Tribunal de Justiça de Minas Gerais

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1 Número do /001 Númeração Relator: Relator do Acordão: Data do Julgamento: Data da Publicação: Des.(a) Furtado de Mendonça Des.(a) Furtado de Mendonça 24/02/ /03/2015 EMENTA: AGRAVO EM EXECUÇÃO - REMIÇÃO DA PENA PELO TRABALHO - CONSIDERAÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO INFERIOR A SEIS HORAS DIÁRIAS - POSSIBILIDADE - REFORMA DO CÁLCULO EM RELAÇÃO AO DEMAIS DIAS TRABALHADOS - IMPOSSIBILIDADE NO CASO CONCRETO - REFORMATIO IN PEJUS - RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. - A contagem do tempo para fins de remição é realizada à razão de um dia de pena por três de trabalho, sendo que a jornada laboral não pode ser inferior a seis horas, nem superior a oito. Inteligência do art. 33 da Lei de Execução Penal. Entretanto, no caso do apenado trabalhar jornada aquém do mínimo legal, nada impede que, a cada seis horas de jornada efetiva, seja computado um dia trabalhado. - Em que pese a D. Magistrada não ter se utilizado da melhor técnica para efetuar o cálculo da remição do apenado, dever ser mantida a operação efetuada para que a presente decisão não incorra em reformatio in pejus. V.V EMENTA: AGRAVO EM EXECUÇÃO - REMIÇÃO PELO TRABALHO - CARGA HORÁRIA INFERIOR A SEIS HORAS DIÁRIAS CÁLCULO - IMPOSSIBILIDADE. Para fins de cálculo da remição da pena pelo trabalho devem ser considerados o número de dias em que o reeducando efetivamente trabalhou, no mínimo, 06 (seis) horas e máxima de 08 (oito) horas. AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL Nº /001 - COMARCA DE RIBEIRÃO DAS NEVES - AGRAVANTE(S): TIAGO DA SILVA MARQUES - AGRAVADO(A)(S): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE 1

2 MINAS GERAIS A C Ó R D Ã O Vistos etc., acorda, em Turma, a 6ª CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, em DAR PROVIMENTO PARCIAL AO RECURSO, VENCIDA A VOGAL. DES. FURTADO DE MENDONÇA RELATOR. DES. FURTADO DE MENDONÇA (RELATOR) V O T O Trata-se de Agravo em Execução Penal interposto por Tiago da Silva Marques, contra a decisão de fl. 19, que determinou a remissão de penas do apenado com base nas horas trabalhadas e desconsiderou, para o cálculo da benesse, os dias em que o mesmo trabalhou em período inferior a seis (06) horas. Nas razões recursais, a Defensora sustenta que os dias em que o agravante trabalhou em período inferior a 06 (seis) horas devem ser considerados para fins de remição, uma vez que não há nos autos prova de que o mesmo tenha dado causa a tal fato. Aduz, ainda, que nos dias em que o apenado trabalhou entre 06 (seis) e 08 (oito) horas, a remição deve ser calculada com base nos dias trabalhados (fls. 2

3 04/13). Contraminuta às fls. 26/32. E, em juízo da retratação, a decisão foi mantida (fl. 33). A d. Procuradoria-Geral de Justiça opinou pelo parcial provimento do recurso (fls. 42/45). Do essencial, o relatório. Presentes seus pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso. Nas razões recursais, a Defensora sustenta que os dias em que o agravante trabalhou em período inferior a 06 (seis) horas devem ser considerados para fins de remição, uma vez que "não há nos autos qualquer prova de que o Agravante tenha dado causa" ao exercício do labor em jornada inferior à mínima estipulada pela Lei. Aduz, ainda, que nos dias em que o apenado trabalhou entre 06 (seis) e 08 (oito) horas, a remição deve ser calculada com base nos dias trabalhados e não conforme as horas de trabalho. DO PEDIDO DE CONSIDERAÇÃO DOS DIAS TRABALHADOS EM JORNADA INFERIOR AO MÍNIMO DE (06) SEIS HORAS. De fato, creio que a decisão está a merecer reparos. Efetivamente, reza o art. 33 da Lei de Execução Penal, que "A 3

