CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO PGT/CCR/2344/2008. Interessados: DRT/DF e Cooperserfe Cooperativa. Habitacional dos Servidores do Senado

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1 CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO PGT/CCR/2344/2008 Interessados: DRT/DF e Cooperserfe Cooperativa Habitacional dos Servidores do Senado Assunto: Assédio Sexual Em se tratando de assédio moral, externado na espécie assédio sexual, não é necessária a reiteração da conduta ilícita por meio de uma prática constante, basta uma única ocorrência sem punição para afetar todo o tecido social da comunidade e, por conseguinte, o ambiente do trabalho Relatório Adoto como relatório o quanto exposto na promoção de arquivamento elaborada pelas ilustres Procuradoras-oficiantes Ana Cláudia Rodrigues Bandeira Monteiro e Valesca de Morais do Monte. Destaco a título de síntese da fundamentação contida na promoção de Arquivamento, em procedimento que tem por objeto denúncia de assédio sexual, os seguintes excertos, in verbis: Com efeito, a denúncia consistente em assédio sexual se baseia em alegada tentativa de estupro, fato este que configura ilícito penal. Em face disso, houve investigação policial, sendo a conclusão da Polícia Civil (Delegacia Especial de Atendimento à Mulher), conforme relatório da lavra da delegada de polícia, Dra. Jane Barbosa Cardosi, pela inexistência de elementos de prova de materialidade e autoria de delito (fls. 33/44). A Sra. Flávia ajuizou reclamação

2 trabalhista em que os pedidos foram julgados improcedentes, tendo concluído o Juízo da 15ª Vara do Trabalho de Brasília pela ausência de provas quanto ao alegado assédio sexual. Registre-se, ainda, que o Egrégio Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região, por decisão da 3ª Turma, Relator Juiz Bertholo Satyro, confirmou aquela decisão, considerando inexistente o assédio sexual alegado (fls. 83/86). A par disso e de tudo quanto se apurou na instrução, é clara a natureza individual da denúncia, não havendo, nos autos, qualquer elemento indicador de que a conduta denunciada, consistente em assédio sexual, é prática constante na COOPERSEFE. (sem negrito no original) Admissibilidade Em análise preliminar, nota-se que às fls. 173 consta certidão emitida pela PRT 10ª Região justificando a presença do Sr. Manoel Pessôa Montenegro, esposo da recorrente, que justificou que apenas no dia 10 de abril de 2008 a Srª Flávia Fernandez Moreira Montenegro recebeu a correspondência notificatória da pessoa que mora atualmente no endereço por primeiro registrando no procedimento. Com efeito, restou incluído à fl. 140 informações da ora apresentando a atualização do seu endereço, logo, em homenagem ao princípio do contraditório, é de rigor o conhecimento do recuso administrativo, nos termos do 1º, artigo 5º, da Resolução nº 69 do Conselho Superior do Ministério Público do Trabalho. As contra-razões apresentadas pela empresa encontram-se acostadas às fls. 194/203. Observados os critérios de admissibilidade, o recurso merece o exame desta Câmara de Coordenação e Revisão. V o t o

3 Registre-se, desde logo, que o Ministério Público não tem incumbência legal de rever decisões judiciais, quer de natureza trabalhista, quer de natureza criminal, ou de qualquer natureza, que só podem ser alteradas por recursos próprios no tempo e na forma cabíveis, ou, se definitivas, por meio de ação rescisória. Assim se afirma sobretudo porque, ao contrário do primeiro processo julgado na Suprema Corte Americana (Meritor Bank v. Vison, 477 US 57,1986), citado pela doutrina de Augustus Bonner Cochran (Revista do MPT, nº 36, p. 146), onde nenhum tribunal jamais estabeleceu os fatos com definitividade, na hipótese sub examine a fattispecie já foi definitivamente decidida, ao menos no Judiciário Trabalhista, no TST-RE-ED-A-AIRR- 1039/ (DJ 07/07/2008). Em conseqüência, uma vez judicializado o litígio com resultado definitivamente desfavorável à recorrente, o recurso administrativo interposto só se habilitaria à procedência se viesse dirigido à constatação pelo parquet trabalhista da prática de assédio moral tolerada pela empresa. Deve ser assinalado, contudo, que o recurso visa a revisão do arquivamento pelo viés da singularidade, como se observa das razões estampadas no item 3 (fls. 176/178), onde se pretende, dando uma amplitude que não está contida no artigo 127 da Constituição da República, atribuir ao Ministério Público, em sede da demanda trabalhista (folha 176) na qual se postula entre outros pedidos a reintegração no emprego, a incumbência de exigir e fiscalizar o cumprimento de dispositivos legais (idem). Em contraposição ao entendimento entelado, basta a correta afirmação inicial constante da promoção de arquivamento e destacada acima em negrito a natureza individual da denúncia - com a ressalva da última expressão - não haver nos autos qualquer elemento indicador de que a conduta denunciada, consistente em assédio sexual é pratica constante na COOPERSEFE para a homologação da promoção de arquivamento.

4 A ressalva é feita por considerar que, em se tratando de dano moral quando exteriorizado na espécie assédio sexual não é necessária a reiteração da conduta ilícita por meio de uma prática constante, basta uma única ocorrência para afetar todo o tecido social da comunidade e, por conseguinte, o ambiente do trabalho. É exatamente a afetação do ambiente do trabalho, quando ocorre o assédio sexual sem punição, ainda que em uma única ocorrência, que gera o dano moral coletivo e a imperiosidade da sua adequada reparação traduz a mais importante vertente evolutiva, na atualidade, do sistema da responsabilidade civil, em seus contínuos desdobramentos, a significar a extensão do dano a uma órbita coletiva de direitos, de essência tipicamente extrapatrimonial, não subordinada à esfera subjetiva do sofrimento ou da dor individual. São direitos que traduzem valores jurídicos fundamentais da coletividade, e que refletem, no horizonte social o largo alcance da dignidade dos seus membros. (MEDEIROS, NETO, Xisto Tiago. Dano Moral Coletivo. São Paulo: Ltr, 2007, p. 129) Feita a necessária ressalva de fundamento, é de se perfilhar a promoção de arquivamento vez que, na hipótese deste procedimento, o assédio sexual estaria materializado, segundo noticiado nos autos, em duas oportunidades. A primeira, assédio sexual relativo à denunciante, teve a materialidade rejeitada pela Justiça do Trabalho, bem como na esfera cível comum e criminal houve conciliação (fl. 228), a segunda, relativo a Srª. Maria de Fátima Rosa, em razão da sua peremptória negativa quanto a ter tido qualquer problema com o investigado - no depoimento prestado perante a Polícia Civil acrescida do seu comportamento pouco cooperativo (fl. 43), seria de todo inócuo prosseguir na investigação.

5 Conclusão Com esses fundamentos, e com a ressalva de fundamento, voto pela homologação da proposta de arquivamento, com a devolução dos autos à secretaria da coordenação para os fins de tramitação previstos. Brasília, 02 de dezembro de 2008.