PROCESSO: RTOrd

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1 PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO Gab Des Rosana Salim Villela Travesedo Av. Presidente Antonio Carlos, 251 6o. andar Castelo Rio de Janeiro RJ A C Ó R D Ã O 7ª T U R M A PROCESSO: RTOrd SUCESSÃO TRABALHISTA. OCORRÊNCIA. A jurisprudência vem adequando a um novo tipo legal sucessório, situações fático-jurídicas recentemente surgidas no mercado empresarial. Nessa visão prospectiva - mais ampla e de ponta - o sentido e objetivo do instituto sucessório trabalhista residem na garantia de que qualquer mudança intra ou interempresarial não poderá afetar os contratos de trabalho (arts. 10 e 448 da CLT). Verificada tal mudança, opera-se a sucessão trabalhista. Apelo patronal improvido. Vistos, relatados e discutidos estes autos de recurso ordinário em que são partes: como recorrente, DROGARIA PACHECO e, como recorridas, VERÔNICA SIMPLÍCIO DA SILVA e DROGARIA BEIJA- FLOR DE BACAXÁ LTDA. Vem a lume recurso ordinário interposto pela segunda ré, objetivando a reforma da sentença de fls. 125/129, da lavra do MM. Juiz Henrique Raymundo von Adamovich, da 2ªVT/São João de Meriti, que julgou procedente em parte o pedido. Investe contra a declaração da sucessão empresarial e a condenação em comissões e horas extraordinárias. Custas e depósito recursal às fls. 137/138. Contrarrazões da autora, às fls. 143/146. É o relatório. V O T O: Conhecimento: Recurso interposto a tempo e modo. Conheço-o. Mérito:

2 Da sucessão trabalhista: A recorrente (DROGARIA PACHECO S/A) rebate o veredicto que a reconheceu sucessora da primeira ré (DROGARIA BEIJA-FLOR DE BACAXÁ LTDA. - pertencente à rede DESCONTÃO), condenando-a solidariamente ao pagamento das parcelas trabalhistas resultantes do contrato de trabalho firmado com a autora no interregno de 01/07/2006 a 14/05/2009 (fl. 98). Aduz que celebrara contrato de locação com o proprietário do imóvel em que atuava a primeira ré, inexistindo qualquer tipo de relação jurídica entre as duas empresas. A tese é irrazoável. De partida, assento que a trabalhadora prestou serviços para a recorrente, vez que o indigitado contrato locatício remonta a 01/04/2009 (fl. 106) e, portanto, antes da dispensa obreira. Em tempos modernos de constitucionalização dos diversos ramos do Direito, priorizando a dignidade da pessoa humana e o valor social do trabalho, doutrina de ponta vem admitindo nova circunstância capaz de configurar a sucessão de empregadores. Nessa visão prospectiva, merece relevo a lição de MAURÍCIO GODINHO DELGADO, definitiva sobre o tema, verbis: Situações-tipo novas de sucessão - Conforme já exposto, a generalidade e imprecisão dos arts. 10 e 448 da CLT têm permitido à jurisprudência proceder a uma adequação do tipo legal sucessório a situações fático-jurídicas novas surgidas no mercado empresarial dos últimos anos no país. Essas situações novas, que se tornaram comuns no final do século XX, em decorrência da profunda reestruturação do mercado empresarial brasileiro (em especial mercado financeiro, de privatizações e outros segmentos), conduziram a jurisprudência a reler os dois preceitos celetistas, encontrando neles um tipo legal mais amplo do que o originalmente concebido pela doutrina e jurisprudência dominantes. Para essa nova interpretação, o sentido e objetivos do instituto sucessório trabalhista residem na garantia de que qualquer mudança intra ou interempresarial não poderá afetar os contratos de trabalho (arts. 10 e 448 da CLT). O ponto central do

3 instituto passa a ser qualquer mudança intra ou interempresarial significativa que possa afetar os contratos empregatícios. Verificada tal mudança, opera-se a sucessão trabalhista - independentemente da continuidade efetiva da prestação laborativa. À luz dessa vertente interpretativa, também configura situação própria à sucessão de empregadores a alienação ou transferência de parte significativa do (s) estabelecimento (s) ou da empresa de modo a afetar significativamente os contratos de trabalho. Ou seja, a mudança na empresa que afete a garantia original dos contratos empregatícios provoca a incidência do tipo legal dos arts. 10 e 448 da CLT. (Curso de Direito do Trabalho, 3ª edição, Ed. LTR, pág.409/410). O pensamento doutrinário de VALENTIN CARRION em seus comentários ao art. 448 da CLT, convergem com a prefalada tese, verbis: O contrato de trabalho é intuitu personae com referência ao empregado (CLT, art. 2º), mas não quanto ao empregador (CLT, art. 448); assim, o empregado não pode recusar-se a trabalhar para o novo empregador, salvo situação absolutamente excepcional. Daí se infere a intenção do legislador de preservar a essência dos contratos de trabalho, quando alterada a estrutura jurídica da empresa, de modo a assegurar os direitos do trabalhador. Ao definir a sucessão trabalhista, nos comentários ao art. 10 da CLT, o supracitado jurista enumera como requisito indispensável o aproveitamento de algum dos elementos que constituam a empresa como sendo uma universalidade de pessoas e bens tendentes a um fim, apta a produzir riqueza. No campo da prova, o destaque é para a testemunhal, noticiando a ocorrência da guerreada sucessão, verbis:...que trabalhava com uniforme da Drogaria Descontão até a data de sua saída; que, com a assunção do negócio pela 2ª ré, passou a ser gerente da loja o Sr. Wagner; que o referido Sr

4 Wagner era empregado da Drogaria Pacheco; que nos cinco últimos meses o depoente trabalhou na mesma loja que a autora... Some-se a essa circunstância a notícia veiculada na INTERNET - sítio -, aos 14/07/2010, sob o título Drogarias se mantêm de olho em aquisições, verbis: Quem seguiu o mesmo caminho foi a rede carioca Pacheco, que no ano passado adquiriu a também carioca Drogarias Descontão e fechou o ano de 2009 como a quarta maior rede de farmácia em faturamento no País, atrás apenas de Pague Menos, Drogasil e Drogaria São Paulo, segundo a Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma). Diante de tais evidências, resta incensurável o veredicto primogênito que declarou a sucessão empresarial da primeira ré pela segunda, além da responsabilidade solidária de ambas. Da integração das comissões pagas sem registro: A prova testemunhal produzida dá conta de que o empregador efetuava a paga de comissões, sem, contudo, lançá-las nos contracheques, verbis:...que o depoente e a autora percebiam salário fixo mais comissões de 10% a 15% calculadas sobre as vendas que faziam; que a comissão era para por fora... Destarte, há de prevalecer a tese exordial quanto aos valores comissionais, corroborada pela prova oral. Das horas extraordinárias: A recorrente refuta a condenação em horas suplementares, sob o argumento de que, em não tendo sido empregadora da obreira, sua defesa sofreria restrições

5 A tese é insubsistente, na medida que o acervo probatório noticia a prestação dos serviços da obreira, a condição daquela de sucessora e sua responsabilidade solidária. Conclusão: Conheço do recurso ordinário interposto e, no mérito, nego-lhe provimento. A C O R D A M os Desembargadores que compõem a 7ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, conhecer do recurso ordinário interposto e, no mérito, negar-lhe provimento. Rio de Janeiro, 22 de junho de ROSANA SALIM VILLELA TRAVESEDO Relatora RSVT/lm/d/