Poder Judiciário JUSTIÇA FEDERAL Seção Judiciária do Paraná 1ª TURMA RECURSAL JUÍZO A

Transcrição

1 JUIZADO ESPECIAL (PROCESSO ELETRÔNICO) Nº /PR RELATOR : Juiz José Antonio Savaris RECORRENTE : VILMA MENEGAZZO DALLE CORT RECORRIDO : INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL VOTO Trata-se de recurso interposto pela parte autora contra sentença que julgou improcedente o pedido de concessão de aposentadoria por invalidez ou auxíliodoença. A decisão recorrida não acolheu a pretensão orientada na inicial ao entendimento de que a autora 62 anos, acometida de hipertensão arterial e arritmia cardíaca (CID I10) apesar de permanentemente incapacitada para atividades de agricultora, não comprovou o exercício de atividade rural, em regime de economia familiar, durante o período de carência necessário à concessão do benefício pleiteado. A parte recorrente sustenta, em síntese, que, até 2007, trabalhava como agricultora, em regime de economia familiar e que o fato de seu esposo ter exercido atividade urbana naquele período não desqualifica sua condição de trabalhadora rural, pugnando pela reforma da decisão recorrida. audiência. Os autos foram convertidos em diligência para que fosse realizada Na audiência realizada (evento 70), a recorrente informou que parou de trabalhar em 2006/2007, devido a seus problemas de saúde. Disse que, atualmente, ela e o esposo possuem uma chácara e que antes arrendavam terras; que trabalharam nas terras do Sr. Rosalino Zeni, por 3 ou 4 anos, onde plantavam principalmente milho e feijão; que não emitiam notas das vendas e que pagavam a quarta parte como renda; que depois (não se lembra o ano) passou a trabalhar em terras da família Ghizzi; que também criavam porcos e galinhas e vendiam para o Sr. Baggio. A recorrente, por fim, informou que nuca exerceu outra atividade, além da atividade agrícola. A testemunha Sérgio Ghizzi informou que mora no Bairro Alvorada, no município de Marmeleiro, desde que nasceu. Disse que conheceu a recorrente quando ela foi trabalhar em suas terras, há cerca de 25 anos; que atualmente a recorrente possui uma chácara, localizada também no Bairro Alvorada; que a recorrente se mudou para a chácara no ano de 1990; que a chácara é pequena e lá plantam milho, feijão, arroz, pepino, abóbora e mandioca; que a recorrente passou a ter problemas de saúde em 2007 e, desde então, parou de trabalhar; que antes disso, a recorrente [VOB /VOB] 1/5

2 trabalhava na chácara onde mora com seu esposo. A testemunha também informou que mora a cerca de 1000 metros de distância da chácara da recorrente, que o esposo da recorrente não exerce outra atividade e que, na época em que a recorrente ainda trabalhava na chácara, não contratavam empregados e não utilizavam maquinários; que a produção se destinava ao consumo e o excedente era vendido. A testemunha Sebastião de Jesus informou que conhece a recorrente há cerca de 6 anos. Disse que mora no município de Marmeleiro, a cerca de 300 metros de distância da chácara onde mora a recorrente; que na chácara plantam feijão, arroz, milho, mandioca, batata doce, abóbora; que a produção serve para o consumo, com venda do excedente. A testemunha informou, ainda, que a recorrente faz tratamento de saúde e que há aproximadamente 3 anos parou de trabalhar; que antes disso trabalhava carpindo, plantando e colhendo; que não contratavam empregados e não possuíam outra fonte de renda. Assiste razão à recorrente. Quanto à qualidade de segurada e carência, assentou-se a jurisprudência no sentido de que os documentos para a comprovação do tempo de serviço rural não precisam se referir a todo o período de alegado exercício, e que podem ser complementados pela prova testemunhal (v.g.: TNU, PU , Rel. Juíza Federal Jacqueline Michels Bilhalva, DJ , e inteligência da súmula nº 14 da TNU). No caso em tela, como início de prova material à comprovação do labor rural, a autora apresentou registro de imóvel rural, de propriedade de seu esposo (documentos CONTR5 a CONTR8, do evento 1) e notas fiscais de venda de produtos agrícolas, dos anos 2002, 2003 e 2004, (documentos NFISCAL9 a NFISCAL11, do evento 1). As testemunhas foram harmônicas e coerentes e confirmaram que a autora, até adoecer, trabalhou em sua propriedade, plantando, carpindo e colhendo, sem auxílio de empregados ou de maquinário agrícola. Ressalto que, assim como não se exige um documento para cada ano trabalhado, também à prova testemunhal não se exige tamanho rigor, conforme é o entendimento desta 1ª. Turma Recursal, a exemplo do decidido nos autos [VOB /VOB] 2/5

