: MIN. DIAS TOFFOLI :PAULO RODRIGUES LOPES :DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO :DEFENSOR PÚBLICO-GERAL FEDERAL :SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR

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1 MEDIDA CAUTELAR NO HABEAS CORPUS SÃO PAULO RELATOR PACTE.(S) IMPTE.(S) PROC.(A/S)(ES) COATOR(A/S)(ES) : MIN. DIAS TOFFOLI :PAULO RODRIGUES LOPES :DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO :DEFENSOR PÚBLICO-GERAL FEDERAL :SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR DECISÃO: Vistos. Habeas corpus, com pedido de liminar, impetrado pela Defensoria Pública da União em favor de Paulo Rodrigues Lopes, apontando como autoridade coatora o Superior Tribunal Militar, que negou provimento ao agravo regimental interposto contra decisão do Ministro Relator Fernando Sérgio Galvão, que não admitiu os embargos infringentes nº DF. Narra a petição inicial que Em primeira instância o paciente Paulo Rodrigues Lopes foi condenado a pena de 3 anos de reclusão, pelo envolvimento em acidente de trânsito que culminou com a morte de um colega de farda e lesões corporais em mais três colegas militares. Recorreram acusação e defesa, sendo, por maioria de votos, parcialmente providos ambos os apelos. Assim restou a ementa do julgado: ART. 206, 2º, DO CPM. RECURSOS DEFENSIVO E MINISTERIAL. HOMICÍDIO CULPOSO COM MULTIPLICIDADE DE VÍTIMAS EM DECORRÊNCIA DE ACIDENTE DE TRÂNSITO. O Réu agiu culposamente ao não tomar os cuidados necessários durante a condução de seu veículo automotor, vindo a realizar manobras arriscadas, em velocidade excessiva, que culminaram com o acidente que vitimou fatalmente um Cabo do Exército e causou lesões corporais graves em outros três militares que estavam na condição de passageiros do veículo, sendo

2 que um ficou tetraplégico, o outro perdeu um membro inferior e o terceiro ficou vários meses em tratamento. Imprudência e negligência plenamente comprovadas. Os ofendidos sobreviventes declararam ter solicitado reiteradas vezes que o Réu conduzisse o automóvel de forma segura, o que não foi atendido. Pedido absolutório que não encontra amparo na prova dos autos. Mantido o quantum da pena base já exasperada na Sentença a quo. Diminuída a redução das atenuantes da menoridade e da primariedade, como requerido pelo MPM. Diminuído o aumento da causa especial do 2º do art. 206 do CPM, como postulado pela Defesa. Recursos parcialmente providos. Maioria. Os votos vencidos divergem em relação a pena aplicada. O entendimento vencido fixou a pena-base em 2 anos, reduziu em 1/3 na segunda fase do sistema trifásico, pela primariedade e menoridade do acusado, e aumentou, na terceira fase, em metade, pela severidade das consequências. Assim a pena ficou definitiva em 2 anos de detenção, com o benefício do sursis penal. Contra tal decisão foram apresentados Embargos Infringentes, os quais restaram inadmitidos. Contra a inadmissão a defesa apresentou Agravo, sendo o mesmo, por unanimidade improvido, em ementa que restou assim lavrada: AGRAVO REGIMENTAL INTERPOSTO PELA DEFENSORIA PUBLICA DA UNIÃO. AGRAVADA A DECISÃO QUE INADMITIU OS EMBARGOS OPOSTOS COM APENAS 2 (DOIS) VOTOS DIVERGENTES. EMENDA REGIMENTAL Nº 24 AO REGIMENTO INTERNO DO SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR (RISTM), DE 10 DE JUNHO DE EXIGENCIA DE, NO MINIMO, 4 (QUATRO) VOTOS DIVERGENTES PARA ADMISSIBILIDADE. 2

