MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

Transcrição

1 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL Nº /CS RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº /RJ RECORRENTE: PAULO CEZAR FERREIRA NASCIMENTO ADVOGADO: LÍGIA SIMONE COSTA CALADO DORNELAS CÂMARA RECORRIDO: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL RELATOR: MINISTRA CÁRMEN LÚCIA RECURSO EM HABEAS CORPUS. INADMISSIBILIDADE. PROCESSUAL PENAL. CRIMES DE CONTRABANDO, DESCAMINHO E CORRUPÇÃO. RELATÓRIO ELABORADO PELA RECEITA FEDERAL. JUNTADA AO INQUÉRITO COM AUTORIZAÇÃO JUDICIAL. VALIDADE DA PROVA. PARECER PELO DESPROVIMENTO DO RECURSO. 1. Trata-se de recurso interposto por Paulo César Ferreira Nascimento contra acórdão proferido pela Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça no julgamento do Agravo Regimental no Habeas Corpus nº /RJ, Relator Ministro Nefi Cordeiro, assim ementado: AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. SUPERVENIÊNCIA DE JULGAMENTO DA APELAÇÃO. NOVO TÍTULO JUDICIAL. JUÍZO DE COGNIÇÃO MAIS AMPLO. DECISÃO MONOCRÁTICA DE RELATOR. IMPOSSIBILIDADE. NEGATIVA DE SEGUIMENTO DO WRIT. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO. 1. Com a superveniência do julgamento da apelação, fica prejudicado o writ anteriormente impetrado, uma vez que a medida, a partir de então, tem novo título judicial que alterou o cenário fático-processual. 2. Impossibilidade de flexibilização da súmula 691/STF, na espécie. 3. A decisão agravada, que negou seguimento ao habeas corpus, não merece reparos, porquanto proferida em consonância com a jurisprudência desta Corte Superior. 4. Agravo Regimental improvido.

2 2. O parecer, em preliminar, é pelo não conhecimento do recurso, dada a sua manifesta inamissibilidade. 3. O recorrente impugna acórdão proferido em Habeas Corpus que, por ter sido impetrado contra acórdão proferido em outro Habeas Corpus julgado pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região, tinha a natureza de um recurso ordinário. 4. Assim, impugna-se por habeas corpus o acórdão proferido em um recurso ordinário em habeas corpus, o que não é admitido pelo sistema jurídico. Da decisão proferida em recurso ordinário em habeas corpus somente é cabível recurso de natureza extraordinária, mesmo assim, se presentes os seus pressupostos. 5. No caso, sendo o acórdão impugnado proferido pelo Superior Tribunal de Justiça, cabia, em tese, a interposição de recurso extraordinário, não cabendo a impetração de habeas corpus como substitutivo de eventual recurso cabível. 6. Impõe-se, portanto, o não conhecimento do recurso. 7. Quanto ao mérito, não há situação de manifesta ilegalidade que justifique a concessão de habeas corpus de ofício. 8. Quer o recorrente anular a prova obtida com a quebra do seu sigilo fiscal. Após descrever o contexto fático em que se inseriu a investigação que deu causa à ação penal que o condenou pelos crimes de contrabando, descaminho e corrupção com sentença já confirmada em sede de apelação -, afirma o recorrente que a prova que embasou a ação penal foi obtida ilicitamente, mediante a quebra de seu sigilo fiscal sem que houvesse autorização judicial.

