PROCESSO: RO

Transcrição

1 A C Ó R D Ã O 5ª T U R M A Demonstrados os requisitos do art. 3º da CLT e não o trabalho autônomo do autor, mantém-se o reconhecimento do vínculo de emprego entre as partes. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de recurso ordinário, oriundos da MM. 51ª Vara do Trabalho de do Rio de Janeiro, em que são partes: BRASILCRAF COMÉRCIO DE ARTEFATOS DE COURO LTDA., recorrente, e LUIZ EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS, recorrido. RELATÓRIO Inconformada com a r. sentença de fls. 275/281, que julgou procedente em parte o pedido, recorre ordinariamente a reclamada. Embargos de declaração da reclamada a fls. 282/284, os quais foram parcialmente acolhidos, conforme decisão a fl. 285/286. Pretende a recorrente, a fls. 289/303, a reforma da sentença quanto ao reconhecimento do vínculo de emprego entre as partes e consectários. Depósito recursal recolhido a fl. 305 e custas recolhidas a fl

2 Contrarrazões a fls. 310/317. É o relatório. FUNDAMENTAÇÃO CONHECIMENTO admissibilidade. Conheço do recurso por preenchidos os pressupostos legais de MÉRITO DO VÍNCULO DE EMPREGO Requer a reclamada a reforma do julgado quanto ao reconhecimento do vínculo de emprego entre as partes e consectários. Aduz que firmou contrato de prestação de serviços com a empresa da esposa do reclamante, CORPUS DESIGN STUDIO, tendo como objeto a assessoria de produção e designer. Sustenta, em síntese, que o reclamante lhe prestou serviços como estilista autônomo, e não como empregado, inexistindo os requisitos do art. 3º da CLT, necessários para a configuração do vínculo de emprego

3 Aduz que o reclamante não provou a sua condição de empregado junto à ré. Ao contrário, alega que o autor recebia ordens da Sra. Flávia Gadelha, empresária da firma individual com a qual a ré firmou contrato de prestação de serviços. Alega que os documentos de fls. 35/36 (REGISTRO DE ENTRADA DE VISITAS À FUNCIONÁRIOS), os quais consignam o nome do reclamante como estilista da recorrente, não possuem valor probante. Aduz, para tanto, que o único estilista da reclamada é o Sr. Victor Hugo. Sustenta, ainda, que esses documentos estavam na posse da ré e foram obtidos inadequadamente pelo autor. Ademais, afirma que a função de Designer de peças não é fundamental para a consecução dos objetivos da empresa, pertencendo à atividade-meio da reclamada. Sem razão. Na inicial, o reclamante informou que foi admitido na ré como estilista, em 5/07/2005, com rescisão contratual em 13/02/2009. Aduziu, ainda na inicial, que não houve nova anotação da sua Carteira de Trabalho e, como fraude aos seus direitos trabalhistas, a reclamada firmou com a sua esposa (Sra. Flavia Gadelha Coelho Cintra) contrato de prestação de serviços de Assessoria em Desenvolvimento de Produtos. Afirmou que, para essa finalidade, a sua esposa precisou abrir uma firma individual, com o nome fantasia de CORPUS DESIGN STUDIO

4 A reclamada admitiu na contestação a prestação de serviços do reclamante de 5/07/2005 a 13/02/2009, mas não como empregado nos moldes do art. 3º da CLT. Aduziu a ré, em sua defesa, que o reclamante lhe prestava serviços como trabalhador autônomo, sem vínculo de emprego, por meio da empresa da sua esposa. Assim, ao afirmar fato modificativo do direito do autor, a recorrente atraiu para si o ônus da prova quanto a essa alegação, na forma do art. 818 da CLT e art. 333, II do CPC. A reclamada não se desincumbiu, porém, do ônus que lhe competia. O próprio preposto da recorrente, em depoimento pessoal (fl. 271), declarou que o autor se reportava na empresa às gerências da reclamada. Ora, por meio dessa declaração, o representante legal da ré confessou a subordinação jurídica do reclamante, deixando claro que ele não obedecia ordens da suposta firma individual da sua esposa, e sim da reclamada. Dessa forma, caem por terra as declarações das testemunhas da reclamada, contrárias à existência de vínculo de emprego entre as partes. Por outro lado, o autor provou, por meio dos s juntados as autos, a existência do vínculo de emprego entre as partes. Por meio do a fl. 105, o Sr. Victor Hugo, Diretor da reclamada, adverte formalmente o autor em virtude de falta injustificada, asseverando a

5 possibilidade da perda do dia de salário, evidenciando a existência de subordinação e controle da jornada do reclamante. Por meio do a fl. 107, o reclamante justificou os dias em que precisou chegar após o horário para a realização de exames médicos, tornando patente a subordinação jurídica e fiscalização da sua jornada pela ré. Ademais, o autor declarou, em depoimento pessoal (fl. 269), que exercia a função de estilista e era responsável pelo desenvolvimento de produtos da empresa. Como prova das suas alegações, juntou, por exemplo, o Memorando sobre concessão de férias dos empregados que lhe eram subordinados (fl. 34), assinando o respectivo documento como responsável do Núcleo de Criação e Desenvolvimento de Produtos. Outros documentos também foram assinados pelo autor, na qualidade de empregado da ré, como, por exemplo aqueles a fls. 37 (Controle de Frequência de empregados e Concessão de Vale-Transporte). Os Relatórios de Auditoria Interna da reclamada eram encaminhados, via , também ao reclamante, conforme informação constante a fl. 60, por exemplo. Quanto ao Relatório de Entrada de Visitas a Funcionários (fl. 36), no qual consta o nome do reclamante como empregado visitado, a própria testemunha da ré (fl. 273) declarou que L. Eduardo Estilista é o reclamante. Desse modo, ao contrário do que pretende a recorrente, o Relatório de Entrada de Visitas a Funcionários juntado a fl. 36 é plenamente válido como meio de

6 prova. Outrossim, não deve prevalecer o argumento da ré de que a função de Designer de peças não é fundamental para a consecução dos objetivos da empresa, pertencendo à atividade-meio da reclamada. Conforme teor do contrato social juntado a fl. 192, o objeto social da reclamada é, dentre outros, a indústria de artefatos de couro, lona, plásticos, tecidos, confecções, etc. Assim, é inequívoco que a contratação do autor como estilista, para o desenvolvimento de produtos da empresa é inerente à atividade-fim da reclamada, implicando a formação do vínculo de emprego diretamente com a recorrente. Vale frisar que o reclamante declarou fidedignas as notas fiscais emitidas pela suposta empresa da sua esposa, conforme ata da audiência a fl Essa circunstância, porém, não descaracteriza a existência do vínculo de emprego entre o reclamante e a reclamada, pois os pagamentos eram assim realizados como forma de burlar a legislação trabalhista. Portanto, conclui-se pela existência de verdadeira relação de emprego entre as partes, pelo que deve ser mantido o reconhecimento do vínculo empregatício. Nego provimento. CONCLUSÃO

7 Nego provimento ao recurso. A C O R D A M os Desembargadores que compõem a 5ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, NEGAR provimento ao recurso, nos termos do voto da Desembargadora Relatora. Rio de Janeiro, 9 de Junho de Desembargadora Federal do Trabalho Mirian Lippi Pacheco Relatora Dmav