3 Com relação ao trabalho urbano exercido pelo esposo da autora, cumpre ressaltar que ainda que o produto do labor rural signifique apenas parte da renda familiar, tal fato não descaracteriza a condição de segurado especial. Quanto ao tema, a Turma Nacional de Uniformização recentemente editou a Súmula 41: A circunstância de um dos integrantes do núcleo familiar desempenhar atividade urbana não implica, por si só, a descaracterização do trabalhador rural como segurado especial, condição que deve ser analisada no caso concreto. Desse modo, pela análise de todo o conjunto probatório, penso que restou suficientemente demonstrado o trabalho rural exercido pela parte autora, em regime de economia familiar, até o ano de No que tange à incapacidade laborativa, o perito judicial atestou (evento 21) que a autora é portadora de hipertensão arterial e arritmia cardíaca (quesito 1) e que, no estágio em que se encontram, estas patologias geram incapacidade para atividade de agricultora (quesito 2). Afirmou, ainda, que a incapacidade é definitiva (quesito 5) e irreversível, podendo evoluir para uma maior incapacidade (quesito 12). Com relação ao início da incapacidade, a autora informou que deixou de trabalhar em 2006/2007. Tal afirmação foi corroborada pelos depoimentos das testemunhas e pelo perito judicial, que fixou o início da incapacidade como tendo ocorrido três anos antes da realização da perícia. Sendo assim, comprovada a incapacidade para o exercício da atividade de agricultora e a qualidade de segurada no momento do início da incapacidade, faz jus a autora à concessão do benefício pretendido. Tendo em vista a afirmação do perito de que a incapacidade para a atividade agrícola é definitiva e irreversível, entendo ser o caso de concessão de aposentadoria por invalidez. Ainda que seja possível o exercício de outra atividade que não a rural, contando a autora com 61 anos, baixa escolaridade e somente tendo se dedicado à lide campesina, é pouco crível que consiga se reabilitar para o exercício de outra função que não exija esforço físico. Nesse sentido é o entendimento consolidado por esta Turma Recursal: [VOB /VOB] 3/5

