Novembro / 2016 Ribeirão Preto
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- Leonor Gil Teixeira
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1 PARECER ECONÔMICO DO DOCUMENTO: ANÁLISE DE EQUILÍBRIO ECONÔMICO-FINANCEIRO DE CONTRATO DE CONCESSÃO DOS SERVIÇOS PÚBLICOS DE TRATAMENTO E DISPOSIÇÃO DE ESGOTO NO MUNICÍPIO DE JUNDIAÍ Novembro / 2016 Ribeirão Preto
2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 2 2 ESTRUTURA DO RELATÓRIO DA FIPE 3 3 ANÁLISE DO CÁLCULO DE REEQUILÍBRIO 5 4 ANÁLISE DO MODELO REGULATÓRIO DO CONTRATO 13 5 FLUXO DE CAIXA DA CONCESSÃO 15 6 METODOLOGIA ALTERNATIVA PARA O REEQUILÍBRIO 18 7 CONCLUSÃO 23 APÊNDICE I PLANILHAS DE CUSTOS JÁ REEQUILIBRADOS 24 APÊNDICE II PLANILHAS DE V 25 1
3 1 INTRODUÇÃO O presente parecer tem como objetivo avaliar o relatório elaborado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE), intitulado Análise de equilíbrio econômico-financeiro de contrato de concessão dos serviços públicos de tratamento e disposição de esgoto no município de Jundiaí, que analisou o pleito de reequilíbrio do Contrato de Concessão n o 002/96, firmado entre o Departamento de Águas e Esgotos de Jundiaí (DAE) e a Companhia de Saneamento de Jundiaí (CSJ). Após apresentar os fatores geradores de desequilíbrio, o referido relatório utilizou a metodologia dos custos marginais para calcular a nova tarifa média de equilíbrio. Após calcular a tarifa de equilíbrio, no valor de R$0,52, o relatório apresentou uma metodologia para calcular o valor total do desequilíbrio. Encontrou-se um desequilíbrio total de R$ 74,2 milhões medidos em R$ de setembro de 1995 (mês em que o contrato foi assinado), ou equivalente a R$397 milhões medidos em moeda atual (agosto de 2016, atualizado pelo IGP-DI). Este valor poderia ser pago à vista, ou equivalentemente estendendo-se o prazo do contrato em 7,4 anos. O presente estudo se divide da seguinte maneira. Na seção 2 apresentamos a estrutura do relatório da FIPE. Na seção 3 analisamos passo a passo a metodologia de do cálculo de reequilíbrio. Na seção 4 demonstramos que há uma relação direta entre o modelo de custo marginal e o modelo do fluxo de caixa descontado. Na seção 5 construímos o fluxo de caixa da concessão. Na seção 6 apresentamos uma metodologia alternativa para o cálculo do desequilíbrio. Na seção 7 concluímos. 2
4 2 ESTRUTURA DO RELATÓRIO DA FIPE A seção 1 (Introdução) apresentou o objetivo do relatório, o qual seria analisar o atual desequilíbrio do contrato de concessão e propor uma metodologia reequilibrá-lo. A seção 2 (Breve Histórico) narrou os principais eventos do contrato de concessão, desde a assinatura do contrato em janeiro de 1996, com prazo de 20 anos, passando pela primeira revisão ocorrida em dezembro de 1996 e pela segunda (e última) revisão realizada em maio de 2008, momento em que houve a extensão do prazo contratual por mais 10 anos (até janeiro de 2026). Em junho de 2015 a Concessionária encaminhou um ofício no qual apontava eventos geradores de custos extraordinários, os quais constituem o objeto de estudo deste trabalho. A seção 3 (Metodologia) apresentou a metodologia adotada no estudo, que pode ser resumida em 4 etapas: (i) análise do edital, a fim de estabelecer as referências para o cálculo do reequilíbrio; (ii) análise da matriz de riscos do contrato, ou seja, identificar quais despesas são responsabilidade da Concessionária e quais do Poder Concedente; (iii) conceituar o equilíbrio econômico-financeiros do ponto de vista jurídico e econômico; (iv) sugerir cenários para o reequilíbrio, podendo ser via revisão tarifária, indenização ou alteração de prazo da concessão. Ainda na seção 3, o estudo enfatiza que todas as fontes de dados provenientes da Concessionária foram discutidas e validadas pelo poder Concedente, tais como: CAPEX, OPEX e volumes. A seção 4 (Aspectos teóricos sobre equilíbrio econômico-financeiro) apresenta o conceito de equilíbrio econômico-financeiro segundo a ótica de diferentes autores, dentre eles economistas e juristas, além, da definição legal constante na Lei Federal n o (Lei de Concessões). Em resumo, manter o equilíbrio 3
