2ª TURMA RECURSAL JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS SEÇÃO JUDICIÁRIA DO PARANÁ

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1 2ª TURMA RECURSAL JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS SEÇÃO JUDICIÁRIA DO PARANÁ Processo nº Relatora: Juíza Federal Andréia Castro Dias Recorrente: ANDREA MARCHAND BONILAURI Recorrido: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS V O T O Dispensado o relatório, nos termos dos artigos 38 e 46 da Lei nº 9.099/95, combinado com o artigo 1º da Lei nº /2001. Fundamentos Trata-se de recurso interposto pela parte autora contra sentença que julgou improcedente o pedido de concessão do benefício de aposentadoria por invalidez ou auxílio-doença. Alega a autora, em síntese, que a doença causadora de sua incapacidade seria a Lúpus eritematoso Sistêmico, que lhe causou um acidente vascular cerebral AVC, doenças que dariam margem a uma possível dispensa de carência. Argumentou que o INSS reconheceu sua qualidade de segurada em janeiro de Postula pela concessão de aposentadoria por invalidez desde a DCB, em 30/05/2009, ou, sucessivamente, a anulação da sentença. Com contra-razões, os autos seguiram para esta Turma Recursal. 1

2 Após análise de todos os documentos acostados aos autos, entendo que a sentença atacada merece reforma, conforme passo a expor. Primeiramente, não obstante o magistrado a quo, tenha entendido que a autora ficou incapaz quando não detinha a qualidade de segurada da Previdência Social (doença preexistente à filiação), tenho que a questão em pauta, excepcionalmente, resta suprida em face do reconhecimento administrativo de tal qualidade, já que o INSS vem pagando-lhe auxílio-doença desde março de Explico. Não verifico indevida concessão do benefício na via administrativa, como alegou o réu em contestação, na medida em que eventuais recolhimentos em atraso de contribuição previdenciária na condição de empregada não pode lhe prejudicar, porquanto tal obrigação compete ao empregador. Nesse passo, note-se que o CNIS juntado aos autos com a contestação, demonstra que em 1/09/2005 a autora foi contratada pelo regime celetista pela Igreja do Evangelho Quadrangular, até 03/2006, quando passou a gozar de beneficio previdenciário de auxílio doença. Sendo assim, quando da DII, 20/09/2005, detinha qualidade de segurada da Previdência Social. Impende destacar que o efeito desencadeador da incapacidade foi o episódio de AVC isquêmico ocorrido em 19/09/05 (atestado de 20/01/06 e perícia do INSS de 10/02/06), com sequela motora discreta em dimídio esquerdo, segundo laudo pericial. Tal evento é totalmente inesperado, não se podendo prever que e quando possa ocorrer a qualquer pessoa, motivo pelo qual entendo que se encaixa na hipótese de progressão da doença. Logo, a incapacidade da autora decorreu por 2

3 agravamento da doença, a qual, até então, não lhe impedia de trabalhar, mas a partir do AVC, tal possibilidade acabou afastada. Conforme o laudo pericial apresentado (evento 12), a autora portadora de Lupus eritematoso sistêmico que repercussões sobre diversos órgãos e sistemas tanto objetivos como subjetivos. A politerapia medicamentosa apresentada também contribui para grande subjetividade das queixas, porém pelo exame pericial ora realizado a sintomatologia objetiva é escassa. Há necessidade de continuidade de tratamento medicamentoso, que poderá controlar a doença básica e permitir que a autora torne-se capaz de exercer a sua função laboral. Tal patologia, como visto, trata-se de uma doença auto-imune, que ataca pele, rins, articulações, pulmão, coração, vasos sanguíneos, células do sangue, sistema nervoso, trato gastrointestinal e outros, podendo evoluir com o tempo, causando graves seqüelas ao organismo. No caso em tela, repita-se, a evolução da doença, ocasionou-lhe um acidente vascular cerebral AVC, motivo pelo qual passou a receber auxílio-doença à partir de tal episódio, março de No que tange ao requisito cumprimento da carência, tenho que também restou alcançado. Isso porque, no feito em pauta, em face da gravidade do estágio da doença (Lupus eritematoso sistêmico), que resultou em AVC, possível equiparar-se às doenças arroladas no artigo 151 da LBPS, na linha do que decidiu a 1ª Turma Recursal da Seção Judiciária do Paraná, Relatora Ana Beatriz Vieira da Luz Palumbo, no processo nº : AUXÍLIO-DOENÇA. DISPENSA DE CARÊNCIA. ROL EXEMPLIFICATIVO. DOENÇA EQUIPARADA. 1. O rol do artigo 151 da Lei 8.213/1991, não é taxativo, sendo possível a dispensa da carência quando a doença apresentar características semelhantes 3

