2ª TURMA RECURSAL JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS SEÇÃO JUDICIÁRIA DO PARANÁ

Transcrição

1 2ª TURMA RECURSAL JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS SEÇÃO JUDICIÁRIA DO PARANÁ Processo nº Relatora: Juíza Federal Andréia Castro Dias Recorrente: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL Recorrida: IZABEL APARECIDA DOS SANTOS V O T O Dispensado o relatório, nos termos dos artigos 38 e 46, da Lei nº 9.099/95, combinado com o artigo 1º, da Lei nº /2001. Trata-se de recurso do INSS contra sentença que julgou procedente o pedido inicial para conceder o benefício de auxílio-doença à autora, desde a data do requerimento administrativo. A autarquia previdenciária demanda pela reforma da sentença sustentando inexistência de incapacidade total da autora. Sem contra-razões, os autos seguiram para esta Turma Recursal. Fundamentação O auxílio-doença é concedido, provisoriamente, até que haja a recuperação ou reabilitação do segurado que, por motivo de doença de caráter 1

2 reversível, fique impossibilitado de exercer sua atividade habitual, por prazo superior a quinze dias. Da mesma forma, a aposentadoria por invalidez é espécie de benefício previdenciário devido ao segurado que, estando ou não em gozo de auxílio-doença, for considerado incapaz para o trabalho e, em princípio, insuscetível de reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta a subsistência, sendo o benefício pago enquanto permanecer nessa condição. O caráter de ambos, pois, é precário. Para a concessão do auxílio-doença e da aposentadoria por invalidez cumpre analisar a presença dos requisitos legais comuns a ambos, quais sejam: qualidade de segurado, existência ou não de incapacidade para o trabalho e a carência de 12 (doze) contribuições, salvo as hipóteses previstas no art. 26, II, da Lei nº 8.213/91, que dispensam incondicionalmente o prazo de carência. O magistrado de primeiro grau entendeu que a parte autora é detentora de incapacidade laborativa, e, neste vértice, apontou pela concessão do benefício auxílio-doença desde a data em que foi realizado o requerimento administrativo. A sentença atacada deve ser reformada. Segundo o laudo pericial judicial acostado aos autos (evento 25, LAU1), a autora apenas apresenta algumas limitações. De seu conjunto, é possível concluir que, embora haja alguma incapacidade laboral, tal limitação não provoca a incapacidade específica para sua atividade habitual, mas mera limitação subjetiva da capacidade. Registre-se que o perito informou que (evento 25, LAU1): (1) Descreva a anamnese, relatando, ainda, os exames e documentos médicos apresentados que embasaram as conclusões do Sr. perito. R: Periciada de 44 anos, empregada doméstica e dona de casa, com histórico de dor em ombro, joelho, região lombar e queimor dos pés que teve início em

3 Diagnóstico médico de fibromialgia. Ao exame notamos marcha dentro da normalidade. Spullinh e Lasegue negativos. Reflexos aquileu e latelar presentes. Sem sinais de atrofia em musculatura de membros inferiores. Musculatura do ombro dentro da normalidade e movimentos normais. Não observamos relação ente pontos álgicos e diagnóstico de fibromialgia. 3. Quais as atividades profissionais atualmente desenvolvidas pelo periciado, delineando as funções principais e acessórias? R: Periciada exerceu atividade de doméstica durante 28 anos. 7. O periciado pode desenvolver a sua atividade laboral atual? Em caso negativo esclarecer os motivos. R: O dolorimento articular e fibromuscular apresenta episódios de piora e melhora do quadro, que podem demorar semanas. Quando no período de remissão a periciada pode exercer atividade de empregada doméstica e dona de casa. Deve evitar carga superior a 20 quilos em condições ótimas e cerca de 5 quilos em situações de risco para a coluna (flexão e torção). O quadro de ombro doloroso ocasiona dificuldade para a realização de tarefas que exijam a abdução e elevação do mesmo, tais como pendurar roupas, esfregar paredes e janelas. No momento da perícia não apresentava quadro de dor em ombro. Periciada pode exercer atividade de doméstica para atividades de pequena residência. 9. A patologia que acomete o periciadi é passível de cura ou de minoração dos efeitos? Em caso positivo, qual o procedimento a ser adotado (cirurgia, medicamentos, fisioterapia etc?) R: A lombalgia pode ser adequadamente controlada com miorelaxantes, antiflamatórios quando no período de piora. O quadro de degeneração local, sem sinais neurológicos, pode evoluir para herniação do disco com compressão nervosa que tem indicação cirúrgica. O que não é o caso do momento. O quadro de dolorimento em ombro, quando presente, pode ser abordado com infiltração local de antiflamatórios. Uso de antifamatórios por via enteral e parenteral também é adequado. 11. Em caso de patologia que impossibilite o periciado desenvolver sua atividade habitual, há possibilidade de reabilitação para o exercício de outra atividade laboral? Em caso positivo, quais? 3

