Revista Eletrônica Fundação Educacional São José 10ª Edição ISSN:
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- Ágata de Mendonça Jardim
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2 COMPONENTES BASILARES PARA ESTUDO DE CADEIAS PRODUTIVAS: Tratamento teórico-analítico Nice Helena da Silva 1 RESUMO A reorganização produtiva e as forças competitivas nas economias desenvolvidas a partir do início dos anos 1980 atribuíram a busca de novos sistemas organizacionais mais eficientes. É nesse âmbito que auferem força e importância às formas organizacionais que levam a pronunciação dos agentes, como redes, cadeias e processos produtivos, cuja finalidade básica é à busca da integração de recursos, informações e competências que conduzem ao aumento da eficiência e competitividade do sistema. É nessa recomendação que os dois conceitos tratados neste artigo, governança e coordenação, assumem importância essencial na busca destas novas formas organizacionais. A governança define relações de hierarquia, controle, poder de estabelecer regras e parâmetros para os demais membros da cadeia, assim como liderança de produtores ou compradores. Em contrapartida, a coordenação assevera a execução e a adesão a essas regras. Sugere-se, dessa forma, um intercâmbio entre esses processos, estabelecendo-se comportamentos almejados a partir de um apropriado processo de coordenação. Palavras-chave: Processos produtivos; Governança e coordenação; Estudo de cadeias produtivas. ABSTRACT The reorganization of production and the competitive forces in the developed economies from the early 1980s attributed the search for new organizational systems more efficient. In this context they receive strength and importance of organizational forms that lead to the pronunciation of agents, such as networks, chains and production processes whose primary purpose is the pursuit of integration of resources, information and skills that lead to increased efficiency and competitiveness of the system. It is this recommendation that the two concepts in this paper, governance and coordination, assume importance in the search for these new organizational forms. Governance defines relations of hierarchy, control, power to establish rules and parameters for the other chain members, as well as leadership of producers or buyers. In contrast, coordination assures the implementation of and adherence to these rules. It is suggested, that as, an eexchange between those processes, taking desired behavior from a suitable coordination process. Keyword: Processes, governance and coordination; Study of productive chains. 1 Nice Helena da Silva, Pós Graduada em Gestão de Recursos Humanos pela Faculdades Integradas de Jacarepaguá-Rio de Janeiro-RJ. Cursando Pós Graduação em Pedagogia Empresarial e Educação Corporativa pela Organização Educacional Barão de Mauá Ribeirão Preto-SP. Professora da Faculdade de Santos Dumont- MG. Endereço: Rua 23 de Outubro, 38-A, Flores, Santos Dumont-MG, CEP: Telefone: (32) silva.nice@gmail.com
3 1. Introdução A princípio serão apresentadas considerações teóricas relativas ao tratamento da questão competitiva no âmbito de cadeias produtivas. Essas significam uma estrutura mínima indispensável para o estudo da competitividade em seus múltiplos aspectos, bem como das particularidades presentes na organização dos sistemas produtivos na cadeia agroindustrial. Sua estruturação baseia-se na investigação de orientações e explicações que possam colaborar para o entendimento das características, fluxos e condições em que se processam os acontecimentos relacionados ao seu desempenho, e dos vários fatores que influenciam e estabeleçam as ações de seus agentes. As transformações verificadas nas últimas décadas acarretaram em alteração no procedimento produtivo e competitivo de organizações e sistemas, oss quais introduziram na própria percepção da competitividade e das engrenagens necessárias à sua sustentação. Nesse