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Transcrição:

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Experimento Experimento aleatório (E ): é um experimento que pode ser repetido indenidamente sob condições essencialmente inalteradas. Embora não possamos descrever um resultado particular do experimento, podemos descrever o conjunto de todos os possíveis resultados e as probabilidades associadas a eles. Isso porque repetindo o experimento um grande número de vezes, uma regularidade surgirá. A descrição de um experimento envolve um procedimento a ser realizado e uma observação a ser constatada. Ex 1: Jogue um dado e observe o número mostrado na face de cima. Ex 2: Jogue uma moeda 4 vezes e observe o número de caras obtido. Ex 3: Receba duas cartas de um baralho e observe quantos ases foram obtidos. Ex 4: Um míssil é lançado. Em momentos especícos t 1 t 2,..., t n, a altura do míssil acima do solo é registrada.

Espaço Amostral Espaço amostral (Ω): é o conjunto de todos os resultados possíveis de um experimento E. Note a semelhança do espaço amostral com o conjunto fundamental U. Um espaço amostral está sempre associado a um experimento e este conjunto nem sempre é composto de números. Ex 1: Ω = {1, 2, 3, 4, 5, 6}. Ex 2: Ω = {0, 1, 2, 3, 4}. Ex 3: Ω = {0, 1, 2}. Ex 4: Ω = {h 1, h 2,..., h n h i 0, i = 1, 2,..., n}. Ex 5: Jogue uma moeda 2 vezes e obtenha a sequência de caras e coroas obtidas. Ω = {(H, H), (H, T ), (T, H), (T, T )}. O número de elementos de um espaço amostral pode ser nito, innito enumerável ou innito não-enumerável. Todo resultado possível de um experimento corresponde a um, e somente um ponto w Ω, sendo que resultados distintos correspondem a pontos distintos.

Eventos Evento: um evento A Ω é um conjunto de resultados possíveis do experimento E, mas não necessariamente todos. Ex 1: Um número par ocorre, A = {2, 4, 6}. Ex 2: Duas caras ocorrem, A = {2}. Ex 3: Obtemos apenas um Ás, A = {1}. Ex 5: Obtemos pelo menos uma cara, A = {(H, H), (H, T ), (T, H)}. Qualquer um desses eventos é um subconjunto de Ω. O evento Ω é chamado evento certo; o evento Ø é chamado evento impossível, e o evento {ω} é dito elementar.

Operações com eventos Eventos compostos: A B é o evento A ou B, A B é o evento A e B e A é o evento não A. Se A 1,..., A n for qualquer coleção nita de eventos, então n i=1 A i será o evento que ocorrerá se, e somente se, ao menos um dos eventos A i ocorrer. Já n i=1 A i será o evento que ocorrerá se, e somente se, todos os eventos A i ocorrerem. Os mesmos resultados se estendem para coleções innitas enumeráveis A 1, A 2,..., A n,..., sendo i=1 A i e i=1 A i os respectivos conjuntos. Dependência: A B signica que a ocorrência do evento A implica a ocorrência do evento B. Eventos mutuamente excludentes: A B = Ø signica que A e B são eventos que nunca ocorrem juntos, ou disjuntos.

Características dos eventos Produto cartesiano de eventos: se executarmos um experimento E duas vezes, então nosso espaço amostral será ΩxΩ e os eventos AxA. Isso pode ser estendido para n vezes. Proposição: se o espaço amostral Ω for nito, com n elementos, entao existirá exatamente 2 n subconjuntos de Ω, ou seja, eventos. Ex: lançar uma moeda e vericar o resultado. Ω = {H, T }. Número de subconjuntos é 2 2 = 4, sendo eles {Ø},{H},{T},{H,T}. Dica: para enumerar subconjuntos de um espaço amostral basta pensar em termos matemáticos quais são os subconjuntos de Ω. Não pensem em termos dos resultados do experimento.

Denição clássica de probabilidade A denição clássica de probabilidade aplica-se apenas se o espaço amostral é nito e os resultados do experimento, ω Ω, são igualmente verossímeis: nº de resultados favoráveis à A nº de elementos de A P(A) = = nº de resultados possíveis nº de elementos de Ω.. Exemplo Esta denição de probabilidade é aplicável apenas a um número restrito de problemas (que envolvem escolha ao acaso e resultados nitos do experimento). E = jogar um dado e observar o número de cima Ω = {1, 2, 3, 4, 5, 6}; A = obter um número par A = {2, 4, 6} ; P(A) = 3 6 = 1 2 = 50%.

