A COMPETITIVIDADE BRASILEIRA NO MERCADO INTERNACIONAL DA SOJA



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Transcrição:

A COMPETITIVIDADE BRASILEIRA NO MERCADO INTERNACIONAL DA SOJA MIRIANBRAUN@UNIOESTE.BR APRESENTAÇÃO ORAL-COMÉRCIO INTERNACIONAL RUBENS SANDRO MEIRA; LUIZ CARLOS DIAS; MIRIAN BEATRIZ SCHNEIDER BRAUN. UNIOESTE, TOLEDO - PR - BRASIL. A COMPETITIVIDADE BRASILEIRA NO MERCADO INTERNACIONAL DA SOJA Resumo. Este trabalho objetiva, por meio de um conjunto de indicadores, avaliar a competitividade do complexo soja (grão, farelo e óleo) brasileiro no comércio internacional no período de 1990 a 2007. O indicador market-share evidenciou sua significativa importância, considerando que o Brasil foi responsável por 27,8% da soja grão, do farelo de soja e do óleo de soja comercializado no mercado internacional em 2007. Em se tratando de competitividade frente a outros países e a outros produtos, o indicador vantagem relativa na exportação também revela a vantagem competitiva da soja brasileira (índice de 3,68 no ano de 2007). No que se refere à participação da soja no total das exportações brasileiras, houve uma redução, tendo diminuído sua representatividade em 22,36% no período analisado. A participação do saldo comercial da soja no PIB agrícola brasileiro foi crescente, pois em 1994 o complexo soja representava 3,41% do PIB agrícola, passando a representar 4,84%, em 2007. Estes dados ratificam a importância da soja brasileira na geração de divisas e destacam sua crescente vantagem competitiva perante os demais países produtores e exportadores. Palavras-chave: Competitividade. Soja. Exportações Abstract This work aims, through a set of gauges, evaluate the Brazilian soy complex s (grain, bran and oil) competitivity into international business between 1990 and 2007. The market-share gauge showed its importance meaningful, considering that Brazil was responsible for 27,8% of soy, soy bran and soy oil commercialized on international market in 2007. Talng about competitivity facing other countries and other products, the advantage relative gauge on exportation also reveals the competitive advantage of Brazilian soy (3,68% index in 2007 year). Referring to soy participation in Brazilian s total of exportation, there was a reduction, decreasing its representation in 22,36% on analyzed period. The balance of soy commercial participation on Brazilian agricultural PIB was crescent, in 1994 soy complex represented 3,41% of PIB changing to 4,84% in 2007. These data represent the importance of Brazilian soy boundary generation and highlight its crescent advantage facing the other producer and exporter countries. Keywords: Competitivity. Soy. Exportations

1. Introdução O Brasil nunca produziu tantos alimentos como na safra de grãos 2007/2008. Os números confirmam uma colheita de 143,87 milhões de toneladas, 9,2% maior que a do ciclo anterior (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil-CNA, 2008). De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária EMBRAPA (2008), a soja é o principal grão oleaginoso cultivado no mundo. Ela participou, em 2006/07, com cerca de 60% do total de 385 milhões de toneladas de grãos produzidos em nível global pelos principais grãos oleaginosos (soja, girassol, canola, amendoim, algodão e mamona). Seu elevado teor em proteínas (40%) faz dela a primeira matéria-prima na fabricação de rações para alimentação de animais domésticos e, apesar de seu baixo teor de óleo (cerca de 19%), disputa com o dendê a posição de maior produtora de óleo vegetal. Conforme dados do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio (2008), a balança comercial brasileira apresentou, no ano de 2007, um superávit de US$ 40.039 bilhões, sendo que o complexo soja foi responsável por 7,9% do total das exportações, sendo o primeiro item da pauta de exportações do agronegócio brasileiro. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais - ABIOVE (2008), houve um aumento de 21,98% no valor exportado do complexo soja em 2007 em relação a 2006, Para Dall agnoll e Hirakuri (2008), as elevadas taxas de aumento da produção de soja em nível mundial (superior a cinco milhões de toneladas/ano, no período 1970-2007) deverão manter-se, isso devido à expectativa de crescimento vegetativo da população (70 milhões/ano), bem como à mudança no hábito de consumo alimentar da população (utilização farelos protéicos na ração de animais produtores de carne, produto cada vez mais consumido). Segundo Roessing e Lazzarotto (2004), o agronegócio brasileiro tem sido entendido, nos ambientes nacional e internacional, como um dos setores com maior impacto para o desenvolvimento do país. Isso é assim entendido porque esse é o setor da economia que, além de ter a maior capacidade de geração de empregos, é o maior irradiador de estímulos para outras atividades. No caso do complexo soja, o maior número de empregos é criado a jusante, a partir do processamento do produto. No total, chegou a 4,5 milhões de postos de trabalho gerado pelo agronegócio da soja em 2004. O setor está classificado em terceiro lugar na criação de empregos. Nesse sentido, de acordo com a ABIOVE (2008), o crescimento da cadeia produtiva da soja no Brasil depende da competitividade na exportação, no entanto há uma falta de isonomia tributária do ICMS entre matéria-prima e produtos na exportação, devido aos efeitos da Lei Kandir (Lei Complementar 87), que desonerou a exportação da matéria-prima (soja em grão), mas não desonerou a produção industrial para exportação (gerando acúmulo de créditos tributários); eliminou o Diferencial Tributário de Exportação brasileiro (DTE), que compensava o efeito danoso da escalada tarifária no mercado internacional (antes da Lei Kandir, a soja era tributada em 13% de ICMS, já o farelo e óleo em 8% e 11,1%, respectivamente, após a Lei a soja passou a 0% de tributação), e quebrou a isonomia tributária com a Argentina, que mantém até hoje seu DTE (o que tem levado à migração de investimentos brasileiros para o país vizinho). Diante da tendência de aumento da área plantada de soja no Brasil e ao estímulo à exportação da soja grão, buscar-se-á analisar se os três principais produtos do complexo soja (soja grão, farelo de soja e óleo de soja) estão conseguindo se inserir no mercado externo. Por se tratar de uma commodity, uma expansão demasiada na produção poderá causar prejuízos ao produtor rural, bem como interferir de forma negativa na balança comercial. Para isso será acompanhada a variação dos índices de posição no mercado mundial, vantagem relativa na