novo contexto, o estudo dos fatores determinantes de um bom desempenho competitivo passou a centralizar-se não apenas na empresa individual, mas, sobretudo, no estudo das relações entre as empresas e as instituições. Essas relações são cada vez mais analisadas a partir do conceito geral de cadeias produtivas. A forma de organização percebida nas diversas cadeias produtivas diverge em função dos diferentes níveis tecnológicos adotados e nas concepções gerenciais. Em muitos casos, tais divergências não são facilmente identificáveis. Porém, essas divergências podem ser visualizadas entre agentes situados nos mesmos segmentos e em diferentes segmentos da cadeia. Entretanto, as características das transações e a influência dos ambientes institucional e organizacional, representam na determinação de competitividade e são comuns a todas as cadeias. Evidencia-se, como referência teórica-analítica para o estudo de cadeias produtivas, a abordagem da Teoria dos Custos de Transação (TCT) que se difere de outras teorias, na medida em que estabelece suporte analítico para a caracterização de interatividades econômicas enquanto objeto especifico de investigação. No domínio desse referencial, essas cadeias são compreendidas como arranjos dotados de determinadas especificidades institucionais, que são capazes de fomentar uma organização eficaz para o desenvolvimento de atividades econômicas em determinadas circunstâncias. Nesse aspecto, observa-se a importância da coordenação dessas atividades fundamentadas em
4 relações capitalistas em busca de maiores condições competitivas (BRITTO, 1990; VISCONTI, 2001 e PONDÉ, 1993). Dentre as várias estruturas, as cadeias produtivas agroindustriais exibem, em geral, uma estrutura vertical, em que é admissível e que a partir de uma matéria-prima principal seja gerado um conjunto de produtos. No entanto, poderá ocorrer, também, interdependência horizontal entre as firmas, dentro de um mesmo segmento da cadeia. Nessa visão, para Farina e Zylbersztajn (1992, p. 191), a [...] cadeia produtiva pode ser definida como um recorte dentro do sistema agroindustrial mais amplo, privilegiando as relações entre agropecuária, indústria de transformação e distribuição, em torno de um produto principal. Nessa dinâmica, é possível reconhecer pelo menos, quatro mercados com distintas características: entre os produtores de insumo e os produtores rurais; entre os produtores rurais e a agroindústria; entre a agroindústria e os distribuidores ou outras agroindústrias; e entre os distribuidores e os consumidores finais (BATALHA, 1995). A partir dessas relações, à medida que as cadeias produtivas manifestam relações comerciais e sociais em seus segmentos, consente-se o entendimento das mudanças técnicas e organizacionais no sistema que impactam a montante e a jusante ao segmento principal. Entretanto, para atingir a potencialidade e a competitividade do sistema como um todo, de forma que todos os segmentos da cadeia produtiva possam ser adequadamente articulados, destaca-se a necessidade de um ambiente institucional estruturado e que induza governança e coordenação em seus vários segmentos. Perante essas considerações, no referido artigo, discutem-se os seguintes aspectos que orientam sua estruturação: os elementos básicos que integram a Economia dos Custos de Transação (ECT); os pressupostos teóricos relacionados ao padrão de concorrência; a coordenação e governança em cadeias produtivas e suas fontes. 2. Teoria dos custos de transação: análise dos componentes teóricos fundamentais A Economia dos Custos de Transação (ECT) expõe elementos que completam o conjunto de fatores que sustentam de forma teórica às configurações e comportamentos presentes nas cadeias produtivas. Esses comportamentos são influenciados pelas definições de estratégias e ações de seus integrantes, bem como de outras variáveis sistêmicas e da necessidade de redução de custos presentes nas transações.
