APELAÇÃO CÍVEL Nº ( ) COMARCA DE GOIÂNIA

Transcrição

1 APELAÇÃO CÍVEL Nº ( ) COMARCA DE GOIÂNIA APELANTE APELADO RELATOR DENISE CACHEFFO DE PAIVA E OUTRO DIVINA MARIA DE JESUS RELATÓRIO Trata-se de Apelação Cível interposta por DENISE CACHEFFO DE PAIVA e DANILO HENRIQUE DE PAIVA, com o fim de cassar a sentença de fls. 88/89, proferida pela Juíza de Direito da 7ª Vara de Família da Comarca de Goiânia, Dra. Denise Gondim de Mendonça, na Ação de Reconhecimento de União Estável c/c Dissolução, proposta por DIVINA MARIA DE JESUS em face de ARIOLVALDO GIMENES DE PAIVA. Na sentença combatida, a juíza singular, acatando o parecer ministerial, extinguiu a ação, nos termos do artigo 267, inciso IX, c/c artigo 41, do Código de Processo Civil. Irresignados, Denise Cacheffo de Paiva e Danilo Henrique de Paiva, interpuseram recurso de apelação, alegando, em síntese, que não merece prosperar a sentença que extinguiu o processo sem resolução do mérito por considerar tratar-se o caso de ação personalíssima, porquanto remanesce razão para o prosseguimento da ação por meio da sucessão processual da parte que faleceu, já que possuem interesses jurídicos e patrimoniais a serem decididos. Dizem que, no caso, a morte não faz cessar Ac

2 automaticamente e definitivamente o vínculo da união estável como ocorre na ação de separação judicial e divórcio, posto que ainda não há formalização do vínculo, o que só seria possível de se obter através de sentença judicial de cunho declaratório. Requereu, ao final, o provimento do apelo. Recurso recebido nos efeitos legais (fl. 108). Assistência judiciária concedida às fls provimento do recurso às fls. 131/137. A Procuradoria de Justiça manifestou-se pelo parcial É o relatório, que submeto à douta revisão. Goiânia, 14 de abril de Relator Ac

3 APELAÇÃO CÍVEL Nº ( ) COMARCA DE GOIÂNIA APELANTE APELADO RELATOR DENISE CACHEFFO DE PAIVA E OUTRO DIVINA MARIA DE JESUS VOTO interposto, dele conheço. Presentes os requisitos de admissibilidade do apelo Analisando detidamente os autos, tenho que a matéria ora em deslinde foi muito bem analisada pelo Dr. José Carlos Mendonça, douto Procurador de Justiça, que assim se manifestou (fls. 131/137), verbis: De fato, cabe ressaltar que a ação em foco possui caráter personalíssimo, que só pode ser pleiteada pela própria pessoa cuja relação quer ver reconhecida judicialmente. Porém, no caso de morte, os herdeiros de qualquer das partes envolvidas, poderão ingressar no feito, na condição de substituto processual. Ressalte-se, então, que o exercício da presente ação, apesar de se tratar de direito personalíssimo, em caso de morte do autor ou réu, poderá ter continuidade, de forma que o processo não fique suspenso para sempre. Em entendimento diverso, nem mesmo os filhos de companheiros falecidos poderiam aforar demandas Ac

4 declaratórias para garantir seu direito à herança, prática que tem sido recorrente nos tribunais pátrios... Logo, se os herdeiros possuem legitimidade para o ajuizamento de ação de reconhecimento de união estável, também a possuem para se habilitarem no feito após a morte da parte originária. Não se pode negar aos recorrentes o direito de ingressarem no feito na qualidade de substitutos da parte já falecida. Do contrário, incorreria em nítida violação ao preceituado no artigo 43 do Código de Processo Civil, o qual estabelece que ocorrendo a morte de qualquer das partes, dar-se-á a substituição pelo seu espólio ou pelos seus sucessores. Ora, como já demonstrado, a ação que visa ao reconhecimento da união estável e sua respectiva dissolução, apesar de se tratar de direito personalíssimo, admite plenamente a substituição de parte no caso dos autos. Ademais, resta caracterizado o interesse dos apelantes em ingressarem regularmente na relação jurídica processual, uma vez que, reconhecida a união estável e operada sua dissolução, haverá de se proceder a partilha dos bens, fato que diz respeito diretamente os recorrentes, herdeiros do requerido, já falecido. Portanto, os herdeiros do falecido, ora apelantes, são legítimos interessados na demanda, consoante moderna doutrina, o que requer a admissão dos mesmos no processo na qualidade de substitutos processuais. Diante disso, a cassação da sentença objurgada é medida Ac