4 jornada normal de trabalho não será inferior a 6 (seis) nem superior a 8 (oito) horas, com descanso nos domingos e feriados...". Entretanto, creio que a disposição não impõe o desprezo das horas extras, tampouco daquelas em que a jornada diária não alcançar as seis horas. Não se pode olvidar que a Lei de Execução Penal busca a reinserção do recluso no convívio social e evidencia a importância do trabalho para esse fim, não sendo possível, a meu ver, desprezar o trabalho realizado pelo apenado. Entendo que nada impede que a jornada diária aquém do mínimo legal seja computada, cada 6 (seis) horas efetivas de atividade laboral, como um dia de trabalho. Sendo assim, considerando que, da análise do atestado de trabalho (fl. 17), verifica-se que o sentenciado trabalhou um total de 396 (trezentos e noventa e seis horas) horas, divididas em 04 (quatro) horas por dia, nos meses de setembro, outubro, novembro e dezembro de 2012, bem como janeiro de 2013, deve-se dividir este valor total de horas por 06 (horário mínimo de labor), resultando-se em 66 (sessenta e seis) dias trabalhados. Por outro lado, o artigo 126 da Lei de Execução Penal determina a razão de cálculo para remição da pena em função de trabalho, como de 01 (um) dia de pena para cada 03 (três) dias trabalhados. 4

5 Logo, o reeducando faz jus à remição de 22 (vinte e dois) dias trabalhados, referentes ao período supracitado. DO PEDIDO DE CÁLCULO DA REMIÇÃO COM BASE NOS DIAS TRABALHADOS. Inicialmente, registro que coaduno do entendimento de que, para efeito de cálculo dos dias a serem remidos pelo trabalho do apenado, deve-se levar em consideração o número de dias efetivamente trabalhados e não o total de horas laboradas. Entretanto, in casu, em que pese a D. Magistrada ter efetuado o cálculo com base nas horas trabalhadas pelo reeducando, o que totalizou 66 (sessenta e seis) dias a serem remidos, tenho que deve ser mantido tal operação (fl. 19). É que, se o cálculo for efetuado com base nos dias trabalhados, resultará em 58 (cinqüenta e oito) dias a serem remidos, o que será prejudicial ao recorrente. Assim, para evitar a reformatio in pejus, deve ser mantida, nesta parte, a decisão de primeiro grau. Ante o exposto, DOU PARCIAL PROVIMENTO ao recurso, para que sejam considerados também para cálculo de remição os dias 5

6 trabalhados pelo agravante aquém da jornada mínima, nos termo deste voto. DES. JAUBERT CARNEIRO JAQUES - De acordo com o(a) Relator(a). DESA. DENISE PINHO DA COSTA VAL VOTO Analisando com acuidade os autos, acompanho o voto proferido pelo eminente Des. Relator quando mantém o cálculo de remição de pena com base nas horas trabalhadas, uma vez que, in casu, restou mais benéfico ao reeducando, evitando-se, assim, ocorrer em reformatio in pejus. Peço vênia, no entanto, para divergir do voto condutor quando dá provimento ao recurso defensivo, considerando os dias trabalhados em jornada inferior ao mínimo de 06 (seis) horas diárias para o cômputo do cálculo de remição de pena, pois tenho entendimento diverso sobre a matéria ora em apreciação. que: O artigo 126, 1º, II, da Lei de Execuções Penais é claro ao dispor "Art O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho ou por estudo, parte do tempo de execução da pena. 1o A contagem de tempo referida no caput será feita à razão de: 6

