PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO

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1 PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO Gabinete Juiz Convocado 5 Av. Presidente Antonio Carlos, 251 6º Andar - Gab.51 Castelo Rio de Janeiro RJ PROCESSO: RTOrd 5ª TURMA ACÓRDÃO RECURSO DA RECLAMANTE VÍNCULO DE EMPREGO TRABALHO DE NATUREZA DOMÉSTICA Consoante os elementos dos autos, em especial a prova oral produzida, imperativo reconhecer a natureza do trabalho doméstico prestado como babá pela recorrente. Recurso conhecido a que se dá parcial provimento. Vistos, relatados e discutidos os autos de Recurso Ordinário em que figuram: TÂNIA MARA SANTOS LOPES como recorrente e MARLENE TAVARES DE BRITO E SILVA E JOSÉ LUIZ PEQUENO, como recorridos. Recorre ordinariamente a reclamante pelas razões de fls.40/46, insurgindose contra a r. sentença de fls.36/38, que julgou improcedentes os pedidos veiculados nos autos da Reclamação Trabalhista que tramitou perante a 9ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro. Pugna a recorrente pela reforma do julgado que rejeitou o pedido de reconhecimento do vínculo empregatício de natureza doméstica havido entre as partes e verbas dele decorrentes. Contrarrazões oferecidas pelos reclamados (fls. 49/53), sem preliminares. Autos não remetidos ao Ministério Público do Trabalho, por ausentes as hipóteses específicas de intervenção (incisos II, XII e XIII, do artigo 83, da Lei Complementar 75/93). É o relatório. V O T O 1. CONHECIMENTO Tempestivo e regular, conheço do recurso ordinário, porque atendidos os requisitos legais da admissibilidade

2 PROCESSO: RTOrd 2. MÉRITO PRESCRIÇÃO Oportunamente arguida em sede de defesa, pronuncio me pela inexigibilidade dos créditos anteriores a 18/12/2003, por ter se operado a prescrição parcial, a teor do disposto no inciso XXIX, do artigo 7º, da Constituição Federal. VÍNCULO DE EMPREGO A recorrente informa na inicial que foi admitida em 02/01/1997 para exercer a função de babá de Isabelly (filha do casal) e foi dispensada sem justa causa em 17/02/2008, sem que os réus tivessem anotado o contrato de trabalho em sua CTPS, sem cumprimento do aviso prévio e percepção das verbas resilitórias. Em defesa, os reclamados negam a existência do vínculo empregatício aduzindo que a recorrente nunca exerceu a função de babá, tão somente trabalhava tomando conta de sua filha e de outras crianças, em sua própria residência, como uma espécie de creche. Ao fundamento de que não é possível o trabalho doméstico realizado na própria residência do empregado e porque não restou demonstrada qualquer subordinação jurídica no trabalho exercido, o juízo a quo julgou improcedente o pedido de reconhecimento de vínculo empregatício e seus consectários. Recorre a reclamante (fls.40/46) pugnando pelo reconhecimento do vínculo empregatício, anotação em CTPS e verbas decorrentes. Assevera, que consoante o que dispõe a Lei 5.859/72, empregado doméstico é aquele que presta serviços de natureza contínua e de finalidade não lucrativa à pessoa ou à família no âmbito residencial destas e que o trabalho doméstico pode ser realizado fora da residência do empregador e ainda, que a expressão no âmbito residencial destas é interpretada de forma ampla. Ouso divergir da sentença hostilizada. Entendo que o âmbito residencial, a que a lei se refere, não está adstrito somente à residência do empregador, englobando também o local em que se encontra a pessoa ou família beneficiária dos serviços prestados. Como leciona Amaury Mascaro Nascimento em sua obra Iniciação ao Direito do Trabalho LTr 2004, a dimensão a ser atribuída à expressão 'âmbito residencial' deve abranger todo o local onde há o desenvolvimento da vida do lar. Nesse passo, considero perfeitamente possível a realização do trabalho doméstico no âmbito domiciliar do próprio empregado. A título de exemplificação, cito a lavadeira e a passadeira que podem executar o trabalho doméstico dentro de suas próprias residências e uma vez presentes os elementos típicos caracterizadores da relação de emprego doméstico, não perdem a condição de empregado pelo simples fato de executarem as tarefas fora do âmbito domiciliar do empregador. No caso dos autos, o âmbito residencial da filha do casal para quem a autora prestava serviços como babá por determinado período do dia, era a própria residência da autora. Assim como as mães sociais, cujo vínculo empregatício se forma com os órgãos públicos e têm por atividade cuidar de crianças em casas lares, com objetivo de propiciar ao menor condições familiares ideais ao seu desenvolvimento, nada obsta que a função de babá possa ser exercida no âmbito residencial do empregado como uma

