PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL MINUTA DE JULGAMENTO FLS. *** NONA TURMA ***

Transcrição

1 TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL MINUTA DE JULGAMENTO FLS. *** NONA TURMA *** ANOTAÇÕES: JUST.GRAT. AGRAVO RET AC-SP PAUTA: 18/10/2004 JULGADO: 18/10/2004 NUM. PAUTA: FERRARI RELATOR: DES.FED. MARIANINA GALANTE PRESIDENTE DO ÓRGÃO JULGADOR: DES.FED. MARISA SANTOS PRESIDENTE DA SESSÃO: DES.FED. MARISA SANTOS PROCURADOR(A) DA REPÚBLICA: Dr(a). JOÃO RICARDO DA SILVA AUTUAÇÃO APTE : ZULMIRA BATISTA APDO : Instituto Nacional do Seguro Social - INSS ADVOGADO(S) ADV : CLOVES MARCIO VILCHES DE ALMEIDA ADV : LUIZ CARLOS BIGS MARTIM ADV : HERMES ARRAIS ALENCAR SUSTENTAÇÃO ORAL CERTIDÃO Certifico que a Egrégia NONA TURMA,ao apreciar os autos do processo em epígrafe, em sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: A Nona Turma, por unanimidade, não conheceu do agravo retido, deu provimento à apelação da autora e, de ofício, concedeu a tutela antecipada. Votaram os(as) DES.FED. SANTOS NEVES e DES.FED. MARISA SANTOS. ANA PAULA BRITTO HORI SIMÕES Secretário(a) Página 1 de 8

2 PROC. : AC ORIG. : /SP APTE : ZULMIRA BATISTA ADV : CLOVES MARCIO VILCHES DE ALMEIDA APDO : Instituto Nacional do Seguro Social - INSS ADV : LUIZ CARLOS BIGS MARTIM ADV : HERMES ARRAIS ALENCAR RELATOR : DES.FED. MARIANINA GALANTE / NONA TURMA R E L A T Ó R I O A EXMA. SRA. DESEMBARGADORA FEDERAL MARIANINA GALANTE: Primeiramente, cumpre salientar que a Autarquia Federal a fls. 30/31 interpôs agravo retido, do despacho que arbitrou os honorários periciais no valor de R$ 380,00 (trezentos e oitenta reais), a fim de reduzi-los, no entanto, não foi reiterado em contra-razões de apelação. A sentença de fls. 87/88 julgou improcedente o pedido de concessão do benefício de aposentadoria por invalidez, por entender não haver nos autos início de prova material do exercício de atividade rural. Condenou a parte vencida ao pagamento das custas e honorários periciais e advocatícios de R$ 300,00 (duzentos reais). Inconformada, apela a requerente sustentando que comprovou, através de prova documental e testemunhal, ter sempre laborado no campo, apenas deixando o trabalho em virtude de seus problemas de saúde Alega, ainda, que o laudo atestou a sua incapacidade total e permanente para exercer qualquer atividade, fazendo jus, portanto, ao benefício de aposentadoria por invalidez. Recebido e processado o recurso (fls. 90/94), com contrarazões a fls. 96/98, subiram os autos a este Egrégio Tribunal em 18/12/2002, sendo redistribuídos a este gabinete em É o relatório. Página 2 de 8