exportação, a sua variação na participação do total da exportação e a participação do saldo comercial do complexo soja no PIB agrícola no período 1990 a 2007. Este trabalho é composto por seis partes, incluindo esta introdução. Na segunda seção são apresentadas conceituações de competitividade. Na terceira seção é feita uma breve revisão de literatura sobre a evolução da competitividade do complexo soja brasileiro. Na quarta seção é apresentada a metodologia utilizada na obtenção dos indicadores de competitividade. Na quinta seção são apresentados e discutidos os resultados e, na ultima, seguem as considerações finais. 2. Conceituação de competitividade 1 Segundo Jank e Nassar (2000), competitividade é um termo que não possui uma definição precisa. Em mercados globalizados, a competitividade dos setores econômicos é determinada pela sua capacidade de crescer frente aos melhores concorrentes internacionais. Também pode ser entendida como a capacidade de sobrevivência e de crescimento nos mercados, resultante das estratégias competitivas adotadas pelas firmas. Essas estratégias incluem controle de custos, produtividade, P&D e capacitação, dentre outras variáveis Quanto às cadeias produtivas agropecuárias, o conceito de competitividade para Porter (1991) passa por três tipos de estratégias: de liderança em custos, de diferenciação e de foco. A primeira estratégia busca oferecer produtos e serviços a custos mais baixos que os dos concorrentes. A segunda estabelece a diferenciação justificando preços mais elevados. E a terceira estratégia objetiva obter vantagem pela oferta de produtos e de serviços diferenciados ou por menores custos. Para Lazzarini e Nunes (1998), a competitividade do complexo soja é revelada através de um conjunto de indicadores de desempenho nos mercados internacionais, dentre eles: i) a participação da produção nacional em relação à produção mundial; ii) o desempenho no comércio exterior; iii) o crescimento da produção e da comercialização de produtos substitutos; iv) indicadores de produtividade; e v) a taxa de retorno das empresas do setor. Para Farina (1999), ainda que várias firmas não sejam capazes de sobreviver no mercado, o segmento como um todo pode estar sendo competitivo e, para isso, o indicador é o crescimento ou, no mínimo, estabilidade do market-share da produção tanto em relação a mercados externos quanto a internos. Neste sentido, Kupfer (1993) descreve que a competitividade é avaliada pela participação no mercado (market-share) do produto alcançado no comércio externo. Assim, uma empresa ou produto pode ser considerado competitivo quando amplia sua participação no comércio externo. É um conceito amplo de competitividade, facilitando a construção de indicadores, bem como abrange não só as condições de produção como todos os fatores que possam interferir propiciando ou prejudicando as exportações (GONÇALVES, 1987). No contexto mundial, o Brasil apresenta vantagens territoriais, climáticas e tecnológicas no processo produtivo da soja. Essa vantagem, no entanto, diminui quando se considera o complexo soja como um todo (EMBRAPA, 2008). Em se tratando da não diferenciação do produto final, que é o caso das cadeias produtivas de commodities, a competitividade é alcançada sobretudo por baixos custos de produção, em que a lucratividade se dá pelo volume comercializado. Isso significa que a eficiência produtiva deve ser uma constante ao longo de toda a cadeia produtiva. Nesse 1 Não é objetivo deste trabalho detalhar conceitos sobre competitividade, mesmo porque se trata de uma questão ainda em construção, no entanto, para maiores considerações, Silva (2004) apresenta uma revisão bibliográfica extensa e qualitativa sobre as fontes determinantes da competitividade.