3 Para a oposição de Embargos Infringentes contra decisões desta Corte, proferidas e publicadas após o dia 10 de junho de 2014, data da entrada em vigor da Emenda Regimental nº 24 do RISTM, é necessário que a corrente divergente tenha sido perfilhada por, no mínimo, quatro membros do Plenário. Diante da nítida semelhança entre o dispositivo declarado constitucional pelo Pleno do STF art. 333, parágrafo único, do RISTF e o ora vergastado pela DPU - 1º do art. 119 do RISTM -, resta evidente que este último em nada ofende os princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório, ambos consagrados na CF/1988. Essas normas reforçam a duração razoável do processo, - art. 5º, inciso LXXVIII, da CF/1988 -, sem desmerecer qualquer outro princípio. O STF, para admitir os embargos infringentes, também exige quatro votos dissidentes. No STF, a proporção mínima ocorre de quatro entre dez ministros (Plenário). No STM, o tema encontra ambiente ainda mais garantista, isso porque há a necessidade de quatro entre catorze ministros, sendo este patamar, em relação ao STF, mais fácil de ser obtido pela Defesa. Agravo não provido. Decisão unânime. Por entender que a decisão proferida pela Corte Castrense está a violar princípios constitucionais, configurando coação ilegal a direito do paciente, apresenta-se o presente writ a Corte Constitucional ( ) Note-se que a Lei 8.457/92, em seu artigo 7º prevê textualmente: O regimento interno disciplinará o procedimento e o julgamento dos feitos, obedecido o disposto na Constituição Federal, no Código de Processo Penal Militar 3

4 e nesta Lei. Sustenta a impetrante que o Superior Tribunal Militar alterou seu Regimento Interno e passou a exigir, no mínimo, 4 (quatro) votos vencidos para admitir os Embargos Infringentes, exigência que ofende os princípios constitucionais da ampla defesa e de acesso ao Poder Judiciário. Aduz ainda que, a despeito do art. 333 do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal prever idêntico requisito de no mínimo 4 (quatro) votos vencidos para admissão de Embargos de Infringência, não há similaridade entre essas situações. A seu ver, Como bem destacou o Ministro Celso de Mello, no julgamento da AP 470, o artigo 333 do RISTF foi instituído sob a égide da Constituição de 1969, que outorgou à Suprema Corte competência legislativa ordinária para sua edição. Tal competência foi abolida pela Constituição Federal (CF) de 1988, passando ao âmbito de atribuições do Congresso Nacional. A mesma Constituição de 1969 não outorgou ao STM competência legislativa para sua edição, e a Constituição vigente também não. Logo a alteração regimental incluindo novo requisito para a admissibilidade dos Embargos, visando restringir as possibilidades recursais, não tem igual fundamento que teve o referido artigo 333 do RISTF. Ainda que as duas previsões regimentais tragam a mesma regra, o fundamento legal de estabelecimento das duas regras não é idêntico e a existência de uma não justifica a criação da outra. Corolário do exposto, de se reconhecer a inconstitucionalidade da alteração Regimental promovida em 28 de maio de 2014 pelo STM, publicada no Diário de Justiça Eletrônico nº 98, de 10 de junho de 2014, Emenda Regimental nº 24. 4

5 Ante o exposto, requer a impetrante o deferimento da liminar pleiteada, no sentido de determinar o sobrestamento do processo /DF até o julgamento do mérito da presente impetração. No mérito, pugna pela concessão da ordem, para o fim de, reconhecida a inconstitucionalidade do art. 119, 1º, do Regimento Interno do Superior Tribunal Militar, na redação dada pela Emenda Regimental nº 24 da referida Corte, ca[ss]ar a decisão proferida pelo Eg. STM, que inadmitiu os Embargos de Infringência, determinando o processamento e julgamento do mesmo. Examinados os autos, decido. De acordo com o julgado ora impugnado, Os Embargos Infringentes do Julgado são tempestivos, mas não devem ser admitidos, pois lhe falta o requisito da admissibilidade relativo à possibilidade jurídica do pedido. A DPU foi intimada, do Acórdão de (fls. 577/582 V.3), em (fl. 587 V. 3), sendo os Embargos tempestivos, tendo em vista o inciso I do art. 44 da LC nº 80/94. A oposição dos embargos (fl. 587 V.3) deu-se em Nessas datas, já estava vigente a nova regra, que passou a exigir 4 (quatro) votos divergentes, no mínimo, na Decisão embargada, como pressuposto recursal objetivo de admissibilidade, ex vi do 1º do art. 119 do RISTM, com a alteração dada pela Emenda Regimental nº 24, de , publicada no Diário de Justiça Eletrônico nº 98, de : Art Cabem Embargos de Nulidade e Infringentes do Julgado, observados os requisitos legais: ( ) 1º Os Embargos de Nulidade e Infringentes, no caso do inciso I, somente serão admitidos quando houver, no mínimo, 4 (quatro) votos divergentes minoritários na decisão embargada, proferida pelo Pleno do STM. (...) A redação do art. 119, 1º, do RISTM, antes da publicação 5

