MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

Transcrição

1 Nº CS RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO Nº /RO RECTE.(S): SINDICATO DAS EMPRESAS DE TRANSPORTES DE PASSAGEIROS DE PORTO VELHO ADV.(A/S): JOSÉ ALBERTO DA COSTA VILLAR E OUTRO(A/S) RECDO.(A/S): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE RONDÔNIA PROC.(A/S)(ES): PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE RONDÔNIA INTDO.(A/S): MUNICÍPIO DE PORTO VELHO PROC.(A/S)(ES): PROCURADOR-GERAL DO MUNICÍPIO DE PORTO VELHO INTDO.(A/S): TRÊS MARIAS TRANSPORTES LTDA INTDO.(A/S): TRANSPORTE COLETIVO RIO MADEIRA LTDA RELATOR: MINISTRO ROBERTO BARROSO AÇÃO CIVIL PÚBLICA. TRANSPORTE PÚBLICO. GRATUIDADE DO SERVIÇO AOS IDOSOS COM IDADE IGUAL OU SUPERIOR A 60 (SESSENTA) ANOS. INTELIGÊNCIA DO ESTATUTO DO IDOSO (LEI Nº /03, ART. 39, 3º) E DA LEI MUNICIPAL Nº 50/2007, APLICÁVEIS À ESPÉCIE. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO CORRETAMENTE OBSTADO NA ORIGEM. AUSÊNCIA DOS PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE. AGRAVO INVIÁVEL. MÉRITO. ALEGAÇÕES IMPROCEDENTES. PARECER PELO DESPROVIMENTO DO AGRAVO. 1. Trata-se de agravo interposto pelo Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Porto Velho/RO buscando o trânsito de recurso extraordinário que impugna acórdão do Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia, no qual manteve-se a procedência de ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público Estadual visando o fornecimento, pelo recorrente, do serviço de transporte coletivo gratuito aos idosos com idade igual ou superior a 60 anos.

2 MPF/PGR Nº /CS 2 2. O acórdão recorrido foi assim ementado: "APELAÇÃO CIVEL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. QUESTÃO PREJUDICIAL EXTERNA. SUSPENSÃO PROCESSO. PROVIDÊNCIA FACULTATIVA. TRANSPORTE COLETIVO. GRATUIDADE. ESTATUTO DO IDOSO. CONSTITUCIONALIDADE DA LEI MUNICIPAL N. 50/2007. CUSTAS E HONORÁRIOS. CONDENAÇÃO DA PARTE RÉ. POSSIBILIDADE. Não é obrigatória a suspensão do processo para aguardar a decisão definitiva de questão prejudicial externa, quando o juízo pode dela conhecer originariamente no próprio feito. Apesar da Constituição Federal prever gratuidade do transporte coletivo para o idoso a partir de 65 anos, a Lei Federal n /2003 definiu a condição de pessoa idosa a partir de 60 anos e, ainda, previu expressamente a prerrogativa dos entes locais para definir "sobre condições para o exercício da gratuidade nos meios de transportes". A Lei Municipal n. 50/2007, que alterou o parágrafo único do art. 221 da Lei Orgânica do Município de Porto Velho é material e formalmente constitucional - ADIN n A regra contida no art. 18 da Lei 7.347/85, que trata da não incidência de custas e honorários, incide, exclusivamente, em relação à parte autora da ação civil pública. Precedentes do STJ." 3. Os embargos de declaração subsequentes foram rejeitados, sobrevindo recurso extraordinário (art. 102, III, a, e d, CF) no qual o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Porto Velho alegou violação aos artigos 2º e 5º, LIV e LV, 195, 5º e 230, 2º, todos da Constituição Federal, e arts. 51 e 535, I e II, do CPC e 35 da Lei 9.074/95. O Tribunal a quo indeferiu o processamento do apelo com base na ausência de prequestionamento dos dispositivos tidos por violados (incidência das Súmulas 282 e 356/STF) e ofensa reflexa ao texto constitucional, consignando, ainda, a impropriedade da via eleita para discussão de matéria infraconstitucional (e-stj fls. 664/666). 4. O presente agravo busca o processamento do recurso extraordinário alegando que o despacho de inadmissibilidade carece de fundamentação nos termos dos arts. 458, II, CPC e 93, IX, CF, e que estão atendidos os