5 Essa recepção teórica parte de um conjunto de hipóteses que tornam os custos de transação expressivos. Partindo da hipótese de que há razões econômicas racionais para a organização das transações, e Williamson (1985), tomando como referência os estudos de Coase (1937) na busca de formas organizacionais de produção mais eficientes, adverte que existem diferenças entre as transações, as quais explicam a existência de específicas estruturas de governança. Essas diferenças são definidas como propriedades das transações que são: frequência, incerteza e especificidade do ativo. A ECT, para o autor, segue como referência em seus estudos o contractual man, do qual ressalta, dois elementos como influenciadores dos custos de transação, os quais são hipóteses comportamentais, associadas à racionalidade limitada e ao oportunismo dos agentes; os atributos das transações, influenciadores das estruturas de governança. Quanto aos aspectos comportamentais Coase (1937) destaca a Racionalidade limitada e oportunismo. No que tange à racionalidade limitada, Williamson (1985) adverte que os agentes têm intenção racional, mas operam de forma limitada. Isso se dá tanto em função da sua capacidade cognitiva limitada como pela impossibilidade de prever adequadamente eventos futuros. Já Pondé (1993) enfatiza que a racionalidade limitada envolve não só os aspectos condicionantes das condutas dos agentes diante das incertezas, mas também às limitações desses de acumular e processar informações e aquelas relativas à linguagem e transferência de informações. Assim, quanto maior a incerteza, maior o número de contingências futuras e, desse modo, mais complexa a elaboração de contratos. No que se refere ao oportunismo, esse determina o auto-interesse como guia das ações. Em forma geral, há uma distorcida distribuição de informação, principalmente em esforços calculados para enganar, deturpar, disfarçar, ou outra forma de confundir. (PONDÉ, 1993). Na definição de uma estrutura de governança adequada para gerir as transações, são posicionados como influenciadores os seguintes atributos: frequência, incerteza, especificidade de ativos. A frequência é atribuída ao número de vezes que os agentes executam transações em determinado período. Pondé (1993, p. 38), adverte que [...] dificilmente será economicamente justificável desenvolver instituições sofisticadas para interações que só ocorram raramente, ou até mesmo uma única vez. Estabelece-se, assim, a montagem de
6 estruturas especializadas à regularidade das transações. Essa regularidade favorece para que as partes adquiram conhecimento uma da outra, construindo reputação e reduzindo incertezas. A incerteza agrega-se à incapacidade de se prever adequadamente às condições futuras. Essa propriedade está relacionada aos custos de se obter informações, bem como, ao desconhecimento e as variações dos elementos futuros relacionados às transações. No que tange a especificidade de ativos, Williamson (1985) considera esse como o mais importante e o mais notável custo econômico das transações e recebe na TCT uma caracterização exata e mensurável que permite verificações empíricas e predições. O autor lembra que os ativos especializados não podem ser reempregados sem sacrifício do seu valor produtivo se os contratos tiverem que ser interrompidos. Pondé (1993, p. 39) esclarece que a presença de ativos específicos [...] faz com que a identidade dos participantes da transação, assim como a continuidade dos vínculos estabelecidos entre estes, ganhe a dimensão econômica fundamental. Ainda, na visão do autor, a realização de transações recorrentes que abranjam esses ativos estimulará o desenvolvimento de instituições que garantam sua continuidade. Nessa correlação, o estabelecimento de vínculos de harmonia, restrições contratuais às condutas e as iniciativas de integração ou quase integração, buscam muitas vezes, a geração de ganhos de eficiência e não práticas restritivas visando a criar barreiras à entrada e propiciar a obtenção de poder de mercado. Entretanto, quando o ativo objeto da transação apresenta significativo grau de especificidade, certamente os mercados irão apresentar problemas de funcionamento. Nesse argumento, tanto as expectativas quanto às condições futuras do mercado e da conduta dos participantes causam incertezas e custos. Williamson (1985) delibera, nesses termos, três estruturas de governança, as quais são mercado, hierarquia e formas híbridas. Essas estruturas correspondem a formas institucionais particulares, que diferem em termos de mecanismos de monitoramento, incentivo e controle de comportamentos, com capacidades diferenciadas em termos de flexibilidade e adaptabilidade, conforme é especificado na figura 1. MERCADO HÍBRIDA HIERARQUIA Pressupostos Comportamentais + Atributos das Transações Forma organizacional adequada para garantir a continuidade da transação Estrutura de Governança Figura 1 Raciocínio subjacente à teoria dos custos de transações (subjacente-subtendido)
