MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA

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1 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA Nº 526/ PGGB RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO Nº /PI RECORRENTE: COMPANHIA ENERGÉTICA DO PIAUÍ - CEPISA RECORRIDO: GLAUCIO MOURA SANTANA RELATOR : MINISTRO CELSO DE MELLO Competência. Demanda judicial que diz respeito a exigência em concurso público destinado a formação de cadastro de reserva de sociedade de economia mista estadual. Questão alheia ao domínio normativo do art. 114 da Constituição. O recorrido ajuizou reclamação perante a Justiça do Trabalho, pleiteando a invalidade de teste psicotécnico a que se submetera em concurso público para preenchimento de cadastro de reserva (cf. fl. 5 da petição do extraordinário) na sociedade de economia mista estadual. Venceu a causa nas instâncias ordinárias, mas não logrou abrir a instância especial do Tribunal Superior do Trabalho. O agravo de instrumento não prosperou, por falta de pressupostos do art. 896 da CLT. O acórdão do TST assinalou que a alegada infringência do art. 5º, II, da Constituição, não seria direta, e que a suscitada ofensa ao art. 5º, VI, da CF, inovava os termos da controvérsia como travada até

2 ali. No mais, manteve por seus próprios fundamentos a decisão do TRT, que, entre outros pontos, recusara crítica de hostilidade ao art. 114, I, da Constituição. No TRT, foi dito: Este Regional consignou que as questões pré-contratuais se inserem na competência da Justiça do Trabalho, na medida em que a Carta Cidadã, em seu art. 114, menciona a previsão para processar e julgar as causas decorrentes da relação de trabalho, ou seja, as controvérsias que existirem em torno da relação de trabalho, antes e depois. No recurso extraordinário, a empresa cogita de ofensa ao art. 5º, II, e ao art. 114, I, da Constituição. Fala, também, em agressão ao art. 2º, da Carta e ao seu art. 5º, no que tange aos incisos XXXV, LIV e LV, assim como o texto constitucional como um todo (fl. 6 da petição do RE). O recurso foi trancado no TST, cuja presidência recusou que tenha havido ofensa ao princípio da legalidade, uma vez que, no ponto, a Justiça especializada coincidia com a jurisprudência do STF, que também reconhece a ilegitimidade do exame psicotécnico sem previsão legal. No que toca ao problema da competência, afirmou: O acórdão recorrido concluiu pela competência da Justiça do Trabalho, entendendo que o concurso público relaciona-se às questões pré-contratuais. Com efeito, o art. 114, I, da Constituição atribui à Justiça do Trabalho a competência para apreciar e julgar as lides decorrentes da relação de trabalho (e não relação de trabalho, como pretende a Ré). Nesse sentido, a controvérsia relativa a concurso público, que constitui etapa prévia à contratação de empregados - vale destacar que os aprovados manterão vínculo de emprego com a Administração Pública 2

3 -, insere-se na competência desta Justiça, nos termos do dispositivo constitucional. Como bem registrado, trata-se de discussão atinente a questão pré-contratual, decorrente, pois, da relação de trabalho. - II - O relato dos contornos assumidos pela causa não deixa dúvida de que o tema da competência material da Justiça do Trabalho foi discutido e sobre ele se construiu tese bem definida, garantindo estar atendido o requisito do prequestionamento. A discussão dos assuntos pertinentes aos demais preceitos constitucionais depende da sorte que se dê à arguição de injúria ao art. 114 da Carta. Vale, assim, iniciar o exame da controvérsia sob esse prisma antecedente dos demais suscitados, sem embargo de, desde já, advertir-se que a invocação genérica da ofensa texto constitucional como um todo não dá entrada ao extraordinário. A reclamação proposta diz respeito à ilegitimidade do teste psicotécnico exigido em edital de concurso público que não encontra previsão em lei. O certame foi aberto visando à formação de quadro de reserva para empregos públicos em sociedade de economia mista. Não há dúvida de que os candidatos, se aprovados e se vier a surgir a necessidade de contratação, haverão de manter com a empresa relação de emprego, regida pela CLT. Isso não é, todavia, suficiente para que se firme a jurisdição trabalhista para a causa. A discussão, nos termos como delineada, é prévia à formação de vínculo trabalhista, que pode nem mesmo vir a se estabelecer, ainda mais tendo em conta que o intuito do concurso é o de formação de quadro de reserva. A tese que vem prevalecendo até aqui amplia excessivamente o entendimento do que sejam ações oriundas da relação de trabalho. Decerto que 3

4 não será todo o ato com potencial de gerar um contrato de trabalho que haverá de despertar a competência da Justiça especializada. Atos de índole administrativa, como o retratado nos autos, não são bastantes para tanto. A controvérsia sobre a legitimidade de uma etapa de concurso público não se ajusta à compreensão do que seja uma causa oriunda de contrato de trabalho, até porque ainda não há nem sequer a certeza de que haverá algum contrato de trabalho decorrente do certame. Não é que, no caso, a relação de causa e efeito entre a relação laboral e o concurso seja remota o que já afastaria a competência da Justiça especial, o problema é que nem sequer essa relação se formou, estando ainda no incerto domínio da eventualidade. Conquanto o acervo da jurisprudência do STF não registre precedente específico sobre o tema, vale observar que o entendimento do Superior Tribunal de Justiça alinha-se com a posição do recorrente. Seguindo o voto de relator do Ministro Teori Zawaski, o STJ, ao tempo em que S. Exa. ali atuava, decidiu: É da competência da Justiça comum, e não da Justiça do Trabalho, processar e julgar ação popular movida contra Município, visando a anulação de concurso público destinado à contratação de servidores municipais, ainda que o regime de contratação seja o trabalhista. É que a causa não está fundada, não é derivada e nem é "oriunda da relação de emprego", não se enquadrando, portanto, nas hipóteses de competência da Justiça do Trabalho, previstas no art. 114, I, da CF (redação da EC 45/2004). (CC /CE, Primeira Seção, DJ ) 4

5 extraordinário. O parecer é pelo provimento do agravo e do recurso Brasília, 21 de janeiro de Paulo Gustavo Gonet Branco Subprocurador-Geral da República 5