sentido, entre os três maiores produtores mundiais de soja, o maior custo operacional é o verificado no Brasil, conforme destaca a Tabela 1. Tabela 1 Custo de produção da soja em US$/ha, safra 2006/07 País/ Estado Custo de médio de produção US$/ha. Brasil Paraná (BR 169, PR) 438 Brasil Mato Grosso (BR 1300, MT) Brasil Goiás (BR 480, GO) 332 291 EUA Iowa (US 700, IA) EUA Dakota do Norte (US 3050, ND) 366 291 Argentina (AR 2300, bar) 150 Argentina (AR 50000, bar) 227 Fonte: Elaborado pelos autores a partir de CEPEA (2008c). Considerando somente o custo operacional, a produção de soja na Argentina está muito à frente da brasileira. O custo de produção daquele país é favorecido em três aspectos em relação ao Brasil: baixo uso de fertilizantes, baixo custo com herbicidas e incidência reduzida de doenças (CEPEA, 2008c). A principal vantagem competitiva da produção argentina diante da brasileira é a alta fertilidade do solo, que implica o uso reduzido de adubos químicos, sendo que, em algumas propriedades, esse insumo sequer é utilizado. Quanto a doenças e a pragas, na safra 2006/07, os argentinos e os norte-americanos não apresentaram gastos significativos, porém, nas lavouras do Brasil, foram registrados custos com controle de pragas e ferrugem asiática. Quando se analisa o custo total de produção da soja, incluindo-se o custo da terra, a depreciação das máquinas e outros custos fixos, verifica-se que a propriedade típica da Argentina (AR-2300, BAr) apresentou o menor custo operacional, mas, com o custo da terra, teve o segundo maior custo por hectare e o pior retorno por unidade monetária investida. No Brasil, as propriedades típicas dos Estados do Mato Grosso e do Paraná também demonstraram retorno negativo, sinalizando que o investimento na atividade não está remunerando o valor da terra e a depreciação da infraestrutura. Com efeito, a persistência desse cenário representa a falta de sustentabilidade do negócio. Entre as propriedades brasileiras, somente as do Estado de Goiás obtiveram retorno positivo, de 12% (CEPEA, 2008a). No caso brasileiro pesam os chamados custos pós-porteira, custos que interferem na competitividade da cadeia produtiva, como os de armazenagem, dos fretes e os portuários. A produção brasileira de soja é transportada, em grande parte, por rodovias, cujo custo é reconhecidamente elevado. Segundo Hijjar e Alexim (2006), os custos portuários também são afetados pelos problemas de acesso rodoviário. Quando o acesso aos portos não é eficiente, toda operação de transporte da carga acaba sendo comprometida, pois os gargalos enfrentados na chegada ao porto geram atrasos, aumentando o custo logístico total. Quanto à armazenagem, a EMBRAPA (2008) aponta que a produção brasileira de grãos cresceu a um ritmo maior que sua estrutura de armazenagem. De 1991 a 2004, a produção de grãos cresceu a taxas médias anuais de 4,70% e a capacidade de armazenamento apenas 1,94% ao ano. Neste sentido, Farina (1999) expõe que o desempenho das firmas está atrelado à provisão de um conjunto de bens públicos e privados, bens sobre os quais a empresa não tem individualmente controle. A logística é um exemplo cabal a esse respeito, já que depende de infraestrutura de transportes, de portos, etc. 3. Revisão de literatura