5 econômico-financeiro de um contrato significa manter constante sua taxa interna de retorno, do início ao fim do contrato. A seção 5 apresenta os fatores apontados pela Concessionária como causadores do desequilíbrio contratual, sendo eles divididos em 2 grupos: (i) investimentos extraordinários para a realização de obras não previstas e (ii) perdas de receita da Concessionária. A seção 6 discute a alocação dos riscos relevantes no contrato de concessão. Em tese, todos os fatores causadores de desequilíbrio econômico-financeiro apontados na seção 5 seriam de responsabilidade do poder Concedente, conforme contrato. A erosão do Rio Jundiaí é caracterizada como risco de força maior, caso fortuito ou interferências imprevistas. Já a perda de receita da Concessionária decorrente da queda no volume de água/esgoto teria ultrapassado a margem de sazonalidade de 5% prevista em contrato. A norma ISO17025 seria classificada como risco de criação, alteração e extinção na legislação. E, por fim, o incremento de nova área para tratamento de esgoto (Bacia do Rio Capivari) seria caracterizado como risco de alteração dos encargos de forma unilateral. A seção 7 (Modelo regulatório do contrato) apresentou os 2 modelos regulatórios mais comuns em contratos de concessão: o modelo do fluxo de caixa descontado e o modelo de custo marginal, este último foi o escolhido para o cálculo das tarifas desde o início do contrato. A seção 8 (Mensuração dos desequilíbrios) apresentou a metodologia adotada para medir o desequilíbrio econômico-financeiro causado pelos fatos extraordinários listados na seção 5. Mais especificamente, calculou-se qual seria a tarifa média capaz de reequilibrar o contrato. Esta tarifa média seria de R$0,52 por m 3. 4
6 A seção 9 (Cálculo do desequilíbrio) apresenta uma metodologia para se obter o valor total do desequilíbrio em Reais, para posteriormente encontrar o aumento de prazo necessário para compensar este desequilíbrio. A seção 10 (Custo de capital) discute brevemente sobre a taxa de desconto utilizada para descontar os custos e volumes, correspondente a 20% ao ano. E, por fim, a seção 11 conclui o estudo, afirmando que o valor do desequilíbrio seria de R$74,2 milhões em moeda de 1995 ou, equivalentemente, R$397,4 milhões em moeda atualizada. O estudo finaliza propondo um aumento no prazo de 7,4 anos com o objetivo de reequilibrar o contrato. 3 ANÁLISE DO CÁLCULO DE REEQUILÍBRIO Nesta seção analisaremos passo a passo o cálculo do reequilíbrio apresentado no relatório. O estudo começou apontando os fatores causadores do desequilíbrio contratual. Primeiramente, as obras de proteção das margens do Rio Jundiaí, que custaram R$ ,00 (em R$ de 1995) foram interpretadas como risco de força maior, caso fortuito ou interferências imprevistas, conforme previsto no Incisos III e IV da Cláusula 6.12 do contrato de concessão. O segundo evento apontado como causador de desequilíbrio foi a construção do novo laboratório par atender às exigências do Inmetro com a norma ISO17025:2005. Tal evento foi interpretado pelo estudo como sendo risco de criação, alteração ou extinção de legislação conforme consta nos Incisos II e VI da Cláusula 6.12 do contrato de concessão. Este laboratório custou R$ ,00 (em R$ de 1995). 5
7 O terceiro evento extraordinário apontado pelo estudo está relacionado às obras para construção de novas elevatórias no valor total de R$ ,52 (em R$ de 1995). De acordo com o Inciso I da Cláusula 6.12, a revisão do valor da tarifa poderá ocorrer sempre que houver modificação unilateral do Contrato de Concessão, imposta pelo DAE, que importe em variação de custo. O quarto e último evento extraordinário apontado pelo estudo foi a queda de demanda. O estudo argumenta que a Concessionária teve perda de receitas em função de (i) grandes indústrias que migraram para outras localidades, (ii) diminuição do consumo de água em função da crise hídrica e (iii) ineficiência na medição do sistema