4 PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. CIRCUNSTÂNCIAS SOCIOECONÔMICAS. RECONHECIMENTO. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES DO STJ E DA TNU. 1. O Superior Tribunal de Justiça orienta que para a concessão de aposentadoria por invalidez devem ser considerados outros aspectos relevantes, além dos elencados no art. 42 da Lei 8.213/91, tais como, a condição sócio-econômica, profissional e cultural do segurado (STJ, AgREsp , 5ª Turma, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, DJ ). 2. A TNU tem reiteradamente reconhecido que a incapacidade para o desempenho de uma atividade profissional deve ser avaliada sob os pontos de vista médico e social, mediante análise das condições socioeconômicas do segurado (v.g.: TNU, PU , Rel. Juíza Federal Maria Divina Vitória, DJ ). 3. A análise da incapacidade para o trabalho deve levar em conta não apenas a limitação de saúde da pessoa, mas igualmente a limitação imposta pela sua história de vida e pelo seu universo social. (RCI , relator José Antonio Savaris, sessão de ). Assim, a autora faz jus à concessão de auxílio-doença desde a data de início da incapacidade fixada pelo perito judicial (28/05/2007) até a véspera da perícia (27/05/2010) e à concessão de aposentadoria por invalidez a partir do laudo pericial (28/05/2010). - Tutela antecipada Conforme exposto acima, existe o convencimento do direito da parte recorrente ao recebimento do auxílio-doença, o que supera o requisito da verossimilhança exigido para a antecipação da tutela no artigo 273 do Código de Processo Civil. A antecipação de tutela, no âmbito dos juizados especiais federais, pode ser concedida, inclusive, de ofício, nos termos do artigo 4º da Lei /2001. O receio de dano irreparável decorre da natureza alimentar do benefício em tela, conduzindo à segura presunção, notadamente em relação aos que necessitam da Assistência Social, de que a supressão do auxílio-doença compromete a subsistência da parte. Por essas razões, determino a antecipação de tutela, para o fim de determinar à autarquia ré que implante, no prazo de 10 (dez) dias a contar da ciência desta decisão, a aposentadoria por invalidez. Ante o exposto, voto por DAR PROVIMENTO AO RECURSO, para condenar o INSS a implantar o auxílio-doença desde a data de início da incapacidade fixada pelo perito judicial (28/05/2007) até a véspera da perícia (27/05/2010), e a aposentadoria por invalidez a partir do laudo pericial (28/05/2010), bem como a pagar [VOB /VOB] 4/5

5 os atrasados respectivos, respeitada a prescrição quinquenal e o valor máximo da causa no JEF. Os valores atrasados deverão ser acrescidos de correção monetária, incidente a partir do vencimento de cada parcela devida, a ser calculada pelos índices oficiais e aceitos pela jurisprudência, quais sejam: IGP-DI ( a , artigo 10 da Lei n.º 9.711/1998, combinado com o artigo 20, 5º e 6º, da Lei n.º 8.880/1994) e INPC ( a , conforme o artigo 31 da Lei n.º /2003, combinado com a Lei n.º /2006, precedida da MP n.º 316, de , que acrescentou o artigo 41-A à Lei n.º 8.213/1991, e REsp n.º /PR). Os juros de mora devem ser fixados à taxa de 1% ao mês, a contar da citação, com base no artigo 3º do Decreto-Lei n.º 2.322/1987, aplicável analogicamente aos benefícios pagos com atraso, tendo em vista o seu caráter eminentemente alimentar, consoante firme entendimento consagrado na jurisprudência do STJ e na Súmula 75 do TRF/4. A contar de , data em que passou a viger a Lei n.º , de , publicada em , que alterou o artigo 1º-F da Lei n.º 9.494/1997, para fins de atualização monetária e juros haverá a incidência, uma única vez, até o efetivo pagamento, dos índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de poupança. Esclareço que as duas Turmas Recursais do Paraná têm entendimento no sentido de que a expressão uma única vez, constante do artigo 1º-F da Lei n.º 9.494/1997, com a redação da Lei /2009, quer dizer que os índices da poupança substituem, a uma só vez, correção e juros moratórios. Não significa, todavia, impedimento à aplicação capitalizada dos juros, até porque a intenção do legislador foi criar equivalência entre a remuneração da poupança (onde os juros são capitalizados) e a correção do débito da Fazenda. Precedentes: (1ª TR/PR, sessão de e (2ª TR/PR, sessão de ). Sem honorários. Curitiba, 06 de abril de Assinado digitalmente, nos termos do art. 9º do Provimento nº 1/2004, do Exmo. Juiz Coordenador dos Juizados Especiais Federais da 4ª Região. JOSÉ ANTONIO SAVARIS Juiz Federal Relator [VOB /VOB] 5/5