PN.1605.08-5; Ap: TC Gondomar, 3ºJ (1352D/02) Ap.e: 1 João Martins da Silva, Maria Rosário Martins Silva, Maria Fernanda Martins Silva, Joaquim Martins Silva, Maria da Conceição Martins Silva, Maria Dília Martins Silva e José Fernando Martins Tavares Silva Apª: 2 Manuel Castro Santos Rocha cc. Carla Mónica Martins Madeira Rocha, Rua Vale chão, 67 São Cosme, Gondomar Em Conferência, no Tribunal da Relação do Porto: I. INTRODUÇÃO: (1) Os recorrentes discordaram da sentença de 1ª Instância que julgou procedente a oposição que movem aos recorridos acolhendo a alegada insuficiência do titulo executivo. (2) Da sentença recorrida: (a) A sentença homologatória não constitui título quanto á pretensão executiva. (b) Na verdade, o acordo homologado traduz-se num contrato de promessa de compra e venda de imóvel em que os exequentes prometeram vender e os executados prometeram comprar. (c) São dele, contrato de promessa, entre outras cláusulas típicas, as que ficaram provadas (i) com referência á circunstância de dificuldade em obter a licença de utilização; (ii) ao incumprimento que daria lugar á perda do sinal e á entrega imediata do imóvel em causa, livre e alodial; 1 Adv: Dr F.Afonso Silva Oliveira, Campo 24 Agosto, 129, 4º, esc.448, Bonfim, 4300-504 Porto [afonsoliveira- 5645p@adv.oa.pt] 2 Adv: Dr.Francisco Gama Adão, Pct.General Humberto Delgado, 267, 4º, Sala/13, 4000-288 Porto [fgamaadão- 4441P@adv.oa.pt] 1
(iii) a uma indemnização compensatória de 50,00/dia em circunstancia de atraso. (d) Na presente execução está precisamente em causa o pagamento desta indemnização. (e) É Contudo, a execução tem sempre por base um título executivo: as sentenças apenas podem servir as que sejam condenatórias, artº.46.º/1 CPC, e mesmo os documentos particulares apenas constituem títulos executivos quando importam a constituição ou reconhecimento de obrigações, não sendo bastante a mera previsão de constituírem-se 3. (f) Acontece que o acordo homologado aqui não incorpora ou declara o direito reivindicado na execução: não existe automaticamente por força da sentença de cobertura, enquanto a pretensão da prestação exequenda á esfera jurídica dos recorrentes está afinal dependente de uma inexecução culposa do contrato por parte dos executados. (g) Em suma: a sentença homologatória, por referência ao acordo em espécie não traduz uma condenação pura e simples dos executados a pagarem aos exequentes o montante indemnizatório pedido. (h) Por conseguinte, sendo o título que define os fins e limites da execução e não contendo qualquer reconhecimento ou prova desse incumprimento, apenas com a obtenção de outra sentença que o declare verificado da banda dos executados, poderão os exequentes concretizarem em sede executiva o direito que se arrogam 4. II. MATÉRIA ASSENTE: (a) Por sentença transitada, 06.04.06, dada nos autos de despejo n.º 1352/2002, 3ºJ. Cível Gondomar, foi homologada uma transacção que pôs termo ao litigio (b) Dessa transacção resultam entre outras as seguintes cláusulas relevantes: (i) pelo preço de 231 941,00, livre de encargos hipotecários, penhoras e/ou arrestos, os AA. prometem vender aos 2s/RR e estes prometeram comprar-lhes o prédio da 3 Cit. Ac.STJ, 04.02.12, Pn 04B2118, www.dgci.pt 4 Cit. Sobre a matéria em apreço e tendencialmente no mesmo sentido, Ac.STJ, 04.02.12, Pn.04b2118; Ac.STJ, 03.06.03, Pn.03A1317, www.dgci.pt. 2
