PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO

Transcrição

1 A C Ó R D Ã O 3ª Turma PODER JUDICIÁRIO FEDERAL CONTRATO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. A Justiça do Trabalho não é competente para dirimir a controvérsia que envolva contrato de honorários advocatícios, vez que decorre de relação de natureza civil. Agravo a que se dá provimento. Visto, relatado e discutido o agravo de petição em que figuram SINDICATO DOS TRABALHADORES NAS INDÚSTRIAS DE ALIMENTAÇÃO DE DUQUE DE CAXIAS,como agravante, e ROBERTO MOREIRA FABIANO, agravado. Trata-se de agravo de petição interposto pelo sindicato autor da respeitável decisão de fls. 2201/2202, da MM. 3ª Vara do Trabalho de Duque de Caxias, de lavra da eminente Juíza Luciana Gonçalves de Oliveira Pereira das Neves, que julgou improcedentes os pedidos formulados nos embargos de execução. O agravante alega que deve ser liberada a quantia bloqueada (fls. 2205/2208). Contraminuta apresentada às fls. 2230/2235, sem preliminares, requerendo a reconsideração do despacho de fl A Douta Procuradoria Regional opinou pelo conhecimento do recurso ordinário e pelo seu não provimento (fls. 2220/2221). É o relatório

2 admissibilidade. V O T O CONHECIMENTO Conheço do agravo, por satisfeitos os pressupostos de MÉRITO PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO REQUERIDO EM CONTRAMINUTA Pretende o agravado, em contraminuta, a reconsideração do despacho de fl. 2228, que excluiu a União e incluiu o ora agravado. Nada a reconsiderar, vez que a União não tem relação como o tema em análise. Rejeito. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS O MM. Juízo a quo julgou improcedentes os embargos à execução, sob o fundamento de que há farta documentação provando que o sindicato recebeu indevidamente os honorários advocatícios; que os embargos são manifestamente protelatórios (fls. 2201/2202). Salienta o agravante que atua na condição de substituto processual, sendo que cada substituído possui renda superior ao dobro do salário mínimo; que indevida a expropriação de bens de sua propriedade; que foi procedido o bloqueio da sua conta bancária, através do sistema BACEN-JUD; que não há comprovação de que recebeu os honorários advocatícios, embora entenda que até poderia recebê-los, nos termos da Lei nº 5.584/70 e das Súmulas nº 219 e 329 do C. TST; que o sindicato é parte legítima para declarar o estado de necessidade de seus substituídos; que não há declaração nesse sentido; que foi o advogado que assistia aos substituídos quem recebeu os honorários, com dedução de 15% (quinze por cento) e concordância dos mesmos; que o próprio Ministério Público reconhece, à fl. 2146, que o sindicato não recebeu os honorários advocatícios; que não houve

3 ofensa à coisa julgada, vez que o recebimento dos honorários decorreu de ajustes entre os substituídos e o advogado que os assistia, sem participação do sindicato; que tal fato foge à competência deste Juízo; pretende a liberação da quantia bloqueada com expedição de alvará judicial em favor do sindicato (fls. 2207/2208). Com razão. De início, verifico que, em que pese a situação fora do comum, os substituídos pagaram os honorários por vontade própria, vez que os Alvarás foram expedidos em seus próprios nomes, conforme se depreende dos documentos de fls. 1816/1945. Destaco que não há notícia de contrato de honorários firmado com os substituídos. De toda sorte, a Justiça do Trabalho somente é competente em relação aos honorários advocatícios previstos no título executivo, o que não é o caso. Portanto, possível irregularidade na cobrança de honorários não está afeta a nossa competência. Neste sentido, a seguinte ementa: RECURSO ORDINÁRIO. CONTRATO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. COBRANÇA. INCOMPETÊNCIA. Relações de natureza puramente civil, como a que decorre da contratação de honorários advocatícios, ainda que no âmbito do processo do trabalho, escapam à competência da Justiça do Trabalho, nos termos do artigo 114 da Constituição da República. (RO ª Turma - Relator Paulo Marcelo de Miranda Serrano - pesquisado no sítio portal1.trtrio.gov.br em )

4 No mesmo sentido é o entendimento adotado pelo C. TST: RECURSO DE REVISTA. AÇÃO DE COBRANÇA. CONTRATO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. INCOMPETÊNCIA DA. RELAÇÃO CONTRATUAL DE NATUREZA CIVIL. PRECEDENTES DESTA CORTE E DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Embora o contrato de honorários, ou de mandato, envolva uma delegação de poderes para a prática de atos, possuindo natureza civil, defende a Relatora que, ainda assim, a competência para apreciar o litígio daí oriundo é da Justiça do Trabalho, porque esse contrato envolve o trabalho humano prestado pessoalmente, que o constituinte derivado entendeu de submeter à esta Justiça. Todavia, o entendimento atual das Turmas desta Corte é o de que o contrato de prestação de serviços de natureza eminentemente civil como os que envolvem advogados e corretores de imóveis - não se incluem no conceito de relação de trabalho, constante do art. 114, I, da CF, razão porque a Justiça Obreira não possui competência para julgar o tipo de demanda aqui tratada, mas sim a Justiça Comum. Ressalva do entendimento contrário desta Relatora. Dessa feita, conhecido o Apelo por violação do art. 114, I, da CF/88, determina-se o envio dos autos à Justiça Comum. Recurso de Revista conhecido e provido. (RR / Publicação: DEJT - 04/09/

5 Ministra Relatora Maria de Assis Calsing - 4ª Turma - pesquisado no sítio ) em Ainda que a EC 45/2004, ao dar nova redação ao art. 114 da Constituição da República, tenha aumentado a competência desta Especializada, passando a constar no seu inciso a compete à Justiça do Trabalho processar e julgar as ações oriundas da relação de trabalho, a matéria discutida nos autos não foi atraída para a Justiça do Trabalho. Isto porque a relação que se estabelece entre os substituídos, o substituto e os advogados contratados pelo sindicato consiste em relação de consumo ou uma relação típica de delegação de poderes, não há que se falar em relação de trabalho. Neste sentido é o entendimento consagrado pela Súmula nº 363 do C. STJ: Compete à Justiça estadual processar e julgar a ação de cobrança ajuizada por profissional liberal contra cliente. Portanto, dou provimento para declarar a incompetência da Justiça do Trabalho quanto a essa matéria e anular os atos praticados a partir de fl. 2156, assim como a decisão de fls. 2201/2202, determinando a liberação da quantia bloqueada em favor do sindicato. CONCLUSÃO Pelo exposto, conheço do agravo e dou-lhe provimento para declarar a incompetência da Justiça do Trabalho quanto a essa matéria e anular os atos praticados a partir de fl. 2156, bem como a decisão de fls. 2201/2202, determinando a liberação da quantia bloqueada em favor do sindicato. A C O R D A M os Desembargadores da 3ª Turma do Tribunal

6 Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, conhecer do agravo e dar-lhe provimento para declarar a incompetência da Justiça do Trabalho quanto a essa matéria e anular os atos praticados a partir de fls. 2156, bem como a decisão de fls. 2201/2202, determinando a liberação da quantia bloqueada em favor do sindicato. Rio de Janeiro, 04 de março de DESEMBARGADOR MARCOS PALACIO Relator ccf/lj