No contexto das grandes culturas produtoras de grãos, a soja foi a que mais cresceu em termos percentuais nos últimos 37 anos, tanto no Brasil quanto em âmbito mundial. De 1970 a 2007, o crescimento da produção global foi da ordem de 763% (de 44 para 236 milhões de toneladas), enquanto as produções de culturas como trigo, arroz, milho, feijão, cevada e girassol cresceram, no máximo, uma terceira parte desse montante (DALL AGNOL et alii, 2008). A demanda por óleos vegetais também deverá crescer, principalmente pelo aumento do consumo per capita dos países emergentes, considerando que o consumo médio anual de óleo comestível de um cidadão de país desenvolvido é de cerca de 50 litros, enquanto que o de um país em desenvolvimento não passa dos 20 litros (EMBRAPA, 2008). A demanda por óleos vegetais será igualmente pressionada pela utilização como biocombustível (biodiesel e H-Bio), que é a nova alavanca de consumo do óleo vegetal brasileiro, em que a soja responde por quase 90% da produção nacional. Dentre os grandes produtores mundiais de soja (EUA, Brasil e Argentina), o Brasil é o que possui o maior potencial de expansão da área cultivada, podendo, a depender das necessidades de consumo do mercado de farelo e óleo, mais do que duplicar sua atual produção e, em curto prazo, constituir-se no maior produtor e exportador mundial de soja e seus derivados (DALL AGNOL e HIRAKURI, 2008). A Lei Kandir beneficiou, no entanto, apenas a exportação da soja sem transformação, onerando as exportações de farelo e óleo de soja. Antes da Lei Kandir, a alíquota de ICMS na exportação de soja in natura era de 13%, após a Lei 0%, não havendo sobras de ICMS. Quanto à exportação de farelo e óleo de soja, após a Lei Kandir começou a ocorrer uma tributação na compra de matéria-prima em outro Estado na ordem de 12% de ICMS interestadual e de 0 % no mesmo Estado da indústria processadora, provocando um desestímulo para o caso da compra de soja em um Estado para processamento em outro. Outro efeito dessa lei é o deslocamento da capacidade processadora rumo ao Centro-Oeste obedecendo à lógica tributária e assim evitando o acúmulo de créditos de ICMS, e não à racionalidade logística e econômica de livre mercado e uma forte redução da margem da indústria processadora, levando ao fechamento de várias unidades processadoras no Sul e no Sudeste (ABIOVE, 2008). Segundo a ABIOVE (2008), nos 12 anos seguintes à Lei Kandir (1996), o volume anual de exportações de soja em grão aumentou 630%, enquanto as exportações de farelo e óleo de soja aumentaram apenas 14% e 53%, respectivamente. Com a eliminação do Diferencial Tributário de Exportação (DET), que provocou a quebra da isonomia tributária com a Argentina, o Brasil teve sua capacidade instalada de processamento ultrapassada pela Argentina, perdendo investimentos e proporcionando um crescimento lento da indústria nacional. Já o país vizinho obteve taxas elevadas de crescimento (ABIOVE, 2008). As exportações de farelo devem ser analisadas em conjunto com o mercado de carnes para uma interpretação correta. Uma queda nas exportações pode significar duas coisas muito diferentes. Pode representar perda de competitividade no farelo ou transferência das vantagens competitivas na produção do farelo para os segmentos posteriores da cadeia (rações e carnes) (LAZZARINI e NUNES 1998). Segundo Farina e Nunes (2002), o setor de óleos vegetais, fortemente ligado ao comércio exterior, foi impactado pelo câmbio valorizado nos primeiros anos pós-real, mas o impacto mais importante veio com a desoneração do ICMS incidente sobre as exportações de produtos básicos e semielaborados, em 1996. As alíquotas do ICMS eram decrescentes, em relação ao grau de processamento do produto, assim a soja em grão era taxada com alíquotas

maiores que o farelo e este com alíquotas superiores às incidentes sobre o óleo de soja refinado, desestimulando então a exportação de soja em grão. Para Riani e Albuquerque (2008), a Lei Complementar 87/1996 (Lei Kandir) objetivava incentivar as exportações brasileiras, visando melhorar o saldo do Balanço de Pagamentos, bem como buscou elevar os investimentos internos, a fim de promover o crescimento econômico, utilizando para tal finalidade o ICMS. Por muitos anos, a agricultura foi avaliada como um caso de sucesso por várias razões, dentre as quais se destacam os ganhos de produtividade, os superávits comerciais e o crescimento de sua participação no PIB, cabendo à lavoura da soja grande responsabilidade por esse desempenho. Na década de 1990, essa commodity se destacou, ocupando o primeiro lugar no ranng dos produtos agrícolas exportados. A produção nacional, de 20 bilhões de toneladas na safra de 1989/90, chegou a 58 bilhões de toneladas na safra de 2006/07. Conforme dados apresentados na Tabela 2, verifica-se que o maior aumento da área cultivada ocorreu a partir da safra 1997/98, passando de 13,1 milhões de hectares, para 23,3 milhões de hectares na safra 2004/05. Considerando-se a safra 1989/90 até a safra 2006/07, a área cultivada da soja foi acrescida em 79%, enquanto o crescimento da produtividade foi de 62%, contribuindo para um aumento significativo na produção (190%) no período analisado. Tabela 2 Índices de produção, área colhida, produtividade e exportação da soja em grão, do farelo de soja e do óleo de soja no Brasil 1990-2007 Safra Área Produção Produtividade Exportação (US$ milhões) (t) (t/ha) Grão Farelo Óleo Total 1989/90 100 100 100 100 100 100 100 1990/91 84 77 91 49 85 64 71 1991/92 83 97 116 89 99 87 94 1992/93 93 115 124 104 113 94 108 1993/94 100 125 125 145 123 252 145 1994/95 101 129 128 85 124 316 134 1995/96 92 115 125 112 170 214 156 1996/97 98 130 132 269 166 179 201 1997/98 114 156 137 239 109 249 167 1998/99 112 153 136 175 93 206 133 1999/00 118 164 139 240 103 108 147 2000/01 121 191 158 299 128 152 186 2001/02 142 210 148 333 136 233 210 2002/03 160 259 162 471 162 369 285 2003/04 185 248 134 593 203 414 352 2004/05 202 260 129 587 178 380 332 2005/06 197 274 139 623 150 360 325 2006/07 179 290 162 737 184 496 397 Fonte: Elaborado pelos autores a partir de ABIOVE (2008); CONAB (2008) e FAO (2008). No período que compreende a safra 1989/90 até a safra 2006/07, as exportações de soja grão tiveram um aumento de 637%. Nesse mesmo período, o farelo e o óleo de soja tiveram um aumento em suas exportações de 84% e 396%, respectivamente. Verifica-se, entretanto, que o início desse grande salto na exportação da soja se deu a partir do ano safra 1996/97. Já os outros dois produtos analisados (farelo e óleo de soja) recuaram na pauta de exportação nesse mesmo período, vindo a se recuperarem nos anos seguintes. 4. Metodologia