de abastecimento. De acordo com o Inciso V da Cláusula 6.12 do contrato de concessão, a Concessionária poderá pleitear revisão do valor da tarifa no caso em que a vazão do esgoto ou da carga orgânica exceder 5% além da projeção inicial, no entanto, o estudo não deixa claro qual a magnitude desta queda de demanda, nem se de fato ultrapassou os 5% de margem prevista em contrato. A Tabela 1 resume as informações sobre os valores dos eventos extraordinários causadores de desequilíbrio. Tabela 1: Eventos extraordinários causadores do desequilíbrio Evento Extraordinário Construção de novo laboratório (ISO17025:2005) Obras de proteção das margens do Rio Jundiaí Obras para construção de novas elevatórias Ano de realização do investimento Valor do investimento em R$ de 1995 Valor do investimento em R$ de R$ ,00 R$ , R$ ,00 R$ , R$ ,52 R$ ,11 TOTAL R$ ,52 R$ ,29 Elaboração própria 6
8 A Tabela 1 mostra que o valor total dos novos investimentos foi de R$ ,29 em moeda atualizada, porém estes investimentos foram realizados em diferentes momentos do tempo. O estudo projeta o crescimento do volume de esgoto a partir de 2015 pela taxa média de 0,9% a.a. conforme metodologia do IBGE. Até 2015 o estudo utilizou os valores de volumes efetivamente realizados e faturados. Em seguida o estudo apresenta as tabelas do modelo de custo marginal atualizadas com os novos valores de custos e volumes. No Apêndice I reproduzimos as mesmas tabelas. A partir das tabelas de custos e volumes, o próximo passo do estudo foi calcular o valor presente dos custos (capital, pessoal, energia elétrica, manutenção e produtos químicos) e volumes, descontando tudo a uma taxa de juros 20% ao ano. O cálculo do custo marginal do capital é dado pela seguinte fórmula: n CMC Volume t (1 + 20%) t t=0 n = Custo de Capital t (1 + 20%) t t=0 Na qual temos que o custo marginal do capital (CMC) multiplicado pelo valor presente do volume é igual ao valor presente do custo de capital, onde n é o prazo do contrato (n=30). Para se calcular o custo marginal do capital basta, então, dividir o valor presente do custo de capital pelo valor presente do volume. Procedendo de forma similar, obteve-se as fórmulas dos custos marginais de pessoal, energia elétrica e manutenção: 7
9 n CMP Volume t (1 + 20%) t t=0 n CME Volume t (1 + 20%) t t=0 n = Custo de Pessoal t (1 + 20%) t t=0 n = Custo de Energia t (1 + 20%) t t=0 n CMM Volume t (1 + 20%) t t=0 n = Custo de Manutenção t (1 + 20%) t t=0 Por fim, o custo marginal total é dado pela soma dos custos marginais de capital, pessoal, energia elétrica e manutenção: CM = CMC + CMP + CME + CMM Descontando-se a série de custos de capital pela taxa de 20% ao ano, obteve-se o valor presente do custo de capital (VpC) na magnitude de R$ ,77. O valor presente do custo de pessoal totalizou R$ ,13. O valor presente dos custos com energia elétrica somou R$ ,37, E o valor presente do custo de manutenção deu R$ ,28. Após revisar os cálculos, validamos tais montantes. Para calcular os custos marginais, o próximo passo consiste em calcular o valor presente total dos volumes de esgoto (VPVE). O relatório apresentou um VPVE no valor de conforme vemos na Tabela 2.. 8
10 Tabela 2: Custos marginais já reequilibrados 1 - CUSTO MARGINAL DO CAPITAL INVESTIDO CMC = 0, CUSTO MARGINAL DAS DESPESAS COM PESSOAL CMP = 0, CUSTO MARGINAL ENERGIA ELÉTRICA CME = 0, CUSTO MARGINAL DE MANUTENÇÃO E PRODUTOS QUÍMICOS CMM = 0, CUSTO MARGINAL TOTAL CM = CMC+CMP+ CME + CMM = 0,314 Retirado do relatório FIPE Uma vez calculados os novos custos marginais, já considerando os novos valores dos investimentos e volumes, o próximo passo foi calcular a tarifa média final. Considerando os encargos (PIS/COFINS), as despesas administrativas (10%), a margem de lucro (20%), os impostos de renda e contribui social dobre lucro líquido (34%) e a taxa de gerenciamento do DAE (5%), a tarifa média final já reequilibrada ficou em R$0,52 por m 3 (em R$ de 1995) conforme relatório FIPE. Os cálculos estão resumidos na tabela a seguir. 9