7 A organização da atividade econômica via mercado é considerada a mais eficiente quando os ativos específicos não estão presentes, em que as adaptações autônomas são suficientes. A transação se refere às relações descontínuas no tempo e impessoais entre agentes, estabelecendo-se a transferência de propriedade de um bem ou serviço, em troca de uma determinada quantia em moeda, após uma negociação prévia de preço e das condições de pagamentos (PONDÉ, 2000). Caracterizam, dessa forma, uma relação de troca em que as vantagens de preço ultrapassam outros requisitos, como reciprocidade, estabelecendo referenciais de incentivos à realização da transação. A hierarquia (integração vertical) acontece quando a especificidade dos ativos é tal que os riscos em não se realizar a transação ultrapassam os custos deste tipo de organização, criando uma dependência bilateral. As hierarquias permitem, ainda, respostas rápidas às mudanças do ambiente, impedindo comportamentos não convergentes e executando correções de maneira mais eficaz, tendo em vista o sistema de controle vigente. Na forma híbrida pode ser classificada a estrutura que se situa entre os extremos do mercado e hierarquia, ajustando seus elementos. Para Pondé (1993), a funcionalidade e justificativa para a emergência desses mercados organizados amparam-se na possibilidade de abrandar os efeitos da incerteza comportamental, e de algumas desvantagens da integração vertical, como as mudanças burocráticas e as perdas de economias de escala e escopo. Dessa forma, busca-se a garantia dos benefícios do controle, na presença de especificidade e incertezas, a um custo adequado e a geração de possibilidades de incentivos ou estímulos por intermédio da continuidade da transação. A ascensão da especificidade de ativos, por outro lado, demanda, em contrapartida, mais controle sobre a transação, a fim de se impedir transtornos ou atitudes oportunistas. Desse modo, quanto maior a especificidade de ativos, mais se aproxima de estrutura de governança que tende a hierarquia. Nota-se que, as transações mantidas por ativos específicos exigem estrutura de governança especializada, em que, se a constância for recorrente, o contrato é relacional, tendendo a prevalecer a governança unificada. Nesse contexto, a adaptação é feita de forma cooperativa ou por poder por autoridade no interior da própria organização. O custo elevado tende à constituição de contrato de longo prazo, com ressalvas, estabelecendo estrutura de governança de adaptação mista ou híbrida.
8 Os diferentes arranjos como mercados, hierarquia, relações contratuais são as alternativas de governança que são disponibilizadas diante das características intrínsecas e extrínsecas de produtos e da cadeia. As transações via mercado são abalizadas na lógica individual não cooperativa. A hierarquia internaliza as transações econômicas, tornando-as dependentes. As formas híbridas (contratos de longo prazo) supram a integração vertical, diante de especificidades de ativo e informação falha, dando impulso a mecanismos de estímulo e controle de ações e de distribuição do risco do oportunismo. 3. Modelo de concorrência em cadeias produtivas Os modelos concorrenciais correspondem, segundo Farina (1999, p.24) às [...] regras do jogo competitivo, sendo constituídos por fatores relacionados a preço, marca, qualidade, inovação, dentre outros. Dessa forma, ações voltadas à busca de sustentação de padrão concorrencial no mercado, levam basicamente à análise da diferença entre eficácia operacional e estratégia. Porter (1999a) abordando essa questão, define a primeira como um melhor desempenho das atividades em relação aos rivais e a segunda, como o fato de realizar atividades diferenciadas daquelas exercidas pelos rivais. Nessa definição, o autor insere o conceito da fronteira da produtividade, definindo-a como as melhores práticas adotadas em um determinado momento. Assim, à medida que a eficiência operacional acresce, a empresa se movimenta em direção à fronteira, mostrando-se capaz de melhorar em diversas posições o seu desempenho. Em muitos casos, uma estratégia bem sucedida passa a servir como base para que a concorrência, bem como novos entrantes possa ampliar suas estratégias de maneira análogas, ou ainda aprimoradas, levando a formação de grupos estratégicos. Porter (1999a) observa que a fronteira da produtividade movimenta-se para fora, fazendo com que as empresas, por meio da adoção de práticas como o benchmarking, reúnam-se em uma espécie de convergência competitiva. Nessa, as organizações tornam-se cada vez mais semelhantes e homogêneas, o que pode resultar em uma competição fundamentada em preços estáticos ou declinantes, que podem ainda, influenciados por pressões de custos, comprometerem os avanços de longo prazo.
