Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Transcrição

1 Número do /002 Númeração Relator: Relator do Acordão: Data do Julgamento: Data da Publicação: Des.(a) Raimundo Messias Júnior Des.(a) Raimundo Messias Júnior 12/11/ /11/2014 EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA - APELAÇÃO CÍVEL - ICMS - REDUÇÃO DA BASE DE CÁLCULO NA IMPORTAÇÃO DE AERONAVES USADAS - TRATADO INTERNACIONAL - APLICAÇÃO CONFORME MERCADORIAS NACIONAIS - IGUALDADE NO TRATAMENTO - DECISÃO REFORMADA. 1. Os países signatários do GATT se comprometeram a dar ao produto estrangeiro equivalência de tratamento comercial e tributário ao produto similar nacional. 2. A redução da base de cálculo do ICMS não se aplica a todas as mercadorias usadas. 3. A mercadoria usada nacional somente tem direito ao benefício se já tiver sido tributada integralmente pelo ICMS, condição que a mercadoria importada não cumpre. 4. No presente caso, conceder a redução da base de cálculo resultaria em tratamento mais benéfico ao produto importado, em detrimento do similar nacional. 5. Recurso não provido. APELAÇÃO CÍVEL Nº /002 - COMARCA DE BELO HORIZONTE - APELANTE(S): LUMAR ADMINISTRAÇÃO E PARTICIPAÇÃO LTDA - APELADO(A)(S): ESTADO DE MINAS GERAIS - AUTORI. COATORA: SUPERINTENDENTE REGIONAL DA FAZENDA ESTADUAL DE BELO HORIZON A C Ó R D Ã O Vistos etc., acorda, em Turma, a 2ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, em, à unanimidade, NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO. DES. RAIMUNDO MESSIAS JÚNIOR 1

2 RELATOR O SR. DES. RAIMUNDO MESSIAS JÚNIOR (RELATOR) V O T O Trata-se de apelação da sentença proferida pelo MM. Juiz de Direito da 4ª Vara de Feitos Tributários do Estado, que denegou o Mandado de Segurança impetrado por Lumar Administração e Participação Ltda, referente a ato imputado ao Superintendente Regional da Fazenda Estadual de Belo Horizonte. Sustenta o apelante que a operação no mercado interno, com máquinas, aparelhos e veículos usados, tem a base de cálculo reduzida. Diante disso, o mesmo tratamento tributário tem que ser dado ao produto adquirido do exterior e em países signatários do GATT, por força de lei e de tratados internacionais. Afirma que a origem da aeronave usada, importada dos Estados Unidos da América, autoriza a redução do ICMS. Argumenta que não pode ser admitida a exclusão estabelecida no item 10.3, letra "b" do RICMS, que viola flagrantemente o tratamento isonômico estabelecido no GATT, que nos termos do art. 98 do CTN, afasta a aplicação da lei local. Pede o provimento do recurso. Contrarrazões às fls. 189/200. A Procuradoria de Justiça opinou pelo não provimento do recurso (fls. 206/208-v). 2

3 Presentes os requisitos de admissibilidade, conheço do recurso. Cinge-se a controvérsia em verificar se, no presente caso, a agravada faz jus ao benefício de redução da base de cálculo do ICMS incidente sobre a operação de importação de aeronave usada. O GATT é um conjunto de normas e concessões tarifárias, e dentre elas os países signatários se comprometem a dar ao produto estrangeiro equivalência de tratamento comercial e tributário ao produto similar nacional, de forma que não haja valorização do produto nacional, em detrimento do produto importado. Vejamos: ARTIGO I TRATAMENTO GERAL DE NAÇÃO MAIS FAVORECIDA 1. Qualquer vantagem, favor, imunidade ou privilégio concedido por uma Parte Contratante em relação a um produto originário de ou destinado a qualquer outro país, será imediata e incondicionalmente estendido ao produtor similar, originário do território de cada uma das outras Partes Contratantes ou ao mesmo destinado. Este dispositivo se refere aos direitos aduaneiros e encargos de toda a natureza que gravem a importação ou a exportação, ou a elas se relacionem, aos que recaiam sobre as transferências internacionais de fundos para pagamento de importações e exportações, digam respeito ao método de arrecadação desses direitos e encargos ou ao conjunto de regulamentos ou formalidades estabelecidos em conexão com a importação e exportação bem como aos assuntos incluídos nos 2 e 4 do art. III. 3

