MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA

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1 Nº 3480/ PGGB MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO Nº /SP AGTE.(S) : ANDRADE AÇÚCAR E ÁLCOOL S/A E OUTRO(A/S) ADV.(A/S) : MICHAEL A FERRARI DA SILVA E OUTRO(A/S) AGDO.(A/S) : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO INTDO.(A/S) : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA RELATOR : MIN. DIAS TOFFOLI Recursos Extraordinários com Agravos. Inadequação formal das preliminares de repercussão geral. Razões do extraordinário dissociadas dos fundamentos que embasaram o acórdão recorrido. Parecer pelo desprovimento dos recursos. O Ministério Público de São Paulo ajuizou ação civil pública, para responsabilizar os recorrentes por dano ambiental, consistente na queima da palha de cana-de-açúcar, ao ar livre, próximo às redes de transmissão de energia elétrica, com emissão de fumaça e fuligem. A conduta está prevista no art. 2º e 3º da Lei estadual nº 997/76. A sentença de improcedência foi reformada no Tribunal de Justiça de São Paulo nos termos desta ementa: AGRAVO RETIDO - NÃO CONHECIMENTO - AUSÊNCIA DE REITERAÇÃO PELAS REQUERIDAS NA RESPOSTA DA APELAÇÃO INTELIGÊNCIA DO ART. 523, 1º, DO CPC - AGRAVO DAS RÉS NÃO CONHECIDO AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL - QUEIMA DE PALHA DE CANA- DEAÇÚCAR - EFEITOS NOCIVOS COMPROVADOS POR VASTA LITERATURA E CONSTATADOS EMPIRICAMENTE POR UMA LEGIÃO DE PREJUDICADOS - LEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM DA EMPRESA QUE SE BENEFICIA DO RESULTADO DO ATO LESIVO - RECURSO DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARCIALMENTE PROVIDO

2 Contra o acórdão do Tribunal de Justiça, os recorrentes interpuseram recurso especial e extraordinário, que foram inadmitidos na origem. Seguiram-se os respectivos agravos. O agravo em recurso especial foi desprovido por decisão monocrática e confirmado em agravo regimental. Eis a ementa do acórdão: PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL. QUEIMA DE PALHA DE CANA-DE-AÇÚCAR. DANO AMBIENTAL. AUSÊNCIA DE OMISSÃO NO ACÓRDÃO. MULTA CUMULATIVA COM OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER. FUNDAMENTO DO ACÓRDÃO INATACADO. SÚMULA 283/STF. DANO AMBIENTAL. RESPONSABILIDADE CONFIGURADA. PRETENSÃO DE REEXAME DE PROVA. SÚMULA 7/STJ. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. INEXISTÊNCIA DE SIMILITUDE FÁTICA. 1. Não cabe falar em ofensa aos arts. 156, 458, incisos II e III, e 535 do Código de Processo Civil quando o Tribunal de origem pronuncia-se de forma clara e suficiente sobre a questão colocada nos autos. 2. Verifica-se que o agravante não infirmou o fundamento do acórdão vergastado, fato que atrai a aplicação, por analogia, da Súmula 283/STF, in verbis: "É inadmissível o recurso extraordinário, quando a decisão recorrida assenta em mais de um fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles". 3. Insuscetível de revisão nesta via recursal o entendimento do Tribunal de origem, com base na situação fática do caso, de que ficou configurada a responsabilidade das agravantes pela queima irregular da palha de cana. 4. A demonstração do dissídio jurisprudencial impõe a ocorrência indispensável de similitude fática entre as soluções encontradas pelo decisum embargado e o paradigma, o que não ocorreu na hipótese dos autos. Agravo regimental improvido. Contra o acórdão do STJ, os recorrentes interpuseram novo recurso extraordinário, que também restou inadmitido. Os autos chegam à Corte, por força do segundo agravo. O primeiro recurso extraordinário sustenta a violação dos arts. 5º, caput, II, 1º, IV, 3º, II, 225, 3º, da CF. Afirma a falta de isonomia entre as recorrentes e as demais usinas de produção de cana-de-açúcar, que terão custos menores por estarem autorizadas a utilizar a queima da cana para a colheita. Diz não haver legislação que proíba as recorrentes de fazerem uso de fogo como método facilitador para a colheita. Ao ver das recorrentes, a prática é autorizada pela Lei 4771/68 e pelo Decreto 2661/98. Sustenta que a solução adotada no acórdão desconsiderou o direito à livre iniciativa e o desenvolvimento da nação, que não pode se sobrepor ao direito ao 2

