesta Lei, fora dos quais não podem ser dispensadas, sob pena de responsabilidade funcional na forma da lei, a sua efetivação ou as respectivas garantias. Outro não é o entendimento desta 8ª Câmara Cível: EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL -EXECUÇÃO FISCAL - MUNICÍPIO DE PONTE NOVA - VALOR IRRISÓRIO - EXTINÇÃO POR FALTA DE INTERESSE DE AGIR - IMPOSSIBILIDADE. O crédito tributário, independente do seu valor, será sempre indisponível, cabendo à administração efetuar a cobrança na forma da lei. Não é possível impor ao fisco a busca de outros meios de satisfação do seu crédito que não o judicial. A decisão que extingue o feito por falta de interesse de agir, ao argumento de que o valor do crédito fiscal cobrado é irrisório, contraria a orientação jurisprudencial dos tribunais superiores. (TJMG - Apelação Cível /001, Relator(a): Des.(a) Ângela de Lourdes Rodrigues, 8ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 24/03/2017, publicação da súmula em 04/04/2017) EMENTA: APELAÇÃO CIVEL. EXECUÇÃO FISCAL. LEI ESTADUAL N /2011. DECRETOS N /2012 E /15. CRÉDITOS INFERIORES AO LIMITE ESTABELECIDO. EXTINÇÃO. FALTA DE INTERESSE DE AGIR. VALOR IRRISÓRIO. IMPOSSIBILIDADE. MÉRITO ADMINISTRATIVO. LEGISLAÇÃO FACULTA AO ENTE PÚBLICO OPTAR PELA VIA DE COBRANÇA. INDISPONIBILIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. ACESSO AO JUDICIÁRIO. MEIOS ALTERNATIVOS DE COBRANÇA. VIA ADMINISTRATIVA. NORMA AUTORIZATIVA. 5

6 No âmbito do Estado de Minas Gerais, a Lei Estadual n /2011 e o Decreto Estadual n /2012 (atualizado pelo D.E. n /15) admitem que a Fazenda Pública utilize meios alternativos à execução fiscal, para a satisfação dos créditos tributários até os limites fixados, que são considerados créditos de pouca monta em relação aos custos do processo executivo. Todavia, trata-se de normas autorizativas, porquanto não vinculam o Ato Administrativo. Ao contrário, ressalvam expressamente a ausência de impedimento à cobrança pela via judicial. Desse modo, a Administração Pública possui a faculdade, de acordo com a sua conveniência e oportunidade, de optar pela forma de cobrança dos créditos fiscais, que são indisponíveis por força da lei (art. 141 do CTN). Impedir o prosseguimento das ações ajuizadas implica em nulidade por violação à garantia constitucional de acesso ao judiciário (art. 5º,XXXV da CF/88). Portanto, independentemente de se esgotar a cobrança pela via administrativa ou de ser considerado baixo o valor do crédito fiscal, presente se faz o interesse de agir do Poder Público, sob pena de a extinção preliminar violar princípio constitucional e adentrar o mérito administrativo. Recurso conhecido e provido. (TJMG - Apelação Cível /001, Relator(a): Des.(a) Gilson Soares Lemes, 8ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 27/03/2017, publicação da súmula em 04/04/2017) Além disso, nos termos do art. 204 do CTN, a dívida regularmente inscrita goza da presunção de certeza e liquidez, que somente pode ser ilidida por meio de prova inequívoca em sentido contrário. Lado outro, o Código de Processo Civil, privilegiando o princípio do contraditório, garantido pelo artigo 5º, LV, da Constituição da 6

7 República, e com o intuito de evitar decisões surpresas, estabeleceu: Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício. Dessa forma, ainda que se trate de questões que possam ser decidias de ofício, é imprescindível que as partes tenham a oportunidade de se manifestar sobre os fundamentos que servirão de base para decisão judicial, o que não aconteceu no presente caso. Por fim, entende-se, também, que a sentença que extinguiu o feito executório viola o art. 5º, inciso XXXV da Constituição Federal, que estabelece a inafastabilidade de jurisdição. Segundo o dispositivo citado, a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito. No contexto delineado, não cabe ao Judiciário auferir se o valor do crédito da Fazenda Pública é inferior ao custo médio da execução fiscal, determinando a extinção do feito pela suposta ausência de interesse de agir. Assim, dou provimento ao recurso para cassar a sentença e determino seja dado regular andamento à execução fiscal. DES. GILSON SOARES LEMES - De acordo com o(a) Relator(a). DESA. TERESA CRISTINA DA CUNHA PEIXOTO - De acordo com o(a) Relator(a). SÚMULA: "DERAM PROVIMETNO AO RECURSO PARA CASSAR A SENTENÇA." 7

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