11 Tabela 3: Cálculo da tarifa média de reequilíbrio 1 - CUSTO MARGINAL TOTAL 0, DESPESAS ADMINISTRATIVAS 0,0314 % SOBRE CM = % SOBRE -1 10,00% X 0, SUBTOTAL - CUSTO = (1) + (2) 0,35 4 LUCRO 0,07 % SOBRE SUBTOTAL = % SOBRE -3 20,00% X 0, IMPOSTO DE RENDA + CONTR. SOCIAL 0,02 % SOBRE LUCRO = % SOBRE -4 34,00% x 6 - SUBTOTAL (3) + (4) + (5) 0, DESPESAS FISCAIS 0,06 % SOBRE ,29% (*) x SUBTOTAL (6) + (7) 0,5 9 - GERENCIAMENTO DO DAE - 5% 0,03 5% SOBRE -10 5,00% x 0, TARIFA MÉDIA (R$/m³) TM = SOMA (8) + (9) 0,52 Retirado do relatório FIPE O próximo passo da metodologia proposta pela FIPE, apresentado na seção 9 de seu estudo, foi calcular o valor total do desequilíbrio em reais. Primeiramente, calculou-se o que chamaram de volume total equivalente residencial realizado acumulado no valor de ,65 m 3. Este valor corresponde à soma dos volumes equivalentes residenciais entre 1995 e Neste ponto, discordamos da metodologia adotada por 2 motivos: primeiro, o contrato foi revisado (e reequilibrado) em 2008, então, se houver desequilíbrio será somente de 2008 em diante; segundo, ao tomar a soma linear de volumes que estão em diferentes momentos do tempo, perde-se o conceito fundamental do valor do dinheiro no tempo. 10
12 Em seguida o estudo calculou a tarifa residencial de equilíbrio, a partir da tarifa média de equilíbrio no valor de R$0,414 por m 3. Para tal, aplicou-se a fórmula a seguir prevista em contrato: Tvd = TRS x VpVE VpVD + 1,1xVpVI + 1,1xVpCI Tvi = 1,1 x Tvd = 1,1 x Tci = 1,1 x Tvd = 1,1 x Onde TRS é a tarifa média e VpVE é o valor presente do volume total de esgoto. Além disso, VpVD, VpVI e VpCI representam os valores presentes dos volumes de esgoto domésticos, esgoto industriais e carga industrial, respectivamente. Ao final desta etapa, encontrou-se uma tarifa residencial no valor de R$0,40 por m 3, conforme se observa na Tabela 4 a seguir. Tabela 4: Cálculo do desequilíbrio Prazo 30 anos Volume Total Equivalente Residencial Realizado Acumulado (m3) Tarifa Residencial (R$/m3) Valores (R$) (data base: 09/1995) Margem (R$)** Receita Equilíbrio ,65 0,400*** , ,05 Receita Efetiva (projetada do ano 20 ao ano 30) Desequilíbrio Receita (preços set/1995) ,65 0,310* , , , ,93 Prazo adicional 7,4 anos Retirado do relatório FIPE 11
13 O próximo passo consistiu em multiplicar o volume total equivalente residencial ( ,65 m 3 ) pela tarifa residencial (R$0,40 por m 3 ). O valor resultante (R$ ,10) é medido em R$ de setembro de 1995 e apresentado na coluna 4 da Tabela 4. Este valor indica qual deveria ser a receita total da Concessionária de equilíbrio, porém, lembramos que ao somar linearmente os volumes e ignorar o valor do dinheiro no tempo, e este valor perde significado. A última coluna da Tabela 4 apresenta o que o relatório denominou de margem. De acordo com nosso entendimento, esta margem é simplesmente a receita total da coluna 4 subtraída de encargos e impostos. A primeira linha da Tabela 4, última coluna, temos a margem de equilíbrio no valor de R$ ,05 e na segunda linha a margem desequilibrada no valor de R$ ,12. A diferença entre as margens resulta em um montante de desequilíbrio no valor de R$ ,93 medido em R$ de setembro de 1995, ou, equivalentemente, R$ ,16 em moeda atual. Salientamos novamente que estes valores não consideram o valor do dinheiro no tempo e também ignoram o equilíbrio realizado em 2008 (ao somar linearmente volumes desde 1995), por este motivo é que se observa uma discrepância tão grande entre os valores dos investimentos extraordinários (R$ ,29 em moeda atual) com o valor do desequilíbrio (R$ ,16 em moeda atual) em tão curto espaço de tempo (os maiores investimentos foram realizados em 2013 e 2015). A última etapa da metodologia apresentada no relatório consistiu em converter este desequilíbrio em aumento de prazo do contrato de concessão. Após adotar algumas hipóteses, encontrou-se que um aumento de 7,4 anos no prazo do contrato seria equivalente a pagar os R$ ,16 a vista. Em outras palavras, o aumento de prazo de 7,4 anos seria suficiente para reequilibrar o contrato. 12
