Tribunal de Justiça de Minas Gerais

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1 Número do /001 Númeração Relator: Relator do Acordão: Data do Julgamento: Data da Publicação: Des.(a) Osmando Almeida Des.(a) Osmando Almeida 31/05/ /06/2011 EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE EXECUÇÃO - PROVA PERICIAL E TESTEMUNHAL - PEDIDO DE NOVA REALIZAÇÃO - COISA JULGADA - PRESENÇA DOS REQUISTOS NECESSÁRIOS - POSSIBILIDADE. - A coisa julgada implica imutabilidade da sentença judicial transitada em julgado, com impedimento de se rediscutir matéria já apreciada pelo judiciário, visando esse instituto a propiciar segurança e estabilidade nas relações jurídicas, uma vez que se as decisões dos juízos não adquirissem a característica de definitividade, perpetuariam os litígios e tornaria intranqüila a situação dos interessados. AGRAVO DE INSTRUMENTO CÍVEL N /001 - COMARCA DE TIMÓTEO - AGRAVANTE(S): BANCO BRASIL S/A - AGRAVADO(A)(S): ELCY ALVES BITENCOURT E OUTRO(A)(S) - RELATOR: EXMO. SR. DES. OSMANDO ALMEIDA ACÓRDÃO Vistos etc., acorda, em Turma, a 9ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, sob a Presidência do Desembargador OSMANDO ALMEIDA, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM ACOLHER PRELIMINAR E DAR PROVIMENTO. Belo Horizonte, 31 de maio de DES. OSMANDO ALMEIDA - Relator NOTAS TAQUIGRÁFICAS 1

2 O SR. DES. OSMANDO ALMEIDA: VOTO Trata-se de agravo de instrumento interposto pelo BANCO BRASIL S/A, contra a r.decisão de fls. 15-TJ, proferida pelo MM. Juiz da 2ª Vara Cível da Comarca de Timóteo, nos autos dos Embargos à Execução, movidos por ELCY ALVES BITENCOURT E OUTROS, ora agravados. A r. decisão deferiu a produção de prova pericial e também da prova testemunhal. Em suas razões recursais, alega o agravante que os presentes embargos suscitam justamente as mesmas matérias já apreciadas nos embargos de nº , opostos em 14/11/2001 e hoje já baixado em razão de sua conclusão, onde fora realizada perícia contábil. Ao seu juízo resta claro que as matérias suscitadas na "nova ação" e o deferimento de nova perícia, fere a coisa julgada, bem como os princípios basilares de nosso ordenamento jurídico. Afirma não haver se falar em realização de nova prova pericial, a uma, porque tal prova já foi realizada, a duas, porque todas as matérias a serem apreciadas em tal perícia já foram apreciadas na anterior. Insurge-se o agravante, pugnando pela reforma do r. decisum, bem como pela suspensão da decisão agravada. Ao final, requer a extinção dos embargos, diante da ocorrência clara da coisa julgada, nos termos do artigo 267, V, do CPC. Às fls TJ o presente recurso foi recebido em seu efeito natural, o devolutivo. Intimados, os agravados ofereceram resistência ao recurso, pugnando 2

3 pela manutenção da decisão agravada ( fls TJ). Conheço do recurso, uma vez preenchidos os pressupostos de sua admissibilidade. Ante a presença de preliminar, passo a sua análise. PRELIMINAR - COISA JULGADA. Aduz o agravante em suas razões recursais ter ocorrido a coisa julgada em relação à insurgência dos agravados referente a produção de prova pericial e testemunhal. Afirma, outrossim, que os presentes embargos suscitam justamente as mesmas matérias já apreciadas nos embargos de nº opostos em 14/11/2001 e hoje já baixados em razão de sua conclusão, onde fora inclusive, realizada a perícia contábil, requerida novamente em sede dos atuais embargos. Entendo lhe assistir razão. Às fls TJ determinei a intimação do agravante, para informar se já houve decisão do d. juízo primevo acerca da aludida alegação de coisa julgada, bem como para trazer aos autos comprovação de serem os presentes embargos referentes a mesma execução que os de nº , o que foi providenciado pelo mesmo, juntando aos autos vasta documentação. Da análise do feito, verifica-se às fls. 47/55-TJ que os presentes embargos discutem a cobrança de valores constantes em Contrato por Instrumento Público de Confissão e Assunção de Dívidas com Garantia Hipotecária nº 99/25010/1, formalizado na data de 28/06/1999. Às fls. 110/173, verifica-se os embargos à execução de nº , onde também se discute o contrato de nº 99/25010/1, e, ainda, às fls. 180/225-TJ foi juntado cópia do laudo pericial realizado nos referidos embargos. 3

