PROCURADORIA-GERAL DO TRABALHO CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO

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1 Origem: PRT 1ª Região PTM DE PETRÓPOLIS Membro Suscitante: Dr. Aloísio Alves PRT 3ª Região Membro Suscitado: Dra. Ericka Rodrigues Duarte PRT 1ª Região/PTM de Petrópolis Assunto: Conflito de Negativo de Atribuições EMENTA: CONFLITO NEGATIVO DE ATRIBUIÇÕES. DANO SUPRARREGIONAL. DESLOCAMENTO DE ATRIBUIÇÃO A UMA DAS SEDES DO MPT. OJ Nº 130 DA SDBI-2 DO TST. Indícios de que a irregularidade é uma prática uniforme da denunciada. Comprovado o dano suprarregional, deve recair a atribuição na sede de Procuradoria Regional para condução de investigação e possível ajuizamento de ação civil pública perante o Tribunal Regional do Trabalho competente. Exegese da OJ nº 130da SDBI-2 do TST. (PROCESSO PGT/CCR/PP/10920/2013. Relator MANOEL ORLANDO DE MELO GOULART) I - RELATÓRIO Trata-se de conflito negativo de atribuições estabelecido pelo Procurador do Trabalho Aloísio Alves, lotado na sede da PRT da 3ª Região, em face da Procuradora do Trabalho Ericka Rodrigues Duarte, lotada na PTM de Petrópolis/ PRT da 1ª Região. Encontra-se a presente investigação em trâmite desde novembro de Na oportunidade, através da apreciação prévia de fls. 38, a Exma. Procuradora ora suscitada determinou a notificação da empresa denunciada para apresentação de documentos, bem assim solicitou à GRTE/Petrópolis a realização de fiscalização a fim de apurar a existência de empregados laborando sem registro. Juntada aos autos a documentação requisitada (fls. 45/587) e do relatório de fiscalização da d. SRTE/RJ (fl. 702/706, quando constatada a existência 1

2 de 32 trabalhadores laborando através de cooperativa), houve por a Exma. Procuradora oficiante declinar as atribuições para o presente feito à PRT da 10ª Região, considerando a abrangência nacional da lesão investigada, já que a utilização fraudulenta de mão-deobra cooperada ocorre em três estados distintos (fl. 709). Após realizadas diligências complementares perante a 10ª Região, foram os autos devolvidos à PRT da 1ª Região (fl. 1341/1345), em razão do advento da alteração do texto da OJ 130, considerando-se que este foi o fundamento para remessa dos autos àquela Regional, bem assim, considerando a inexistência de irregularidades no âmbito de atribuições da 10ª Região. Recebidos os autos na PTM de Petrópolis em 07/12/2012, foram os mesmos distribuídos à Procuradora que originariamente conduzira o feito, sendo a ela conclusos em 25/02/2013, fl Em seu despacho de prorrogação de IC (fls. 1353), determinou a expedição de carta precatória às PTMs de Pouso Alegre/MG, Campos dos Goytacazes/RJ, Varginha/MG, Juiz de Fora/MG e Governador Valadares/MG - todas para oitiva de testemunhas - bem como solicitou a juntada, aos autos, de informações acerca de procedimento em trâmite na 3ª Região. Retornando as precatórias devidamente cumpridas, foram colacionadas aos autos cópias das atas de oitiva de testemunhas às fls e seguintes. Às fls. 1411/1412, a Exma. Procuradora oficiante exara despacho de redistribuição, ressaltando, em suma os seguintes aspectos: a) o fato da empresa JOTAHA possuir sua matriz formalmente instalada na cidade de Comendador Levy Gasparian não é o suficiente para determinar a atribuição da PTM de Petrópolis para atuar no presente caso ; b) as lesões que constituem objeto deste IC têm abrangência suprarregional, pois ocorrem em diversos municípios do Estado de Minas Gerais e em localidades no estado do Rio de Janeiro (que não são abrangidas pela PTM de Petrópolis); c) havendo dano suprarregional, a competência para processar eventual ação seria de uma das Varas das capitais dos estados em que dá a lesão; 2