Denição frequentista de probabilidade Repetindo n vezes um experimento E, podemos denir a frequência relativa do evento A como f A = n A n. Se repetirmos muitas vezes E, de modo que n, teremos a denição frequentista de probabilidade. n A P(A) = lim n n. Apenas podemos utilizar esta denição quando temos a possibilidade de realizar o experimento muitas vezes, sendo o resultado suscetível ao valor de n.

Probabilidade geométrica A denição de probabilidade geométrica nos diz que dois eventos tem a mesma probabilidade se, e somente se, eles têm a mesma área. P(A) = área de A área de Ω. Exemplo E = escolher um ponto ao acaso no círculo unitário; Ω = {(x, y) R x 2 + y 2 1}; A = 1ª coordenada do ponto escolhido é maior que a 2ª; A = {(x, y) Ω x > y}; P(A) = π /2 π = 1 2. (Lembre que a área de um círculo é A = π r 2 ). Essa probabilidade é mais utilizada com espaços amostrais innitos não-enumeráveis.

Denição matemática de probabilidade A probabilidade de um evento A Ω associado à E, e denotada por P(A), é um número real que satisfaz as seguintes propriedades: 1 0 P(A) 1; 2 P(Ω) = 1; 3 Se A B = Ø (eventos mutuamente excludentes), então P(A B) = P(A) + P(B); 4 Se A 1, A 2,..., A n,..., forem, dois a dois, eventos mutuamente excludentes, então P(U i=1 A i) = P(A 1 ) +... + P(A n ) +... A propriedade 3 também vale para um número nito de uniões, P(U n i=1 A i) = n i=1 P(A i). Da propriedade 3 decorre que P(Ø)=0, pois P(A Ø) = P(A) + P(Ø) = P(A). Das propriedades 2 e 3 decorre que P(Ā) = 1 P(A), pois P(A Ā) = P(A) + P(Ā) = P(Ω) = 1.

Probabilidade da união de eventos Teorema Se A e B forem dois eventos quaisquer, não necessariamente excludentes, então: P(A B) = P(A) + P(B) P(A B). Demonstração. Note que A Ā = Ω e A B = (A B) (A Ā) = A (B Ā), sendo A e (B Ā) eventos excludentes, de modo que P(A B) = P(A) + P(B Ā) (1). Analogamente, B = B (A Ā) = (B A) (B Ā), de modo que P(B) = P(A B) + P(B Ā) (2). Juntando (1) e (2), temos P(A B) = P(A) + P(B) P(A B).

Probabilidade da união de eventos Teorema Se A, B e C forem 3 eventos quaisquer, então: P(A B C) = P(A) + P(B) + P(C) P(A B) P(A C) P(B C) + P(A B C). Demonstração. Escreva A B C na forma (A B) C e aplique o resultado do teorema anterior, de modo que P((A B) C) = P(A B) + P(C) P((A B) C). Note que P((A B) C) = P((A C) (B C)) = P(A C)+P(B C) P(A B C), e P(A B) = P(A) + P(B) P(A B). Logo, P((A B) C) = P(A)+P(B) P(A B)+P(C) P(A C) P(B C)+P(A B C). O teorema acima pode ser estendido para n eventos.

Probabilidade de subconjuntos Teorema Se A B, então P(A) P(B). Demonstração. Como A B = B, podemos decompor B em dois eventos mutuamente excludentes, B = A (B Ā), de modo que P(B) = P(A) + P(B A) P(A). Note que quaisquer das denições de probabilidade vistas anteriormente devem respeitar as propriedades matemáticas que desenvolvemos. Quando atribuímos uma probabilidade a um evento A chamamos ele de evento aleatório.

Álgebra de eventos aleatórios Uma álgebra de eventos aleatórios, A, é a coleção (classe) de subconjuntos de Ω que possui algumas propriedades básicas: 1. Ω A; 2. B A B A; 3. A A e B A A B A. As seguintes propriedades decorrem de 1, 2 e 3: 4. Ø A; 5. n e B 1, B 2,...B n A, temos n B i A e n B i A. i=1 i=1 Dizemos que a álgebra é fechada para um número nito de aplicações das operações e. Se estas propriedades forem válidas para um número innito enumerável de aplicações de e, então chamamos A de σ álgebra.

Espaço de probabilidades O nosso modelo probabilístico estará situado dentro de um espaço de probabilidade (Ω, A, P), constituído de: 1 Um conjunto não-vazio Ω de resultados possíveis do experimento E, chamado espaço amostral; 2 Uma álgebra de eventos aleatórios A, composta por todos os subconjuntos de Ω; 3 Uma probabilidade P denida sobre os conjuntos de A, com as propriedades matemáticas vistas anteriormente. É nesse espaço que trabalharemos, sendo sempre importante identicar Ω, A e P.