PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO. 31ª Câmara Extraordinária de Direito Privado ACÓRDÃO

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de Cotia, em que é apelante MAURICIO DE LIMA, é apelada RENATA MENOCHELLI DE LIMA. ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 31ª Câmara Extraordinária de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Deram provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores BERETTA DA SILVEIRA (Presidente), SALLES ROSSI E JAMES SIANO. São Paulo, 17 de novembro de Beretta da Silveira Relator Assinatura Eletrônica

2 VOTO Nº: Apelação Nº COMARCA: Cotia Apelante: Mauricio de Lima Apelado: Renata Menochelli de Lima APELAÇÃO. Redistribuição pela Resolução OE nº 737/2016 e Portaria nº 02/2017 do TJSP. Impugnação à justiça gratuita. Embora a via utilizada para requerer a revogação da benesse tenha sido adequada, a impugnação veio desacompanhada de documentos que evidenciem que o impugnado possui situação econômica incompatível com o instituto da assistência judiciária, ônus que cabia à impugnante (art. 373, inciso, NCPC). Publicações de redes sociais que não denotam abundância incompatível com o proveito legal. Sentença reformada. RECURSO PROVIDO. Trata-se de IMPUGNAÇÃO À JUSTIÇA GRATUITA, julgada procedente pela r. sentença de fls. 31/32, proferida Carlos Alexandre Aiba Aguemi, de relatório adotado. Insurge-se o impugnado afirmando que a declaração expressa de impossibilidade de arcar com as custas é suficiente para a obtenção do benefício. Pugna pela manutenção da benesse. Contrarrazões às fls. 96/99. Ao julgamento virtual não se fez oposição (fl. 60). É O RELATÓRIO. Apelação nº Voto nº /6

3 1. Da redistribuição. Processo originariamente distribuído à 9ª Câmara de Direito Privado para o eminente Desembargador Mauro Conti Machado, em 09/08/2016. Redistribuição para a minha relatoria por força da Resolução OE nº 737/2016 e Portaria nº 02/2017 e, prontamente, julgado. 2. Da causa em evidência. Cuida-se de incidente de impugnação à justiça gratuita apresentado por Renata Menochelli de Lima em face de Maurício de Lima. Em ação de divórcio, o impugnado requereu a justiça gratuita, a qual foi concedida. Sustenta a impugnante que a alegação de pobreza do impugnado é inverídica, pois se contrapõe ao tipo de vida que este ostenta nas redes sociais. benefício concedido ao impugnado. A r. sentença foi julgada procedente, revogando o 3. Da motivação. procedem. Examinada a insurgência, é certo que suas fundações Apelação nº Voto nº /6

4 ser afastada. De início, a preliminar de inadequação da via eleita deve A impugnação em questão foi apresentada em 10/03/2016, ou seja, antes da vigência do Código de Processo Civil de 2015, quando a impugnação à assistência corria por incidente em autos apartados (art. 6º da Lei nº 1.060/1950). Uma vez que a peça impugnatória tramitou em incidente, coube ao juízo a quo resolver a questão por meio de sentença, a ser impugnada por meio de apelação, nos termos do art. 101 do CPC. Rejeita-se, portanto, a preliminar. Passa-se à análise do mérito. A Constituição da República, em seu artigo 5º, inciso LXXIV recepcionou o instituto da assistência judiciária, garantindo o acesso ao Judiciário àqueles que não possuem recursos para arcar com as despesas processuais sem prejuízo do seu sustento e de sua família. Para dar concretude ao preceito constitucional, o Novo Código de Processo Civil, seguindo o entendimento da Lei 1.060/50, trouxe a disciplina da gratuidade de justiça em seus artigos 98 e seguintes. O art. 99 prevê que o pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado na petição inicial, na contestação, na petição para ingresso de Apelação nº Voto nº /6

5 terceiro no processo ou no recurso. Ademais, o art. 98 estabelece como parâmetro que: A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, na forma da lei, presumindo-se como verdadeira a alegação de insuficiência deduzida exclusivamente pela pessoa natural (parágrafo 3º do art. 99 do NCPC). Tal dicção vai ao encontro do entendimento há muito tempo sedimentado nos Tribunais Superiores de que a simples afirmação de pobreza feita pela parte, até prova em contrário, é suficiente para que ela obtenha o benefício da assistência judiciária (STF: RE /RS, Rel. Min. Francisco Rezek, DJU ; RE /RS, Rel. Min. Moreira Alves, DJU ; e STJ: RSTJ 7/414, 57/412, 95/446). No caso, embora a via utilizada para requerer a revogação da benesse tenha sido adequada, a impugnação veio desacompanhada de documentos que evidenciem que o impugnado possui situação econômica incompatível com o instituto da assistência judiciária, ônus que cabia à impugnante (art. 373, inciso, NCPC). Cumpre mencionar que os documentos trazidos às fls. 8/16 não são aptos a demonstrar a capacidade financeira do apelante de arcar com as despesas processuais e tampouco denotam abundância incompatível com o proveito legal. Ademais, a informação de viagem desacompanhada de Apelação nº Voto nº /6

6 documentos que demonstrem gastos vultosos não é suficiente para demonstrar a falta de veracidade da alegação de impossibilidade de pagamento das custas processuais sem prejuízo do próprio sustento. Neste panorama, necessária a inversão da r. sentença recorrida para que seja retomada a assistência judiciária concedida ao apelante. 4. Do dispositivo. Ante o exposto, DÁ-SE PROVIMENTO ao recurso. BERETTA DA SILVEIRA Relator Apelação nº Voto nº /6