Diversos autores, dentre eles Reis et alii (1985) e Haguenauer (1989) têm sugerido que a competitividade não deve ser medida a partir de um único indicador, e sim por um conjunto de indicadores. Os trabalhos de Dias et alii (2006), Carvalho et alii (2005) e Gasques e Conceição (2002) contribuíram para a definição dos indicadores de competitividade utilizados no presente trabalho. São indicadores que permitem avaliar, desta forma, a competitividade da soja brasileira no comércio internacional a partir do ano de 1990, quais sejam: a) Posição no mercado mundial - Market-share X s =.100 X kc Onde: X = valor das exportações K = soja I = Brasil W = mundo Esse indicador demonstra a participação percentual do país no mercado internacional de determinado produto. Como são expressos em porcentagem, os valores do indicador variam entre zero a cem. Quanto mais alto for esse valor, maior é a intensidade de participação do país no comércio internacional do produto selecionado. b) Vantagem relativa na exportação X / X kr vre = ln X mi / X mr Onde: r = todos os países, exclusive i m = todos os produtos, exclusive k Esse indicador é utilizado para aferir a competitividade de um país em determinado produto, em comparação com os outros exportadores e outros produtos. Se vre = 0, isso significa que a participação das exportações do produto k no total das exportações do país i é idêntica à observada, em média, nos demais países, caracterizando uma situação neutra, ou seja, o país não revela vantagem nem desvantagem no comércio do produto k. Se vre > 0, o país i revela vantagem na exportação de k e, naturalmente, se vre < 0, desvantagem. c) Participação de k no total da exportação X x = x100 X i Esse indicador demonstra a participação percentual das exportações de soja com relação ao total de exportações no país. Também é expresso em porcentagem e, portanto, os valores do indicador variam entre zero e cem. Quanto mais alto for esse valor, maior é a intensidade das exportações do produto com relação aos demais produtos exportados pelo país. d) Participação do saldo comercial de k no PIB agrícola ( X M ) y = x100 Yi Onde: Y = PIB agrícola M = valor da importação Esse indicador mostra a importância relativa do saldo comercial de k no PIB agrícola.

