Aula 92. Contestação (Parte V): Art Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar: VIII - conexão.

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1 Turma e Ano: Direito Processual Civil - NCPC (2016) Matéria / Aula: Contestação. Defesas processuais Artigo 337, VII a X / 92 Professor: Edward Carlyle Monitora: Laryssa Marques Aula 92 Contestação (Parte V): Defesas processuais art. 337, CPC/15 (continuação): Art Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar: VIII - conexão. A conexão é uma das principais causas de modificação da competência e tem previsão no art. 55 do CPC, que tem a seguinte redação: CPC, Art. 55. Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ações quando lhes for comum o pedido ou a causa de pedir. A continência, prevista no art. 56, é basicamente uma conexão qualificada. E, portanto, também está abrangida pelo art. 337, VIII. A conexão não acarreta a extinção do processo sem resolução do mérito. Trata-se de defesa processual dilatória, de forma que apenas irá retardar a prolação do julgamento final relativo à causa. Uma vez alegada a conexão em preliminar de contestação, o juiz irá analisar se há comunhão ou identidade de pedido e/ou causa de pedir entre a demanda que possui em mãos e outra demanda que tramita em juízo diverso, a fim de se verificar qual é o juízo prevento e reunir neste as demandas para processamento e julgamento simultâneos. CPC, Art. 55, 1 o Os processos de ações conexas serão reunidos para decisão conjunta, salvo se um deles já houver sido sentenciado. Por previsão expressa do art. 59 do CPC, o juízo prevento é o definido a partir do registro ou a distribuição da petição inicial. Caso o juiz reconheça que outro juízo seja prevento e decline a competência para ele, dessa decisão cabe algum recurso?

2 Como se sabe, trata-se de decisão interlocutória. Sendo assim, indaga-se: cabe agravo de instrumento, levando em conta a taxatividade do rol do art do CPC? CPC, Art Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre: I - tutelas provisórias; II - mérito do processo; III - rejeição da alegação de convenção de arbitragem; IV - incidente de desconsideração da personalidade jurídica; V - rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua revogação; VI - exibição ou posse de documento ou coisa; VII - exclusão de litisconsorte; VIII - rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio; IX - admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros; X - concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à execução; XI - redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, 1 o ; XII - (VETADO); XIII - outros casos expressamente referidos em lei. Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de execução e no processo de inventário. Note que em nenhum inciso há menção à hipótese de decisão pelo declínio de competência. Assim, em não havendo previsão, no art , de interposição agravo de instrumento, o recurso adequado à hipótese, em tese, é apelação, apenas no futuro, após a prolação da sentença. No entanto, pode ser que os prejuízos ocasionados pela decisão sejam imensos. Ex.: após a sentença, a pessoa recorre, demonstrando que não existe conexão. Imagine que o Tribunal acolha tal argumento e remeta os autos para o juízo competente três, cinco anos

3 mais tarde é evidente o prejuízo causado (perda de tempo) por esta decisão interlocutória incorreta, para qual a lei não prevê o cabimento de agravo de instrumento. Em situações como esta afim de se viabilizar economia e ordem no sistema processual - há quem defenda, na doutrina, que seria possível se admitir o agravo de instrumento, por analogia ao art , inciso III, referente à rejeição da alegação de convenção de arbitragem. A justificativa seria que o inciso em comento diz respeito à competência e que, por analogia, qualquer decisão envolvendo competência também poderia ser objeto de agravo de instrumento. Contudo, tal posicionamento não é pacífico, ao passo que há na doutrina quem afirme que diante da taxatividade do rol trazido pelo art do CPC, não há que se falar em emprego de analogia à hipótese; de modo que para os adeptos desse entendimento, o momento adequado para questionar tal matéria seria mesmo em preliminar de apelação (ou de contrarrazões de apelação). Art Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar: IX - incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autorização. O art. 76 do CPC assim dispõe: Art. 76. Verificada a incapacidade processual [ad processum] ou a irregularidade da representação da parte, o juiz suspenderá o processo e designará prazo razoável para que seja sanado o vício. O réu alega vícios do autor. O juiz determinará a correção do vício pelo autor, que se não o suprir, acarretará a extinção do processo sem resolução do mérito, nos moldes do art. 76, 1 o, I c/c art. 485, IV ambos do CPC: Art. 76, 1 o Descumprida a determinação, caso o processo esteja na instância originária: I - o processo será extinto, se a providência couber ao autor. Art O juiz não resolverá o mérito quando: IV - verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo;

