Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Transcrição

1 Número do /001 Númeração Relator: Relator do Acordão: Data do Julgamento: Data da Publicação: Des.(a) Alberto Vilas Boas Des.(a) Alberto Vilas Boas 09/04/ /04/2019 EMENTA: ADMINISTRATIVO. AÇÃO DE COBRANÇA. AGENTE POLÍTICO. DÉCIMO TERCEIRO SALÁRIO. FÉRIAS NÃO GOZADAS E ADICIONAL. DIREITOS COM ASSENTO NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. RE N APELO PARCIALMENTE PROVIDO. - O agente político que ocupou o cargo de secretário municipal tem direito à percepção de subsídio e do décimo terceiro salário, das férias não gozadas e do respectivo adicional. Inteligência do RE n , submetido ao regime da repercussão geral. - Não é possível incluir verbas de natureza estritamente celetista em relação submetida ao regime estatutário. APELAÇÃO CÍVEL Nº /001 - COMARCA DE JOÃO MONLEVADE - APELANTE(S): CRISTIANO VASCONCELOS DE ARAUJO - APELADO(A)(S): MUNICÍPIO JOÃO MONLEVADE A C Ó R D Ã O Vistos etc., acorda, em Turma, a 1ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, em DAR PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO. DES. ALBERTO VILAS BOAS RELATOR 1

2 DES. ALBERTO VILAS BOAS (RELATOR) V O T O Conheço do recurso. 1 - A espécie em julgamento. Cuida-se de ação ordinária ajuizada por Cristiano Vasconcelos de Araújo em face do Município de João Monlevade objetivando o recebimento de verbas relativas ao décimo terceiro e férias e seu terço, relativas ao período de 30/9/2010 a 01/01/01/2013, no qual exerceu cargo de secretário municipal. Alegou, na essência, que a Constituição Federal e a legislação local preveem o pagamento das verbas em questão, sendo certo que, devido ao atraso no pagamento, as férias deverão ser pagas em dobro, consoante preconizado na CLT. Pleiteou, por conseguinte, a condenação do Município ao pagamento de R$ ,86. 2

3 O Município contestou o pedido e, após regular contraditório, o pedido foi julgado improcedente. Irresignado, recorreu o autor e alegou ter exercido o cargo de Secretário Municipal no período de 30/9/2010 a 01/01/2013, não tendo recebido, contudo, o décimo terceiro salário e férias e seu terço constitucional. Aduziu que a lei municipal que rege o tema prevê o pagamento das verbas em questão, é constitucional, motivo pelo qual deve ser reformada a sentença e acolhido o pedido inicial. Por meio da decisão de f. 240 foi determinada a suspensão do processo até o julgamento do RE n , sendo dada vista às partes após dito julgamento (f. 243). A seguir, facultou-se às partes que se manifestassem acerca de eventual configuração de excesso no pedido inicial, advindo as petições de f. 249/250 e Mérito. 3

4 É necessário registrar que o pedido formulado pelo Município à f para que fosse intimado pessoalmente acerca do despacho de f , não pode ser atendido, eis que a norma processual já havia alcançado seu objetivo de cientificar a parte acerca da manifestação judicial em comento. Tanto que, no prazo legal, a parte protocolizou a petição mencionada, junto à qual acostou cópia do despacho em questão. Nada obstante, registre-se que prejuízo algum advirá à parte. No tocante à questão de fundo - direito do agente político em receber as parcelas salariais relativas ao décimo terceiro salário e férias e seu adicional - mostra-se desnecessário tecer maiores considerações sobre esta questão jurídica, na medida em que o STF, sob o regime da repercussão geral, já sedimentou o tema ao julgar o RE n : Recurso Extraordinário. Repercussão Geral. Ação direta de inconstitucionalidade estadual. Parâmetro de controle. Regime de subsídio. Verba de representação, 13º salário e terço constitucional de férias. 1. Tribunais de Justiça podem exercer controle abstrato de constitucionalidade de leis municipais utilizando como parâmetro normas da Constituição Federal, desde que se trate de normas de reprodução obrigatória pelos Estados. Precedentes. 2. O regime de subsídio é incompatível com outras parcelas remuneratórias de natureza mensal, o que não é o caso do décimo terceiro salário e do terço constitucional de férias, pagos a todos os trabalhadores e servidores com periodicidade anual. 3. A "verba de representação" impugnada tem natureza remuneratória, independentemente de a lei municipal atribuir-lhe nominalmente natureza indenizatória. Como consequência, não é compatível com o 4