3 meio ambiente ecologicamente equilibrado. Alega não ter sido comprovado o nexo de causalidade entre o incêndio ocorrido e a ação ou omissão do recorrente. Cogita de revogação da Lei estadual 997/76, nos pontos em que colide com a Lei federal 6938/81. Justifica, assim, a interposição do extraordinário com amparo na letra d do permissivo constitucional. O recurso foi inadmitido por não retratar questão constitucional direta. O segundo recurso extraordinário, interposto com amparo na alínea a do permissivo constitucional, cogita de ofensa dos arts. 97, 5º, caput, II, 1º, IV, 3º, II, 225, 3º, da CF. Argui que o acórdão recorrido, ao deixar de analisar a questão colocada a exame do E. Superior Tribunal de Justiça, sobre a existência de lei estadual que prevê a redução gradativa da utilização da queima controlada e não a sua proibição desprestigiou a cláusula de reserva de plenário. Em relação às demais arguições de violação constitucional, o recurso repete as mesmas razões expostas na petição do recurso extraordinário anterior. O STJ negou trânsito ao extraordinário, afirmando que as razões dos recorrentes não se insurgem contra os fundamentos do acórdão recorrido, o qual confirmou a decisão monocrática, negando seguimento ao recurso especial que não reunia condições admissibilidade. - II - As preliminares de repercussão geral de ambos os recursos extraordinários, apesar de destacadas em tópico próprio, não minudenciam por que o tema do recurso seria relevante do ponto de vista econômico, político, jurídico ou social. A nova exigência para admissibilidade do recurso extraordinário não se dá por cumprida sem a satisfação de algum ônus argumentativo, como disse, em 12 de novembro de 2013, o Ministro Teori Zavascki, no ARE , resumindo a jurisprudência a respeito: 3

4 O Supremo Tribunal Federal firmou entendimento no sentido de que é ônus do recorrente a demonstração formal e fundamentada de repercussão geral da matéria constitucional versada no recurso extraordinário, com indicação específica das circunstâncias reais que evidenciem, no caso concreto, a relevância econômica, política, social ou jurídica. Não bastam, portanto, para que seja atendido o requisito previsto nos artigos 102, 3º, da CF e 543-A, 2º, do CPC, alegações genéricas a respeito do instituto, como a mera afirmação de que: (a) a matéria controvertida tem repercussão geral; (b) o tema goza de importância econômica, política, social ou jurídica; (c) a questão ultrapassa os interesses subjetivos da parte ou tem manifesto potencial de repetitividade; (d) a repercussão geral é consequência inevitável de suposta violação de dispositivo constitucional; ou, ainda, (e) a existência de jurisprudência pacífica desta Corte quanto ao tema discutido. Nesse sentido: ARE AgR, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, DJe de 25/02/2013; ARE AgR-segundo, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, Segunda Turma, DJe de ; ARE AgR/MG, Rel. Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, DJe de ; AI AgR, Rel. Min. JOAQUIM BARBOSA, Segunda Turma, DJe de 13/08/2012. Na realidade, desde 2007, o Tribunal vem ensinando que a repercussão geral é requisito de admissibilidade do apelo extremo, por isso que o recurso extraordinário é inadmissível quando não apresentar preliminar formal de transcendência geral ou quando esta não for suficientemente fundamentada (Questão de Ordem no AI , rel. o Ministro Sepúlveda Pertence, DJ 6/9/2007). Nem mesmo nos casos de repercussão geral presumida o recorrente se livra do ônus de demonstrar, em tópico destacado na petição do RE, que a matéria constitucional nele suscitada já teve a repercussão geral reconhecida, ou que a decisão recorrida contraria súmula ou a jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal (ARE AgR/MG, Relator o Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Dje 27/8/2013). Sob esses parâmetros, não se pode compreender como atendido o pressuposto de cabimento dos extraordinários. As recorrentes, apesar de não apontarem, nas razões recursais, a violação do princípio da segurança jurídica, se restringem a dizer que a segurança jurídica foi violada em razão do v. acórdão 4

5 recorrido ter proibido as recorrentes de fazerem uso do fogo para facilitar a colheita da cana, ainda que haja em nosso ordenamento jurídico dispositivos que permitam essa prática. Limitam-se a dizer, ainda, que se a decisão recorrida prevalecer será o colapso do Brasil, uma vez que irá parar a produção de álcool, açúcar e outros derivados da cana-de-açúcar, refletindo diretamente na economia do país. Como se não bastasse, o argumento do STJ para obstar o seguimento do recurso extraordinário se revela acertado. As recorrentes não atacaram, de fato, os fundamentos do acórdão proferido pelo STJ, tanto é que repetem as razões do recurso extraordinário interposto, em 2010, contra o acórdão do TJ/SP. O parecer é pelo desprovimento dos agravos. Brasília, 4 de agosto de Paulo Gustavo Gonet Branco Subprocurador-Geral da República 5