CENÁRIO ECONÔMICO E PERSPECTIVAS PARA A POLÍTICA MONETÁRIA DOS EUA?

Documentos relacionados
Relatório Econômico Mensal Março de Turim Family Office & Investment Management

Pesquisa FEBRABAN de Projeções Macroeconômicas e Expectativas de Mercado

ANEXO VII OBJETIVOS DAS POLÍTICAS MONETÁRIA, CREDITÍCIA E CAMBIAL LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS

Fase 2 (setembro 2012) Sondagem: Expectativas Econômicas do Transportador Rodoviário

Boletim Econômico Edição nº 77 julho de 2014 Organização: Maurício José Nunes Oliveira Assessor econômico

Relatório Econômico Mensal Agosto 2011

Relatório Econômico Mensal JANEIRO/13

Cenário Econômico para 2014

Espaço para expansão fiscal e PIB um pouco melhor no Brasil. Taxa de câmbio volta a superar 2,30 reais por dólar

A melancolia das commodities: o investimento empresarial na América Latina Nicolás Magud

RELATÓRIO TESE CENTRAL

O Custo Unitário do Trabalho na Indústria

Crescimento Econômico Brasileiro e o temor da Inflação

Impacto sobre os rendimentos dos títulos públicos

Relatório Mensal - Julho

Esclarecimentos sobre rentabilidade das cotas do Plano SEBRAEPREV

REDUÇÃO DA TAXA DE POUPANÇA E AS EMPRESAS NÃO FINANCEIRAS:

NOTAS ECONÔMICAS. Regimes cambiais dos BRICs revelam diferentes graus de intervenção no câmbio

CENÁRIOS ECONÔMICOS O QUE ESPERAR DE 2016? Prof. Antonio Lanzana Dezembro/2015

A PROBLEMÁTICA DO COPOM

Política Monetária no G3 Estados Unidos, Japão e Área do Euro

Carta Mensal Mauá Sekular

Relatório Econômico Mensal. Abril

Análise Setorial. Fabricação de artefatos de borracha Reforma de pneumáticos usados

PANORAMA EUA VOL. 3, Nº 5, JUNHO DE 2013

TRABALHO DE ECONOMIA:

A economia brasileira em transição: política macroeconômica, trabalho e desigualdade

7 ECONOMIA MUNDIAL. ipea SUMÁRIO

101/15 30/06/2015. Análise Setorial. Fabricação de artefatos de borracha Reforma de pneumáticos usados

Investimento em infraestrutura: efeitos multiplicadores sobre o crescimento do PIB

São Paulo (SP), 20 de julho de 2015.

Relatório de Gestão Renda Fixa e Multimercados Junho de 2013

O indicador do clima econômico piorou na América Latina e o Brasil registrou o indicador mais baixo desde janeiro de 1999

Boletim Econômico Edição nº 89 novembro de 2014 Organização: Maurício José Nunes Oliveira Assessor econômico

APRESENTAÇÃO NO INSTITUTO DO VAREJO

(Esta questão vale dois pontos e a análise deve ser feita graficamente)

Operações Crédito do SFN

Visão. O papel anticíclico do BNDES e sua contribuição para conter a demanda agregada. do Desenvolvimento. nº jul 2011

Carta ao Cotista Abril Ambiente Macroeconômico. Internacional

A despeito dos diversos estímulos monetários e fiscais, economia chinesa segue desacelerando

NOTA CEMEC 03/2015 FATORES DA QUEDA DO INVESTIMENTO

Texto para Coluna do NRE-POLI na Revista Construção e Mercado Pini Abril 2012

Instrumentalização. Economia e Mercado. Aula 4 Contextualização. Demanda Agregada. Determinantes DA. Prof. Me. Ciro Burgos

PLANEJAMENTO OPERACIONAL: RECURSOS HUMANOS E FINANÇAS MÓDULO 16

China: crise ou mudança permanente?

Panorama Econômico. Principais Fatos da Semana. 04 de Maio de Sumário. Acompanhamento De 27 de Abril a 01 de Maio

Conjuntura Dezembro. Boletim de

Cenários. Plano Milênio. Ano II SETEMBRO/2012 Nº 26

Pelo segundo mês consecutivo cai o endividamento e a inadimplência em Santa Catarina. Síntese dos resultados Meses Situação da família

Operações Crédito do SFN

X SEMINÁRIO SUL BRASILEIRO DE PREVIDÊNCIA PÚBLICA. BENTO GONÇALVES / RS / Maio 2012

CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES NAS INDÚSTRIAS DA CONSTRUÇÃO E DO MOBILIÁRIO

Consultoria. Crise econômica - o que ainda está por vir e os impactos na hotelaria. Novembro/2015. Juan Jensen jensen@4econsultoria.com.