5 regime constitucional de subsídio. 4. Recurso parcialmente provido. - (RE nº , rel. para o acórdão Min. Roberto Barroso, DJe 24/8/2017). Nesse sentido, há que considerar que a tese de defesa esposada pelo Município e que respeita à declaração de inconstitucionalidade da lei municipal que prevê o pagamento das verbas em discussão e impossibilidade de pagar ditas verbas, sob pena de ofensa à coisa julgada nos autos da ação n , não pode ser acolhida. De fato, o processo em questão referiu-se à ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público em face de agentes políticos determinados e expressamente nomeados na peça de ingresso - não contemplado o ora autor -, na qual pretendia-se a declaração de inconstitucionalidade do art. 23, 9º, da Lei Orgânica Municipal e que o Município se abstivesse "de efetuar o pagamento do 13º subsídio aos agentes políticos municipais, ora requeridos, bem como a condenação destes a ressarcirem ao erário público os valores indevidamente recebidos sob essa rubrica" (146). O pedido foi acolhido na primeira instância, reconhecida a inconstitucionalidade do dispositivo de lei mencionado, sendo certo que o recurso interposto pelos então réus da ação civil pública não foi conhecido, por deserto. Tratou-se, pois, de declaração de inconstitucionalidade proferida incidenter tantum, a qual produz efeitos somente inter partes, não tendo o alcance pretendido pelo Município. 5

6 Não bastasse, o pagamento do décimo terceiro e férias aos agentes políticos está previsto na LM n /2008, de iniciativa do Chefe do Executivo (f. 144), sobre a qual não houve qualquer declaração de inconstitucionalidade. Tem-se, ainda, que o direito dos agentes políticos às verbas ora em discussão deriva de comando constitucional - art. 39, 3º, CF - como ponderado no já mencionado RE n , pois "os direitos sociais insertos no art. 39, 3º, da CRFB, reclamam interpretação que lhes confiram máxima efetividade (art. 5º, 1º e 2º, da CRFB), em virtude de sua natureza jusfundamental", consoante expresso pelo Ministro Luiz Fux em seu votovista. Por conseguinte, não há dúvida que ao autor são devidos os valores relativos ao décimo terceiro salário e férias e seu terço, no período no qual ocupou o cargo de secretário municipal, mais precisamente de 30/9/2010 a 01/01/2013. No entanto, não é possível acolher integralmente seu pedido, pois deseja ver reconhecida a exigibilidade de verbas de natureza exclusivamente celetista, olvidando-se que se submeteu ao regime estatutário. Descabe, por conseguinte, a aplicação da previsão contida no art. 137, CLT ou qualquer outra do mesmo compêndio normativo que estabeleça o pagamento de verbas em dobro. 6

7 Portanto, as férias são devidas de forma simples, acrescidas, apenas, do terço constitucional. Da mesma forma, não há como validar o índice de atualização monetária pretendido pelo autor - INPC. Por conseguinte, o apelo comporta parcial acolhida para reforma da sentença e parcial provimento do pedido inicial, reconhecendo ao autor o décimo terceiro e férias (de forma simples) e seu terço, no período declinado na inicial - 30/9/2010 a 01/01/2013. Os valores em referência deverão considerar os vencimentos do servidor à época e serão corrigidos monetariamente desde a data em que devido o pagamento pela remuneração básica da poupança, dada pela Taxa Referencial (TR), consoante prevê o art. 1ºF, da Lei n. 9494/97 com redação dada pela Lei n /09. Os juros de mora, devidos desde a citação, observarão os índices relativos à remuneração adicional da poupança, também consoante art. 1ºF, da Lei n. 9494/97 com redação dada pela Lei n / Conclusão. 7

8 Fundado nessas considerações, dou parcial provimento ao apelo nos termos acima especificados. Configurada a sucumbência recíproca, caberá ao autor o pagamento de metade das custas processuais e honorários advocatícios que fixo em R$ 2.000,00 (dois mil reais) e que correspondem a aproximados 10% do excesso cobrado, considerada a atualização do valor referência. Ao réu caberá a metade das custas processuais, observada a isenção legal e honorários advocatícios a ser fixados nos termos do art. 85, 4º, II, CPC. DES. WASHINGTON FERREIRA - De acordo com o(a) Relator(a). DES. GERALDO AUGUSTO - De acordo com o(a) Relator(a). SÚMULA: "DERAM PARCIAL PROVIMENTO." 8