4 Após, às fls. 226/232, percebe na sentença dos autos de nº , que foi deferida a prova pericial e as partes desistiram da testemunhal, constando-se que a pretensão dos ora agravados já fora amplamente analisada em decisão anterior. Ora, fazendo-se um cotejo entre as razões do presente recurso e a sentença juntada às fls. 226/232-TJ, verifica-se ter sido a matéria concernente a produção de prova pericial e testemunhal já decidida, restando acobertada pela coisa julgada. A propósito, o artigo 467, do Código de Processo Civil preconiza que a coisa julgada "torna imutável e indiscutível a sentença", acentuando a regra contida no artigo 468, desse mesmo diploma legal, "sentença que julgar total ou parcialmente a lide, tem força de lei nos limites da lide e das questões decididas". Deflui dessas normas, de modo claro e inequívoco, que a coisa julgada implica imutabilidade da sentença judicial transitada em julgado, com impedimento de se rediscutir matéria já apreciada pelo judiciário, visando esse instituto a propiciar segurança e estabilidade nas relações jurídicas, pois se as decisões dos juízos não adquirissem a característica de definitividade, perpetuariam os litígios e tornaria intranqüila a situação dos interessados, sendo, assim, imperioso o impedimento de se modificar situação jurídica através de outra ação ou recurso, princípio este preconizado nos artigos já citados e no artigo 5º, XXVI, da constituição federal. A esse respeito à lição de Moacyr Amaral Santos: "Enquanto a sentença apenas produz a sua eficácia natural, ainda está sujeita a ser reformada. Isso não se dá, entretanto, com a preclusão de todos os recursos. Então a sua eficácia se reforça, pois a sentença se torna imutável. Tem-se aí a coisa julgada, que é uma qualidade especial que reforça a eficácia da sentença. Do fato da preclusão de todos os recursos, verifica-se a coisa julgada formal, que consiste na imutabilidade da sentença e, como conseqüência, a coisa julgada 4

5 material, que consiste na imutabilidade dos efeitos da sentença, como ato (coisa julgada formal) e na imutabilidade dos efeitos que produz (coisa julgada material, ou autoridade da coisa julgada). Esta se funda na necessidade social, reconhecida pelo estado, de evitar a perduração dos litígios, a partir de dado momento (com preclusão de todos os recursos), a sentença se torna imutável, definitiva, incontestável, não se admitindo seu reexame quer no processo em que foi proferida, quer noutro processo, pelo mesmo ou por outro juiz ou tribunal" (comentários ao código de processo civil, iv/482). O eminente processualista Frederico Marques enfatiza "proferida a sentença, cria para o órgão judiciário que a proferiu uma preclusão que, como fato impeditivo, veda ao juiz rever aquilo que foi por ele decidido" (instituições de direito processual civil, v/38). Vale colacionar a doutrina de Humberto Theodoro Júnior: "Com o advento da coisa julgada, o dispositivo da sentença torna-se imutável e indiscutível (artigo 467). Daí a impossibilidade de renovar-se a propositura de ação sobre o mesmo tema para o acolhimento da preliminar de coisa julgada, é necessário que ocorra identidade de partes, causa petendi e pedido, tal como se passa com a litispendência (artigo 301, parágrafos 1º e 2º). A diferença entre essas duas figuras processuais está em que a litispendência ocorre com relação a uma causa anterior ainda em curso, e a coisa julgada relaciona-se com um feito já definitivamente julgado por sentença, de que não mais cabe nenhum recurso (artigo 301, parágrafo 3º). É, igualmente, defesa processual peremptória" (curso de direito processual civil, 10ª ed., p. 376). Com tais considerações, acolho a preliminar DE COISA JULGADA e DOU PROVIMENTO, para reformar a decisão agravada e, por via de conseqüência, desvalidar o deferimento de nova prova pericial e testemunhal, conforme buscado neste recurso. 5

6 Custas "ex lege". Votaram de acordo com o(a) Relator(a) os Desembargador(es): PEDRO BERNARDES e JOSÉ ANTÔNIO BRAGA. SÚMULA : ACOLHERAM PRELIMINAR E DERAM PROVIMENTO. 6