PROJETO ESTRATÉGICO DO GÁS NATURAL POTENCIAL ECONÔMICO DO GÁS NATURAL NO BRASIL COM BASE NA EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL

TRIBUNAL DE CONTAS DO DISTRITO FEDERAL II RELATÓRIO ANALÍTICO

Ativa Corretora. Novembro de 2010

Panorama Econômico Abril de 2014

Cenário Econômico Brasil em uma nova ordem mundial. Guilherme Mercês Sistema FIRJAN

Comitê de Investimentos 07/12/2010. Robério Costa Roberta Costa Ana Luiza Furtado

Nota de Crédito PJ. Janeiro Fonte: BACEN Base: Novembro de 2014

Perspectivas 2014 Brasil e Mundo

EconoWeek Relatório Semanal. EconoWeek 18/05/2015

RISCOS E OPORTUNIDADES PARA A INDÚSTRIA DE BENS DE CONSUMO. Junho de 2012

Relatório Mensal Março. Instituto de Previdência e Assistência do Município do Rio de Janeiro - PREVI-RIO DIRETORIA DE INVESTIMENTOS

Relatório Econômico Mensal Julho de Turim Family Office & Investment Management

DELIBERAÇÃO CVM Nº 731, DE 27 DE NOVEMBRO DE 2014

5 ECONOMIA MONETÁRIA E FINANCEIRA

SINCOR-SP 2016 FEVEREIRO 2016 CARTA DE CONJUNTURA DO SETOR DE SEGUROS

VEÍCULO: VALOR ECONÔMICO SEÇÃO: BRASIL DATA:

C&M CENÁRIOS 8/2013 CENÁRIOS PARA A ECONOMIA INTERNACIONAL E BRASILEIRA

Análise Setorial. Fabricação de artefatos de borracha Reforma de pneumáticos usados

Cenários da Macroeconomia e o Agronegócio

Operações Crédito do SFN

Baixa do dólar e recuo das Treasuries corroboram para fechamento dos juros futuros; Fatores domésticos levam a depreciação do dólar frente ao real;

Relatório Econômico Mensal Maio de Turim Family Office & Investment Management

ÍNDICE DE CONFIANÇA DOS PEQUENOS NEGÓCIOS NO BRASIL. ICPN Outubro de 2015

Boletim de Conjuntura Econômica Outubro 2008

Extrato de Fundos de Investimento

Maxi Indicadores de Desempenho da Indústria de Produtos Plásticos do Estado de Santa Catarina Relatório do 3º Trimestre 2011 Análise Conjuntural

Evolução Recente das Principais Aplicações Financeiras

Prezados Investidores,

NOTA CEMEC 06/2015 CÂMBIO CONTRIBUI PARA RECUPERAÇÃO DE MARGENS E COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA

A crise financeira global e as expectativas de mercado para 2009

Relatório de Gestão Renda Fixa e Multimercados Julho de 2013

Não existe previsão de tempo bom para o Brasil nos próximos meses, mas um acordo político e a aprovação dos ajustes no Congresso podem evitar o pior

Carta Mensal Fev/Mar de 2013 nº 173

Discurso do Ministro Alexandre Tombini, Presidente do Banco. Central do Brasil, na Comissão Mista de Orçamento do. Congresso Nacional

Fevereiro/2014. Cenário Econômico: Piora das Perspectivas de Crescimento. Departamento t de Pesquisas e Estudos Econômicos

O Cenário do Fed para 2015

Relatório Econômico Mensal JULHO/13

ECONOMIA BRASILEIRA DESEMPENHO RECENTE E CENÁRIOS PARA Prof. Antonio Lanzana Dezembro/2014

Indústria. Prof. Dr. Rudinei Toneto Júnior Renata de Lacerda Antunes Borges

Decomposição da Inflação de 2011

Depressões e crises CAPÍTULO 22. Olivier Blanchard Pearson Education Pearson Education Macroeconomia, 4/e Olivier Blanchard

Federação do Comércio do Estado de Santa Catarina ICF

Um novo paradigma para o mercado de óleo de soja

Discurso Presidente do Banco Central do Brasil Alexandre Tombini

Extrato de Fundos de Investimento

Ponto de vista. Metodologia para um índice de confiança. E expectativas das seguradoras no Brasil