3 d) não poderia ser proposta ACP perante uma das varas do Trabalho compreendidas pela PTM de Petrópolis, pois não há lesão praticada dentro de sua área de abrangência; e) não se justifica a remessa dos autos a uma das PTMs em que verificada a lesão, porquanto eventual ação proposta nestas teria abrangência apenas regional, enquanto os autos demonstram abrangência suprarregional; f) a ACP deve ser proposta perante a Vara da capital do Estado do Rio de Janeiro ou Minas Gerais, atraindo a atuação da Sede da PRT da 1ª ou 3ª Região; g) consulta ao MP Delphos demonstraria a existência de diversos procedimentos (distribuídos em data anterior à distribuição do presente IC) em face dos investigados nos presentes autos, com relação ao mesmo objeto, motivo pelo qual optara pela remessa à 3ª Região. Recebidos e distribuídos livremente os autos na Sede da PRT da 3ª Região, houve por bem o Procurador oficiante suscitar o presente conflito, assim fundamentando o declínio de atribuição (fls. 1435/1437): a) conforme despacho do Coordenador de 1º Grau, não há naquela Regional procedimentos instaurados que atraiam a distribuição vinculada do presente procedimento. Todos os procedimentos anteriormente autuados em face das denunciadas encontram-se desativados ou arquivados; b) não há comprovação, nos autos, de qualquer dano na circunscrição abrangida pela sede da PRT da 3ª Região; as lesões havidas limitam-se à área de atuação das PTMs mencionadas no relatório de encaminhamento; c) deve-se dar interpretação sistemática aos incisos da mencionada OJ 130, e às expressões dano regional, dano suprarregional e dano nacional, sendo que, no entendimento do suscitante, o dano na hipótese seria regional, tutelável em qualquer Vara do Trabalho, não necessariamente da capital; d) ainda que se admita a atribuição de alguma das sedes das Regionais envolvidas, a fim de propiciar o ajuizamento da ação em Vara da Capital, entende que esta seria a sede da PRT da 1ª Região, Regional esta em que o procedimento teve início. 3

4 Retornaram os autos à procuradora Suscitada que, através do despacho de fls. 1441, aduziu que, de fato, havia tido dúvidas acerca de qual unidade deve dar prosseguimento às investigações, se uma das Procuradorias do Trabalho nos Municípios em que houve verificação do dano, se a Sede da PRT da 1ª Região ou se a Sede da PRT da 3ª Região. E acrescenta: Entretanto, mantenho-me convicta de que não cabe a membro lotado na PTM de Petrópolis conduzir a presente investigação, pois o simples fato de um dos investigados teve sua sede constituída pro forma em Município abrangido em sua área de atuação territorial não é suficiente para atrair sua atribuição para atuar, já que não se verificou a ocorrência de dano nesta localidade. Este o breve relatório. II ADMISSIBILIDADE O conflito negativo de atribuições foi suscitado tempestivamente, respeitado o prazo de 10 dias previsto no art. 3º, 1º da Resolução 69/2007 do CSMPT. Conheço do presente conflito, com fulcro no art. 103, inciso VI, da Lei Complementar 75/1993. III- VOTO Quando da distribuição inicial da notícia de fato que deu origem ao presente inquérito, o Exmo. Coordenador de 1º Grau da sede da 1ª Região adotou como critério as informações contidas no contrato social da empresa contratante de serviços intermediados por cooperativa, que indicava como sede social e foro da empresa o estabelecimento sediado no município de Comendador Levy Gasparian, submetido à atuação da PTM de Petrópolis. 4

