PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO

Transcrição

1 ACÓRDÃO 2ª Turma COMPETÊNCIA MATERIAL. ARTIGO 114, I, DA CF. ADIN 3395/DF. Segundo entendimento exarado pelo Excelso Supremo Tribunal Federal na ADI 3395, o disposto no artigo 114, I, da CF, não abrange as causas instauradas entre o Poder Público e servidor que lhe seja vinculado por relação jurídico-estatutária. Apelo não provido. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de recurso ordinário em que são partes: JOSÉ GERARDO CARVALHO SANTOS (Dr. Rodrigo Lopes Magalhães, OAB: ), como recorrente, e COMISSÃO NACIONAL DE ENERGIA NUCLEAR - CNEN como recorrida. (Procuradoria Regional Federal da 2ª Região), Insurge-se o autor contra a r. sentença de fl. 86/88, da lavra da Exmª Juíza Gabriela Canellas Cavalcanti, proferida pela 29ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, que declinou da competência para a Justiça Federal. Alega nas razões revisionais de fls. 95/97, em síntese, que o dissídio versa sobre relação de trabalho celetista e não de servidor público estatutário, pois em momento algum prestou concurso público para ocupar o cargo que gerou a presente demanda. Assegura que a Constituição Federal, no artigo 114, inciso I, dispõe ser a Justiça do Trabalho competente para apreciar reclamação trabalhista, pelo que requer a reforma da r. sentença, declarando-se a competência da Justiça do Trabalho e a remessa dos autos à vara de origem para reabertura da instrução processual, postulando como pedido sucessivo que lhe seja aplicado o entendimento vertido na Súmula nº 363 do C.TST. Contrarrazões da ré às fls. 102/

2 Parecer do ilustre Procurador Regional do Trabalho, às fls. 107/108, opinando pelo conhecimento e não provimento do apelo. É o relatório. FUNDAMENTAÇÃO Apelo tempestivo; parte bem representada. admissibilidade. Conheço do recurso ordinário, por preenchidos os pressupostos de MÉRITO DA INCOMPETÊNCIA MATERIAL DA O Juízo sentenciante declinou da competência desta Justiça para a Justiça Federal, sob o fundamento de que a hipótese discutida na presente lide é similar a de várias decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal. Assevera que acompanha a decisão das cortes superiores, declinando da competência, para evitar futura alegação de nulidade da decisão proferida pela Justiça do Trabalho, na medida em que a matéria trata de competência absoluta. Sustenta o recorrente que mesmo tendo sido cancelada a OJ. n. 205 da SDI-1 do C.TST, o caso vertente não é o de afastamento da competência da Justiça do Trabalho, porquanto a presente demanda refere-se a empregado público e não a servidor, regido pela lei 8.112/90, pois não prestou concurso para o ingresso na administração na administração pública. Colaciona ao apelo ementas de duas decisões para corroborar sua tese. Vejamos

3 Inicialmente, releva destacar que o servidor público não é somente a nomenclatura do funcionário contratado pelo Administração Pública mediante prévio concurso público. São servidores os titulares dos cargos públicos efetivos e em comissão, com regime jurídico estatutário geral ou particular, integrantes da administração direta e das autarquias e das fundações públicas com personalidade jurídica de direito público. E, no artigo 37, II, da CF, encontram-se excepcionadas as duas hipóteses em que a contratação de servidor público prescinde do concurso: a contratação temporária por excepcional interesse público e a nomeação para a ocupação de cargo em comissão. Superado o conceito acima, é fato incontroverso que o autor foi nomeado ad nutum pelo Presidente da autarquia acionada, em , para exercer a função comissionada de Chefe da Divisão de Comercialização (FG-5), tendo sido novamente nomeado, em , para a função de Chefe da Divisão de Produtos e Serviços (FG-5), consoante autorização conferida a este pelo Decreto nº 150/ 1991, que regulamenta a estrutura da Comissão Nacional de Energia Nuclear. Considerando que nos presentes autos é postulado o reconhecimento do liame empregatício entre o autor e a autarquia, no período compreendido entre o início do exercício apontado acima e a exoneração ocorrida em ,, o entendimento desta Relatora é no sentido de que a competência para processar e julgar o conflito é da Justiça do Trabalho (artigo 114, I, da CF). Todavia, conforme recente decisão do Supremo Tribunal Federal na Reclamação n RS, foi declarado por aquela Corte que, em razão de diversos julgamentos anteriores, ex vi, Adin 3395, a Reclamação 5381-AM, referendada no RE AM e a Reclamação nº 4904-SE, dentre outras, quando se está diante de vínculo jurídico estabelecido entre entidades da administração pública e seus exservidores, sejam eles contratados com fundamento em leis locais que autorizam a contratação por tempo determinado, por excepcional interesse público, ou mesmo