e) Participação do comércio de k no comércio total dos produtos agrícolas X + M q = x100 X i + M i Esse indicador mostra o peso relativo do produto k no intercâmbio comercial agrícola do país. 5. Resultados e discussões Como se pode verificar na Tabela 3, o Brasil elevou a participação no mercado externo do complexo soja (market-share) de 22,02% do valor das exportações mundiais em 1990 para 27,8% em 2007. Nota-se um aumento significativo no indice da soja grão no ano de 1997 (111,34% em relação ao período anterior). Já o farelo de soja teve uma acentuada queda no mesmo ano em relação ao ano anterior (17,5%). O óleo de soja teve queda ainda maior nesse período (63,62%), no entanto o índice desse produto indica crescimento nos últimos anos de análise. Tabela 3 Indicadores da competitividade da exportação do complexo soja brasileiro, período 1990-2007 Market-share (%) Vantagem Relativa na Exportação (vre) Ano Grão Farelo Óleo Total Grão Farelo Óleo Total 1990 15,50 30,33 18,69 22,02 3,00 3,89 3,21 3,79 1991 7,41 26,34 12,57 15,69 2,18 3,71 2,76 3,43 1992 12,61 27,46 14,90 19,02 2,72 3,70 2,89 3,56 1993 14,10 31,08 16,40 21,26 2,78 3,81 2,94 3,60 1994 18,22 34,25 26,55 25,58 3,09 3,95 3,56 3,81 1995 10,42 34,06 26,34 22,15 2,54 4,06 3,67 3,76 1996 10,23 34,96 24,56 21,59 2,55 4,14 3,59 3,82 1997 21,62 29,75 15,01 23,55 3,39 3,83 2,91 3,89 1998 24,05 25,25 16,26 22,56 3,54 3,59 3,02 3,79 1999 20,82 25,11 17,80 21,62 3,44 3,68 3,23 3,79 2000 23,79 24,29 13,41 22,49 3,61 3,63 2,88 3,80 2001 26,24 25,69 17,09 24,76 3,65 3,61 3,07 3,85 2002 28,15 26,36 19,45 26,00 3,76 3,66 3,24 3,93 2003 27,54 26,32 22,63 26,29 3,70 3,62 3,40 3,95 2004 34,62 29,20 24,88 31,07 3,95 3,67 3,43 3,99 2005 33,85 25,29 24,46 29,34 3,83 3,39 3,34 3,79 2006 39,12 23,77 24,10 31,33 4,05 3,30 3,31 3,82 2007 33,16 23,27 21,28 27,80 3,78 3,26 3,14 3,68 Fonte: Dados da pesquisa elaborado a partir de ABIOVE (2008); FAO (2008); MDICE (2008) e USDA (2008). O indicador denominado vantagem relativa na exportação (vre) demonstra que o Brasil vem elevando sua competitividade na exportação da soja em grão, enquanto diminui sua competitividade na exportação do farelo e mantém-se estável na exportação do óleo de soja, da mesma forma que a análise anterior o ano de 1997 foi determinante para aumento (soja grão) ou diminuição (farelo e óleo) no índice vre para os produtos em análise. Em 1990, o índice da soja em grão era 3,0. Os dados evidenciaram, no entanto, que esse índice chegou a

atingir 4,05 no ano de 2006, indicando uma forte tendência de aumento de produção e consequente exportação, demonstrando, dessa forma, que o Brasil tem sustentado elevada competitividade quanto à soja em grão. O Brasil é o segundo maior exportador de soja em grão, com clara tendência de que será o primeiro nos próximos anos. Analisando a Figura 1, verifica-se que as exportações brasileiras de soja em grão crescem significativamente, principalmente após o ano de 1996. A Argentina, nesse período, também elevou suas exportações, o mesmo ocorrendo com os EUA. 80.000 70.000 60.000 50.000 40.000 30.000 20.000 10.000 0 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 Brasil Argentina EUA Mundo Figura 1 Principais países exportadores de soja em grão (mil ton.) Fonte: Elaborado pelo autor a partir de USDA (2008). Há que se considerar que no ano de 1995/96 a China entrou no mercado comprando grandes quantidades de soja grão. Com relação ao farelo de soja, verifica-se que o Brasil chegou a ser o maior exportador até meados de 1997 (Figura 2), após isso se percebe uma relativa estabilidade nas exportações brasileira e um aumento nas exportações da Argentina. Já as exportações dos EUA mantiveram-se estáveis. A partir da metade da década de 1990, o aumento do consumo interno e até mesmo internacional por carnes acabou influenciando a demanda derivada de farelo, portanto consumindo parte do que seria destinado à exportação (LAZZARINI e NUNES, 1998). 60.000 50.000 40.000 30.000 20.000 10.000 0 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 Brasil Argentina EUA Mundo Figura 2 - Principais países exportadores de farelo de soja (mil ton.)

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de USDA (2008). Em se tratando do óleo de soja, conforme demonstra a Figura 3, o Brasil chegou a ser o maior exportador mundial (ano de 1995), no entanto nos anos seguintes houve uma relativa queda nas exportações e estabilização posterior. A Argentina (maior exportador na atualidade) demonstra tendência significativa de aumento na exportação desse produto. Em relação aos EUA (terceiro maior exportador), verifica-se certa oscilação, mas com tendência de estabilidade no período analisado. 12.000 10.000 8.000 6.000 4.000 2.000 0 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 Brasil Argentina EUA Mundo Figura 3 Principais países exportadores de óleo de soja (mil ton.) Fonte: Elaborado pelo autor a partir de USDA (2008). Entre os produtos do complexo soja, o óleo de soja é que possui o maior valor agregado. Em 2007, a tonelada chegou a US$ 799,75, um aumento de 45% em relação a 2006. Os preços da soja em grão atingiram US$ 317,25 a tonelada no ano de 2007, o que constituiu seu maior valor no período de 1990 a 2007. O preço do farelo alcançou sua maior cotação no ano de 1997. Verifica-se também, através do gráfico, que o óleo de soja é muito sensível ao preço da soja grão, pois, quando há tendência de queda do preço do primeiro, o segundo responde com maior intensidade, o mesmo ocorrendo quando a tendência é de alta. Já os preços da soja em grão e do farelo de soja estão bem atrelados em suas tendências (Figura 4). 900 800 700 600 500 400 300 200 100 0 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Grão Farelo Óleo Figura 4 Preço médio dos produtos do complexo soja US$/tonelada Fonte: Elaborado pelo autor a partir de IPEA (2008).