4 Deve-se levar em conta que o benefício busca conferir tratamento isonômico à tributação de produtos nacionais e importados, impedindo a adoção de condutas protecionistas. Assim, necessário analisar a finalidade da redução do ICMS, para aferir se o produto importado deve gozar do mesmo benefício. Com efeito, a redução da base de cálculo do ICMS na operação com produtos usados tem o objetivo de evitar a bitributação, uma vez que a mercadoria nova sofre integralmente a incidência do imposto. Nesse contexto, prevê o anexo IV, item 10.3, alínea b, do RICMS, a restrição à redução de alíquota prevista no item 10, in verbis: 10.3: O benefício não se aplica à mercadoria: (...) b) de origem estrangeira que não tiver sido gravada pelo ICMS, em etapas anteriores de sua circulação no País, ou por ocasião de sua importação ou recebimento pelo importador; É nesse sentido que a legislação exige que a mercadoria usada já tenha pertencido a consumidor final, ou seja, já tenha sido integralmente tributada pelo ICMS. 4

5 In casu, conceder a redução da base de cálculo resultaria em tratamento mais benéfico ao produto importado que ao similar nacional. Conforme demonstrado, a mercadoria usada nacional somente faz jus ao benefício, se anteriormente já tiver sido tributada pelo ICMS, condição que a mercadoria importada não cumpre. Importante ressaltar que as mercadorias importadas usadas, caso vierem a ser comercializadas, poderão aproveitar normalmente a redução da base de cálculo do ICMS. Portanto, deve ser aplicado o benefício fiscal aos produtos importados, nos termos das normas do GATT, tal como é aplicado aos produtos nacionais, já que, somente assim, estará sendo observado o princípio da igualdade de tratamento. Assim, a regra restritiva do item 10.3, alínea b do anexo IV do RICMS (Decreto nº /2002) não ofende as normas do GATT. A propósito, oportuno transcrever parte do parecer ministerial(fl. 207), da lavra do Eminente Procurador Derivaldo Paula de Assunção: In casu, a pretensão da impetrante culminará com a imposição de tratamento desigual entre o produto interno e o importado, pois a aeronave usada importada jamais foi gravada pelo ICMS; assim, quando de sua entrada no Brasil, seu valor será inferior à mercadoria similar nacional usada, que já foi gravada pelo referido imposto. Nessa seara, em se tratando de aeronave usada nacional, o imposto estará incidindo pela segunda vez, enquanto na importada ocorrerá a 5

6 primeira incidência. No mesmo sentido, a jurisprudência do TJMG: EMENTA: Mandado de Segurança. Liminar. Pressupostos. Ausência. Indeferimento. O deferimento de medida liminar, em sede de mandado de segurança, está adstrito à coexistência da relevância da fundamentação invocada pelo impetrante e do perigo da ineficácia da medida, caso deferida somente ao final; ausentes os pressupostos, é de se indeferir a medida. A legislação de regência veda a redução da base de cálculo do ICMS de mercadoria usada de origem estrangeira que não tiver sido gravada pelo ICMS, em etapas anteriores de sua circulação no país, ou por ocasião de sua importação ou recebimento pelo importador, dispositivo que não ofende o tratado dos países signatários do GATT/OMC. (Agravo de Instrumento-Cv /001, Relator: Des. Antônio Sérvulo, j. em 05/03/2013) Com tais considerações, NEGO PROVIMENTO AO RECURSO. Custas pelo apelante. DES. CAETANO LEVI LOPES (REVISOR) - De acordo com o(a) Relator(a). DESA. HILDA MARIA PÔRTO DE PAULA TEIXEIRA DA COSTA - De acordo com o(a) Relator(a). 6

7 SÚMULA: "NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO" 7