:ESTADO DE MINAS GERAIS : JOELSON DIAS E OUTRO(A/S) :ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

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1 RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO MINAS GERAIS RELATOR : MIN. DIAS TOFFOLI RECTE.(S) :SINFFAZ - SINDICATO DOS TÉCNICOS EM TRIBUTAÇÃO, FISCALIZAÇÃO E ARRECADAÇÃO ADV.(A/S) RECDO.(A/S) DO ESTADO DE MINAS GERAIS : JOELSON DIAS E OUTRO(A/S) :ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MINAS GERAIS RECDO.(A/S) :ESTADO DE MINAS GERAIS PROC.(A/S)(ES) :ADVOGADO-GERAL DO ESTADO DE MINAS GERAIS DECISÃO: Vistos. Trata-se de agravo contra a decisão que não admitiu recurso extraordinário interposto contra acórdão da Corte Superior do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, assim ementado: EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE LEI ESTADUAL Nº /05 PREVISÃO DE RELAÇÃO DE SUPERVISÃO ENTRE OS CARGOS DE AUDITOR E GESTOR FAZENDÁRIO AUSÊNCIA DE INCONSTITUCIONALIDADE IMPROCEDÊNCIA DA REPRESENTEÇÃO. (fl. 119) Opostos embargos de declaração (fls. 130/134), foram rejeitados (fls. 145/152). No recurso extraordinário (fls. 165/180), sustenta-se que o acórdão recorrido ofendeu o art. 37, caput e V, da Constituição Federal, bem assim peca o ato normativo impugnado pela falta de proporcionalidade/razoabilidade. Requer, alternativamente, que seja conferida interpretação conforme à Constituição à expressão contida no dispositivo questionado, de modo a excluir todas as interpretações direcionadas à instituição de relação jurídica de subordinação entre as carreiras de Gestor Fazendário e Auditor Fiscal. O parecer da douta Procuradoria-Geral da República é pelo não

2 conhecimento do recurso e, no mérito, pela sua denegação (fls. 242/245). Decido. Anote-se, inicialmente, que o recurso extraordinário foi interposto contra acórdão publicado após 3/5/07, quando já era plenamente exigível a demonstração da repercussão geral da matéria constitucional objeto do recurso, conforme decidido na Questão de Ordem no Agravo de Instrumento nº /RS, Pleno, Relator o Ministro Sepúlveda Pertence, DJ de 6/9/07. Todavia, apesar da petição recursal haver trazido a preliminar sobre o tema, não é de se proceder ao exame de sua existência, uma vez que, nos termos do artigo 323 do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, com a redação introduzida pela Emenda Regimental nº 21/07, primeira parte, o procedimento acerca da existência da repercussão geral somente ocorrerá quando não for o caso de inadmissibilidade do recurso por outra razão. A irresignação não merece prosperar. Aponta o agravante que a expressão sob a supervisão do Auditor Fiscal da Receita Estadual, contida no item II.2 do Anexo II da Lei estadual nº /2005, ao estabelecer a subordinação hierárquica dos titulares do cargo de Gestor Fazendário GEFAZ aos Auditores Fiscais da Receita Estadual quanto aos atos preparatórios à ação de fiscalização, ofenderia os princípios da eficiência e da hierarquia da administração pública. Apesar de se constatar o prequestionamento das matérias deduzidas no extraordinário, deixo de verificar a ocorrência de agressão aos referidos postulados normativos. O princípio da eficiência, encartado no art. 37 da Constituição Federal após a Emenda Constitucional nº 19/1998, consagra valor de otimização da gestão da coisa pública, pautado na racionalidade da estruturação dos elementos da organização administrativa e na economicidade da alocação e dispêndio de recursos. É, ademais, focado na padronização de resultados, a serem perseguidos pelo ente público e seus servidores, bem assim na persecução da qualidade na prestação de 2