14 Nas próximas seções, apresentaremos algumas considerações sobre porque discordamos da metodologia adotada no relatório e proporemos o que consideramos ser a metodologia mais adequada para o reequilíbrio deste contrato. 4 ANÁLISE DO MODELO REGULATÓRIO DO CONTRATO O modelo regulatório utilizado no Contrato de Concessão n o 002/96 denomina-se modelo de custo marginal. Nesta seção analisaremos detalhadamente este modelo e demonstraremos que existe uma relação direta, um para um, entre este modelo e o modelo do fluxo de caixa descontado. Para entender a relação entre os dois modelos, é fundamental conhecer o conceito de Taxa Interna de Retorno (TIR). Por definição, a TIR é a taxa de juros que iguala, em determinado momento do tempo, o valor presente das entradas (recebimentos) com o valor presente das saídas (pagamentos), conforme a fórmula a seguir. n Entrada t (1 + TIR) t t=0 n = Saída t (1 + TIR) t t=0 No caso do contrato de concessão que estamos analisando, as entradas são calculadas tomando-se a multiplicação do volume pelo denominado custo marginal (CM). Entrada t = Volume t CM Já as saídas são calculadas tomando-se a soma dos custos operacionais (pessoal, energia elétrica, manutenção e produtos químicos) com as despesas financeiras (custo de capital). 13
15 Saída t = CustosOperacionais t + CustoCapital t Substituindo na fórmula da TIR, temos que n Volume t CM (1 + TIR) t = CustosOperacionais t + CustoCapital t (1 + TIR) t t=0 n t=0 Dado que o custo marginal é constante, podemos colocá-lo em evidência, para enfim termos a chamada equação do custo marginal utilizada na metodologia do pleito de reequilíbrio. CM = n t=0 CustosOperacionais t +CustoCapital t (1+TIR) t n Volume t t=0 (1+TIR) t A fórmula acima mostra claramente que o modelo adotado no Contrato de Concessão embute uma TIR (de 20% a.a.) no cálculo do custo marginal. Em outras palavras, o que se chama de custo marginal na verdade contém um retorno implícito de 20% ao ano. Portanto, do ponto de vista da teoria econômica, não poderia ser chamado de custo marginal 1. Na página 20 do estudo, afirma-se que o modelo de custo marginal também usa uma taxa de desconto, mas as etapas do processo são calculadas de uma outra maneira. E na página 32 o estudo afirma que o modelo do custo marginal não considera TIR. Essa taxa de desconto a qual o estudo se refere é justamente a TIR de 20% anual, conforme demonstrado. 1 Em ciência econômica, o termo custo marginal é usado para indicar o acréscimo no custo total advindo da produção de uma unidade adicional. No contexto desta concessão, seria o custo de tratamento de 1 m 3 de esgoto adicional. No entanto, uma vez que no contrato de concessão há uma TIR embutida de 20% ao ano, os valores encontrados não poderiam ser chamados de custo marginal. 14
16 Por fim, além da TIR implícita remunerando o projeto efetivamente a 20% ao ano, acrescenta-se mais 20% a título de lucro. 5 FLUXO DE CAIXA DA CONCESSÃO Conforme foi dito na seção anterior, existe uma relação direta, um para um, entre o modelo de custo marginal e o modelo do fluxo de caixa descontado. Sendo assim, nesta seção construiremos o fluxo de caixa descontado da concessão a partir do modelo de custo marginal. Para cada ano construiremos uma Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) com a seguinte estrutura. Tabela 5: Fluxo de Caixa Livre DRE Receita Bruta (-) Despesas Fiscais (=) Receita Líquida (-) Custos Operacionais (=) Lucro Bruto (-) Despesas Adm. (=) Resultado Operacional (-) Depreciação (=) LAIR (-) IR/CSLL (=) Lucro Líquido (+) Depreciação (-) Investimentos (=) Fluxo de Caixa Livre Descrição Calculada multiplicando-se a tarifa residencial (R$0,308 por m3) pelo volume equivalente residencial no ano Calculada multiplicando-se a receita bruta por 13,29% conforme contrato Diferença entre a receita bruta e as despesas fiscais Soma dos custos com pessoal, energia elétrica, manutenção e produtos químicos Diferença entre a receita líquida e o custo operacional Calculada pela seguinte fórmula 10% x CMg x volume Diferença entre o lucro bruto e as despesas administrativas Calculada pelo escalonamento dos investimentos até o termino do contrato Calculado pela diferença entre o resultado operacional e a depreciação Calculado multiplicando-se o LAIR por 34% Diferença entre o LAIR e o IR/CSLL Somada novamente a fim de calcularmos o fluxo de caixa livre Valor anual do custo de capital conforme tabela do estudo de reequilíbrio Calculado pela fórmula: Lucro líquido + Depreciação - Investimentos 15