4 àquelas previstas no mencionado dispositivo de lei. Faz-se necessário que a doença a ser equiparada apresente sintomas, seqüelas ou características semelhantes àqueles das doenças previstas no mencionado artigo, para que então possa ser considerada grave a ponto de ser equiparada às do artigo 151 e permitir a dispensa da carência para a concessão dos benefícios de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez. 2. O acidente vascular cerebral dispensa a carência quando as seqüelas por ele deixadas podem ser equiparadas à paralisia irreversível, caso dos autos. Conforme grifado acima, pode-se verificar semelhanças entre o rol de doenças e a moléstia acometida pela autora, como possível paralisia irreversível e incapacitante, ou alienação mental, no caso de novo acidente vascular cerebral. Dessa forma, diante os fatos apresentados, atestados médicos, perícias realizadas pelo INSS e judicialmente, e as conseqüências e sintomas já apresentados pela autora, fica claro o risco de agravação da doença, podendo acarretar problemas irreversíveis, o que geraria maior dano. Note-se, assim, que: a) existe incapacidade total, mas temporária; b) o perito do INSS que acompanhou a perícia judicial concordou com as ponderação desta; c) a autora detinha qualidade de segurada da Previdência Social, por ocasião da DII; d) é possível a utilização de interpretação extensiva ao caso concreto do artigo 151 da LBPS, para fins de isentá-la de carência. Em sendo assim, lhe é devido o benefício de auxílio-doença até que esteja recuperada ou reabilitada. Correção monetária e juros de mora 4

5 A conseqüência da concessão do benefício de auxílio doença desde a sua cessação: em 30/05/2009, impõe à Administração Previdenciária que pague à segurada as parcelas futuras à sua implantação, bem como as vencidas desde aquele cancelamento, sendo que, quanto a estas, corrigidas monetariamente pelo INPC (artigo 29-B da Lei 8.213/91). Após, a vigência da Lei /2009, a correção monetária passa a ser efetuada conforme os índices da poupança. No que pertine aos juros de mora, considerando que a citação já se deu sob a vigência da Lei /2009, regular-se-ão segundo seus ditames, consoante IUJEF da TRU 4ª Região nº /RS, DE 19/03/2010, Relatora para Acórdão Juíza Federal Luciane Kravetz. No entanto, deve-se interpretá-la no sentido de que os valores devem ser corrigidos como se estivessem depositados em caderneta de poupança (portanto capitalizados). Assim, o uso do termo única vez, na única interpretação que reputo adequada, significa que a forma de correção pelos índices oficiais de caderneta de poupança atualmente TR (taxa referencial) acrescida de 0,5% (meio por cento) deve ser aplicada para os fins de atualização monetária, remuneração do capital e compensação da mora, ou seja, no lugar de correção monetária e juros moratórios. Antecipação de tutela Considerando que o benefício é devido, e diante do estado de saúde da parte autora, com fundamento no art. 4º, da Lei /01, concedo medida cautelar para o efeito de determinar ao INSS que, no prazo de 20 (vinte) dias, adote as providências administrativas necessárias para implantar o benefício em favor do recorrente. Conclusão 5

6 VOTO no sentido de conceder medida cautelar e DAR PROVIMENTO AO RECURSO DA PARTE AUTORA, para CONDENAR o INSS a conceder o benefício de auxílio-doença em favor da parte autora, a partir da DCB (30/05/2009), com correção monetária e juros de mora, nos termos da fundamentação. Sem fixação de condenação em honorários advocatícios, porquanto incabíveis na espécie (artigo 55 da Lei 9.099/95). Considero prequestionados especificamente todos os dispositivos legais e constitucionais invocados na inicial, contestação, razões e contra-razões de recurso, porquanto a fundamentação ora exarada não viola qualquer dos dispositivos da legislação federal ou a Constituição da República levantados em tais peças processuais. Desde já fica sinalizado que o manejo de embargos para prequestionamento ficarão sujeitos à multa, nos termos da legislação de regência da matéria. Curitiba, 26 de outubro de Andréia Castro Dias, Juíza Federal Relatora. 6