5 O contrato social da empresa, com sua 7ª alteração (fls. 735/733, descreve a existência de 4 estabelecimentos, ora listados com a respectiva unidade ministerial competente: 1) a matriz, em Comendador Levy Gasparian-RJ/ PTM de Petrópolis; 2) filial 01, Município de Matias Barbosa-MG/PTM de Juiz de Fora; 3) filial 02, Município de Três Rios-RJ/PTM de Petrópolis; 4) filial 03, Município de Juiz de Fora/PTM de Juiz de Fora. Embora a distribuição inicial não apresente nenhum equívoco, com o decorrer da instrução, os elementos agregados aos autos demonstraram não ser aquela a opção mais adequada ao desenrolar das investigações, porquanto, efetivamente, os documentos colacionados aos autos (entre eles o relatório de fiscalização da d. SRTE/RJ, em que encontrados 32 trabalhadores em atividade intermediada por cooperativa) não demonstram a ocorrência de lesão trabalhista no território sujeito à atribuição da PTM de Petrópolis. Os depoimentos colhidos por carta precatória indicam a contratação de trabalhadores intermediados para atuar nos município de Governador Valadares/MG, Varginha/MG, Três Corações/MG, Carmo da Cachoeira, São Bento do Abade, Juiz de Fora/MG, São Gonçalo do Sapucaí/MG, Heliodora/MG, Careaçu/MG, Pouso Alegre/MG, Campos dos Goytacazes/RJ, São João da Barra/RJ, entre outros municípios dos estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Diante dessa constatação, resta claro que o dano se apresenta como suprarregional, já que envolve lesão havida em território sujeito à jurisdição de TRTs de dois estados distintos. Senão Vejamos. Assim dispõe a OJ 130, em sua atual redação: 130. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. COMPETÊNCIA. LOCAL DO DANO. LEI Nº 7.347/1985, ART. 2º. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, ART. 93. I A competência para a Ação Civil Pública fixa-se pela extensão do dano. II Em caso de dano de abrangência regional, que atinja cidades sujeitas à jurisdição de mais de uma Vara do Trabalho, a competência será de qualquer das varas das 5

6 localidades atingidas, ainda que vinculadas a Tribunais Regionais do Trabalho distintos. III Em caso de dano de abrangência suprarregional ou nacional, há competência concorrente para a Ação Civil Pública das varas do trabalho das sedes dos Tribunais Regionais do Trabalho. IV Estará prevento o juízo a que a primeira ação houver sido distribuída. Embora não haja expressa definição do que venha a diferenciar o dano regional do suprarregional, entendo que o primeiro é aquele que atinja localidades atendidas por varas do trabalho distintas, mas dentro de um mesmo estado - aí entendendo a expressão ainda que vinculadas a Tribunais Regionais do Trabalho distintos àquelas situações em que num mesmo estado operem dois Tribunais Regionais, como é o caso do Estado de São Paulo. Nesse sentido o precedente do C. TST: CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO CIVIL COLETIVA. DANO SUPRARREGIONAL. COMPETÊNCIA TERRITORIAL DA VARA DO DISTRITO FEDERAL. 1. Trata-se de conflito negativo de competência, suscitado pela 19ª Vara do Trabalho de Brasília-DF, face à remessa dos autos pela 2ª Vara do Trabalho de Paulínia-SP, ao acolher a exceção de incompetência suscitada pela empresa ré nos autos da ação civil coletiva, com base no artigo 93 do CDC, por entender que o suposto dano alcançaria os estados de São Paulo e Minas Gerais. 2. Ao analisar o estatuto do Sindicato-autor, constata-se que, de fato, a sua base territorial abrange dois estados da Federação, São Paulo e Minas Gerais. Verifica-se que na petição inicial da ação civil coletiva, o sindicato requereu a condenação da FCA - Ferrovia Centro-Atlântica S.A. - na obrigação de não praticar a monocondução em toda malha ferroviária pertencente à sua base territorial. 3. O entendimento desta Corte, contido no item III da Orientação Jurisprudencial n 130 da SBDI-2, consolidou-se 6

7 no sentido de que em caso de dano de abrangência suprarregional ou nacional, há competência concorrente para a Ação Civil Pública das Varas do Trabalho das sedes dos Tribunais Regionais do Trabalho, razão pela qual não há falar em competência do Juízo suscitante, 19ª Vara do Trabalho de Brasília para processar o feito. 4. Verifica-se, contudo, que o caso em exame possui uma particularidade, uma vez que a ação civil coletiva não foi ajuizada em uma das Varas do Trabalho das sedes dos Tribunais Regionais do Trabalho, tal como preconizado no supracitado verbete jurisprudencial, mas sim em Paulínia/SP, que também não teria competência para julgar a ação. 5. Não se pode olvidar, contudo, que esta Corte Superior orienta-se pelos princípios da celeridade, efetividade e economia processual, devendo, pois, nesta oportunidade, eleger o foro competente para o processamento do feito, razão pela qual não pode declarar a incompetência de ambos os Juízos. 6. In casu, a ação civil coletiva foi ajuizada em uma das Varas de Paulínia, em razão da empresa-ré ser nela sediada, as quais se encontram vinculadas ao Tribunal Regional da 15ª Região. Assim, deve ser reconhecida a competência de uma das Varas do Trabalho de sua sede, em Campinas. 7. Conflito negativo de competência que se julga procedente. ( CC , Relator Ministro: Guilherme Augusto Caputo Bastos, Data de Julgamento: 20/11/2012, Subseção II Especializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação: DEJT 23/11/2012) No caso dos autos, em que as lesões atingem diversos municípios dos Estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro, parece-me melhor configurado o dano suprarregional. Diante de tais elementos, há que se reconhecer a competência concorrente para processar e julgar eventual Ação Civil Pública das Varas do Trabalho das sedes dos Tribunais Regionais do Trabalho envolvidos: 1ª e 3ª Regiões, 7