17 Uma vez compreendida a estrutura das DRE s anuais, a seguir apresentamos o fluxo de caixa da concessão construído a partir dos dados do estudo da FIPE, e portanto, todos os valores estão medidos em R$ de Destacamos que a receita bruta foi calculada multiplicando a tarifa residencial de R$0,308 (conforme a proposta comercial) pelos volumes anuais equivalentes residenciais 2 (realizados até 2015 e projetados entre 2016 e 2025 pela taxa de crescimento vegetativo do IBGE conforme detalhado na Tabela 9 da próxima seção). A ideia aqui é calcular a receita bruta anual antes da tarifa ser reequilibrada. Os demais valores de custos, despesas e investimentos são exatamente iguais aos valores apresentados no estudo da FIPE. Chamamos a atenção para o resultado líquido no valor de R$ ,00 projetado para o último ano da concessão, que equivale a R$ ,04 em moeda atual. Este valor será utilizado na próxima seção durante o cálculo de extensão do prazo do contrato. Tabela 6: Fluxo de Caixa da Concessão Valores de investimentos já reequilibrados Fluxo de Caixa Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6 Receita Bruta (-) Despesas Fiscais (13,29%) (=) Receita Líquida (-) Custos Operacionais (=) Lucro Bruto (-) Despesas Administrativas (=) Resultado Operacional (-) Depreciação (=) LAIR (-) IR/CSLL (=) Lucro Líquido (+) Depreciação (-) Investimentos (=) Fluxo de Caixa Livre O volume equivalente residencial é calculado pela seguinte fórmula: EquivResid = 1,1*(VolumeIndustrial + CargaIndustrial) + VolumeDoméstico + EVC + Lodo 16
18 Ano 7 Ano 8 Ano 9 Ano 10 Ano 11 Ano 12 Ano 13 Ano Ano 15 Ano 16 Ano 17 Ano 18 Ano 19 Ano 20 Ano 21 Ano Ano 23 Ano 24 Ano 25 Ano 26 Ano 27 Ano 28 Ano 29 Ano
19 6 METODOLOGIA ALTERNATIVA PARA O REEQUILÍBRIO Nesta seção apresentamos o que consideramos ser a metodologia mais adequada para o cálculo do reequilíbrio do Contrato de Concessão n o 002/96, firmado entre o Departamento de Águas e Esgotos de Jundiaí (DAE) e a Companhia de Saneamento de Jundiaí (CSJ). A segunda coluna da Tabela 7 apresenta os valores dos 3 investimentos extraordinários, todos estão medidos em moeda atual. O primeiro, no valor de R$ ,67 é referente à construção do novo laboratório par atender às exigências do Inmetro. O segundo, no valor de R$ ,50 referente às obras de proteção das margens do Rio Jundiaí em E o terceiro no valor de R$ ,11 referente à construção de novas elevatórias em Tabela 7: Saldo devedor em 2016 Ano CAPEX Saldo devedor Moeda atual (data focal 2016) 2008 R$ ,67 R$ , R$ ,50 R$ , R$ ,11 R$ ,13 R$ ,76 Na terceira coluna da Tabela 7 temos os valores futuros com data focal em 2016, capitalizados pela taxa de 20% ao ano conforme contrato. Somando-se a terceira coluna temos o saldo devedor do DAE acumulado em 2016, totalizando 18
20 R$ ,76. Ou seja, se o DAE desejar reequilibrar o contrato por meio de um único pagamento à vista, este seria o valor a ser pago em Agora, calcularemos uma segunda alternativa para o reequilíbrio. Para isto nos perguntamos: mantendo-se o mesmo prazo, qual deveria ser o aumento na tarifa equivalente residencial para reequilibrar o contrato? A fim de mantermos exatamente a mesma metodologia de cálculo do custo marginal prevista no Contrato de Concessão, o primeiro passo é projetarmos os volumes de esgoto entre 2016 e Neste ponto é importante uma reflexão mais detalhada. Conforme vemos na Tabela 8, em 2012 e 2013 os volumes realizados superaram os volumes projetados em mais de 5%, por outro lado, em 2015 o volume realizado foi quase 11% menor do que o