PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO

Transcrição

1 A C Ó R D Ã O 3ª T U R M A CEDAE. DIFERENÇAS SALARIAIS. ISONOMIA REMUNERATÓRIA ENTRE EMPREGADOS DE NÍVEL UNIVERSITÁRIO. DESCABIMENTO. O Plano de Cargos e Salários da CEDAE não prevê tratamento isonômico no tocante ao valor das parcelas remuneratórias de cada cargo pelo simples fato de que os seus ocupantes possuam nível universitário. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de recurso ordinário em que são partes: CEDAE - COMPANHIA ESTADUAL DE ÁGUAS E ESGOTOS, como Recorrente, e SIVALDO SILVIO MOREIRA, como Recorrido. Insurge-se a Ré contra a r. sentença de fls.360/363, da lavra da Exmª Juíza Kátia Emílio Louzada, proferida pela 54ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, que julgou procedentes os pedidos formulados na exordial. Alega a Recorrente, em seu apelo de fls.364/382, que o Recorrido pleiteou os mesmos pedidos formulados na presente demanda em outra ação trabalhista distribuída em 2008, vindicando tratamento isonômico com relação a outros empregados da CEDAE, o que justifica a condenação do obreiro por litigância de ma-fé. Argumenta que ocorreu a prescrição total, invocando a orientação contida na Súmula 294 do C.TST. Sustenta que inexiste norma interna que ampare a isonomia salarial entre os empregados de nível universitário. Assevera que o pagamento pelo código 109" decorre de decisão judicial que levou em conta situação específica do modelo indicado, tratando-se, portanto, de vantagem pessoal. Sustenta que deve ser extirpado o pagamento dos reflexos nos triênios; bem como indeferidas as diferenças de gratificação de férias e abonos de férias, por já quitadas. No caso de manutenção da sentença, requer que as diferenças salariais repercutam apenas

2 sobre as verbas que tenham por base o salário. Custas e depósito recursal a fls.401. Contrarrazões a fls. 405/423. Deixo de encaminhar os autos ao Ministério Público do Trabalho, eis que não configurada qualquer das hipóteses previstas no art. 85, I, do Regimento Interno, do E. Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região. É o relatório. FUNDAMENTAÇÃO DO CONHECIMENTO Por preenchidos os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso ordinário interposto pela Ré. NO MÉRITO DA LITIGÂNCIA DE MÁ-FE Alega a Recorrente que o Recorrido pleiteou os mesmos pedidos formulados na presente demanda em outra ação trabalhista ajuizada em 2008, vindicando o reconhecimento do direito ao tratamento isonômico com relação a outros empregados da CEDAE, o que configuraria litigância de má-fé. Não vislumbro a alegada litigância de má-fé suscitada, eis que a causa de pedir da demanda distribuída em 2008 difere dos termos da presente demanda. Na verdade, os pedidos insertos na nova ação são distintos dos deduzidos na presente demanda, o que nos leva a concluir que não há coisa julgada, nem litispendência e, muito menos, litigância de má-fé. De toda sorte, se a litigância de má-fé alegada deriva de uma nova provocação da máquina judiciária pelo Acionante, obviamente a arguição da conduta processual indevida deveria ser

3 deduzida nos autos daquele processo e não nesta ação originária. Rejeito. DA PRESCRIÇÃO TOTAL Suscita a Recorrente a incidência da prescrição total, invocando a orientação contida na Súmula 294 do C.TST, eis que o Acionante pretende diferenças salariais relativas à produtividade, conforme norma coletiva do ano de 1987, que vigorou até 1989, oportunidade em que vigia o Regulamento de Pessoal da CEDAE. Aduz que, se for considerado como termo inicial para a contagem da prescrição a adesão ao PCCS em 1990, a pretensão estaria fulminada. Sem razão da Recorrente. A lesão do direito atinge prestações de trato sucessivo, originárias de norma regulamentar, sobre as quais incide tãosomente a prescrição parcial. Por se tratar de obrigação de trato sucessivo, o decurso de tempo não convalesce a lesão propriamente dita, que se renova sempre que indevidamente quitada a prestação. Como corolário deste entendimento, a pretensão ao direito material também se renova no tempo, restando, portanto, prescritas apenas as parcelas vencidas há mais de cinco anos do ajuizamento da ação, na forma do art. 7º, inciso XXIX, da CRFB/1988. Rejeito. DA DIFERENÇA SALARIAL POSTULADA Sustenta a Recorrente que a gratificação de produtividade paga até março de 1987 o era por mera liberalidade, não possuindo, portanto, natureza salarial e não podendo integrar o salário para qualquer efeito. Dito isto, sustenta que a isonomia pleiteada pelo Recorrido não merece acolhida