3 MPF/PGR Nº /CS 3 pressupostos do apelo extremo, em especial o prequestionamento, seja em razão da oposição dos embargos de declaração, seja porque é admitido "de forma implícita (prequestionamento implícito)" (e-stj fl. 695). No mérito são reiterados os argumentos do recurso extraordinário e pretendendo-se o provimento do agravo, bem como o conhecimento e provimento do apelo extremo para afastar a aplicação da Lei Municipal que fixa o patamar etário de 60 (sessenta) anos para a obtenção do serviço de transporte coletivo gratuito, no âmbito do Município de Porto Velho/RO. 5. O parecer é pelo desprovimento do agravo. 6. No caso, o recurso extraordinário que se pretende destrancar não reúne condições de admissibilidade e foi corretamente obstado na origem. 7. Os dispositivos constitucionais supostamente violados (arts. 2º e 5º, LIV e LV, CF) não foram debatidos perante o Tribunal a quo e se ressentem do indispensável prequestionamento, incidindo o óbice das Súmulas 282 e 356/STF. 8. Por outro lado, a controvérsia restringe-se à seara infraconstitucional, referindo-se especificamente à aplicação do disposto no art. 39, 3º da Lei Federal nº /2003 (Estatuto do Idoso) e da Lei Municipal Complementar nº 50/2007 (julgada constitucional pelo órgão plenário do TJ/RO nos autos nº ), que regulamentaram o uso do transporte público de forma gratuita por idosos com idade igual ao superior a 60 anos, no âmbito do Município de Porto Velho/RO. Sobre o tema vale reproduzir os fundamentos do Parquet Estadual oficiante no segundo grau, reproduzidos nas contrarrazões ao recurso extraordinário, esgotando a questão:

4 MPF/PGR Nº /CS 4 "(...) Em relação à suposta inconstitucionalidade levantada pelos impugnados, a gratuidade nos transportes aos idosos com idade compreendida entre 60 e 65 anos, nada tem de inconstitucional, pois atende perfeitamente aos princípios básicos de nossa Constituição Federal, que se propõe a construir uma sociedade livre, justa e solidária (art. 3º, I), e determina ainda expressamente (art. 230, caput) que: 'A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação no comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida'. A Lei nº /03 (Estatuto do Idoso), por sua vez, estabeleceu prioridades e uma série de mecanismos de controle a serem utilizados na defesa de direitos junto ao Poder Público e à sociedade em geral, além de conceituar como idosa a pessoa com idade igual ou superior a 60 anos. A gratuidade no transporte coletivo foi um dos direitos tratados no Estatuto em referência. Sobre transporte coletivo urbano, conforme estabelecido no Estatuto, ficou a critério da Lei local a concessão da gratuidade para as pessoas com idade entre 60 e 65 anos. Nesse sentido, dispõe o 3º, do art. 39, do Estatuto do Idoso: 'Art. 39 Aos maiores de 65 (sessenta e cinco) anos fica assegurada a gratuidade dos transportes coletivos públicos urbanos e semi-urbanos, exceto nos serviços seletivos e especiais, quando prestados paralelamente aos serviços regulares. (...) 3º No caso das pessoas compreendidas na faixa etária entre 60 (sessenta) e 65 (sessenta e cinco) anos, ficará a critério da legislação local dispor sobre as condições para o exercício da gratuidade nos meios de transporte previstos no caput deste artigo' (grifo não original) Diante dessa previsão, a Câmara dos Vereadores, atendendo a uma solicitação da Promotoria de Justiça dos Idosos e pensando em uma melhor forma de amparar os idosos, alterou a Lei Orgânica Municipal (Lei Municipal Complementar nº 50/070), o que acabou gerando insatisfação dos requeridos que passaram a sustentar uma suposta violação da tripartição de Poderes e funções estatais diante da incompetência por parte da Câmara Municipal ao emendar a Lei Orgânica do Município. A Câmara de Vereadores tem competência para emendar a Lei Orgânica do Município de Porto Velho. Nesse sentido: 'Art Compete, privativamente, à Câmara Municipal, entre outras atribuições: (...) IV - emendar a Lei Orgânica' (grifo não original) De qualquer forma, diante da previsão legal contida na própria Lei Orgânica, não há que se falar em vício de iniciativa. (...)" (e-stj fls. 640/641 - destaques no original)

5 MPF/PGR Nº /CS 5 9. Ante o exposto, o Ministério Público Federal opina pelo desprovimento do agravo. Brasília, 4 de dezembro de 2015 CLÁUDIA SAMPAIO MARQUES Subprocuradora-Geral da República