9 Vale ressaltar que a formação de grupos e parcerias estratégicas poderia desenvolver a agregação de valor na busca de se acompanhar tal convergência. Tais parcerias apresentariam características sinérgicas entre os atores atuantes nas cadeias produtivas, revelando-se de quatro maneiras: sinergia comercial; operacional; de investimento; de administração (ANSOFF, 1977). Dessa maneira, verifica-se que em qualquer uma dessas formas, os sujeitos estarão, de maneira estratégica, buscando o desenvolvimento competitivo. Vale mencionar ainda, que as articulações por meio da formação de clusters (concentração de empresas que se comunicam entre si) influenciam a capacidade de competição à medida que podem fortalecer a produtividade de uma determinada região. Isso se processa por intermédio do maior acesso a informações e tecnologia, possibilidade de redução de custos de aquisição e logística, melhor acesso à mão-de-obra habilitada, além de facilitar a coordenação e melhorar a confiança entre seus integrantes (PORTER, 1999b). Esse tipo de arranjo promoveria a difusão de práticas de concorrências simétricas, apropriadas à geração de vantagem competitiva pelos segmentos integrantes do cluster, estabelecendo padrões concorrenciais. Em síntese, verifica-se que, sejam na forma de parcerias estratégicas, clusters, ou ainda outras formas de articulação, o ponto central para os integrantes da cadeia incide na busca, desenvolvimento e manutenção da competitividade. Outro fator de destaque consiste na classificação dos critérios competitivos entre qualificadores e ganhadores de pedido (HILL, 1995). Os primeiros se baseiam em uma espécie de patamar mínimo determinado pelo mercado, enquanto que nos segundos, os critérios devem proporcionar desempenho melhor do que a concorrência de maneira a aumentar a competitividade. Do mesmo modo, um padrão de concorrência formado de maneira convergente, pode fazer com que os critérios de diferenciação, tornem-se qualificadores, bloqueando dessa maneira, o ganho competitivo. Esse argumento permite a identificação de pelo menos dois padrões de concorrência vigentes no mercado: um formado por empresas que competem com critérios competitivos básicos; outro caracterizado pela existência de empresa que seguem critérios básicos que lhes permitem agregação de valor, pelo menos por determinado período.
10 4. Governança e coordenação em cadeias produtivas Na visão de Pondé (2000, p. 98), [...] a coordenação é um processo adaptativo, gerado por mecanismos institucionais que produzem algum grau de ordem na interação entre os agentes. Assim como, para Farina (1999, p. 32) [...] quanto mais apropriada for a coordenação entre os componentes do sistema, menores serão os custos de cada um deles, mais rápida será a adaptação às modificações do ambiente e menos custosos serão os conflitos inerentes às relações de cliente e fornecedor. No mesmo sentido, Batalha e Silva (1999, p.260) asseguram que a necessidade de dar respostas mais rápidas às oportunidades de negócios têm relação direta com a capacidade de coordenação entre as atividades de produção e de distribuição desenvolvidas pelas empresas ao longo de uma cadeia de produção. Dessa forma, conduzir a transação significa estimular o comportamento desejado e conseguir monitorá-lo. Nesse sentido, a capacidade de desenvolver estratégias competitivas apropriadas, depende de estruturas de governança adequadas. A coordenação estabelece as condições para desenvolvimento da competitividade, permitindo à empresa receber, processar, registrar, divulgar e utilizar informações de modo a definir estratégias, reagir a mudanças ou aproveitar oportunidades. Como a coordenação está associada ao conjunto de estruturas de governança que interligam os segmentos e componentes da cadeia, sua eficácia está integrada às peculiaridades das transações que estabelecem a adaptação das combinações de diferentes arranjos em resposta à forma de interação entre os agentes (FARINA, 1997). A coordenação pode ser exercida, ainda, por diferentes tipos de organização, como o Estado, organizações corporativas e redes de cooperação, as quais representam diferentes sistemas de incentivos que governam as atividades dos agentes econômicos (FARINA, 1999). Insere-se, nessa condição, a presença da empresa liderante como aquela que define exatamente os padrões específicos que devem ser atingidos. Essa determina e, até mesmo, ampara o desenvolvimento de processos específicos de produção e procedimentos para monitoramento. A coordenação via mercado resulta diretamente das adaptações e das condutas dos agentes na busca de lucro. Nas hierarquias, restringem os comportamentos dos agentes a partir
