PROCESSO: ET. Acórdão 10a Turma

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1 PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO Gab Des Ricardo Damião Areosa Av. Presidente Antonio Carlos,251 10o andar - Gab.25 Castelo Rio de Janeiro RJ PROCESSO: ET Acórdão 10a Turma

2 Processo: AP ACÓRDÃO EM AGRAVO DE PETIÇÃO 10ª TURMA PENHORA DAS VAGAS DE GARAGEM. 1. Alega o agravante que não se aplica, na hipótese dos autos, a regra do art do CPC, eis que a garagem não é acessório no caso dos autos, por deter fração ideal distinta daquela destinada ao apartamento, como tal suscetível de venda, conforme se extrai da regra do 1º do art do Código Civil, requerendo que seja levado a leilão uma vaga de garagem. 2. Do exame do traslado de escritura de compra e venda do apartamento, constata-se que as duas vagas de garagem e o apartamento possuem um único registro imobiliário. 3. As vagas de garagem em questão, por não possuírem fração ideal própria, por serem parte acessória do imóvel, não podem ser desmembradas, o que inviabiliza a penhora sobre as mesmas. Agravo de petição do exequente a que se nega provimento

3 Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de Agravo de Petição, em que são partes: RAIMUNDO RODRIGUES DE MESQUITA (assistido pelo ilustre advogado LUIZ ANTÔNIO JEAN TRANJAN, OAB/RJ /D), como agravante e VERA MARIA DE ALMEIDA RECAREY (assistida pelo ilustre advogado LUIZ FELIPE MADURO AGUIAR, OAB/RJ /D) como agravado. I. RELATÓRIO 1. Inconformado com a respeitável sentença exarada pelo juízo da 32ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, às fls. 119/122, pela Exma. JUÍZA MARTA VERÔNICA BORGES VIEIRA, que julgou PROCEDENTE EM PARTE os embargos de terceiro, agrava de petição o exequente, às fls. 124/ Alega o agravante que o bem imóvel é objeto de inúmeras penhoras, tanto no que diz respeito a créditos trabalhistas, bancário e previdenciário. 3. Sustenta que a alegação de que a área da garagem sofre o benefício da Lei 8.009/90 é demagógico, não se tratando de bem de família, o que foi reconhecido pela sentença. 4. Aduz que a questão da matéria de fundo de mérito está na análise da questão das vagas de garagem terem fração ideal do terreno único. 5. Afirma que o RGI de forma destacada evidencia que as vagas de garagem detém a fração ideal de 0,200 de área do terreno a por se tratar de fração ideal destacada, não se faz mister o desmembramento, como pretende o julgado para cada vaga de garagem. 6. Assevera que não se aplica, na hipótese dos autos, a regra do art do CPC, eis que a garagem não é acessório no caso dos autos, por deter fração ideal distinta daquela destinada ao apartamento, como tal suscetível de venda, conforme se extrai da regra do 1º do art do Código Civil. 7. Requer o provimento do agravo para que seja levado a leilão uma vaga de garagem. 8. Contrarrazões da agravada, às fls. 137/ Os autos não foram remetidos a Douta Procuradoria do Trabalho por não ser hipótese de intervenção legal (Lei Complementar nº 75/1993) e/ou das situações arroladas no Ofício PRT/1ª R. n. 27/08-GAB, de