4 nomeados para exercerem cargos em comissão, a validade ou não desses contratos, por estarem submetidos ao regime jurídico estatutário ou jurídicoadministrativo, não comporta discussão perante a Justiça do Trabalho. Mas não é só. O Plenário do Supremo Tribunal Federal em inúmeras Reclamações de decisões prolatadas pela Justiça do Trabalho, envolvendo contratações de servidores públicos, quer temporárias, quer pelos ocupantes de cargo em comissão, tem entendido que estas decisões desrespeitam a autoridade da decisão proferida pelo Ministro Cesar Peluzo, na ADIN N MC/DF. Nesse sentido, ora se transcreve trecho da decisão da Ministra Carmen Lúcia, proferida na Reclamação n (DJU, ): (...)1. O que se põe em foco nesta Reclamação é a competência da Justiça do Trabalho para processar e julgar ação que versa em essência sobre a relação jurídica estabelecida entre a administração pública e os servidores nomeados para o exercício de cargo de provimento em comissão, fundamentando-se o Reclamante na decisão da Medida Cautelar na Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 3395/DF. Em , no julgamento da ADIN nº 3395/DF este Supremo Tribunal Federal, por maioria, referendou cautelar deferida pelo Ministro Nelson Jobim, cujos termos são o seguinte: EMENTA: INCONSTITUCIONALIDADE. Ação Direta. Competência. Justiça do Trabalho. Incompetência. Reconhecimento. Causa entre o Poder Público e os Servidores Estatutários. Ações que não se reputam oriundas das relações de trabalho. Conceito estrito dessa relação. Feitos da competência da Justiça do Trabalho. Interpretação do artigo 114, I, da CF, introduzido pela EC 45/2004. Precedentes. Liminar deferida para excluir outra interpretação. O disposto no artigo 114, I, da CF não abrange as causas instauradas entre o Poder Público e o servidor que lhe seja vinculado por relação jurídico-estatutária (DJ, ). (...) 7. A questão posta nos autos foi

5 solucionada por este Supremo Tribunal Federal que em diversas oportunidades suspendeu o processamento de ações ajuizadas perante a Justiça do Trabalho, nas quais se discutia o vínculo jurídico estabelecido entre entidades da administração pública e os ex-servidores (...) 9. Esse entendimento foi reafirmado em , no julgamento do R.E. nº /AM, Relator Ministro Ricardo Lewandowski (DJ, ) e na Reclamação n SE, de minha relatoria, o Plenário deste Tribunal assentou: EMENTA: RECLAMAÇÃO. CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATVO. OFICIAL DE JUSTIÇA. CARGO DE PROVIMENTO COMISSIONADO. ART. 37, II E V, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. VÍNCULO JURÍDICO-ADMINISTRATIVO. DESCUMPRIMENTO DA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE N COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL(...) (DJ, ). Pelo exposto, por entender caracterizado o desrespeito ao que ficou decidido por este Supremo Tribunal na Medida Cautelar da Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 3395/DF, julgo procedente a presente Reclamação e declaro a incompetência da Justiça do Trabalho para processar e julgar as reclamações trabalhistas e , determinando a remessa dos autos à Justiça Comum. Outrossim, releva destacar que em decorrência da decisão do julgamento da Adin 3395-MC/DF, já mencionada acima, o C. TST cancelou a edição da O.J.nº 205 do SDI1, que admitia a competência da Justiça do Trabalho para dirimir dissídio individual entre trabalhador e ente público acerca do vínculo de emprego. Nesse contexto, tendo em vista a jurisprudência predominante na Corte Suprema, por se tratar a hipótese vertente de reconhecimento da natureza trabalhista dos serviços prestados pelo autor à autarquia federal, é de se manter a r. decisão de primeira instância, devendo os autos serem remetidos à Justiça Federal, como determinado pelo Juízo de 1ª instância. Nada a prover

6 CONCLUSÃO Pelo exposto, CONHEÇO do recurso ordinário interposto, e, no mérito, NEGO-LHE PROVIMENTO, nos termos da fundamentação supra. A C O R D A M os Desembargadores que compõem a 2ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, conhecer do recurso ordinário interposto, e, no mérito, por maioria, negar-lhe provimento, nos termos da fundamentação do voto da relatora, vencido o Desembargador Valmir de Araújo Carvalho, que o provia. Rio de Janeiro, 21 de Setembro de Juíza do Trabalho Convocada Claudia de Souza Gomes Freire Relatora