Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Tamanho: px

Começar a partir da página:

Download "Tribunal de Justiça de Minas Gerais"

Felipe de Paiva de Mendonça
6 Há anos
Visualizações:

Número do 1.0064.13.001331-7/003 Númeração 0013317- Relator: Relator do Acordão: Data do Julgamento: Data da Publicação: Des.(a) Marcelo Rodrigues Des.

1 Número do /003 Númeração Relator: Relator do Acordão: Data do Julgamento: Data da Publicação: Des.(a) Marcelo Rodrigues Des.(a) Marcelo Rodrigues 05/08/ /08/2014 Apelação cível - Mandado de segurança - Licenciamento ambiental - Empreendimento que abrange mais de um município - Competência do órgão ambiental estadual - Certidão da prefeitura municipal - Conformidade com a legislação de uso e ocupação do solo - Emissão condicionada à compensação ambiental exigida pelo município - Superposição de competência - Impossibilidade - Segurança concedida - Apelação à qual se nega provimento. 1. Quando o empreendimento abranger mais de um município, a competência para o licenciamento ambiental é do órgão ambiental estadual, não cabendo ao município exigir qualquer compensação ambiental para emissão da certidão prevista no artigo 10, 1º, da Resolução CONAMA 237, de Eventuais impactos ambientais decorrentes da instalação e operação do empreendimento submetido ao controle ambiental serão monitorados e sofrerão as devidas intervenções do órgão competente, não sendo permitida a superposição de competências entre os órgãos ambientais das três esferas administrativas. APELAÇÃO CÍVEL /003 - COMARCA DE BELO VALE - VARA ÚNICA - APELANTE(S): MUNICÍPIO DE BELO VALE - APELADO(A)(S): ATE XVIII TRANSMISSORA DE ENERGIA S/A - AUTORIDADE COATORA: PREFEITO DE BELO VALE. A C Ó R D Ã O Vistos etc., acorda, em Turma, a 2ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata 1

2 dos julgamentos, à unanimidade, em negar provimento ao recurso. DES. MARCELO RODRIGUES RELATOR. Desembargador MARCELO RODRIGUES RELATOR V O T O Cuida-se de recurso de apelação interposto pelo município de Belo Vale contra a sentença de f. 262/263 que, nos autos do mandado de segurança impetrado por ATE VXIII Transmissora de Energia S/A, concedeu a segurança, confirmando a medida liminar deferida à f. 157/157-v. Inconformado, sustenta o apelante (f. 265/271) que a certidão prevista no artigo 10, 1º, da Resolução do CONAMA 237, de 1997 deve demonstrar que o empreendimento encontra-se em conformidade com a lei municipal aplicável ao uso e ocupação do solo e, embora o município não possua uma lei específica sobre o assunto, pode utilizar legislação que trate de alguma forma sobre o uso e ocupação do solo, com a finalidade de proteger o meio ambiente. Sustenta que antes da impetração do mandado de segurança já havia emitido uma certidão fazendo constar que a atividade desenvolvida e o local de instalação do empreendimento 'Linha de Transmissão - LT500KV Estreito- Itabirito 2' encontravam-se em desconformidade com a Lei municipal 1.235, de 2010 (Estatuto de Impacto de Vizinhança). Aduz que o empreendimento em questão depende do Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV), pois se enquadra no item 'transporte de toda natureza' (Art. 9º da Lei municipal 1.235, de 2010). Acrescenta que a apelada não apresentou medidas compensatórias 2

3 inerentes aos prejuízos que serão causados à população da cidade e que "não faria sentido algum retirar do órgão municipal a competência para avaliar o laudo de impacto ambiental, mesmo porque, é ele, Município, quem sofrerá, de forma mais direta, com a intervenção humana no meio ambiente" (f. 271). 274/298. Devidamente intimada, a apelada apresentou contrarrazões à f. Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso. Com efeito, a manutenção do meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida (art. 225, caput, CF), está diretamente ligado ao direito fundamental à vida (art. 5º, caput, CF). Não qualquer vida, mas a vida com dignidade, que é um dos fundamentos da República Federativa do Brasil (art. 1º, III, CR) e um norte a ser alcançado.1 Esta visão humanística do direito ambiental deve nortear os magistrados nas suas decisões, impedindo medidas lesivas ao meio ambiente. No caso dos autos, a apelada, vencedora do leilão de transmissão de energia elétrica 7 de 2012, com o objetivo de cumprir o cronograma estabelecido no edital, impetrou mandado de segurança contra ato do prefeito do município de Belo Vale, que negou a emissão da certidão prevista no artigo 10, 1º, da Resolução do CONAMA 237, de 1997, que assim preceitua: Art. 10. (...) 1º. No procedimento de licenciamento ambiental deverá constar, obrigatoriamente, a certidão da Prefeitura Municipal, declarando que o local e o tipo de empreendimento ou atividade estão em conformidade 3