8 atraindo a atribuição para promover o inquérito da sede das Procuradorias daquelas regiões. Considero pertinente o quanto discorrido pelo Exmo. Procurador Suscitante, quando aduz: Ademais, mesmo se considerado o entendimento da Exma. Procuradora suscitada (atribuição da unidade do MPT situada em município que sedia TRT), a hipótese demandaria a remessa dos autos à sede da PRT da 1ª Região, regional em que o procedimento teve início por determinação do seu coordenador de 1º grau e na qual já tramitava há mais de dois anos, e em cujas PTMs também foi reportadas lesão, e não para outra regional (fl v). Com efeito, recebida a notícia de fato na sede da 1ª Região, e posteriormente verificado que o dano excede o âmbito de atribuição de uma de suas PTMS, está preventa para atuar a sede daquela Regional. Nesse sentido o entendimento desta Câmara em decisões pretéritas: EMENTA. ( omissis) 3. A lesão de abrangência suprarregional ou nacional estabelece a legitimidade concorrente de uma das Sedes das Procuradorias Regionais do Trabalho, tornando-se preventa a Unidade que primeiro atuou no caso, à luz da OJ 130/SBDI- II/TST. (Processo PGT/CCR/ICP/Nº 11721/2014. Relatora Dra. Edelamare Barbosa Melo ) EMENTA: CONFLITO NEGATIVO DE ATRIBUIÇÕES. DANO SUPRARREGIONAL. DESLOCAMENTO DE ATRIBUIÇÃO A UMA DAS SEDES DO MPT. OJ Nº 130 DA SDBI-S DO TST. Indícios de que a irregularidade é uma prática uniforme da denunciada. Comprovado o dano suprarregional, deve recair a atribuição na sede de Procuradoria Regional para condução de investigação e possível ajuizamento de ação civil pública perante o Tribunal Regional do Trabalho competente. Exegese da OJ nº 130da SDBI-2 do TST. (PROCESSO PGT/CCR/PP/10920/2013- Relator Dr. Manoel Orlando de Melo Goulart) 8

9 Por fim, verifico da análise do sistema MPT Delphos, a existência de dois procedimentos arquivados, em face das mesmas investigadas, que tiveram trâmite na sede da PRT da 3ª Região, o IC e o IC (este teve início perante a PTM de Divinópolis, sendo posteriormente encaminhado à sede da 3ª Região dada a abrangência do dano). Ante o arquivamento e homologação dos mesmos há mais de dois anos, não há falar em prevenção daquele órgão para atuar. Diante do quanto exposto, a atribuição para atuar no presente caso cabe a um dos Procuradores do Trabalho lotados na sede da 1ª Regional, em razão do caráter suprarregional da lesão, que retira a atribuição das Procuradorias nos municípios atingidos. III CONCLUSÃO Em face da fundamentação apresentada, voto pelo conhecimento do presente Conflito Negativo de Atribuições, na forma do art. 103, inc. VI, da Lei Complementar nº 75/93, dirimindo-o para estabelecer a atribuição de conduzir este feito a um dos Procuradores lotados na sede da Procuradoria Regional do Trabalho da 1ª Região, conforme critérios locais de distribuição. Dê-se ciência ao suscitante e à suscitada, determinando-se o retorno dos autos à Procuradoria Regional do Trabalho da 1ª Região para as providências cabíveis e necessárias. Brasília, 25 de agosto de 2014 Adriana Silveira Machado Membro da CCR Relatora 9