11 de relações de autoridade e sistemas administrativos de monitoramento, incentivo e controle. Na forma híbrida, essa se processa por meio de arranjos institucionais conduzidos por contratos de longo prazo amparados em salvaguardas adicionais e um aparato para disponibilizar informações e resolver disputas (PONDÉ, 2000). O caráter dinâmico e a agilidade da inovação podem influenciar sobre os determinantes das estruturas de governança, deliberando para essas, uma característica sujeita a modificação, em face da necessidade de adaptação para manutenção de sua capacidade de transferir eficácia competitiva à cadeia. Ao se examinar a coordenação ou a governança em cadeias produtivas, deve-se considerar que essas não se definem, apenas, em simples relações de interesses, mas se estruturam apoiadas em políticas públicas, em seus diversos níveis, e nas estratégias empresariais. Ao examinarmos a dinâmica organizacional e competitiva das cadeias produtivas, considerando-se os pressupostos discutidos por três orientações, ou seja, a econômica, relacionada às transações; a histórica, ressaltando a construção das relações de poder; a sociológica, evidenciando-se o processo de legitimidade, estabelecimentos de regras e normas para conduta. A perspectiva sociológica, por sua vez, proporciona melhores condições para esclarecer os aspectos de coordenação e governança envolvidos nas relações intra e intersegmentos. Nesse aspecto, consideram-se os processos reguladores, normativos e cultural-cognitivo, conforme Scott (2001). O contexto regulador é definido pelo estabelecimento de regras, leis e sanções legalmente instituídas. O aspecto normativo se distingue pela certificação e aceitação, ou legitimidade, originária, normalmente, do contexto regulador, envolvendo, valores e normas. No cultural-cognitivo, define-se um ambiente de construção e sustentação, fundamentado na interpretação e adequação de objetivos ao meio. Essas funções norteadoras podem ser reunidas e debatidas no âmbito de algumas fontes originadoras como: a estrutura de governança; a ação da empresa liderante; as regulamentações; o paradigma tecnológico. Para Volkmann e Albert (2005, p. 1) enquanto a [...] estrutura de governança descreve o poder de estabelecer regras para os membros de uma cadeia, a coordenação assegura a implementação e a aderência a essas regras. Essas regras podem ser especificações, parâmetros logísticos ou padrões de processos. Isso consente, na visão dos
12 autores, à estrutura institucional relacionada à cadeia de valor, interferindo em sua governança e coordenação. Na hierarquia, a governança caracteriza um sistema que instiga um comportamento cooperativo sustentado pelo poder e, nos contratos, as partes determinam precisamente as condições e compromissos a serem cumpridos, bem como formas de controle e incentivos, salvo em situações de formas fracas de controle que dificultam a estabilidade dos acordos. Isso confirma o posicionamento de Farina (1999, p. 24) quando afirma: Governar a transação significa incentivar o comportamento desejado e, ao mesmo, tempo, conseguir monitorá-lo. Porém, tomando-se como referência as colocações de Volkmann e Albert (2005) poderia acrescentar que: governar a transação significam estabelecer comportamentos desejados e, conseguir efetivá-los a partir de um apropriado processo de coordenação. O alinhamento de interesses, mesmo em relações extramercado, expressas na configuração da empresa liderante, determina, no mesmo sentido, o caráter da governança. Humphrey e Schmitz (2001, p.2) observam que o conceito de governança determina o fato de que algumas empresas, dentro das cadeias produtivas, instituem ou aplicam os parâmetros nas quais outras empresas devem operar, determinando um caráter regulador. Para os autores, a [...] governança pode ser exercida de diferentes maneiras, e diferentes partes da mesma cadeia podem ser governadas de diferentes maneiras. Os parâmetros se traduzem em o quê, como, quando e quanto ser produzido, determinando uma relação de poder, indispensável à redução de riscos e construção de reputação. Ações normativas, porém, caracterizando busca de coordenação, pode contribuir para reduzir custos, ao eliminar procedimentos de controle, e ainda minimizar problemas de ampliação de capacidade. Observa-se que a governança apresenta estreita relação e até se origina em estruturas de poder. O processo de governança necessita de objetivos claros que justifiquem sua existência e viabilizem sua aplicação. Esses objetivos devem ser identificados, explicados e aceitos pelos integrantes do sistema produtivo e modificados em ações por intermédios de uma apropriada coordenação. A governança está associada, normalmente, a objetivos competitivos. Esses podem se relacionar à viabilização de estratégias ou mesmo o estímulo de eficácia operacional, como a obtenção de capacidade operacional e logística, integrada a diversas especificidades.