Transcrição:

Artigo 3 Maio 2011 CENÁRIO ECONÔMICO E PERSPECTIVAS PARA A POLÍTICA MONETÁRIA DOS EUA? O ano de 2011 teve início com um elevado otimismo com respeito à recuperação da economia norte-americana, fruto direto do forte crescimento do consumo e dos cortes de impostos sobre os salários ocorridos no último trimestre de 2010, levando muitos analistas a projetar uma taxa de crescimento superior a 4% para a economia norte-americana em 2011. Entretanto, uma série de choques externos voltou a atingir a economia (crise no Oriente Médio, elevação do preço das commodities, impasse no congresso) e os dados surpreenderam consistentemente para baixo, gerando uma onda de reduções nas expectativas de crescimento, de modo que, atualmente, ela se encontra na casa dos 3% para 2011. A prévia do PIB do 1Q2011, divulgada na semana passada, confirmou essa tendência e mostrou desaceleração significativa da economia. O PIB cresceu 1,8% anualizado frente ao trimestre passado, abaixo dos 3,1% registrados no 4Q2010, mas a surpresa positiva foi o forte consumo privado (crescimento de 2,7% frente ao trimestre anterior). As Vendas Finais (VF: PIB - Estoques) e a Absorção Doméstica (AD: Consumo Privado + Consumo do Governo + Investimento) também apresentaram desaceleração significativa, mostrando crescimento anualizado de 0,8% e 0,9% frente ao 4Q2010. 1

mar/00 mar/01 mar/02 mar/03 mar/04 mar/05 mar/06 mar/07 mar/08 mar/09 mar/10 mar/11 Gráfico 1: PIB, Vendas Finais (VF) e Absorção Doméstica (AD) 10 8 6 4 2 0-2 -4-6 -8 PIB VF AD Fonte de Dados: Bureau of Economic Analysis. Independentemente da medida, a atividade econômica apresentou contração significativa, gerando certo desconforto com a solidez da recuperação da economia norte-americana. De que forma esse dado fraco altera as perspectivas para os EUA? O crescimento para o restante do ano deve permanecer robusto ou devemos presenciar uma nova onda de desaceleração tal como em meados de 2010? Com o objetivo de responder a essas questões e de determinar qual variável de demanda apresenta maior poder preditivo sobre o comportamento futuro da atividade, estimamos, usando dados trimestrais entre 1Q1990 e 1Q2011, o seguinte modelo simples: 2

em que: PIB t é a variação tri a tri anualizada do PIB real do trimestre t; Demanda t-1 representa a variável de demanda empregada (PIB, VF ou AD) no período t-1; ISM t é o ISM do setor manufatureiro do período t; e CI t é a variação tri a tri anualizada do Conference Board Leading Index do período t. Os resultados das estimações são reportados na tabela abaixo: Tabela 1: Resultados do Modelo 1 1 2 3 4 5 6 PIB t-1 0.48*** -0,12 VF t-1 0,53*** 0.06 ConPriv t-1 0,66*** 0,35** Invest t-1 0,63*** 0,05 ConPub t-1-0,42-0,23 ISM_Manuf t 0,12** 0,10** CI/CI(-1) t 240*** 209*** 0,08* C 1,30*** -244*** 1,16*** -212*** 1,13*** 178,25*** R 2 Ajustado 0,22 0,57 0,23 0,52 0,40 0,59 Nota: *** significativo a 1%; ** significativo a 5% e; * significativo a 10%. Os resultados indicam que o PIB t-1 é significativo para explicar o PIB t (Coluna 1), mas quando incluímos outras variáveis contemporâneas, o PIB t-1 perde relevância (Coluna 2). Os mesmos resultados se aplicam às Vendas Finais, nas colunas 3 e 4. O que esses resultados indicam é que, em média, o PIB t-1 e o VF t-1 não fornecem informações confiáveis acerca do comportamento futuro da economia, já que as variáveis a serem divulgadas reduzem sobremaneira o seu poder preditivo. 3

