Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Transcrição

1 Número do /001 Númeração Relator: Relator do Acordão: Data do Julgamento: Data da Publicação: Des.(a) Francisco Figueiredo Des.(a) Francisco Figueiredo 29/06/ /07/2006 EMENTA: INVENTÁRIO - ARROLAMENTO - PROCESSUAL CIVIL - INÉRCIA DA INVENTARIANTE - EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM JULGAMENTO DO MÉRITO - MATÉRIA QUE ENVOLVE INTERESSE PÚBLICO - EXCEÇÃO AO PRINCÍPIO DA INÉRCIA DA JURISDIÇÃO - INADMISSIBILIDADE. - O instituto da sucessão revela interesse público, que alcança não só os herdeiros, mas também a Fazenda Pública e a sociedade em geral, razão por que eventual situação de inércia da inventariante não enseja a extinção do processo sem julgamento do mérito, mas sim, se caso, a remoção do inventariante que não deu andamento regular ao inventário ou arrolamento, medida que traduz exceção ao princípio da inércia da jurisdição. Inteligência dos arts. 267, III, 1º, 989 e 995 do CPC. APELAÇÃO CÍVEL N /001 - COMARCA DE MONTES CLAROS - APELANTE(S): JOSÉ AUGUSTO PEREIRA ESPÓLIO DE, REPDO P/ INVTE DELVAIR ALMEIDA PEREIRA - INTERESSADAS: IVONE DO CARMO ALMEIDA PEREIRA E SILVA, IONE DE CÁSSIA ALMEIDA PEREIRA, IRENE CARLA ALMEIDA MESQUITA, IONARA ALMEIDA MAIRINK, ÍRIS PATRÍCIA ALMEIDA PEREIRA - RELATOR: EXMO. SR. DES. FRANCISCO FIGUEIREDO ACÓRDÃO Vistos etc., acorda, em Turma, a 2ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM DAR PROVIMENTO. Belo Horizonte, 29 de junho de DES. FRANCISCO FIGUEIREDO - Relator 1

2 NOTAS TAQUIGRÁFICAS O SR. DES. FRANCISCO FIGUEIREDO: VOTO Conheço do recurso, porque atendidos os requisitos de sua admissibilidade. Trata-se de recurso formulado contra a sentença de f. 67, proferida pelo MM. Juiz de Direito da 2ª Vara de Família e Sucessões da Comarca de Montes Claros, nos autos de Arrolamento requerido por Delvair Almeida Pereira, ora inventariante e apelante, reagindo contra a decisão que extinguiu o processo, sem julgamento do mérito (CPC, art. 267, III). No caso, com o falecimento de José Augusto Pereira, marido da inventariante, buscou a viúva e meeira, ao formular a partilha amigável, também por realizar a doação de sua meação, da parte do único bem imóvel, para as herdeiras descendentes, com cláusula de usufruto vitalício em seu favor. Neste enredo, determinou o Juízo pela juntada da escritura pública da mencionada doação, inicialmente no prazo de 20 dias, para depois ser assinado novo prazo de 20 dias (fls. 56/57), cujo prazo, a seu pedido, foi prorrogado para mais outros 20 dias, seguido de outro de 30 dias, este último para cumprimento obrigatório e sob as penas da lei (fl. 65 verso). Perdurando inatendida a providência determinada, foi decretada a extinção do processo e determinado o arquivamento dos autos e baixa da distribuição, daí o apelo. Nas razões recursais, erige-se com fortes cores o inconformismo da apelante, argumentando, em síntese, que descabe a extinção do processo, sem julgamento do mérito, porquanto a espécie revela 2

3 interesse de ordem pública. Assiste razão à apelante, data venia. O princípio da inércia da jurisdição (CPC, arts. 2º e 162) não é de natureza absoluta, tanto que o Juiz, na omissão dos legitimados, está autorizado a iniciar de ofício o inventário, nos termos do artigo 989 do CPC, pois "Releva à ordem jurídica a definição da sorte do patrimônio extinto. Por isso admite-se a exceção prevista neste artigo" (RJTJSP 88/225). Entre as causas de extinção do processo, sem julgamento do mérito, incluise a do abandono da causa, ou seja, a sua paralisação por mais de 30 dias, por culpa do autor (CPC, art. 267, n. III), ou por mais de um ano, por negligência de ambas as partes (art. 267, n. II). O acertamento da transmissão de bens entre o morto e seus sucessores não interessa apenas a estes. A Fazenda Pública e toda a sociedade têm real interesse na definição do processo sucessório, tanto que até de ofício o juiz deve instaurar o respectivo procedimento (art. 989). Firmou-se, por isso, a jurisprudência no sentido de que a paralisação do inventário ou arrolamento não justifica seja decretada a extinção do processo. (Humberto Theodoro Júnior, in RT 515/116). A espécie não recomenda, pois, a extinção do processo ao amparo de suposto abandono da causa ou inércia da requerente (CPC, art. 267, III e 1º), cabendo, se for o caso, a sua remoção do munus de inventariante, "se não der ao inventário andamento regular" (CPC, art. 995, II). Aflora dos autos o atributo de interesse público do instituto sucessório, máxime porque o deslinde do feito interessa não só à inventariante e herdeiros, mas também à Fazenda Pública e à sociedade em geral. Nesta ótica, já decidiu a jurisprudência: 3

4 "CIVIL E PROCESSUAL CIVIL - INVENTÁRIO - ARROLAMENTO - EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM JULGAMENTO DO MÉRITO POR ABANDONO DA CAUSA - INTIMAÇÃO PESSOA DO AUTOR, NOS TERMOS DO ART. 267, 1º DO CPC - EXISTÊNCIA DE BENS. AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO DOS DEMAIS HERDEIROS E INTERESSADOS - NECESSIDADE, DIANTE DA REDAÇÃO DO ART. 995 DO CPC - EXTINÇÃO DO FEITO. INADMISSIBILIDADE. RECURSO PROVIDO. A extinção do processo sem julgamento do mérito com base no art. 267, III, do CPC exige a prévia intimação pessoal da parte autora com o fito de demonstrar sua ciência inequívoca sobre a paralisação do feito. Em se tratando de arrolamento, ademais, não pode o magistrado extinguir o feito sem antes intimar o espólio e os demais herdeiros, porquanto nos termos do art. 995, II do CPC, se o inventariante não der andamento regular ao inventário, a medida a ser tomada não é a extinção do feito, mas sim, a sua remoção." (TJMG, Ap. Cível n /001, 6ª Câm. Cível, Rel. Des. Edilson Fernandes, j. 10/5/2005, pub. 3/6/2005, dec. unân.). No mesmo sentido também deliberou este sodalícios nas Apelações Cíveis n (4ª Câm. Cível, Rel. Des. Bady Curi, j. 13/6/2002) e n (6ª Câm. Cível, Rel. Sérgio Lellis Santiago, j. 22/4/2002). Ante tais fundamentos e reiterando vênia, DOU PROVIMENTO ao recurso para anular a sentença e determinar o retorno dos autos ao Juízo de origem, para seu regular prosseguimento, como de direito. Custas ex lege. Votaram de acordo com o(a) Relator(a) os Desembargador(es): NILSON REIS e JARBAS LADEIRA. SÚMULA : DERAM PROVIMENTO. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS 4

5 APELAÇÃO CÍVEL Nº /001 5