5 que se impõe, tendo em vista a existência de legitimidade dos apelantes para se habilitarem no processo na qualidade de substitutos processuais. Cassada a sentença, o feito deve ter regular prosseguimento, sem julgamento desde logo pelo TJGO, pois, da análise dos autos, verifica-se que a instrução probatória/processual não se encontra plenamente satisfeita. Face ao todo exposto, opina o Ministério Público, em segundo grau de jurisdição, pelo conhecimento do recurso, por ser próprio e tempestivo, dando-lhe parcial provimento, para cassar a sentença fustigada, determinando o normal prosseguimento do feito, com a devida instrução processual e probatória. Nestes termos, não se desconhece que a ação declaratória de união estável e sua dissolução, em que pese tratar-se de direito personalíssimo, admite plenamente, após a morte da parte originária, sua substituição, no caso, pelos herdeiros do de cujus, porquanto, do contrário, incorreria em violação ao artigo 43, do Código de Processo Civil, mormente porque os respectivos herdeiros, ora apelante, poderiam, inclusive, ajuizar ação de reconhecimento de união estável. Eis a jurisprudência deste Sodalício, in verbis:... POSSUEM LEGITIMIDADE ATIVA PARA PROPOR A AÇÃO DECLARATORIA DE UNIÃO ESTÁVELTODOS OS HERDEIROSDO 'DE CUJUS. (TJGO, Relator Geraldo Gonçalves da Costa, 3ª Câmara Cível /188, DJ 467 de 25/11/2009). Ac

6 Noutra banda, não é o caso de aplicação do artigo 515, 3º, do Código de Processo Civil, já que o feito não se encontra suficientemente instruído, restando a análise probatória da questão, trazida pelos apelantes. Ante o exposto, conforme permite o parágrafo único do artigo 210, do RITJGO, apoiando-me nos fundamentos contidos no bem elaborado parecer anteriormente transcrito, CONHEÇO DA APELAÇÃO E DOU- LHE PARCIAL PROVIMENTO, para cassar a sentença combatida e determinar o normal prosseguimento do feito, com a devida instrução processual e probatória. É como voto. Goiânia, 17 de junho de Relator Ac

7 APELAÇÃO CÍVEL Nº ( ) COMARCA DE GOIÂNIA APELANTE APELADO RELATOR DENISE CACHEFFO DE PAIVA E OUTRO DIVINA MARIA DE JESUS EMENTA. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE DECLARATÓRIA DE UNIÃO ESTÁVEL. MORTE DE PARTE. SUBSTITUIÇÃO PELOS HERDEIROS. POSSIBILIDADE. A Ação Declaratória de União Estável e sua dissolução, em que pese tratar-se de direito personalíssimo, admite plenamente, após a morte da parte originária, sua substituição, no caso, pelos herdeiros do de cujus, porquanto, do contrário, incorreria em violação ao artigo 43, do Código de Processo Civil, mormente porque os respectivos herdeiros, ora apelante, poderiam, inclusive, ajuizar Ação de Reconhecimento de União Estável. APELO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. ACÓRDÃO VISTOS, relatados e discutidos os presentes autos de Apelação Cível nº ( ), Comarca de Goiânia. ACORDAM os integrantes da Quarta Turma Julgadora da Quinta Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, à Ac

8 unanimidade de votos, em conhecer e prover em parte o apelo, nos termos do voto do Relator. VOTARAM, além do Relator, o Desembargador Alan S. de Sena Conceição, que presidiu o julgamento e o Dr. Carlos Roberto Fávaro, em substituição ao Desembargador Abrão Rodrigues de Faria. José Taveira Vieira. Presente o ilustre Procurador de Justiça, Dr. Eliseu Goiânia, 17 de junho de Relator Ac