2ª TURMA RECURSAL JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS SEÇÃO JUDICIÁRIA DO PARANÁ

Transcrição

1 Processo nº Relatora: Juíza Federal Andréia Castro Dias Recorrente: Instituto Nacional do Seguro Social INSS Recorrido: PATRICK JUNIOR MORETTI, representado por TEREZINHA ZINO DE GOIS MORETTI VOTO Dispensado o relatório, nos termos dos artigos 38 e 46, da Lei nº 9.099/95, combinado com o artigo 1º, da Lei nº /2001. Fundamentação Trata-se de recurso interposto pelo INSS em face de sentença que julgou procedente o pedido de concessão de benefício assistencial de prestação continuada. Recorre a autarquia previdenciária, sustentando, em síntese, que o benefício assistencial não pode ser concedido, uma vez que a incapacidade do autor seria apenas temporária, bem como que a data de início do benefício deveria ser alterada. Requer a aplicação da Lei nº /2009. Após análise de toda documentação juntada aos autos, tenho que, quanto ao mérito, a sentença deve ser mantida por seus próprios e jurídicos

2 fundamentos, na forma do artigo 46 da Lei 9.099/95 Contudo, apenas merece reforma quanto à incidência da Lei n.º /2009, nos termos a seguir. Importante destacar, quanto ao requisito incapacidade, que esta Turma Recursal vem decidindo que: da criança portadora de deficiência não se exige incapacidade para o trabalho ou mesmo uma projeção de que no futuro não poderá trabalhar. O conceito de incapacidade para a vida independente tem maior aplicação nesses casos, sendo devido o benefício quando as restrições impostas pela deficiência impliquem elevação no grau de dependência da criança. A exigência de tratamento particularizado, o maior cuidado dos pais em relação aos afazeres diários da criança, e a necessidade de deslocamento para tratamento ou para freqüência a escolas especiais caracterizam a perda da independência da criança, fazendo possível a atuação da Assistência Social, uma vez se tratar de grupo familiar carente (Processo nº , Relator Juiz Federal José Antonio Savaris, julgado em ). Deste modo, como a parte autora, em razão da patologia, necessita de ajuda, supervisão e vigilância de terceiros, sendo necessário o acompanhamento de terceiro (quesito 26 laudo pericial evento 87; quesito 4 laudo pericial evento 54), entendo que resta preenchido o requisito específico da "deficiência" para a concessão do benefício assistencial, razão pela qual deve ser mantida a sentença. Já em relação ao requisito econômico, consigno que, desde o requerimento administrativo (página 8 PROCADM1 evento 27), a parte

3 autora integra grupo familiar composto somente por ele, a mãe e a irmã menor; a avó, assim como seu eventual companheiro e o tio do autor, nos termos do artigo 20, 1º, Lei 9.720/98, restam excluídos daquele grupo, porque não integram o conceito de família do artigo 16 da Lei 8.213/91 (desde que vivam sob o mesmo teto e com comprovada a dependência econômica), quais sejam: cônjuge, companheiro, filho não emancipado de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido, pais, irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido, enteado e menor tutelado equiparados a filho mediante declaração do segurado. Em relação ao benefício assistencial da mãe do autor (página 5 PROCADM3 evento 27), importante destacar o entendimento desta Turma Recursal (Por Exemplo: votos nos processos nºs e , ambos de minha relatoria), bem como da 1ª Turma Recursal do Rio Grande do Sul, de acordo com o qual é possível a exclusão de benefício assistencial recebido por deficiente: BENEFÍCIO ASSISTENCIAL. GRUPO FAMILIAR. EXCLUSÃO BENEFÍCIO DE VALOR MÍNIMO. 1. O conceito de grupo familiar para fins de benefício assistencial é obtido mediante interpretação restrita das disposições contidas no 1º do art. 20 da Lei 8.742/93 e no art. 16 da Lei 8.213/91 (Incidente de Uniformização nº da Turma Regional de Uniformização dos Juizados Especiais da 4ª Região). 2. O disposto no artigo 34, único, da Lei /2003 (Estatuto do Idoso), que determina exclusão do benefício de valor mínimo recebido por idoso para fins de cálculo da renda do grupo é estendido para excluir o valor de benefício recebido por pessoa portadora de deficiência, por interpretação teleológica da norma, que visa garantir um salário mínimo aos membros do grupo familiar que estejam em situação de necessidade (idoso ou deficiente).

4 3. Recurso improvido. (RCI , Primeira Turma Recursal do RS, Relator Paulo Paim da Silva, julgado em 03/09/2008). Sendo assim, diante de tais considerações, concluo que a renda do grupo familiar do autor é nula desde a data do requerimento administrativo, de modo que a data de início do benefício não deve ser alterada. Da correção monetária e dos juros de mora Consigno que, conforme decidido na sessão de 19 de março de 2010 da Turma Regional de Uniformização da 4ª Região, aplica-se a Lei n /09, a partir da sua vigência; segundo a qual: Nas condenações impostas à Fazenda Pública, independentemente de sua natureza e para fins de atualização monetária, remuneração do capital e compensação da mora, haverá a incidência uma única vez, até o efetivo pagamento, dos índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de poupança. (art. 1º-f Lei 9.494/97- modificado pela Eli /2009). No entanto, deve-se interpretá-la no sentido de que os valores devem ser corrigidos como se estivessem depositados em caderneta de poupança (portanto capitalizados). Assim, o uso do termo única vez, na única interpretação que reputo adequada, significa que a forma de correção pelos índices oficiais de caderneta de poupança atualmente TR (taxa referencial) acrescida de 0,5% (meio por cento) deve ser aplicada para os fins de atualização monetária, remuneração do capital e compensação da mora, ou seja, no lugar de correção monetária e juros moratórios.

5 Assim o sendo, a sentença merece reforma tão somente para aplicar a Lei n.º /2009, como restou fundamentado. Conclusão VOTO no sentido de DAR PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO DO INSS, para determinar a incidência da Lei n.º /2009, nos termos da fundamentação. Condeno a entidade recorrente ao pagamento de honorários advocatícios, que fixo em 10% sobre o valor da condenação (Lei nº 9.099/95, art. 55), excluída sua incidência sobre as parcelas vencidas posteriormente à prolação da sentença (STJ, Súmula nº 111 e Súmula 76 do TRF 4ª Região), já que o acolhimento de seu recurso foi superficial, não se atendo ao mérito propriamente dito. Considero prequestionados especificamente todos os dispositivos legais e constitucionais invocados na inicial, contestação, razões e contrarrazões de recurso, porquanto a fundamentação ora exarada não viola qualquer dos dispositivos da legislação federal ou a Constituição da República levantados em tais peças processuais. Note-se que não se está criando, majorando e nem estendendo nenhum benefício ou serviço da seguridade social. De outro vértice, os casos são assemelhados, o que autoriza a aplicação por analogia, não havendo ofensa ao princípio da reserva legal e tampouco da separação dos poderes ou do regime

6 democrático de direito, por ser a analogia meio de auto-integração da lei. Desde já fica sinalizado que o manejo de embargos para prequestionamento ficarão sujeitos à multa, nos termos da legislação de regência da matéria. Foz do Iguaçu, 25 de novembro de ANDRÉIA CASTRO DIAS JUÍZA FEDERAL RELATORA