causa, montante que os promitentes compradores se obrigaram a pagar-lhes em duas prestações: a primeira, no montante de 23 194,00, com carácter de sinal e vencimento no dia 06.04.13 (quantia titulada no cheque n.º 3621897614, sacado pela 2ºR mulher, sob a conta n.º 25495250001 do BPI, aberta em nome de Farmácia Santa Marinha, Unipessoal, Lda, o qual há-de ser substituído por outro cheque bancário ou visado e entregue ao ilustre mandatário dos AA, no escritório deste, no referido dia do vencimento); a 2ª prestação, no montante de 208 747,00, a ser paga no acto da escritura através de cheque visado ou bancário; escritura imperativa até 06.07.20; (ii) a eventual dificuldade em obter a licença de utilização em tempo útil não desobriga os 2ºsRR de satisfazer o resto do preço: 208 747,00; (iii) em caso de incumprimento, para além da perda do sinal entregue, os RR obrigam-se á entrega imediata do imóvel aos AA, completamente livre e desocupado de pessoas e bens, passando a ser devida pelos promitentes compradores, em benefício dos promitentes vendedores, por cada dia de atraso na entrega do imóvel, uma indemnização compensatória de 50,00/dia. (c) A sentença homologatória anteriormente referida foi dada á execução nos autos principais. III. CLS/ALEGAÇÕES: (1) Das cláusulas 2ª, 5ª, 6ª e 7ª do acordo homologado na sentença dada á execução resultam os limites da prestação exequenda com as características da certeza, liquidez e exequibilidade. (2) Aliás, a oposição só poderia ter por fundamento algum dos motivos do art.º 814.º CPC, que os oponentes nenhuns deles invocaram; por outro lado, os documentos que juntaram com a petição não são sequer idóneos a satisfazer as exigências de prova da alínea g) do citado preceito. (3) Não foi pois documentada extinção ou modificação da obrigação assumida pelos executados: a oposição deveria ter sido liminarmente indeferida. (4) Mais além, a sentença é contraditória: julgou a um e ao mesmo tempo do mérito da oposição totalmente ao arrepio dela e do que nela foi alegado, sem 3
produção de qualquer prova, apesar de, incoerentemente, terem sido apreciados os fundamentos invocados pelos executados, inúteis. (5) E manifesta entendimento donde resulta que se confunde a transacção com a sentença que a homóloga, quando na realidade é a sentença que homologa a transacção e não esta a constituir o título executivo. (6) Ora, é aqui inquestionável que o titulo dado á execução é uma sentença condenatória, art.º 46.º/1A CPC, onde as partes assumiram, em função do direito dito, claras e objectivas obrigações recíprocas, perfeitamente determinadas quanto ao valor liquido ( 231 941,00), ao tempo (06.06.20), ao meio de pagamento (cheque visado ou bancário) e às condições, prevenida desde logo a situação de incumprimento eventual, sob clausulas sancionatórias sem dúvidas. (7) Por conseguinte, os executados estão em mora, considerada ex lege a obrigação definitivamente incumprida. (8) E não faria o menor sentido ficarem os exequentes a aguardar sine die que os executados ficassem a ganhar vontade de cumprimento, quando, na data da instauração, já havia quatro meses dessa mora: incumprimento definitivo e grosseiro que tanto se acentua em todos estes mais de treze meses passados. (9) Em suma, a execução embargada tem na sua base um título executivo suficiente e explícito, através do qual se acha perfeitamente delimitado o objecto executivo quanto aos fins e limites, na acepção do art.º 45.º CPC. (10) Logo, é errado o entendimento da sentença recorrida de não incorporar o direito á prestação exequenda quando, em boa verdade, ficou ab initio prevista e declarada na sentença homologatória, em caso de incumprimento. (11) Aos exequentes mais não competia, pois, do que exibir em juízo o titulo executivo em questão através do qual essas mesmas obrigações foram constituídas e reconhecidas. (12) Certo é que em face do título o incumprimento não resulta da própria sentença, mas, em face dele, a obrigação é certa exigível e líquida, sendo desnecessário aos embargados fazerem a prova de que não foi cumprida pelos oponentes (13) Nestas circunstâncias é dispensada a fase declarativa do direito dos exequentes, sem prejuízo dos executados poderem vir a demonstrar na oposição que não estão obrigados á prestação exequenda. 4