Conforme demonstra a Tabela 4, o índice de participação do complexo soja no total das exportações do país (x ) em 1990 representava 9,08%, e em 2003 (pico) alcançou 11,12%, ou seja, um aumento de 22%. O principal fator desse aumento é a exportação da soja em grão. Em 1990 representava 2,9%; em 2003 chegou a 5,87%, ou seja, um aumento de 44%. Mesmo com queda desse índice a partir de 2003, verifica-se um substancial aumento quando analisado todo o período. Já o farelo de soja, que representava 5,13% em 1990, caiu para 1,84% em 2007, indicando perda de participação em relação aos outros produtos exportados pelo país. Com relação ao óleo de soja, sua participação no total das exportações em 1990 era de 1,06% e em 2007 representou 1,03%. Notam-se, nesse item, períodos de maior significância nas exportações, porém com relativa estabilidade considerando toda análise. Tabela 4 Participação do complexo soja no total das exportações do país x Ano Grão Farelo Óleo Total 1990 2,90 5,13 1,06 9,08 1991 1,42 4,33 0,67 6,42 1992 2,26 4,46 0,81 7,53 1993 2,45 4,71 0,81 7,98 1994 3,02 4,55 1,93 9,50 1995 1,66 4,30 2,26 8,22 1996 2,13 5,72 1,49 9,35 1997 4,63 5,06 1,13 10,81 1998 4,25 3,42 1,62 9,30 1999 3,32 3,13 1,43 7,88 2000 3,97 3,00 0,65 7,62 2001 4,68 3,55 0,87 9,10 2002 5,02 3,64 1,29 9,95 2003 5,87 3,56 1,69 11,12 2004 5,59 3,39 1,43 10,42 2005 4,52 2,42 1,07 8,01 2006 4,12 1,76 0,87 6,75 2007 4,18 1,84 1,03 7,05 Fonte: Dados da pesquisa elaborados a partir de ABIOVE (2008); FAO (2008); MDICE (2008) e USDA (2008). Os ganhos de competitividade do complexo soja e sua importância crescente para a economia brasileira ficam mais evidentes quando se observa a participação do saldo comercial da soja no PIB agrícola ( y ) conforme Tabela 5. Tabela 5 Participação do saldo comercial da soja no PIB agrícola (%) y Ano Grão Farelo Óleo Total 1994 1,01 1,78 0,61 3,41 1995 0,47 1,63 0,75 2,85 1996 0,58 2,02 0,46 3,07 1997 1,53 1,93 0,38 3,84 1998 1,53 1,33 0,54 3,40 1999 1,64 1,62 0,67 3,94 2000 2,02 1,61 0,32 3,95 2001 2,91 2,29 0,54 5,74 2002 3,19 2,39 0,81 6,39

2003 3,59 2,25 1,07 6,92 2004 3,98 2,41 1,02 7,41 2005 3,29 1,76 0,79 5,84 2006 3,02 1,27 0,64 4,93 2007 2,89 1,25 0,70 4,84 Fonte: Dados da pesquisa elaborados a partir ABIOVE (2008); FAO (2008); CEPEA (2008b) e USDA (2008). No ano de 1994, sua participação representava 3,41%, chegando a 7,41% em 2004, fechando em 4,84% em 2007. A soja em grão possui a maior representatividade, pois em 1994 representava 1,01% e em 2007 2,89%. A participação do saldo comercial do farelo de soja no PIB agrícola em 1994 era de 1,78%, sendo que, em 2007, diminuiu para 1,25%. O óleo de soja em 1994 representava 0,61%, chegando a 0,70% em 2007. Esse indicador mostra novamente o substancial aumento na participação da soja grão no ano de 1997 em relação ao ano de 1996 e a queda de participação dos outros dois produtos nessa mesma análise (Tabela 5). A participação do comércio do complexo soja no comércio total dos produtos agropecuários do país ( q ) segue a mesma tendência de crescimento de importância, com destaque para o ano de 2003, em que atingiu 36,25%, conforme demonstra a Tabela 6. Novamente se destaca a soja em grão, que possui a maior representatividade, chegando a 19,44% em 2003 (pico). O farelo vem diminuindo sua participação, pois em 1996 era de 15,1%, tendo caído para 6,93% em 2006. A participação do óleo de soja em 1996 era de 4,41%, tendo caído para 3,4% em 2006. Tabela 6 Participação do comércio da soja no comércio total de produtos agropecuários do país (%) q Ano Grão Farelo Óleo Total 1996 6,90 15,10 4,41 26,41 1997 14,45 14,03 3,46 31,94 1998 12,80 9,58 5,19 27,58 1999 10,10 9,13 4,60 23,83 2000 15,07 10,83 2,57 28,47 2001 15,74 11,55 2,90 30,19 2002 17,00 11,96 4,40 33,36 2003 19,44 11,43 5,38 36,25 2004 18,56 11,29 4,75 34,60 2005 16,25 8,70 3,81 28,76 2006 15,95 6,93 3,40 26,28 Fonte: Dados da pesquisa elaborados a partir de ABIOVE (2008); CEPEA (2008b); FAO (2008), MDICE (2008) e USDA (2008). Os dados demonstram a significativa participação da soja brasileira no comércio internacional desse produto, bem como também a importância no cenário nacional, seja como dinamizador do saldo da balança comercial, seja como ingrediente utilizado na composição de outros produtos (farelo de soja ração animal) ou mesmo como nova fonte de energia (biocombustivel). 6. Considerações finais