projetado em função principalmente da crise hídrica que o país vive. Tabela 8: Volume projetado vs volume realizado entre 2008 e 2015 Equivalente Residencial Equivalente Residencial Comparativo Ano Projetado Realizado em relação ao Estudo de 2008 projetado (m³/ano) (m³/ano) ,30% ,54% ,73% ,75% ,71% ,42% ,10% ,89% Para incorporar a redução no volume faturado e a consequente frustração de receitas na metodologia de reequilíbrio, adotamos o ano de 2015 como ano-base para as projeções de volume e, ainda, atualizamos a taxa de crescimento vegetativo da população já com as novas projeções do IBGE (que são bem 19
21 menores do que aquelas previstas na Proposta Comercial). Ao projetarmos volumes menores entre 2016 e 2025 teremos que seu valor presente também será menor e, dada a metodologia do Contrato de Concessão, que coloca o valor presente dos volumes no denominador do custo marginal, encontraremos um aumento maior na TRS necessário para reequilibrar o contrato de concessão. Em outras palavras, a frustração de receita decorrente da redução de volume será compensada pelo aumento na TRS ou equivalentemente no prazo da Concessão, conforme veremos a seguir. A segunda coluna da Tabela 9 apresenta as taxas de crescimento geométrico da população, conforme metodologia do IBGE. Pode-se notar que as taxas de crescimento populacional vão diminuindo com o passar dos anos, conforme a população brasileira passará a crescer a taxas cada vez menores. A terceira coluna da Tabela 9 apresenta o volume (equivalente residencial, em m 3 ) projetado entre 2016 e Os valores foram projetados tomando como referência o valor realizado em 2015 e considerando uma taxa de crescimento anual conforme metodologia do IBGE. Tabela 9: Valor presente do volume em 2016 Ano Taxa de Cresc. Equiv. Resid. VP Volume Geom. Anual Vol. M3 em 2016 IBGE PROJETADO IBGE ,80% ,77% ,74% ,71% ,68% ,65% ,61% ,58% ,55% ,52%
22 A quarta coluna da Tabela 9 apresenta o valor presente dos volumes projetados com data focal em 2016 (descontados à taxa de 20% ao ano conforme contrato). Sendo assim, temos que o valor presente em 2016 dos volumes projetados entre 2016 e 2025 totaliza m 3. Para calcular o acréscimo na tarifa equivalente residencial capaz de reequilibrar o contrato calcularemos o custo marginal adicional aplicando a mesma metodologia adotada no Contrato de Concessão. Dividindo o valor acumulado dos investimentos (R$ ,76) pelo valor presente dos volumes projetados ( m 3 ) encontramos um custo marginal adicional R$0,09 por m 3 de esgoto. Aplicando os encargos (PIS/COFINS), as despesas administrativas (10%), a margem de lucro (20%), os impostos de renda e contribui social dobre lucro líquido (34%) e a taxa de gerenciamento do DAE (5%), encontramos que o acréscimo na tarifa residencial deveria ser de R$0,15 para que o contrato ficasse reequilibrado. Caso não se opte por aumentar a TRS, uma terceira alternativa equivalente de reequilíbrio seria aumentar o prazo do contrato, sem aumentar a tarifa. Para este caso precisamos primeiramente calcular quanto de lucro líquido a Concessionária vai renunciar entre 2016 e 2025 caso a tarifa permaneça desequilibrada (ou seja, sem o aumento de R$0,15 proposto no parágrafo anterior). Para isto acrescentamos 20% de lucro ao custo marginal adicional, obtendo assim um lucro líquido de R$0,11 que será renunciado para cada m 3 de esgoto tratado entre 2016 e Então, multiplicando R$0,11 pelo volume anual apresentado na segunda coluna da Tabela 10, obtemos o lucro líquido renunciado anualmente (terceira coluna). 21
