Estado do Tocantins Tribunal de Justiça 1ª Vara da Fazenda e Reg. Públicos de Palmas

Transcrição

1 Estado do Tocantins Tribunal de Justiça 1ª Vara da Fazenda e Reg. Públicos de Palmas Processo nº Chave nº Classe: Procedimento Comum Assunto: Adicional de Serviço Noturno, Sistema Remuneratório e Benefícios, Servidor Público Civil, DIREITO ADMINISTRATIVO E OUTRAS MATÉRIAS DE DIREITO PÚBLICO Autor: ASFETO - ASSOCIAÇÃO DOS FUNCIONÁRIOS DO FISCO DO ESTADO DO TOCANTINS Réu: ESTADO DO TOCANTINS SENTENÇA 1.RELATÓRIO Trata-se de AÇÃO DE COBRANÇA ajuizada pela ASFETO - ASSOCIAÇÃO DOS FUNCIONARIOS DO FISCO DO ESTADO DO TOCANTINS em face do ESTADO DO TOCANTINS objetivando o pagamento a seus associados do retroativo do adicional noturno, laborado e não pago, durante o período de outubro de 2010 a agosto de 2014, computando-se a hora noturna como 52min e 30segundos, acrescido do adicional de 25%. Para tanto, alega que impetrou mandado de segurança coletivo no Tribunal pleiteando o mesmo objeto, sendo que foi concedido aos auditores fiscais o direito ao recebimento da indenização, sem prejuízo dos 5 anos pretéritos ao ajuizamento do remédio constitucional (MS nº ).

2 Contudo, sustenta que o requerido passou a pagar o adicional noturno a partir agosto de 2014, sendo que deixou de efetuar o pagamento referente aos anos anteriores. Em sede de agravo ( /TJTO ) foi concedido o efeito suspensivo da decisão que indeferiu a justiça gratuita. O Agravo encontra-se pendente de julgamento. A antecipação de tutela foi indeferida. Em sede de contestação, o Estado alega que o pagamento de adicional noturno depende de ato regulamentador, conforme inteligência do art. 72 da Lei nº 1818/2007 c/c Decreto nº 3616/2010. Desta feita, somente após agosto de 2014 foi efetivado o pagamento da indenização. Requer a improcedência da ação. Houve impugnação. Vieram os autos conclusos. É O RELATÓRIO. DECIDO. 2.FUNDAMENTAÇÃO O direito ao adicional noturno dos servidores públicos está assegurado no art. 7º, inciso IX, c/c art. 39 parágrafo 3º, ambos da Constituição de 1988, 'litteris': "Art. 7º. (...). IX - remuneração do trabalho noturno superior à do diurno. Art. 39. (...). 3º - Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados

3 de admissão quando a natureza do cargo o exigir". Depreende-se da leitura do texto constitucional que é assegurado aos servidores públicos a remuneração do trabalho noturno superior à do diurno, sendo citada norma, na lição do eminente doutrinador José Afonso da Silva, de eficácia plena, não necessitando de qualquer integração normativa para produzir efeitos O Estatuto dos Servidores Públicos do Estado (Lei 1818/2007) estabelece, no artigo 72, que o desempenho de serviço noturno assegura o direito aos respectivos adicionais: Do Serviço Noturno. Art. 72. O serviço noturno, prestado em horário compreendido entre as 22h de um dia e 5h do dia seguinte, tem o valor-hora acrescido de 25%, computando-se cada hora como 52min30s. O Decreto Estadual nº 3616 de 05 de fevereiro de 2010, que dispõe sobre a concessão do referido adicional, em seu artigo 6º, condiciona o pagamento à edição de Instrução Normativa. Como bem expôs em seu voto, o Desembargador EURÍPEDES LAMOUNIER, relator no MS nº , destacou que "o referido benefício encontra-se amparado em legislação ordinária estadual e em dispositivo constante na Carta Magna, sendo uma norma de eficácia plena, dotada de imediata aplicabilidade e efeito, não necessitando de integração normativa." A falta de regulamentação por parte do Poder Executivo não pode impedir que o requerente receba o adicional de insalubridade. Nesse sentido: ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. MUNICÍPIO DE CONTAGEM. PROFESSOR. ADICIONAL NOTURNO. AUSÊNCIA DE REGULAMENTAÇÃO DE LEI MUNICIPAL.

4 IRRELEVÂNCIA. - O adicional noturno tem previsão constitucional e é extensível aos servidores públicos (arts. 7º, IX e 39, 3º, CF) e a lei municipal não demanda regulamentação. (TJ-MG - AC: MG, Relator: Alberto Vilas Boas, Data de Julgamento: 04/02/2014, Câmaras Cíveis / 1ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 12/02/2014) Ademais, o referido Mandado de Segurança, julgado pelo Tribunal de Justiça, serviu de marco temporal para a aplicação do prazo prescricional quinquenal. Assim, é legítimo o direito do autor em receber o adicional de insalubridade do período requerido. 3.DISPOSITIVO Ante o exposto, JULGO PROCEDENTE a demanda. CONDENO o requerido ao pagamento retroativo do adicional noturno, laborado e não pago, durante o período de outubro de 2010 a agosto de 2014, aos auditores fiscais pertencentes à Associação autora. Os valores deverão ser corrigidos monetariamente pelo IPCA a partir da data de quando cada pagamento deveria ter sido realizado, com a incidência de juros moratórios calculados com base no índice oficial de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de poupança, nos termos da regra do art. 1º-F da Lei n /97, com redação da Lei n /09, a partir da citação. Fica o mérito julgado nos termos do art. 487, I do NCPC. CONDENO o requerido ao pagamento dos honorários advocatícios, que fixo em 10% sob o valor da condenação, nos termos do inciso I, 3º, do art. 85 do NCPC. Intimem-se as partes. Sentença sujeita ao reexame necessário, nos termos do art. 496 do NCPC.

5 Palmas, 30 de novembro de MANUEL DE FARIA REIS NETO Juiz de Direito