(14) Mas, muito pelo contrário, da própria petição resulta cabalmente confessado que eles, executados, nem cumpriram com o pagamento da quantia de 158 247,00, relativa ao remanescente da 2ª prestação vencida em 06.06.20, o que era imperativo, nem procederam á entrega do imóvel da promessa de compra e venda, consequência que seria, directa, da falta de pagamento daquela parte significativa do preço, tal como a sentença se lhe refere. (15) Era aos embargantes, como devedores presumidos, que lhes incumbia a prova da inexistência da relação causal, sendo certo correr na oposição á execução o ónus de alegar e provar a inexistência do direito dos exequentes ou da causa debendi também por eles. (16) Por fim, do articulado dos oponentes nada resulta que pudesse, com sucesso, ter a virtualidade de obstar á entrega do imóvel aos exequentes e ao pagamento da indemnização compensatória correspondente ao atraso verificado nessa entrega (17) Deveria ter, pois, improcedido a oposição á execução e, ao decidir em contrário, a sentença recorrida infringiu os art.º 9/3, 342/1.2, 371/1, 372/1, 804/2 e 805/2.b) CC, 4/3, 45, 46/1ª), 490/1.2), 668/1 c), 814 e 933/1 CPC: será revogada. IV. CONTRA-ALEGAÇÕES: (1) A decisão recorrida não merece qualquer censura. (2) Por consequência, não podem deixar de ser refutados os argumentos dos recorrentes (3) No limite, de qualquer modo, a oposição deve seguir para além do saneador V. RECURSO julgado, nos termos do artº 705 CPC: (1) A sentença homologatória do acordo a que as partes chegaram na acção declarativa não incorpora um contrato promessa propriamente, mas prestações e contra-prestações definidas e aceites pelas partes, sob o modelo declarativo. (2) Trata-se, portanto, nelas, de terem as características clássicas: incorporação no título, certas, liquidas e exigíveis, tal como resultam (da literalidade) de sentença. 5
(3) Não é pois necessária mais qualquer outra decisão declarativa para se ficar a saber qual é o bom direito dos exequentes: falhada a prestação do preço era devida a entrega do imóvel e, pelo atraso, a conta de 50,00/dia, a acertar em liquidação prévia oficiosa. (4) Por conseguinte, os recorridos apenas teriam podido opor á execução os motivos da alínea g) do art.º 814.º CPC: facto extintivo ou modificativo da obrigação, posterior ao encerramento dos debates judiciais no processo de declaração, a provar por documento. (5) Em suma, teriam de ter reconhecimento escrito e válido por parte dos exequentes da modificação ou extinção problemáticas ou sentença que os eximisse: nem um nem outro deram aos debates desta oposição. (6) Por conseguinte, pode e deve ser decidida esta causa nesta fase imediatamente posterior aos articulados, tendo-se em conta que a sentença homologatória constitui afinal título executivo bastante. (7) Deste modo, procedendo as críticas formuladas contra a decisão recorrida com base no tópico argumentativo da exequibilidade, segue-se que também improcede o pedido dos oponentes, por razão de não terem junto documento que demonstrasse a extinção ou modificação das obrigações impostas pela sentença exequenda. (8) Tudo visto, então, e os art.ºs 45, 46/1 a) e 814 a), e) e g) CPC, pelas razões expostas, foi revogada a sentença recorrida, enquanto improcedeu o pedido de oposição à execução, esta que continuaria a correr, segundo o requerimento inicial. VI.RECLAMAÇÃO: nos termos do art.º 700º/3 CPC, sem apresentação explicita de motivos e, por conseguinte, sem resposta. VII: SEQUÊNCIA: (1) Não vêem razão para não considerar a sentença homologatória do acordo a que as partes chegaram como título executivo imediato a que não foi oposto motivo eficiente do art.º 814º, nomeadamente 814ºg. CPC. 6
(2) Tomam, por conseguinte, o despacho reclamado como acórdão, para revogarem a sentença recorrida, improcedente a oposição à execução. VII. CUSTAS: pelo agravado que sucumbiu, neste sentido se corrigindo o lapso de escrita inicial, não contando neste passo, por ser condição da definitividade do julgado. 7