Este trabalho analisou a competitividade do complexo soja (soja grão, farelo de soja e óleo de soja) em relação ao mercado externo e a sua participação frente aos demais produtos do mercado interno, bem como sua importância na geração de divisas. Isso posto, cabem alguns comentários pertinentes, à guisa da conclusão. Com o indicador market-share, que demonstra a participação percentual do país no mercado internacional de determinado produto, foi possível visualizar a crescente importância do complexo soja brasileiro no mercado externo, sendo este responsável por 27,8% do total mundial exportado em 2007. Essa importância é confirmada pelo indicador da vantagem relativa na exportação (vre), demonstrando que a cadeia produtiva da soja brasileiro é competitiva frente aos outros países e a outros produtos, pois, se o índice fosse zero, caracterizaria uma situação neutra. O Brasil inicia o período analisado (1990) com vre = 3,79 e chegou a 2007 com o índice de 3,68, ou seja, uma pequena diminuição. Mesmo com o aumento da participação da soja grão (3,0 em 1990 e 3,78 em 2007), o farelo e o óleo de soja perderam participação nesse mesmo período (o índice do farelo em 1990 era 3,89 e passou para 3,26 em 2007 e o índice do óleo era 3,21 em 1990 e passou para 3,14 em 2007). A participação do complexo soja no total das exportações do país ( x ) revela uma queda no período analisado. Em 1990 era 9,08% e passou para 7,05% em 2007. Essa ocorrência pode estar relacionada ao aumento das exportações de produtos transformados industrialmente, fato agravado pela diminuição das exportações de farelo e de óleo de soja do complexo em análise. Corroborando a hipótese anterior, verifica-se um aumento na participação do saldo comercial da soja no PIB agrícola ( y ), de 3,41% em 1994 e de 4,84% em 2007. Já a participação do comércio da soja no comércio total de produtos agropecuários do Brasil ( q ) oscilou em todo o período, pois em 1996 correspondia a 26,41% e, em 2006, a 26,28%. Nesse contexto, verifica-se, a partir das análises propostas, que o aumento da competitividade do complexo soja se baseia principalmente no desempenho da soja em grão, onde todos os índices levantados demonstram que, a partir da implementação da Lei Kandir, houve uma queda da participação tanto do farelo de soja como do óleo de soja nas exportações brasileiras e também na relação com os demais produtos agrícolas brasileiros. O presente trabalho não tem subsídios para afirmar que a diminuição da competitividade do farelo e do óleo de soja está diretamente ligada à Lei Kandir, no entanto é fato que essa lei beneficiou sobretudo os produtos in natura. Outra ocorrência diz respeito aos retornos negativos dos produtores de soja, na medida em que não estão levando em consideração, para a aferição de custos totais de produção, o valor da terra e a depreciação da infraestrutura, o que pode estar mascarando um hipotético lucro, onde as consequências emergirão num futuro próximo. A esse respeito, Farina (1999) expõe o entendimento de que a atual participação de mercado se dá pela competitividade passada, decorrente de vantagens competitivas já adquiridas. A capacidade de ação estratégica e os investimentos em recursos humanos, em equipamentos e em gestão determinam a competitividade futura, uma vez que estão associados à preservação, à renovação e à melhoria das vantagens competitivas dinâmicas. Não obstante, de modo geral, os resultados ora apresentados ressaltam a importância do complexo soja brasileiro tanto no que se refere à contribuição desse setor para ampliação de divisas no cenário internacional como também demonstra importância e crescente vantagem competitiva da soja em grão frente aos países concorrentes. Referências

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