23 Tabela 10: Valor futuro do lucro líquido renunciado (focal em 2026) Ano Equiv. Resid. Lucro Líquido VF do Lucro Líquido Vol. M3 Abdicado Abdicado PROJETADO (focal em 2026) IBGE R$ ,13 R$ , R$ ,46 R$ , R$ ,88 R$ , R$ ,16 R$ , R$ ,87 R$ , R$ ,37 R$ , R$ ,10 R$ , R$ ,47 R$ , R$ ,90 R$ , R$ ,80 R$ ,76 R$ ,35 A quarta coluna da Tabela 10 apresenta o valor futuro do lucro líquido renunciado entre 2016 e 2025 (com data focal em 2026), capitalizado à taxa de 20% ao ano conforme previsto em contrato. Nota-se que em 2026 o desequilíbrio acumulado do contrato totalizará R$ ,35. Para calcular a extensão no prazo capaz de reequilibrar o contrato precisamos responder à seguinte pergunta: quantos anos a mais (semelhantes ao ano de 2025) seriam necessários para que a Concessionária recuperasse o valor que ela renunciou? Para responder, basta dividir o valor do desequilíbrio em 2026 (R$ ,35) pelo lucro líquido anual projetado para o ano de 2025 (R$ ,04) calculado na seção anterior. Neste caso, encontramos que o contrato deveria ser estendido em 5,3 anos para reequilibrar o contrato sem a necessidade de aumentar a tarifa. 22
24 7 CONCLUSÃO O presente estudo utilizou a mesma metodologia do Contrato de Concessão propor alternativas ao reequilíbrio econômico-financeiro, incorporando e reequilibrando simultaneamente a questão dos investimentos extraordinários e a frustração de receitas decorrente da queda nos volumes faturados. Concluímos que o desequilíbrio no Contrato de Concessão é da ordem de R$ ,76 atualmente, podendo ser compensado por um aumento permanente na tarifa residencial da ordem de R$0,15 por m 3 ou equivalentemente pela extensão no prazo do contrato em 5,3 anos (sem alterar a tarifa). 23
25 Ano (n) Valor anual do custo de capital Pessoal e encargos sociais (r$) Energia elétrica (r$) Manutenç ão, produtos químicos e outros (r$) Custo total anual (r$) Custo O peracio nal Índice de atualiza 1/(1+i)^ n Vp custos anuais de capital (vpc) (r$) , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , TO TAL Vp pessoal e encargos sociais (vpp) (r$) Vp energia elétrica (vpe) (r$) Vp manutenç ã, prod. Q uím. E outros (vpm) (r$) Custo total anual menos investimentos Vp custos Vp custos acumulado APÊNDICE I PLANILHA DE CUSTOS JÁ REEQUILIBRADOS 24
26 APÊNDICE II PLANILHA DE VOLUMES Período Volume faturável de esgotos domésticos (vd) Volume faturável de esgotos industriais (vi) Carga orgânica esgotos industriai (ci) Evc Lodo de ETA m³/ano m³/ano kg x dbo5/ano m3/ano m3/ano TO TAIS Índice de atualizaçã o ia = 1/(1+i)^n Valor presente dos volumes de esgotos domésticos vpvd Valor presente dos volumes de esgotos industriais vpvi m³ m³ Vp evc Vp lodo Valor presente da carga de esgotos industriais vpci kg/dbo TOTAIS TAXA DE JURO S (%.ano) : i = 20,00% TOTAL VpVE , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , ,
REVISÃO EXTRAORDINÁRIA CONTRATO DE CONCESSÃO Nº 002/96 DAE S/A E CSJ DAE S/A ÁGUA E ESGOTO CSJ COMPANHIA DE SANEAMENTO DE JUNDIAÍ
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Dezembro / 2016 Ribeirão Preto
RELATÓRIO FINAL METODOLOGIA PARA REVISÃO EXTRAORDINÁRIA DO CONTRATO DE CONCESSÃO FIMADO ENTRE O MUNICÍPIO DE LIMEIRA E A ODEBRECHT AMBIENTAL Dezembro / 2016 Ribeirão Preto 1 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 2 2 CONSIDERAÇÕES
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1. Crescimento de 16,4% na receita bruta e 24,3% no LAJIDA R$ milhões Variação % (+) Receita operacional bruta 1.252,0 1.456,8 204,8 16,4 (-) COFINS e PASEP 93,3 112,2 18,9 20,3 (+) Receita operacional
REAJUSTE DO CONTRATO DA PPP Nº 02/1996- CSJ JUNDIAÍ
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1. Aumento de 5,2% na receita líquida, crescimento de 7,3% no LAJIDA com margem LAJIDA de 50,3%. (*) Lucro antes dos juros e imposto de renda; (**) Lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização;
PARECER CONSOLIDADO ARES-PCJ Nº 29/2015-CRO PROCESSO ADMINISTRATIVO ARES-PCJ Nº 81/2015
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1. Crescimento de 10,2% na receita lí quida no 2T07 e 13,5% no LAJIDA (*) Lucro antes dos juros e imposto de renda (**) Lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização. (***) O lucro Líquido
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1. Destaques financeiros 3T17 3T16 R$ % 9M17 9M16 R$ % Receita operacional bruta 2.999,7 2.854,1 145,6 5,1 8.930,6 8.148,2 782,4 9,6 Receita de construção 712,9 1.097,8 (384,9) (35,1) 2.215,2 2.620,2 (405,0)
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