3 serviços públicos. Sendo, contudo, marcado por um conteúdo jurídico indeterminado, seu controle de incidência na seara judicial deve ser excepcional, sob pena de anular-se a discricionariedade do legislador e do gestor público. Por sua vez, a Constituição Federal assegurou aos Estados-membros a possibilidade de auto-organização, de forma que suas estruturas administrativas podem ser definidas de forma a melhor atender os seus interesses, desde que observados os princípios constitucionais. Por tal razão é que se defere ao Chefe do Poder Executivo a iniciativa de leis que definam a estruturação da Administração Pública e, por tabela, regulamentam as funções inerentes a cada cargo público. Nesse sentido, vide precedentes desta Corte em que se ressalta a habilidade da legislação infraconstitucional para definir a estrutura administrativa e as atribuições dos cargos públicos: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI 7.755, DE , DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO. TRÂNSITO. INVASÃO DA COMPETÊNCIA LEGISLATIVA DA UNIÃO PREVISTA NO ART. 22, XI, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. INICIATIVA DO CHEFE DO PODER EXECUTIVO. USURPAÇÃO. ARTS. 61, 1º, II, E E 84, VI, DA CARTA MAGNA. 1. É pacífico nesta Corte o entendimento de que o trânsito é matéria cuja competência legislativa é atribuída, privativamente, à União, conforme reza o art. 22, XI, da Constituição Federal. Precedentes: ADI 2.064, rel. Min. Maurício Corrêa e ADI MC, rel. Min. Sepúlveda Pertence. 2. O controle da baixa de registro e do desmonte e comercialização de veículos irrecuperáveis é tema indissociavelmente ligado ao trânsito e a sua segurança, pois tem por finalidade evitar que unidades automotivas vendidas como sucata - como as sinistradas com laudo de perda total - sejam reformadas e temerariamente reintroduzidas no mercado de veículos em circulação. 3. É indispensável a iniciativa do Chefe do Poder Executivo (mediante projeto de lei ou mesmo, após a EC 32/01, por meio de decreto) na elaboração de normas que de alguma 3

4 forma remodelem as atribuições de órgão pertencente à estrutura administrativa de determinada unidade da Federação. 4. Ação direta cujo pedido se julga procedente (ADI nº 3.254/ES, Relatora a Ministra Ellen Gracie, DJ de 02/12/05). EMENTAS: 1. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. Condição. Objeto. Decreto que cria cargos públicos remunerados e estabelece as respectivas denominações, competências e remunerações. Execução de lei inconstitucional. Caráter residual de decreto autônomo. Possibilidade jurídica do pedido. Precedentes. É admissível controle concentrado de constitucionalidade de decreto que, dando execução a lei inconstitucional, crie cargos públicos remunerados e estabeleça as respectivas denominações, competências, atribuições e remunerações. 2. INCONSTITUCIONALIDADE. Ação direta. Art. 5 da Lei n 1.124/2000, do Estado do Tocantins. Administração pública. Criação de cargos e funções. Fixação de atribuições e remuneração dos servidores. Efeitos jurídicos delegados a decretos do Chefe do Executivo. Aumento de despesas. Inadmissibilidade. Necessidade de lei em sentido formal, de iniciativa privativa daquele. Ofensa aos arts. 61, 1, inc. II, "a", e 84, inc. VI, "a", da CF. Precedentes. Ações julgadas procedentes. São inconstitucionais a lei que autorize o Chefe do Poder Executivo a dispor, mediante decreto, sobre criação de cargos públicos remunerados, bem como os decretos que lhe dêem execução (ADI nº 3.232/TO, Relator o Ministro Cezar Peluso, DJe de 03/10/08). EMENTA: Ação direta de inconstitucionalidade: medida cautelar: L. estadual (RS) , de 28 de abril de 2000, que introduz alterações em leis estaduais (6.537/73 e 9.298/91) que regulam o procedimento fiscal administrativo do Estado e a cobrança judicial de créditos inscritos em dívida ativa da fazenda pública estadual, bem como prevê a dação em 4

5 pagamento como modalidade de extinção de crédito tributário. I - Extinção de crédito tributário criação de nova modalidade (dação em pagamento) por lei estadual: possibilidade do Estado-membro estabelecer regras específicas de quitação de seus próprios créditos tributários. Alteração do entendimento firmado na ADInMC 1917-DF, , Marco Aurélio, DJ : conseqüente ausência de plausibilidade da alegação de ofensa ao art. 146, III, b, da Constituição Federal, que reserva à lei complementar o estabelecimento de normas gerais reguladoras dos modos de extinção e suspensão da exigibilidade de crédito tributário. II - Extinção do crédito tributário: moratória e transação: implausibilidade da alegação de ofensa dos artigos 150, 6º e 155, 2º, XII, g, da CF, por não se tratar de favores fiscais. III - Independência e Separação dos Poderes: processo legislativo: iniciativa das leis: competência privativa do Chefe do Executivo. Plausibilidade da alegação de inconstitucionalidade de expressões e dispositivos da lei estadual questionada, de iniciativa parlamentar, que dispõem sobre criação, estruturação e atribuições de órgãos específicos da Administração Pública, criação de cargos e funções públicos e estabelecimento de rotinas e procedimentos administrativos, que são de iniciativa reservada ao Chefe do Poder Executivo (CF, art. 61, 1º, II, e), bem como dos que invadem competência privativa do Chefe do Executivo (CF, art. 84, II). Conseqüente deferimento da suspensão cautelar da eficácia de expressões e dispositivos da lei questionada. IV - Participação dos Municípios na arrecadação de tributos estaduais. 1. IPVA - Interpretação conforme, sem redução de texto, para suspensão da eficácia da aplicação do 3º do art. 114, introduzido na L /73 pela L /2000, com relação ao IPVA, tendo em vista que, ao dispor que "na data da efetivação do respectivo registro no órgão competente deverá ser creditado, à conta dos municípios, 25% do montante do crédito tributário extinto", interfere no sistema constitucional de repartição do produto da arrecadação do IPVA (50%). 2. Deferimento da suspensão cautelar do 3º do art. 4º da L. 5