4 VOTO II. CONHECIMENTO 1. Admito o agravo de petição interposto pelo exequente por preenchidos os requisitos legais de admissibilidade e seus aspectos formais. III. MÉRITO 1. DOS LIMITES DA ATUAÇÃO DESTE JUÍZO RECURSAL 1.1. É dever da parte alinhar de forma exaustiva, expondo as questões que pretende ser apreciadas em sede recursal, não competindo ao tribunal atuar na defesa dos interesses do recorrente, buscando encontrar questões e razões que deveriam constar no mundo dos autos. Não cabe a inovação em sede recursal, salvo as hipóteses dos artigos 462 e 517 do CPC A atividade recursal é limitada ao que lhe é expressamente devolvido pelas partes insurgentes e em debate recursal, salvo naquilo que for hipótese de nulidade absoluta, pois estas questões são oficiosamente apreciadas. Apresentados os fatos e fundamentos jurídicos do recurso (extensão), o material de trabalho do Tribunal incluirá aquilo que foi trazido pelo recorrente, bem como tudo o mais que consta dos autos (profundidade). É a dialeticidade recursal extraída dos artigos 514, II e 515 do CPC, devendo o recorrente apresentar pedido específico para cada fato e fundamento jurídico apresentado (CPC, 514, III) É o que se fará, sendo a matéria devolvida a este juízo limitada à análise da penhora das vagas de garagem. 2. DA PENHORA DAS VAGAS DE GARAGEM 2.1. Alega o agravante que o RGI de forma destacada evidencia que as vagas de garagem detém a fração ideal de 0,200 de área do terreno e por se tratar de fração ideal destacada, não se faz mister o desmembramento. Assevera que não se aplica, na hipótese dos autos, a regra do art do CPC, eis que a garagem não é acessório no caso dos autos, por deter fração ideal distinta daquela destinada ao apartamento, como tal suscetível de venda, conforme se extrai da regra do 1º do art do Código Civil, requerendo que seja levado a leilão uma vaga de garagem Da análise dos elementos dos autos, constata-se que foram penhoradas duas vagas de garagem do apartamento 301 da Av. Vieira Souto, nº 328, Ipanema,

5 tendo a Sra. VERA MARIA DE ALMEIDA RECAREY, que é casada com o Sr. FRANCISCO RECAREY VILAR, sócio do réu originário dos autos principais, opostos embargos de terceiro, sob três fundamentos: ilegitimidade para figurar na execução do processo principal, nulidade da penhora das vagas de garagem e direito de meação A decisão agravada rejeitou a alegação de ilegitimidade da embargante para figurar na execução do processo principal e o direito de meação. Quanto a nulidade da penhora das vagas de garagem, entendeu que não se tratava de bem de família, porém reconheceu que as vagas de garagem não poderiam ser desmembradas do apartamento, determinando o levantamento da penhora Assim, passa-se a examinar a questão da possibilidade de penhora das vagas de garagem do referido apartamento O art do Código Civil assim dispõe: Os direitos de cada condômino às partes comuns são inseparáveis de sua propriedade exclusiva; são também inseparáveis das frações ideais correspondentes as unidades imobiliárias, com as suas partes acessórias Do exame do documento de fls. 09, TRASLADO DE ESCRITURA DE COMPRA E VENDA do apartamento, constata-se que as duas vagas de garagem e o apartamento possuem um único registro imobiliário, assim constando no documento:...apartamento 301, com direito a 2 (duas) vagas de garage, sendo um automóvel grande e um pequeno, situado na Av. Vieira Souto nº A Lei nº 4.591/64, que dispõe sobre o condomínio em edificações e as incorporações imobiliárias, assim estabelece em seu art. 2º, parágrafo primeiro: 1º O direito à guarda de veículo nas garagens ou locais a isso destinados nas edificações ou conjuntos de edificações será tratado como objeto de propriedade exclusiva, com ressalva das restrições que ao mesmo tempo sejam impostas por instrumentos contratuais adequados, e será vinculada à unidade habitacional a que corresponder, no caso de não lhe ser atribuída fração ideal específica de terreno Assim, as vagas de garagem em questão, por não possuírem fração ideal própria, por serem parte acessória do imóvel, não podem ser desmembradas, o que inviabiliza a penhora sobre as mesmas Ante o exposto, admito e nego provimento, mantendo a decisão que determinou o levantamento da penhora

6 por unanimidade, ADMITIR o presente Agravo de Petição interposto pelo exequente e, no mérito, NEGAR-LHE PROVIMENTO, pelos seguintes arrimos: I) do exame do traslado de escritura de compra e venda do apartamento, constata-se que as duas vagas de garagem e o apartamento possuem um único registro imobiliário; II) as vagas de garagem em questão, por não possuírem fração ideal própria, por serem parte acessória do imóvel, não podem ser desmembradas, o que inviabiliza a penhora sobre as mesmas, nos termos do voto do Excelentíssimo Desembargador Relator. Pela reclamante, falou o Dr. Luiz Antônio Jean Tranjan.///

7 Rio de Janeiro, 10 de Agosto de Desembargador Federal do Trabalho Ricardo Areosa Relator