3 9. A argumentação, no entanto, é improcedente. 10. Ressalte-se, inicialmente, que a questão relativa à inclusão do paciente na investigação que deu causa à Ação Penal nº , em afronta ao que decidido pelo Ministro Ayres Britto quando do arquivamento do Inquérito nº /RJ, já foi deduzida perante essa Suprema Corte nos autos da Reclamação nº 7.241/RJ, decidindo a Corte que não houve ilegalidade. 11. Cumpre transcrever o seguinte trecho do voto do eminente Relator, que bem elucidou a questão: (...) Prossigo, agora para assentar que a decisão por mim proferida tem dois conteúdos: arquivar o Inquérito /RJ em relação ao Deputado Federal André Luiz Lopes da Silva; devolver os autos ao Juízo de primeiro grau para decidir sobre seu destino. O arquivamento tem conteúdo material, enquanto a remessa dos autos ao Juízo da 4ª Vara Federal Criminal manifesta-se como mero ato de impulso oficial. Como se vê, não há ofensa à autoridade da decisão deste Tribunal, pois ali não se firmou juízo sobre a culpa de quaisquer pessoas, exceção feita ao detentor de foro especial. Sendo assim, nada foi decidido em relação a pessoas que não figuravam no Inquérito, como é o caso do ora reclamante. ( ) Ademais, como ressaltado pela Procuradoria Geral da República, em nenhum momento esta Corte afirmou que o juízo de primeira instância só poderia dar continuidade às investigações em relação a determinadas pessoas previamente conhecidas, até porque a circunstância de surgirem novos fatos e provas que terminem por revelar a participação de pessoas diversas das inicialmente averiguadas, no curso de uma investigação policial, é fato absolutamente corriqueiro e não importa em nenhuma violação ao devido processo legal. 12. É indiscutível que a decisão que determina a baixa dos autos à primeira instância para continuidade da apuração em relação aos investigados que não têm prerrogativa de foro, não impõe ao Juízo persistir tão somente em relação àqueles que figuravam inicialmente na

4 investigação, podendo, em razão de novas diligências, surgirem novos fatos e novos envolvidos. Não há, portanto, ilegalidade a ser reconhecida quanto ao tema. 13. A questão da validade da prova, que, segundo o recorrente, foi obtida ilicitamente por meio da quebra de seu sigilo fiscal sem autorização judicial, não foi deduzida no processo criminal. Na sentença, o Juízo examinou a alegação da defesa, relativa à invalidade das interceptações telefônicas, nada dizendo com relação à validade do Relatório elaborado pela Receita Federal. 14. De qualquer modo, a alegação é improcedente. Consta às fls. 121 destes autos, certidão emitida pelo TRF da 2ª Região certificando que, nos autos da Medida Cautelar nº , distribuída por dependência ao Inquérito Policial instaurado para apurar os crimes atribuídos ao recorrente, foi determinada a quebra do seu sigilo fiscal. 15. Ainda como fundamento contrário à pretensão, tem-se que o Relatório somente foi juntado aos autos do Inquérito após determinação do Juízo, que, atendendo a pleito do Ministério Público Federal, determinou à Receita Federal que encaminhe a este Juízo o Relatório das Investigações mencionadas no item 6 do Ofício nº 104/02/Espei 07, cuja cópia segue em anexo, caso estas já tenham se encarrado (fls. 46). 16. O recorrente não trouxe a estes autos o Ofício nº 104/02/Espei 07, onde possivelmente se poderia identificar a origem do citado Relatório. 17. De qualquer modo, tal como a questão está posta, não há como se vislumbrar a alegada ilicitude. O Relatório foi elaborado no curso de processo de fiscalização realizado pela Receita, os dados fiscais foram encaminhados ao Juízo por força de decisão judicial, não existindo situação

5 de ofensa a diretos constitucionalmente assegurados ao recorrente. 18. Ao contrário do que afirma a eminente defesa, não se trata de documento apócrifo, mas de Relatório elaborado pela Escritório de Pesquisa e Investigação da 7ª Região Fiscal, sendo irrelevante o fato de os servidores que tenham trabalhado na elaboração do documento não terem aposto as suas assinaturas. O que importa é que se trata de um documento oficial, elaborado pela Receita Federal, por meio de um Departamento que integra a sua estrutura administrativa. 19. Dentro âmbito de análise que é permitida em sede de habeas corpus, tendo-se por base os documentos juntados pelo recorrente, não há como se reconhecer ilegalidade da prova. O reconhecimento da medida, como quer o recorrente, implicaria na anulação da investigação que deu causa à ação penal, bem como do processo criminal, inclusive da condenação do paciente, confirmada em sede de apelação, o que somente seria admissível caso o vício fosse indiscutível, aferível de plano, o que não é o caso. 20. Ante o exposto, manifesta-se o Ministério Público Federal pelo não conhecimento do recurso, porque deduzido no bojo de uma via processual absolutamente inadmissível e, no mérito, pelo seu desprovimento. Brasília, 1º de março de 2016 CLÁUDIA SAMPAIO MARQUES Subprocuradora-Geral da República