4 R: Periciada com formação educaional adequada. Pode exercer atividade laboral sem carga exagerada.carga esta que pode ser definida entre os 05 e 20 quilos, na dependência do esforço posicional de coluna exigido. Deve evitar abdução do braço com carga e deambulação exagerada. Atividade de portaria em prédio, cuidadora de idoso não aclamado, por exemplo. Da leitura do laudo pericial em juízo, percebe-se que há efetivamente uma limitação laboral, todavia, não é crível que a autora esteja incapaz para o desempenho de suas funções habituais. Saliento que serviços de faxina, esfregando chão e carregando baldes d'água não configuram o tipo de atividade que exige demasiadamente esforços físicos, e execução de atividades extenuantes, motivo pelo qual correta a insurgência do INSS. Por fim, acrescentes-se que o expert foi enfático ao salientar que, mesmo ante a moléstia que traz limitações, conforme já referido, esta situação não é definitiva, podendo ser melhorada com um controle adequado de sua doença mediante a administração correta de antiflamatórios, o que torna prejudicado o reconhecimento de seu direito ao benefício buscado. Veja-se: 9. A patologia que acomete o periciado é passível de cura ou de minoração dos efeitos? Em caso positivo, qual o procedimento a ser adotado (cirurgia, medicamentos, fisioterapia etc?) R: A lombalgia pode ser adequadamente controlada com miorelaxantes, antiflamatórios quando no período de piora. O quadro de degeneração local, sem sinais neurológicos, pode evoluir para herniação do disco com compressão nervosa que tem indicação cirúrgica. O que não é o caso do momento. O quadro de dolorimento em ombro, quando presente, pode ser abordado com infiltração local de antiflamatórios. Uso de antifamatórios por via enteral e parenteral também é adequado. 4

5 Assim sendo, no caso dos autos, verifica-se que a recorrida não comprovou todos os requisitos para a concessão do benefício postulado, o que obriga a reforma da sentença atacada, julgando-se improcedente o pedido autoral e revogando-se a antecipação dos efeitos da tutela. Por outro lado, fica a parte autora desobrigada de devolver os valores eventualmente recebidos, por serem irrepetíveis as prestações de natureza alimentar, bem como dado o recebimento de boa-fé, em virtude de decisão judicial. Em sendo assim, ficam expressamente prequestionados os dispositivos: art. 115 da Lei 8.213/91 e arts. 273, 2º e 3º, 475-O e 811, I e II do CPC, bem como a ofensa ao princípio da moralidade (art. 37, da CF/88), visto que o pagamento decorreu de ordem judicial e estava o recorrido de boa fé, o que não afronta a moralidade do ato administrativo. Nesse ponto, veja-se o conteúdo da Súmula nº 34 da AGU: "Não estão sujeitos à repetição os valores recebidos de boa-fé pelo servidor público, em decorrência de errônea ou inadequada interpretação da lei por parte da Administração Pública". Com maior razão, a vedação declarada nessa súmula impera no caso dos autos, porquanto a parte autora recebeu de boa-fé valores decorrentes de ordem judicial, ente conceitualmente qualificado frente o mero ato administrativo. tem o seguinte texto: Da mesma forma, aplica-se por analogia a Súmula nº 106 do TCU que O julgamento, pela ilegalidade, das concessões de reforma, aposentadoria e pensão, não implica por si só a obrigatoriedade da reposição das importâncias já 5

6 recebidas de boa-fé, até a data do conhecimento da decisão pelo órgão competente. Conclusão Ante o exposto, VOTO por CONCEDER PROVIMENTO AO RECURSO DO INSS, para, nos termos da fundamentação, REFORMAR A SENTENÇA, julgando o feito improcedente, com fundamento no artigo 269, inciso I do CPC, devendo ser imediatamente cancelado o benefício concedido através de antecipação de Tutela. Sem condenação em honorários advocatícios, porquanto incabíveis na espécie, na forma do artigo 55 da Lei 9.099/95. Não haverá devolução dos valores recebidos a título de auxílio-doença decorrentes da sentença de primeiro grau, por se tratar de verba de natureza alimentar e por terem sido recebidos de boa fé pela autora, conforme fundamentação. Considero prequestionados especificamente todos os dispositivos legais e constitucionais invocados na inicial, contestação, razões e contra-razões de recurso, porquanto a fundamentação ora exarada não viola qualquer dos dispositivos da legislação federal ou a Constituição da República levantados em tais peças processuais. Prequestiono, outrossim, o art. 115 da Lei 8.213/91 e arts. 273, 2º e 3º, 475-O e 811, I e II do CPC, bem como a ofensa ao princípio da moralidade (art. 37, da CF/88). Desde já fica sinalizado que o manejo de embargos para prequestionamento ficarão sujeitos à multa, nos termos da legislação de regência da matéria. 6

7 Curitiba, 20 de abril de Andréia Castro Dias, Juíza Federal Relatora. 7