3 PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO Gabinete Juiz Convocado 5 Av. Presidente Antonio Carlos, 251 6º Andar - Gab.51 Castelo Rio de Janeiro RJ PROCESSO: RTOrd extensão do própria residência do empregador. Por oportuno, trago à colação ementa de recente julgado: EMENTA: RELAÇÃO DE EMPREGO DOMÉSTICO VÍNCULODE EMPREGO. DOMÉSTICA. A Lei 5.859/72, dispõe, em seu art. 1º: "Ao empregado doméstico, assim considerado aquele que presta serviços de natureza contínua e de finalidade não lucrativa à pessoa ou à família, no âmbito residencial destas, aplica se o disposto nesta lei". A melhor interpretação do mencionado dispositivo deve considerar que a expressão "no âmbito residencial destas", não se limita à casa do empregador, não se atrelando ao local da prestação dos serviços. O âmbito residencial veiculado no art. 1º da Lei 5.859/72 é aquele no qual, necessariamente, são prestados os serviços contínuos e de finalidade não lucrativa e onde a atuação funcional é vinculada ao interesse da pessoa do núcleo da pessoa ou família. Recurso parcialmente provido. Processo RO Data de Publicação 08/05/2009 DEJT Pá: 64 1ª Turma TRT 3º Região Relator Maria Laura Franco Lima de Faria Revisor Manuel Cândido Rodrigues. Quanto à subordinação, entendo que restou demonstrada no caso sob exame, uma vez que a reclamante recebia ordens para levar a filha do casal para ser vacinada, tarefa geralmente executada pelos próprios pais, haja vista não ser crível que a autora detivesse tamanha autonomia de modo a proceder à vacinação da menor por sua conta e risco. Dessa forma, da prova oral produzida nos autos exsurge que a relação havida entre as partes era de fato de emprego, estando presentes os elementos configuradores da relação de trabalho doméstico: trabalho contínuo, sem fins lucrativos, com pessoalidade, onerosidade e subordinação. Em depoimento, a autora declarou: [...] que foi admitida para trabalhar para os réus como babá da filha menor do casal de nome Isabelly, na data de 02/01/1997 e que cuidava da criança em sua própria casa e que trabalhou apenas alguns dias na residência do casal. O primeiro reclamado informou: [...] que teria pago o INSS da autora num período; que a autora cuidava da filha menor da ré na residência da primeira; que era a própria autora quem levava e buscava a filha do casal na escola, assim como a vacinação da criança. Do depoimento da testemunha da reclamante, Sra. Sonia Maria Busque dos Santos (fs.32), colho: [...] que a autora levava e buscava a menor filha da ré na escola; que reside próximo à escola; que a filha da depoente chama se Larissa e que frequentava a casa da autora para brincar com a filha da ré; que a autora nunca cuidou de sua filha, que reside próximo à autora e que esta cuida da menor Isabelly desde quando a mesma era pequena;

4 PROCESSO: RTOrd que a autora cuidava da filha da ré em sua residência ; que a autora cuidou da filha da ré até o ano de 2008 e que tem conhecimento desse fato porque a filha da depoente frequenta a mesma escola que a filha da ré e que estas residem no mesmo bairro; que a autora só cuidava da filha da ré; que isso teria ocorrido até o início de 2008; [...] A testemunha Sra. Maria de Fátima Leal Fernandes arrolada pela reclamada (fl.33), assim declarou: [...] que a autora cuidava da filha da ré na própria residência; que a autora levava e buscava q criança na escola; que a autora tomava cuidava de outras crianças, mas não sabe dizer os nomes das mesmas, tampouco os pais das mesma, que o nome da filha da ré é Isabela;[...]. Assim, consoante aos elementos dos autos, em especial a prova oral produzida, imperativo reconhecer a natureza do trabalho doméstica prestado como babá pela recorrente, de forma onerosa, pessoal, contínua e subordinada, em que pese a recorrente ter prestado os serviços em sua própria residência. Ante tais fundamentos, dou parcial provimento ao apelo, para condenar a reclamada a formalizar o contrato de trabalho na CTPS da reclamante, com admissão em 02 de janeiro de 1997 e dispensa em 18 de março de 2008, ante a projeção do aviso prévio, função de babá, salário de R$ 200,00 mensais na admissão, observada a variação do salário mínimo regional no curso da relação contratual e função de babá. VERBAS CONTRATUAIS E RESILITÓRIAS A reclamante faz jus as férias vencidas de 2003/2004 (1/12), 2004/2005 e 2006/2007, em dobro e 2007/2008, na forma simples e férias proporcionais de 2008 (3/12), todas acrescidas do terço constitucional. Igualmente devida a gratificação natalina referente aos anos de 2004, 2005, 2006, 2007 e 2008 (3/12). Em decorrência da imotivada dispensa, a reclamante faz jus ainda ao aviso prévio indenizado (30 dias). DIFERENÇAS SALARIAIS Reconhecido o vínculo empregatício entre as partes e o salário de R$ 200,00, consoante o disposto no artigo 7º, parágrafo único da Constituição Federal, que assegura ao trabalhador doméstico salário mínimo, faz jus a reclamante às diferenças salariais do período imprescrito, observado o salário mínimo regional vigente à época. Indevidos os reflexos das diferenças salariais nos repousos semanais remunerados, por se tratar de empregada mensalista. MULTA DO ARTIGO 477 DA CLT Efetuando se a destempo a quitação das verbas resilitórias, devida a multa prevista no 8º, do artigo 477 da CLT, equivalente ao último salário base da autora. Registro, por oportuno, que a lei que regula o trabalho doméstico (Lei 5.859/72) não prevê a aplicação de multas pela ausência de quitação de parcelas