3 PROC. : AC ORIG. : /SP APTE : ZULMIRA BATISTA ADV : CLOVES MARCIO VILCHES DE ALMEIDA APDO : Instituto Nacional do Seguro Social - INSS ADV : LUIZ CARLOS BIGS MARTIM ADV : HERMES ARRAIS ALENCAR RELATOR : DES.FED. MARIANINA GALANTE / NONA TURMA V O T O A EXMA. SRA. DESEMBARGADORA FEDERAL MARIANINA GALANTE: Do agravo, não mencionado expressamente no apelo, não conheço, a teor do preceito do 1º, do art. 523, do Código de Processo Civil. O pedido é de aposentadoria por invalidez, sendo aquele benefício previdenciário previsto no art. 18, inciso I, letra a da Lei nº 8.213/91, cujos requisitos de concessão vêm insertos no art. 42 do mesmo diploma e resumem-se em três itens prioritários, a saber: a real incapacidade do autor para o exercício de qualquer atividade laborativa; o cumprimento da carência; a manutenção da qualidade de segurado. Logo, o segurado incapaz, insusceptível de reabilitação para o exercício de qualquer atividade laborativa, que tenha essa condição reconhecida em exame médico pericial (art. 42, 1º), cumprindo a carência igual a 12 contribuições mensais (art. 25, inciso I) e conservando a qualidade de segurado (art. 15) tem direito ao benefício. Na hipótese dos autos, a inicial é instruída com certidões de seu casamento e do casamento de seu filho, respectivamente, de e e de nascimento de filhos, lavradas em e , todas atestando a profissão de lavrador do marido (fls. 13/17), ficha de identificação da autora junto à Secretaria de Estado da Saúde de , informando a sua profissão de lavradora (fls. 18), carteira de trabalho da requerente sem registros, informando estar, atualmente com 66 (sessenta e seis) anos (fls. 19), guia de recolhimento de imposto referente ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Aparecida D Oeste de 1966, 1978 e 1983 em nome do marido (fls. 20/21) e resultado de exame médico de , apontado que a autora apresenta Doença de Chagas (fls. 23). Em seu depoimento pessoal de fls. 49 afirma que há 01 (um) ano não trabalha por ser portadora de Doença de Chagas. Esclarece que laborou, como diarista, para os Srs. José Quintino, Honório, Natal e João Marin. A primeira testemunha, ouvida a fls. 47, esclarece conhecer a autora há 25 (vinte e cinco) anos e antes de ficar doente laborava na roça. Acrescenta que a requerente há cerca de 01 (um) ano encontra-se com problemas de saúde. Afirma que a autora laborou para o depoente durante toda a década de 80. Diz que vê a requerente uma vez ou outra pegando condução para ir trabalhar. A segunda testemunha, ouvida a fls. 48, afirma conhecer a autora há 35 (trinta e cinco) anos e que trabalhava como lavradora. Esclarece que a requerente há, aproximadamente, 01 (um) ano apresenta problemas de coração. Acrescenta que já exerceu atividade rurícola para os Srs. Rosseti, Natal, Marin e para a família Quintino. Página 3 de 8