7 (...) II - 1 (um) dia de pena a cada 3 (três) dias de trabalho (...)". O artigo 33 do mesmo diploma legal, estabelece, por sua vez, que "A jornada normal de trabalho não será inferior a 6 (seis) nem superior a 8 (oito) horas, com descanso nos domingos e feriados (...)". Observa-se, assim, que o cálculo dos dias a serem remidos pelo trabalho deve levar em consideração os dias em que o reeducando efetivamente trabalhou, no mínimo, 06 (seis) horas e no máximo de 08 (oito) horas. Dessa forma, a cada 03 (três) dias trabalhados com jornada mínima de 06 (seis) horas e máxima de 08 (oito) horas, será remido 01 (um) dia de pena. Nesse sentido é o entendimento do egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais: "AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL - REMIÇÃO DA PENA POR TRABALHO - CARGA HORÁRIA INFERIOR A 6 HORAS DIÁRIAS - DESCONSIDERAÇÃO PARA CÁLCULO - RAZÃO DE 01 DIA DE PENA PARA 03 DE TRABALHO - ISENÇÃO DAS CUSTAS - VIABILIDADE - RECURSO PROVIDO EM PARTE. - O art. 33 da LEP dispõe que a jornada normal de trabalho não será inferior a 06 (seis) horas, nem superior a 08 (oito) horas. - De acordo com o disposto no art. 126 da LEP, a razão para cálculo de remição da pena por trabalho é de 01 (um) dia de pena para cada 03 (três) dias de trabalho. - Em se tratando de remição relacionada ao trabalho, devem ser considerados os dias efetivamente trabalhados, e não as 7

8 acumuladas.- Tendo em vista que o agravante foi assistido pela Defensoria Pública, deve ser concedida a isenção do pagamento das custas processuais, nos termos do disposto no art. 10, inciso II, da Lei nº /03" (Agravo em Execução Penal /001, Relator(a): Des.(a) Herbert Carneiro, 4ª CÂMARA CRIMINAL, julgamento em 27/06/2012, publicação da súmula em 12/07/2012). Justiça: Coaduna com esse entendimento o colendo Superior Tribunal de AGRAVO EM EXECUÇÃO - REMIÇÃO DA PENA PELO TRABALHO - DIAS EM QUE A CARGA HORÁRIA ERA INFERIOR A 6 HORAS DIÁRIAS - DESCONSIDERAÇÃO PARA CÁLCULO - RECURSO MINISTERIAL RECURSO PROVIDO - O art. 33 da LEP dispõe que a jornada normal de trabalho não será inferior a 06 (seis) horas, nem superior a 08 (oito) horas, não sendo considerado o dia trabalhado em que a jornada foi inferior ao mínimo cominado -Em se tratando de remição relacionada ao trabalho, devem ser considerados os dias efetivamente trabalhados, e não as horas acumuladas. (AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº , Rel. Ministra MARILZA MAYNARD (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/SE), SEXTA TURMA, julgado em 12/02/2014, DJe 21/02/2014). No caso em tela, verifica-se, através da certidão de fl. 17, que o agravante trabalhou 176 (cento e setenta e seis) dias, com carga horária entre 06 (seis) e 08 (oito) horas, fazendo jus, portanto, à remição de 58 (cinqüenta e oito) dias de pena. Ocorre, entretanto, que a MM. Juíza de primeiro grau efetuou o cálculo de pena com base nas horas trabalhadas pelo 8

9 reeducando, no período de fevereiro/2012 a agosto/2013, totalizando 66 (sessenta e seis) dias remidos, o que deve ser mantido por se mostrar mais benéfico ao agravante. DEFESA. Em face do exposto, NEGO PROVIMENTO AO RECURSO DA EMENTA: AGRAVO EM EXECUÇÃO - REMIÇÃO DA PENA PELO ESTUDO - IRRESIGUINAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO - NÃO OBSERVÂNCIA DOS PARÂMETROS DO ART. 126, 1, I, DA LEP - RECURSO PROVIDO. Verifica-se que o estudo permite a remição da pena, na proporção de 01 (um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de frequência escolar, divididas, no mínimo, em 03 (três) dias. Sem custas. É como voto. VOGAL." SÚMULA: "RECURSO PROVIDO EM PARTE, VENCIDA A 9