6 11.475/2000 ("Os títulos recebidos referentes às parcelas pertencentes aos municípios, previstas no inciso IV do art. 158 da Constituição Federal, serão convertidos em moeda, corrente nacional e repassados a esses, pela Secretaria da Fazenda, no dia do resgate dos certificados"), pois a norma deixa ao Estado a possibilidade de somente repassar aos Municípios os 25% do ICMS só quando do vencimento final do título, que eventualmente pode ter sido negociado. V - Precatório e cessão de crédito tributário: plausibilidade da alegação de ofensa ao art. 100, da CF, pelos arts. 5º e seu parágrafo único e 6º, ambos da lei impugnada, que concedem permissão para pessoas físicas cederem a pessoas jurídicas créditos contra o Estado decorrentes de sentença judicial, bem como admitem a utilização destes precatórios na compensação dos tributos: deferimento da suspensão cautelar dos mencionados preceitos legais. VI - Licitação (CF, art. 37, XXI) - não ofende o dispositivo constitucional o art. 129 da L /73 c/ a red. L /00 - que autoriza a alienação dos bens objetos de dação por valor nunca inferior ao que foi recebido e prevê a aquisição de tais bens por município, mediante o pagamento em prestações a serem descontadas das quotas de participação do ICMS. VII - Demais dispositivos cuja suspensão cautelar foi indeferida (ADI 2.405/RS-MC, Relator o Ministro Ayres Britto, DJ de 17/02/06). Nesses termos, não vislumbro como a simples previsão de controle administrativo de uma atividade, por meio de supervisão, possa ser suficiente, de per si, para manietar o princípio da eficiência. A eficiência, tanto quanto possível, é obra de uma visão de conjunto do todo administrativo, cotejando-se a qualidade e a economicidade na prestação de serviço público ou no exercício de dada atividade pela administração pública, no caso da atividade tributária. Nos autos, o agravante foi incapaz de demonstrar em que sentido houve violação do princípio da eficiência no âmbito normativo, sem contar que a via do recurso extraordinária é inapta para exame de fatos e 6

7 provas (Súmula 279 do STF). Por outro lado, percebe-se que o legislador foi atento à diretriz constitucional, uma vez que, de acordo com a Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais, a lei é voltada à implementação do novo modelo de gestão da administração pública proposto pela reforma administrativa que está em curso (fl. 82/83). Ainda, segundo tal manifestação, a lei estadual em comento albergou outros instrumentos de eficiência administrativa, tal qual o incentivo permanente à qualificação dos servidores e a avaliação periódica de desempenho. Não bastasse, sob o prisma da razoabilidade/proporcionalidade, verifico que a previsão atacada guarda vínculo de pertinência com o todo normativo em que colocada. Das atribuições do Auditor Fiscal da Receita Estadual (fl. 39) destaca-se a execução, em caráter privativo, das ações de fiscalização tributária, na forma do art. 194 e seguintes do Código Tributário Nacional. No que concerne às atividades preparatórias a tal fiscalização, nada mais curial que possa o servidor destinatário do trabalho exercer a supervisão técnica da atuação administrativa, cuja consecução foi atribuída ao cargo de Gestor Fazendário. No mais, a previsão de hierarquia, ou de feixes de relações hierárquicas em relação a algumas das atribuições, entre cargos de carreiras distintas não contrasta com a Constituição da República. O poder hierárquico é ínsito ao regime de legalidade e verticalidade da Administração Pública, necessário que se faz para fins de organização e direção da atividade administrativa. Por fim, tenho por descabida a alegação de ofensa do art. 37, V, da Constituição Federal, uma vez que trata do regime incidente sobre os cargos em comissão e funções de confiança, completamente apartado do caso em análise, sendo incabível a afirmação de que o poder hierárquico somente pode ser exercido por meio dos referidos cargos ou funções. Ante o exposto, nego seguimento ao agravo. Publique-se. Intime-se. 7

8 Brasília, 18 de dezembro de Ministro DIAS TOFFOLI Relator Documento assinado digitalmente 8