6 no Diário de Justiça Eletrônico nº 98, de , era a seguinte: Art Cabem Embargos de Nulidade e Infringentes do Julgado, observados os requisitos legais: ( ) 1º Os Embargos de Nulidade e Infringentes, no caso do inciso I, somente serão admitidos quanto à parte do Acórdão em que não tenha havido unanimidade. (...) Note-se que, nos termos do ar. 33 do RISTF, os embargos infringentes do julgado também se mostram cabíveis contra a decisão do Plenário em que haja, no mínimo, quatro votos divergentes. Observe-se: Art Cabem embargos infringentes à decisão não unânime do Plenário ou da Turma: I que julgar procedente a ação penal; II que julgar improcedente a revisão criminal; III que julgar a ação rescisória; IV que julgar a representação de inconstitucionalidade; V que, em recurso criminal ordinário, for desfavorável ao acusado. Parágrafo único. O cabimento dos embargos, em decisão do Plenário, depende da existência, no mínimo, de quatro votos divergentes, salvo nos casos de julgamento criminal em sessão secreta. (grifei) O referido dispositivo, art. 333, parágrafo único, do RISTF, foi alterado pela introdução da Emenda Regimental 2/1985. Destaca-se que, embora editada antes da CF/1988, o STF a reconhece como constitucional, sem oferecer nenhum ataque à ampla defesa e ao contraditório, tudo diverso em relação ao que sustenta a DPU. ( ) 6

7 Portanto, diante da nítida semelhança entre o dispositivo declarado constitucional pelo Pleno do STF art. 333, parágrafo único, do RISTF e o ora vergastado pela DPU - 1º do art. 119 do RISTM -, resta evidente que este último em nada ofende os princípios da ampla defesa e do contraditório, ambos consagrados na CF/1988. Como revelado nas citadas decisões, essas normas reforçam a duração razoável do processo art. 5º, inciso LXXVIII, da CF/1988 -, sem desmerecer qualquer outro princípio. Deve-se aduzir que, tendo o STF, em vários julgados, declarado constitucional o art. 333, parágrafo único, do RISTF, com maior razão o 1º do art. 119 do RISTM não ofende os princípios da ampla defesa e do contraditório, e cumpre o da duração razoável do processo A explicação é simples. O STF, para admitir os embargos infringentes, também exige quatro votos dissidentes. Todavia, no STF a proporção mínima ocorre de quatro entre dez ministros (Plenário). No STM, o tema encontra ambiente mais garantista, isso porque há a necessidade de quatro entre catorze ministros, sendo esse patamar, em relação ao do STF, mais fácil de ser obtido pela Defesa (anexo 3). Essa é a razão por que se insurge a impetrante. É firme o entendimento, no Supremo Tribunal Federal, de que o habeas corpus não se presta à discussão de pressupostos de admissibilidade de recursos da competência de outros Tribunais (HC nº /SP, decisão monocrática, Relator o Ministro Celso de Mello, DJe de 23/11/12; HC nº /ES, Segunda Turma, Relator o Ministro Ayres Britto, DJe de 1º/8/11). Outrossim, o deferimento de liminar em habeas corpus constitui medida excepcional por sua própria natureza, que somente se justifica quando a situação demonstrada nos autos representar manifesto constrangimento ilegal, o que, nesta sede de cognição sumária, não se verifica. A alegada inconstitucionalidade do art. 119, 1º, do Regimento 7

8 Interno do Superior Tribunal Militar, que introduziu pressuposto - qual seja, o cabimento - mais rigoroso de admissibilidade dos embargos infringentes, demanda especial cautela na sua análise, e deve ser reservada à apreciação do colegiado, por ocasião do julgamento definitivo do writ. Ante o exposto, e sem prejuízo de exame mais detido quando do julgamento de mérito, indefiro o pedido de liminar. Estando a impetração devidamente instruída, dispenso o pedido de informações. Abra-se vista à Procuradoria-Geral da República. Publique-se. Brasília, 17 de dezembro de Ministro DIAS TOFFOLI Relator Documento assinado digitalmente 8