4 O assistente técnico a fls. 55/56 informou que a requerente apresenta patologia de caráter irreversível e adquirido que a impede de exercer atividade que exija esforço físico. Submeteu-se a autora à perícia médica (fls. 74/77), a qual, após informar que é portadora de Doença de Chagas, além de múltiplas lesões de pele (ceratose actínica), sendo estas pré-cancerosas e que se agravam com a exposição solar, tornando-se câncer de pele, não podendo, portanto, expor-se por longos períodos ao sol, concluiu pela incapacidade total e permanente para o trabalho. A orientação pretoriana é no sentido de que a qualificação de lavrador do marido, constante de certidão emitida pelo registro civil, é extensível à esposa, constituindo-se em início razoável de prova material de sua atividade rural. Nesse sentido, trago a colação do seguinte julgado: PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR IDADE. RURÍCOLA. DIVERGÊNCIA NÃO DEMONSTRADA. CERTIDÃO DE CASAMENTO DE MARIDO. LAVRADOR. CATEGORIA EXTENSIVA À ESPOSA. INÍCIO RAZOÁVEL DE PROVA MATERIAL. I - Descumpridas as exigências do art. 541, parágrafo único, do Código de Processo Civil, e do art. 255 do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça, não comporta trânsito o apelo nobre quanto à divergência jurisprudencial. II - A comprovação da atividade laborativa do rurícola deve-se dar com o início de prova material, ainda que constituída por dados do registro civil, como certidão de casamento onde marido aparece como lavrador, qualificação extensível à esposa. III Recurso conhecido em parte e provido. (STJ; RESP: SP ( ); Data da decisão: 15/04/2003; Relator: MINISTRA LAURITA VAZ). Como visto acima, a autora trouxe aos autos início de prova material da sua condição de rurícola, consistente em certidões de seu casamento e do casamento de seu filho, respectivamente, de e e de nascimento de filhos, lavradas em e , todas atestando a profissão de lavrador do marido, o que é aceito pela jurisprudência para a comprovação da atividade rural, ficha de identificação da autora junto à Secretaria de Estado da Saúde de , informando a sua profissão de lavradora e guia de recolhimento de imposto referente ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Aparecida D Oeste de 1966, 1978 e 1983 em nome do marido, os quais, conjugados com a prova oral produzida em sede instrutória, permitem o reconhecimento de atividade rural pelo prazo de 20 (vinte) anos. Isto porque a situação da autora pode perfeitamente ser enquadrada na hipótese do inciso I, do art. 39 da Lei nº 8.213/91, cujo conteúdo, por ser esclarecedor, transcrevo a seguir: Art. 39. Para os segurados especiais, referidos no inciso VII do Art. 11 desta Lei, fica garantida a concessão: I - de aposentadoria por idade ou por invalidez, de auxílio-doença, de auxílio-reclusão ou de pensão, no valor de 1 (um) salário mínimo, desde que comprove o exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua, no Página 4 de 8

5 período, imediatamente anterior ao requerimento do benefício, igual ao número de meses correspondentes à carência do benefício requerido; Ora, tendo a requerente comprovado o exercício de atividade rural por prazo superior a 12 (doze) meses, evidentemente demonstrou o cumprimento do requisito relativo à carência, independentemente do recolhimento de contribuições. Confira-se a jurisprudência a respeito: PREVIDENCIÁRIO APOSENTADORIA POR INVALIDEZ TRABALHADOR RURAL COMPROVAÇÃO CARÊNCIA DESNECESSIDADE. - A comprovação da qualidade de trabalhador rural, através de robusta prova documental, enseja a concessão do benefício previdenciário, não sendo necessário o cumprimento do período mínimo de carência, a teor dos arts. 26, III e 39, I, da Lei 8.213/91. - Recurso não conhecido. (STJ, Resp nº , UF: SP; Quinta Turma; Data da decisão: ; DJ, , Relator: JORGE SCARTEZZINI). Não há que se falar em demonstração da qualidade de segurado, em se tratando de trabalhador rural, uma vez que o inciso I, do art 39 do referido diploma legal, faz menção apenas à comprovação do exercício de atividade rural no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício, ainda que de forma descontínua, em número de meses correspondentes à carência do benefício pretendido. O exame do conjunto probatório mostra que a autora comprovou o cumprimento da carência e a sua real incapacidade para o exercício de qualquer atividade laborativa, nos termos do art. 39, I, c/c art. 42 da Lei nº 8.213/91, de forma que o direito que persegue merece ser reconhecido. Por fim, levando em conta que se cuida de prestação de natureza alimentar, estando presentes os pressupostos do art. 273 c.c. 462 do C.P.C., impõe-se à antecipação da tutela. Pelas razões expostas, não conheço o agravo retido e, ainda, a decisão deve ser reformada, pelo que dou provimento à apelação da autora para conceder o benefício de aposentadoria por invalidez, no valor de um salário mínimo, desde a data do laudo pericial ( ). É devido o pagamento das prestações vencidas, acrescidas de correção monetária, nos termos das Súmulas 08 desta E. Corte e 148 do E. STJ, combinadas com o Provimento nº 26/2001, da E. Corregedoria Geral da Justiça Federal, incidindo juros de mora de 0,5% ao mês, a contar do termo inicial, até a entrada em vigor do novo Código Civil, quando então serão calculados à taxa de 1% ao mês, nos termos do art. 406 c/c art. 161, 1º, do CTN. Arbitro os honorários advocatícios em 10% sobre o valor da condenação, até esta decisão (Súmula nº 111, do STJ). O INSS é isento de custas, cabendo somente quando em reembolso. De ofício, defiro a antecipação da tutela. Oficie-se ao INSS, para as providências cabíveis, sem prejuízo das medidas contidas nos 4º e 5º, do art. 461 do CPC. É o voto. Página 5 de 8