5 PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO Gabinete Juiz Convocado 5 Av. Presidente Antonio Carlos, 251 6º Andar - Gab.51 Castelo Rio de Janeiro RJ PROCESSO: RTOrd incontroversas e de pagamento no prazo certo, dispondo apenas sobre seus direitos essenciais. Tratando se, contudo, de trabalhador sujeito à legislação trabalhista como um todo, inclusive quanto à norma imperativa de anotação do contrato de trabalho na CTPS, aplicáveis as disposições da CLT que regulam os contratos por prazo indeterminado. MULTA DO ARTIGO 467 Haja vista a controvérsia quanto à natureza dos serviços prestados e o reconhecimento do vínculo empregatício em juízo, incabível a aplicação da multa prevista no artigo 467, da CLT. Nego provimento ao apelo no particular. DEMAIS CONSIDERAÇÕES As contribuições previdenciárias e o imposto de renda a serem recolhidos pelo empregador sujeitam se aos termos expostos no enunciado 368 da Súmula de jurisprudência do C. TST. É do empregador a responsabilidade pelo recolhimento das contribuições previdenciárias e fiscais. Estas incidirão sobre o valor total da condenação, referente às parcelas tributáveis, calculado ao final, nos termos do artigo 46, da Lei 8.541/92, e do Provimento CGJT 03/2005. O critério de apuração daquelas encontra se disciplinado no artigo 276, 4º, do Decreto 3.048/99, que regulamentou a Lei 8.212/91 e determina que seja calculada mês a mês, aplicando se as alíquotas previstas no artigo 198, observado o limite máximo do salário de contribuição. Juros e correção monetária serão calculados nos termos expostos pelo 1º, do artigo 39, da Lei 8.177/91, e pelo enunciado 381 da Súmula de jurisprudência do C. TST. Pelo exposto, CONHEÇO do Recurso Ordinário interposto pela autora e, no mérito, DOU LHE PARCIAL PROVIMENTO, para reformar a r. sentença, condenando os reclamados à formalização do contrato de trabalho na CTPS da reclamante, com admissão em 02 de janeiro de 1997 e dispensa em 18 de março de 2008, ante a projeção do aviso prévio, salário mensal R$200,00, observada a variação do salário mínimo regional no curso da relação contratual e função de babá; ao pagamento de aviso prévio, férias vencidas de 2003/2004 (1/12), 2004/2005, e 2006/2007, em dobro, e 2007/2008, na forma simples, férias proporcionais de 2008 (3/12), todas acrescidas do terço constitucional. Igualmente devida a gratificação natalina referente aos anos de 2004, 2005, 2006, 2007 e 2008 (3/12) e multa do artigo 477 da CLT, diferenças salariais do período imprescrito, considerando se o salário mínimo regional. Contribuições previdenciárias e imposto de renda deduzidos conforme previsto no enunciado 368 da Súmula de jurisprudência do C. TST. Juros e correção monetária calculados nos termos expostos pelo 1º, do artigo 39, da Lei 8.177/91, e enunciado 381 da Súmula de jurisprudência do C. TST. Invertidos os ônus da sucumbência. Custas de R$ 200,00, pelos reclamados, calculadas sobre o valor da condenação, arbitrado em R$ ,

6 PROCESSO: RTOrd 3. DISPOSITIVO A C O R D A M os Desembargadores que compõem a Quinta Turma do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, por unanimidade, CONHECER do Recurso Ordinário interposto pela autora e, no mérito, DAR LHE PARCIAL PROVIMENTO para reformar a r. sentença, condenando os reclamados à formalização do contrato de trabalho na CTPS da reclamante, com admissão em 02 de janeiro de 1997 e dispensa em 18 de março de 2008, ante a projeção do aviso prévio e salário mensal R$200,00, observada a variação do salário mínimo regional no curso da relação contratual e função de babá; ao pagamento de aviso prévio, férias vencidas de 2003/2004 (1/12), 2004/2005, e 2006/2007, em dobro, e 2007/2008, na forma simples, e férias proporcionais de 2008 (3/12), todas acrescidas do terço constitucional; igualmente devida a gratificação natalina referente aos anos de 2004, 2005, 2006, 2007 e 2008 (3/12) e multa do artigo 477 da CLT, diferenças salariais do período imprescrito, considerando se o salário mínimo regional; contribuições previdenciárias e imposto de renda deduzidos conforme previsto no enunciado 368 da Súmula de jurisprudência do C. TST; juros e correção monetária calculados nos termos expostos pelo 1º, do artigo 39, da Lei 8.177/91, e enunciado 381 da Súmula de jurisprudência do C. TST; invertidos os ônus da sucumbência; custas de R$ 200,00, pelos reclamados, calculadas sobre o valor da condenação, arbitrado em R$ ,00; nos termos do voto da Juíza Relatora. Rio de Janeiro, 10 de Maio de JUÍZA MÁRCIA LEITE NERY Relatora