4 com a legislação aplicável ao uso e ocupação do solo e, quando for o caso, a autorização para supressão de vegetação e a outorga para o uso da água, emitidas pelos órgãos competentes. (grifou-se) É cediço que toda atividade ou empreendimento efetiva ou potencialmente capaz de modificar negativamente o meio ambiente ficará submetido ao controle ambiental, o qual possui várias modalidades, dentre elas o licenciamento ambiental. Da simples leitura do dispositivo supra transcrito, verifica-se que a aludida certidão para fins de licenciamento ambiental tem a finalidade de assegurar que o empreendimento encontra-se nos limites da lei local quanto ao uso e ocupação do solo. Entretanto, no município de Belo Vale (apelante) não existe legislação específica de uso e ocupação do solo, de modo que a emissão da certidão não pode ser negada pela Prefeitura Municipal, conforme confessado pelo próprio ente municipal à f. 92: "(...) uma vez que não temos como negar tal declaração por não possuirmos Lei de Uso e Ocupação do Solo". O apelante, contudo, insiste que o Estatuto de Impacto de Vizinhança do município de Belo Vale (Lei municipal 1.235, de 2010) é instrumento que subsidia a concessão da certidão ora pleiteada, visto que o empreendimento da apelada está submetido à referida norma municipal, a qual, em seu artigo 2º, inciso III, destaca as possíveis alterações de uso e ocupação do solo. 2010: Estabelece o referido artigo 2º, inciso III, da Lei municipal 1.235, de Art. 2º. O Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) avaliará os efeitos do empreendimento ou atividade sobre a qualidade de vida da população 4

5 residente e/ou em circulação nas áreas de influência do projeto, com base nos seguintes aspectos: (...) III - alterações possíveis no uso e ocupação do solo decorrentes do empreendimento ou atividade; Ora, o dispositivo em destaque não define as normas de uso e ocupação do solo, mas apenas evidencia que o EIV irá avaliar as alterações neste sentido, cuja avaliação também dependerá da existência de lei de uso e ocupação do solo, a qual, até o presente momento, não foi promulgada naquela municipalidade. Ademais disso, no caso particular dos autos, sabendo que o empreendimento abrange mais de um município, certo que a competência para o licenciamento ambiental é do Estado de Minas Gerais, conforme artigo 5º, inciso I, da Resolução do CONAMA 237, de Ou seja, na hipótese em análise, não cabe ao município apelante exigir compensação ambiental para emissão da certidão prevista no artigo 10, 1º, da Resolução do CONAMA 237, de 1997, visto que o licenciamento é de competência do órgão ambiental estadual, devendo a municipalidade apenas manifestar-se sobre a observância pelo empreendimento da lei de uso e ocupação do solo que, no caso em exame, ainda não existe. Assim, sendo a competência para o licenciamento do órgão ambiental estadual, os eventuais impactos ambientais serão por ele monitorados, estudados e sofrerão as devidas intervenções, não cabendo a superposição de competências existente antes da Lei Complementar 140, de Ensina Paulo de Bessa Antunes: 5

6 Como se vê, nos termos da legislação complementar, os três níveis federativos guardam competências de licenciamento ambiental, porém, tais competências não serão mais exercidas de forma superposta, ou contraditória, fazendo com que o licenciamento ambiental se transforme em verdadeiro 'guessing game', tais as incertezas que o informam. (ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. 15. ed. São Paulo: Atlas, 2013, p.207) Deste modo, sendo a competência para o licenciamento do órgão ambiental estadual, o município apenas poderá manifestar-se ao órgão responsável pela licença ou autorização, de maneira não vinculante (artigo 13, 1º, da Lei complementar 140, de 2011), não podendo condicionar a expedição da certidão prevista no artigo 10, 1º, da Resolução CONAMA 237, de 1997 à compensação ambiental sugerida pelo Conselho municipal de desenvolvimento ambiental. Mediante tais fundamentos, nego provimento ao recurso, mantendo a sentença de primeiro grau por seus jurídicos fundamentos. Sem custas recursais, ante a isenção legal do apelante. É como voto. DES. RAIMUNDO MESSIAS JÚNIOR (REVISOR) - De acordo com o(a) Relator(a). DES. CAETANO LEVI LOPES - De acordo com o(a) Relator(a). SÚMULA: "Negar provimento ao recurso" 6

7 1 AKAQUI, Fernando Reverendo Vidal. Manual de direitos difusos. 2. ed. Coordenador: Vidal Serrano Nunes Júnior. São Paulo: Verbatim, 2012, p

Documentos relacionados

Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Tribunal de Justiça de Minas Gerais Número do 1.0024.13.024213-4/001 Númeração 0242134- Relator: Relator do Acordão: Data do Julgamento: Data da Publicação: Des.(a) Jair Varão Des.(a) Jair Varão 20/02/2014 14/03/2014 EMENTA: PROCESSUAL CIVIL