4 Art Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar: X - convenção de arbitragem. A convenção de arbitragem é gênero, que abrange duas espécies distintas: (i) a cláusula compromissória; e (ii) o compromisso arbitral. A Lei de Arbitragem (lei 9.307/96) - nos arts. 8 o e 9 o - estabelece que: Art. 8º A cláusula compromissória é autônoma em relação ao contrato em que estiver inserta, de tal sorte que a nulidade deste não implica, necessariamente, a nulidade da cláusula compromissória. Parágrafo único. Caberá ao árbitro decidir de ofício, ou por provocação das partes, as questões acerca da existência, validade e eficácia da convenção de arbitragem e do contrato que contenha a cláusula compromissória. A cláusula compromissória é aquela prevista no contrato ou no pacto adjeto ao contrato, que estabelece que as eventuais e futuras discussões/divergências/embates entre as partes que sejam oriundas desse contrato venham a ser resolvidas através da arbitragem. Art. 9º O compromisso arbitral é a convenção através da qual as partes submetem um litígio à arbitragem de uma ou mais pessoas, podendo ser judicial ou extrajudicial. 1º O compromisso arbitral judicial celebrar-se-á por termo nos autos, perante o juízo ou tribunal, onde tem curso a demanda. 2º O compromisso arbitral extrajudicial será celebrado por escrito particular, assinado por duas testemunhas, ou por instrumento público. No compromisso arbitral, as partes, de comum acordo, resolvem que o conflito que já existe deverá ser solucionado através da arbitragem. Em síntese: Arbitragem Cláusula compromissória Compromisso arbitral Conflito futuro/eventual Conflito já existe/atual

5 No Brasil, há ainda certo preconceito em relação à arbitragem e as partes preferem se dirigir diretamente ao Judiciário para solução de divergências. No exterior, as grandes empresas utilizam muito esse mecanismo de solução de conflitos. A convenção de arbitragem não pode ser conhecida de ofício pelo juiz, conforme o caput do art. 337, 5 o ; cabendo ao réu fazê-lo em preliminar de contestação. E, se o réu não o fizer (alegar a convenção de arbitragem - em qualquer de suas espécies: cláusula compromissória ou compromisso arbitral - em preliminar de contestação), estará preclusa a sua oportunidade de fazê-lo. A consequência disso é que o réu estará abrindo mão da arbitragem em favor da aplicação da jurisdição estatal. Existe uma discussão acerca da natureza da convenção de arbitragem: seria matéria de ordem pública? Ora, como vimos o juiz não pode conhecê-la de ofício e ela deve ser alegada pela parte na primeira oportunidade que tiver para falar nos autos, sob pena de preclusão. Sendo assim, não se trata de matéria de ordem pública, mas de defesa processual. Importante destacar ainda que é preciso compatibilizar o art. 337, X do CPC com o art. 485, VII, que assim dispõe: Art O juiz não resolverá o mérito quando: VII - acolher a alegação de existência de convenção de arbitragem ou quando o juízo arbitral reconhecer sua competência. Da leitura do dispositivo acima, extrai-se que o árbitro tem competência para decidir acerca de sua própria competência. É o chamado princípio (ou regra) da Kompetenz Kompetenz, pelo qual, mesmo o juízo absolutamente incompetente possui competência para decidir acerca de sua própria (in)competência. Neste contexto, surgem algumas hipóteses: Hipótese 1: existe arbitragem em curso; é anterior ao processo. Caso o árbitro entenda que é competente, o processo judicial é extinto sem resolução do mérito (art. 485, VII, CPC). Caso ainda não tenha decidido, o juiz da causa deverá

6 aguardar a sua decisão (solução do árbitro) para que o processo judicial tenha andamento, por força do princípio da Kompetenz Kompetenz. Hipótese 2: não existe arbitragem em curso Neste cenário, o juiz irá decidir acerca da alegação de convenção de arbitragem. Se ele reconhecer que existe a convenção e que ela é válida, deverá extinguir o processo sem resolução do mérito (art. 485, VII, 1 a parte, CPC). Se entender que a convenção não existe ou não é válida, é hipótese de decisão interlocutória, recorrível por agravo de instrumento, na forma do art , III, CPC. Hipótese 3: existe arbitragem em curso; é posterior ao processo judicial. Juiz também deve aguardar a decisão do árbitro neste caso.