6 MARIANINA GALANTE Desembargadora Federal Página 6 de 8

7 PROC. : AC ORIG. : /SP APTE : ZULMIRA BATISTA ADV : CLOVES MARCIO VILCHES DE ALMEIDA APDO : Instituto Nacional do Seguro Social - INSS ADV : LUIZ CARLOS BIGS MARTIM ADV : HERMES ARRAIS ALENCAR RELATOR : DES.FED. MARIANINA GALANTE / NONA TURMA E M E N T A PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. AGRAVO RETIDO. TRABALHADORA RURAL. APLICAÇÃO DO ART. 39, I, DA LEI Nº 8.213/91. REQUISITOS PARA A CONCESSÃO SATISFEITOS. TUTELA ANTECIPADA. I Não se conhece de agravo retido não reiterado na apelação. II - O benefício de aposentadoria por invalidez é devido ao segurado que for considerado incapaz e insusceptível de reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta a subsistência, que tenha cumprido a carência de 12 (doze) contribuições e não tenha perdido a qualidade de segurado (Lei 8.213/91, art. 42). III O laudo pericial atesta que a autora, atualmente, com 66 (sessenta e seis) anos é portadora de Doença de Chagas, além de múltiplas lesões de pele (ceratose actínica), sendo estas précancerosas e que se agravam com a exposição solar, tornando-se câncer de pele, não podendo, portanto, expor-se por longos períodos ao sol, concluiu pela incapacidade total e permanente para o trabalho. IV A autora comprovou o exercício de atividade rural pelo prazo de 20 (vinte) anos, por meio de prova documental, consistente em certidões de seu casamento e do casamento de seu filho, respectivamente, de e e de nascimento de filhos, lavradas em e , todas atestando a profissão de lavrador do marido, o que é aceito pela jurisprudência para a comprovação da atividade rural, ficha de identificação da autora junto à Secretaria de Estado da Saúde de , informando a sua profissão de lavradora e guia de recolhimento de imposto referente ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Aparecida D Oeste de 1966, 1978 e 1983 em nome do marido, e testemunhal, confirmando o seu labor no campo. Aplicável o disposto no art. 39, I, da Lei nº 8.213/91, que exige apenas a demonstração do exercício de atividade rural por tempo igual ao número de contribuições exigido para a carência do benefício pretendido, não havendo que se falar em recolhimento de contribuições ou qualidade de segurado. V Demonstrado nos autos o atendimento a todos os pressupostos básicos para concessão da aposentadoria por invalidez, a autora faz jus ao benefício. VI - Prestação de natureza alimentar, presentes os pressupostos do art. 273 c.c. 462 do C.P.C., impõe-se à antecipação da tutela de ofício, para imediata implantação do benefício. VII Apelação provida. VIII Sentença reformada. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Nona Turma do Tribunal Regional Federal da Terceira Região, por votação unânime, não conhecer o agravo retido, dar provimento ao recurso da autora e, de ofício, conceder a antecipação da tutela, nos termos do voto da Senhora Desembargadora Federal Relatora, e na conformidade da ata de julgamento, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Página 7 de 8

8 Custas, como de lei. São Paulo, 18 de outubro de 2004.(data do julgamento) DESEMBARGADORA FEDERAL MARIANINA GALANTE Página 8 de 8