PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO

Transcrição

1 ACÓRDÃO 6a Turma PODER JUDICIÁRIO FEDERAL RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DO TOMADOR DE SERVIÇOS CONSTRUTORA INAPLICABILIDADE DA OJ 191 DO E. TST A Segunda Ré, por se tratar de construtora, não pode almejar a aplicação da OJ 191 do E. TST que expressamente exclui sua aplicação às empresas que tenham como finalidade a construção. Trata se de RECURSO ORDINÁRIO, em que figuram, PRÊMIO EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA, como recorrente, e ANTONIO CARLOS PEREIRA DOS SANTOS E MP E MP CONSTRUÇÕES E REFORMAS LTDA ME, como recorridos. Recorre, ordinariamente, a Segunda Ré (PRÊMIO EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS), às fls. 80/90, inconformada com a sentença proferida pela MM. 5ª Vara do Trabalho de Duque de Caxias (fls.69 74), da lavra da Juíza Diane Rocha Trocoli Ahlert, que julgou procedente em parte os pedidos formulados na incial. A Segunda Ré sustenta que deve prevalecer a responsabilidade subsidiária que lhe foi atribuída, pois o Autor não comprovou que lhe tenha prestado serviços, bem como pelo fato de ser dona da obra, não se aplica o contido na Súmula nº 331,

2 IV do C. TST. PODER JUDICIÁRIO FEDERAL Custas e depósito recursal às fls.82/83. O Autor apresentou contrarrazões, às fls.198/100. É o relatório. VOTO FUNDAMENTAÇÃO Do conhecimento Conhece se do recurso, tendo em vista que presentes os pressupostos legais de admissibilidade. Da responsabilidade subsidiária da Segunda Ré Insurge se a Segunda Ré contra a sentença, sob o argumento de que não deve prevalecer a responsabilidade subsidiária que lhe foi atribuída, pois que o autor não comprovou que lhe tenha prestado serviços, bem como pelo fato de ser dona da obra, não se aplicando o contido na Súmula nº 331, IV do C. TST. No que pertine à alegação de que era dona da obra esta não prospera, pois em seu contrato social se verifica que seu objetivo social é justamente o de: a construção e imóveis próprios e de terceiros, a prestação de serviços de Assessoria, Gerenciamento de Obras, Projetos e outros no campo da Engenharia, inclusive incorporações e participação em outros negócios e empreendimentos

3 imobiliários. Vislumbra se, diante do referido objeto social, que a PRÊMIO é uma incorporadora/construtora, assim, a realização de uma obra/construção faz parte de sua dinâmica empresarial. Logo, não há que falar em aplicação da OJ nº 191, do C. TST, inclusive, porque esta afasta a sua aplicação às construtoras e incorporadoras, como se pode verificar de seu texto: OJ SDI1 191 DONO DA OBRA. RESPONSABILIDADE. Inserida em Diante da inexistência de previsão legal, o contrato de empreitada entre o dono da obra e o empreiteiro não enseja responsabilidade solidária ou subsidiária nas obrigações trabalhistas contraídas pelo empreiteiro, salvo sendo o dono da obra uma empresa construtora ou incorporadora. (g.n.) Quanto à argumentação de que o Autor não comprovou que tenha trabalhado em obra contratada dela, também sem sucesso, pois a Segunda Ré, além de não negar a existência de contrato de realização de obra com a Primeira Ré, foi confessa, na medida em que seu preposto declarou que: não sabe quanto tempo a 1ª reclamada prestou serviços para a 2ª reclamada; que não sabe se o reclamante era empregado da 1ª reclamada; que não sabe se o reclamante prestou serviços para a 2ª reclamada. (fl. 68) Diante disso, aplica se à Segunda Ré a confissão quanto à alegação do Autor de que trabalhou em seu proveito, na condição de empregado da Primeira Ré, hipótese típica de terceirização a autorizar até mesmo a responsabilidade solidária nos termos do art. 455 da CLT, mas, nos limites da pretensão, cabível a responsabilidade subsidiária, nos termos da Súmula 331 do E. TST

4 A responsabilidade subsidiária da Segunda Ré decorre de ter escolhido a Primeira Ré como sua prestadora de serviços, como também pela não vigilância quanto às obrigações desta para com seus empregados. As empresas tomadoras não podem se omitir de sua responsabilidade social permitindo que suas parceiras de negócio atuem de forma ilícita para com seus empregados, ao contrário, tem obrigação de exigir garantias contratuais sólidas e, ainda, exercer efetiva fiscalização no cumprimento das obrigações trabalhistas, previdenciárias e fiscais. E não sejamos ingênuos, as empresas inidôneas e as falsas cooperativas são justamente as que oferecem melhores preços de mercado e, certamente, por tais preços são escolhidas para prestarem serviços em processos seletivos que, obviamente, não cuidam de investigar a capacidade econômica da empresa ou de seus sócios. Assim, no previsível comportamento ilícito da Primeira Ré, há um ganho prévio por parte da tomadora que arca com o risco de contratar empresas sem qualquer patrimônio por um custo ínfimo. A atuação do Judiciário, portanto, tem que ser firme não só para reparar o dano concreto de cada empregado, mas também para inibir tal prática, que vem levando milhares de trabalhadores a um estado de miserabilidade. Desta forma, correta a sentença que atribui à Segunda Ré responsabilidade subsidiária pelos títulos deferidos ao Autor. Nega se provimento

5 DISPOSITIVO Ante o exposto, conhece se o recurso ordinário da Segunda Ré e negase provimento. ACORDAM os Desembargadores da 6ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, conhecer do recurso ordinário da segunda ré e, no mérito, negar lhe provimento, nos termos do voto da Relatora. Rio de Janeiro, 17 de outubro de Giselle Bondim Lopes Ribeiro Relatora