Quando utilizamos o consumo privado (ConPriv t-1 ), o consumo público (ConPub t-1 ) e o investimento (Invest t-1 ), que somados resultam na absorção doméstica, os resultados mudam de maneira significativa. Vemos que o consumo privado fornece informações relevantes para o comportamento prospectivo do PIB, mesmo quando incluímos outras variáveis contemporâneas (Colunas 5 e 6). A lógica por traz desse resultado é que a elevação do consumo privado engendra um ciclo de investimentos e de contratações de trabalhadores, o que volta a elevar o consumo e torna a recuperação da economia autossustentável (esse mecanismo de transmissão foi constatado por meio da estimação de um modelo VAR, mas, para fins de concisão, omitimos os resultados). Baseado nos resultados acima, e na força do consumo ao longo dos últimos trimestres, continuamos com uma visão construtiva para a evolução da economia norte-americana ao longo dos próximos trimestres. O grande risco para a concretização desse cenário é a continuidade da elevação no preço das commodities, o que deprimiria a renda real dos consumidores e afetaria a evolução do consumo real. Quais as implicações desse cenário, que combina fraco crescimento no começo de 2011 com perspectivas positivas, sobre a política monetária do Federal Reserve (Banco Central Norte-Americano)? Na conferência após a reunião da última semana, Ben Bernanke (presidente do Federal Reserve) foi enfático ao dizer que a desaceleração da economia foi passageira e que as perspectivas continuam sólidas. De fato, as projeções de crescimento continuam otimistas para este e para os próximos anos. Além disso, achamos que Bernanke já começou a implementar a estratégia de saída de sua política monetária extremamente frouxa, em função de três motivos: i) decretou o fim do QE2, sinalizando que o período de expansão do afrouxamento monetário acabará em breve; ii) sinalizou que o Federal Reserve reverá periodicamente o tamanho e a composição do seu balanço, deixando espaço para futuras medidas restritivas; e iii) sinalizou o primeiro passo a ser adotado em uma futura estratégia de saída, i.e., sinalizou o fim dos reinvestimentos dos ativos vincendos. 4

Assumindo que o Federal Reserve (Fed) queira normalizar a política monetária unicamente via o fim dos reinvestimentos, qual será a velocidade desse movimento de forma a tornar a política monetária justa ao longo dos próximos anos? Para responder a esta pergunta, estimamos uma Regra de Taylor que leva em consideração o tamanho do balanço do Federal Reserve. Assumimos também que o Fed responde à taxa de desemprego estrutural (NAIRU) estimada pelo Congressional Budget Office (CBO) e que o seu cenário central para a inflação e o desemprego irá se materializar em 2011 e 2012. Os resultados sugerem que se o Fed mantiver sua taxa de juros constante até o fim de 2012, ele deveria reduzir seu balanço em US$ 2,4 trilhões (dos US$ 2,7 trilhões ao fim de junho/2011 para US$ 300 bilhões em dezembro/2012). Tal velocidade de ajuste não é condizente unicamente com o fim dos reinvestimentos, requerendo a venda de ativos. Em nossa avaliação, o Fed está mais disposto a implementar um ajuste gradualista no tamanho de seu balanço, já que este é um instrumento relativamente desconhecido e de difícil calibragem. Desse modo, um processo de normalização de política monetária deverá envolver o fim dos reinvestimentos (escalonados e divulgados com antecedência), concomitantemente com a elevação da taxa de juros. O fato de existir uma elevada taxa de desemprego, um baixo núcleo de inflação e expectativas de inflação ancoradas dá certo conforto para a adoção de um processo de normalização gradualista da política monetária, dando tempo para que o Fed tenha uma melhor leitura do real estado da economia e aja com mais segurança, de modo que não esperamos ações restritivas no curto prazo. CONCLUSÃO Embora tenhamos observado uma desaceleração da atividade no primeiro trimestre deste ano, achamos que as perspectivas para a economia ainda continuam sólidas. O ponto central para essa tese é o comportamento recente do consumo privado, que deve gerar ciclos de 5

investimentos e de contratações, tornando a recuperação autossustentável. Acreditamos também que a última reunião do Fed marcou o início do processo de saída da política monetária extremamente frouxa dos últimos anos. Tal fato se deve a três fatores: i) o Fed assumiu que cessará a compra de ativos; ii) deixou a porta aberta para a redução do tamanho de seu balanço; e iii) sinalizou o primeiro passo para fazê-lo: o fim dos reinvestimentos. Pensamos que é mais plausível um processo de normalização monetária que envolva o fim dos reinvestimentos e a concomitante elevação da taxa de juros, mas isso não deve ocorrer num horizonte próximo, dado o elevado desemprego, o baixo núcleo de inflação e a ancoragem das expectativas. De fato, esse cenário benigno deixa o Fed mais confortável e com maior tempo para obter mais e melhores informações sobre o ritmo da recuperação. 6