13 Pode se assegurar que quanto maior a organização e capacidade de articulação ou concentração maior a capacidade de coordenação, e, consequentemente maior exercício de poder e capacidade concorrencial. Nessa definição, a capacidade de controle, típico da estrutura hierárquica, apesar de perder em incentivos, desfruta de grande capacidade de coordenação. Os determinantes tecnológicos, por usa vez, também podem ser representativos de governança e coordenação. Sua efetividade pode se relacionar à tolerância tecnológica exposta. Conforme Waack; Terreran (1998) em sistemas menos tolerantes há menor espaço para uso de tecnologias distintas, sendo que todos os integrantes empregam as mesmas tecnologias, em geral mais avançadas. Em sistemas mais tolerantes, há uma convivência de participantes com diferentes graus de sofisticação tecnológica. Nesse sentido, sistemas menos tolerantes possuem um processo de governança tecnológica cuja estrutura pode se relacionar a um padrão de concorrência, responsável pelo processo de coordenação, demandando menos esforços. Já em sistemas mais tolerantes, a governança dependente de um processo de governança eficaz de forma a alcançar a maior adesão aos processos decisórios, o que implica esforços para convencimento e ajustes e, demanda ação reguladora. As ações de governança expõem estreita relação às estruturas de poder, e se identificam com o processo de formulação de regras, enquanto a coordenação se define pela organização a partir de objetivos específicos por uma ou várias estruturas de governança. 5. Ambientes organizacional, institucional, tecnológico e competitivo que arremessam na cadeia produtiva. Para estudar as cadeias produtivas, assim como os segmentos em seu interior é essencial considerar os ambientes econômicos internos e externos, os quais têm expressivos impactos em suas formas de governança e coordenação e, em seu desempenho competitivo. Os ambientes Organizacional, Institucional, Tecnológico e Competitivo condicionam no curto prazo, as estruturas de governança e as estratégias individuais, as quais estabelecem o desempenho em termos de sobrevivência e comportamento nos mercados. No que tange o ambiente organizacional, compete a provisão de bens públicos e coletivos, cuja oferta apropriada depende da ação do Estado ou de organizações de interesse
14 privado, tais como os institutos de pesquisa, associações de produtores, sindicatos, entre outros, os quais podem ser indispensáveis para a competitividade (FARINA, 1999). Nesse ambiente compete, ainda, aos responsáveis a provisão de um conjunto de bens públicos e privados, sobre os quais a empresa não tem, unicamente, controle, e que influenciam e condicionam as estratégias individuais, conforme a dependência da infraestrutura para a logística de transporte; a urgência na articulação de ações cooperativas entre rivais, fornecedores, distribuidores, institutos de pesquisa públicos e privados para a capacidade de ações estratégicas; instituições financeiras (FARINA, 1999; 1997). No que se refere ao ambiente institucional, reúne os sistemas legais importantes na solução de disputas, tradições e costumes, políticas macroeconômicas, tarifárias, tributárias, comerciais e setoriais seguidas pelo governo e por outros países, parceiros comerciais e concorrentes. Já ambiente tecnológico abrange o paradigma tecnológico vigente e a fase da trajetória tecnológica. Waack e Terreran (1998) ressaltam que a bom desempenho dos sistemas produtivos está apoiado em sua capacidade de conduzir o desenvolvimento tecnológico de cada um de seus elos, e no sistema como um todo, sendo a inovação de produtos e processos a chave para o alcance e sustentação da competitividade. Por sua vez, o ambiente competitivo se inclui no ambiente externo à firma, onde se situam seus rivais, clientes e fornecedores, sendo formado pela estrutura de mercado relevante, abrangendo economias de escala e escopo, grau de diferenciação dos produtos, barreiras técnicas de entrada e saída e o grau de concentração. Abrange, ainda, os padrões de concorrência vigentes, as características de consumidores e clientes, os quais definem condições para segmentação de mercado e o ciclo de vida da indústria (FARINA, 1999). Neste ambiente competitivo, encontram-se regras que definem as condições para que uma empresa possa concorrer em um determinado mercado, tais como, preço, marca, atributos de qualidade, inovação, dentre outros. O conjunto dessas variáveis, bem como sua hierarquia, determinam o padrão de concorrência. Nesse aspecto teórico-analítico, criam-se condições para a análise de cadeia produtiva, cuja dinâmica incide entre os elos das atividades econômicas, destacando o enfoque de competitividade sistêmica (Figura 02).