4 Argumenta a Recorrente que a isonomia salarial com o paradigma Murilo Amoedo não é devida, seja porque o próprio Recorrido reconhece que não se trata de equiparação salarial decorrente dos pressupostos do art. 468, da CLT; seja porque a diferença decorre da suposta desconsideração do adicional de produtividade na base de cálculo do aumento; seja porque se trata de vantagem personalíssima do modelo. Afirma a Recorrente que inexiste norma interna que ampare a isonomia salarial entre os empregados do nível universitário; que o Recorrido aderiu ao PCCS, que não prevê o pretendido tratamento isonômico entre funcionários que exerçam cargos de nível universitário; que nem mesmo o RPC previa tal procedimento; ainda que houvesse a regra no RPC, tendo o Recorrido aderido ao PCCS, não pode querer obter vantagem derivada de cláusula que não se incorporaria ao seu contrato de trabalho. Assevera que, mesmo admitindo-se a existência de norma que garantisse igualdade de tratamento salarial à empregados de nível universitário, ainda assim não estaria violado o princípio da isonomia, porque o pagamento pelo código 109" decorre de decisão judicial que levou em conta situação específica do modelo indicado; tratando-se, portanto, de vantagem pessoal. Procede o inconformismo. Com efeito, entendo efetivamente não haver o suposto direito a diferenças salariais - e, por conseguinte, seus naturais consectários - pleiteadas pelo Acionante, eis que a origem do pleito autoral é uma decisão judicial na qual foram conferidas a determinado empregado da Ré diferenças não alcançadas pelos outros funcionários. Ora, resta mais do que evidenciada a natureza personalíssima de tais diferenças, sendo aplicável, no presente caso, embora não se trate especificamente sobre equiparação salarial, ante a existência de plano de carreira, a inteligência contida na parte final da Súmula nº 120, do C. Tribunal Superior do Trabalho, no sentido da inviabilidade de extensão de verbas de tal

5 natureza. PODER JUDICIÁRIO FEDERAL Portanto, a norma interna que garante a igualdade salarial para empregados de nível superior apenas seria desobedecida se a diferença detectada pela Acionante fosse decorrente de algum ato discriminatório, de iniciativa da empresa, aí sim ficando maculado o princípio da isonomia. Contudo, a hipótese acima aludida não é a verificada nos presentes autos, onde se busca o recebimento do denominado código 109, parcela paga a empregado específico beneficiado por decisão judicial, rubrica esta de natureza manifestamente personalíssima em decorrência da análise de situações individuais. Em sendo assim, tal parcela, por ser intuitu personae, não pode ser estendida a outros empregados, cujas situações pessoais são distintas. Portanto, não existindo norma legal ou regulamentar que assegure ao Acionante o direito ao código 109, devem ser julgados improcedentes os pedidos de diferenças salariais e seus consectários formulados na exordial. Dou provimento. CONCLUSÃO Pelo exposto, conheço do recurso ordinário interposto pela Ré e, no mérito, dou provimento ao apelo para, reformando a sentença, julgar improcedentes os pedidos de diferenças salariais e seus consectários, na forma da fundamentação supra, com a inversão dos ônus da sucumbência. ACORDAM os Desembargadores que compõem a 3ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, conhecer do recurso ordinário interposto pela Ré e, no mérito, dar provimento ao apelo para, reformando a sentença, julgar

6 improcedentes os pedidos de diferenças salariais e seus consectários, na forma da fundamentação do voto do Exmº Relator, com a inversão do ônus da sucumbência. Rio de Janeiro, 10 de fevereiro de 2010 JUIZ ROGÉRIO LUCAS MARTINS Relator