15 Figura 2 Sistema agroindustrial e transações típicas Fonte: adaptado de Zylbersztajn (2000, p.14). 5. Conclusão A análise de cadeia produtiva, fundamentada na Teoria dos Custos de Transação e sob o enfoque da competitividade sistêmica, permite que os condicionantes à obtenção de vantagens competitivas, possam ser dimensionados, dados às características transacionais e competitivas vigentes. A forte presença da exigência de ativos específicos, em sua base transacional, influencia a configuração de suas estruturas. Sua organização se processa a partir da busca de maior capacidade adaptativa e possibilidades de redução dos custos de transação associada. Nesse caso, a interdependência entre os agentes para o alcance de vantagens competitivas pode definir a configuração de estruturas guiadas por uma relação com intenso apelo cooperativo, determinando padrões de concorrências necessários ao seu desempenho. A presença de um ambiente institucional organizado gera a capacidade de governança e coordenação favorável à competitividade. A ação reguladora de organismos e instituições pode guiar e definir comportamentos necessários ao desempenho competitivo das cadeias, determinando em suas mínimas condições, geração de vantagem competitiva. As orientações de coordenação podem proporcionar a formação e desenvolvimento continuado de vantagens competitivas dinâmicas, ao se definir um caráter normativo com capacidade para exercer influência nos comportamentos e respostas dos segmentos integrantes. As ações de governança com características reguladoras podem ser capazes de criar capacidades ou fortalecer capacidades. A coordenação por sua vez, em seu cunho normativo, cria possibilidades de adesão e expansão desses padrões, viabilizando a formação de harmonias operacionais e competitivas em toda a cadeia. Assim, a legitimidade ou aderência
16 às ações de governança permitem a geração de vantagem competitiva sustentável, considerando a possibilidade de formação de competências ou estabelecimento de ambientes de alta flexibilidade nos segmentos. 6. Referências ANSOFF, H. I. Estratégia empresarial. São Paulo: McGraw-Hill, BATALHA, M. O.; SILVA, A. L. da. Gestão de cadeias produtivas: novos aportes teóricos e empíricos In: GOMES, M. F. M.; COSTA, F.A. da. (Des)Equilíbrio econômico & Agronegócio. Viçosa: UFV, DER, BATALHA, Mário O. As cadeias de produção agroindustriais: uma perspectiva para o estudo das inovações tecnológicas. Revista de Administração, São Paulo, v. 30, n. 4, p , out./dez BRITTO, J. N. de P. Características estruturais e modus-operandi das redes de firmas em condições de diversidade tecnológica f. Tese (Doutorado em Economia) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, COASE, Ronald H. The nature of the firm Economic. v. 4, p , FARINA, E. M. M. Q. Abordagem sistêmica dos negócios agroindustriais e a economia de custos de transação. In: FARINA, E. M. M. Q.; AZEVEDO, P.; SAES, M. S. M. Competitividade: mercado, estado e organização. São Paulo: Singular, FARINA, E. M. M. Q. Competitividade e coordenação dos sistemas agroindustriais: a base conceitual. In: JANK, M. S. et al. Agribusiness do leite no Brasil. São Paulo: IPEA, FARINA, Elizabeth M. M. Q.; ZYLBERSZTAJN, Décio. Organização das cadeias agroindustriais de alimentos. In: ENCONTRO NACIONAL DE ECONOMIA, 20., 1992, Campos de Jordão. Anais... São Paulo: HILL, T. Manufacturing strategy: text and cases. London: Macmillan Business, 1995.
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