TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA PARAÍBA GABINETE DO DESEMBARGADOR JOÃO ALVES DA SILVA ACÓRDÃO APELAÇÃO CÍVEL N. 200.2011.007481-8/001 RELATORA : Vanda Elizabeth Marinho Juíza Convocada APELANTE : Adriano Damasceno de Lima (Adv. Flaviano Sales Cunha Medeiros) APELADO : Vera Cruz Seguradora SJA (Adv. Rostand Inácio dos Santos) APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA. SEGURO DPVAT. IMPROCEDÊNCIA. FUNÇÃO MASTIGATÓRIA PREJUDICADA. INCAPACIDADE PARA O TRABALHO. INOCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DO DEVER DE INDENIZAR. DESPROVIMENTO DO RECURSO. - Os requisitos exigíveis ao pagamento da indenização, estão corporificados na comprovação do acidente e do dano causado, conforme previsto na Lei 6.194/74, artigo 52, caput. - "A perda de dentes, com consequente comprometimento parcial da função mastigatória, por não comprometer minimamente a capacidade labora tiva do autor, não importa em dano apto à autorizar o pagamento de indenização decorrente de seguro obrigatório". VISTOS, relatados e discutidos estes autos, em que figuram como partes as acima nominadas. ACORDA a Quarta Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Paraíba, à unanimidade, negar - provimento ao recurso, nos termos do voto da relatora, integrando a presente decisão a súmula de julgamento de fl. 134. RELATÓRIO Trata-se de apelação cível interposta por Adriano Damasceno de Lima contra sentença proferida pelo MM. Juizo de Direito da 16 Vara Cível da Comarca da Capital, que, nos autos da ação de cobrança de seguro obrigatório por ela ajuizada, julgou improcedente o pedido. Condenou, ainda, o autor em custas e Vanda Elizabeth Marinho - Juiza Convocada
honorários advocatícios arbitrados em 10% (dez por cento) sobre o valor da causa, com a ressalva do art. 12 da Lei 1.060150. Argui o recorrente que "em virtude do acidente, ficou acometido de sequela permanente da função mastigatória, limitação de abertura da boca, além de prejuízo na fonação e estética" e que o comprometimento da função mastigatória também prejudica a função digestiva, visto ser a primeira etapa do processo digestivo. Assevera que a própria tabela do seguro DPVAT estabelece que lesões crânio-faciais que cursem em prejuízo de função digestiva geram o direito ao segurado à indenização do seguro DPVAT. Por fim, pugnou pelo provimento do recurso. Contra rrazões apresentada pelo promovido (ti. 97/105). Diante da desnecessidade de intervenção do Ministério Público, deixo de remeter os autos à Procuradoria-Geral de Justiça, nos termos do art. 169, 1 2, do RITJPB c/c o art. 82 do CPC. É o relatório. VOTO. Colhe-se dos autos que o autor, ora apelante, aforou a presente demanda objetivando receber a indenização do seguro DPVAT, na importância de R$ 13.500,00 (treze mil e quinhentos reais), em razão de acidente de trânsito ocorrido em 11/08/2010. O feito tomou seu trâmite regular, sobrevindo a sentença ora guerreada que, conforme relatado, julgou improcedente o pleito, por entender que o autor não comprovou a incapacidade permanente para o trabalho. Impõe-se destacar que o pagamento da indenização pleiteada exige a prova do acidente e a da incapacidade para o trabalho, elementos estes que não estão suficientemente atendidos com a juntada dos documentos de fls. 12/16, fato, isoladamente, que não tem o condão de lhe conferir o direito à verba pleiteada. O autor colacionou aos autos laudo médico pericial, no qual constam os quesitos da seguinte forma: 1) Há ferimento ou ofensa física? SIM 2) Qual meio ocasionou? AÇÃO CONTUNDENTE 3) Houve perigo de morte? NÃO Vanda Elizabeth Marinho -Juíza Convocada
4) Resultou debilidade permanente de membro, sentido ou função? SIM, DA FUNÇÃO MASTIGATÓRIA. 7) Resultou perda ou inutilização de membro, sentido ou função? NÃO. 8) Originou incapacidade permanente para o trabalho ou enfermidade incurável? NÃO 9) Resultou deformidade permanente? NÃO. Diante deste quadro, o MM. juiz a quo, acertadamente, entendeu não estar configurado o dever de indenizar, vez que o objeto da demanda é a percepção de indenização por debilidade permanente. A indenização prevista no art. 3 9.caput, c/c inc. II, da Lei 6.194/74 se adstringe aos casos em que a "çiitima do acidente restar incapacitada ao desempenho das atividades laborais. Pelo que se extrai dos autos, o autor,não chegou a ter perda ou inutilização de membro, sentido ou função, nem originou incapacidade permanente para o trabalho ou enfermidade incurável, tampouco resultou deformidade permanente, como comprova o Laudo Pericial acostado aos autos (fl. 14). Destarte, os requisitos exigíveis ao pagamento da indenização estão corporificados na comprovação do acidente e do dano causado, consistente em invalidez permanente ou morte, conforme previsto na Lei 6.194/74, artigos 3 2 e 5Q; Tais requisitos, como bem ressaltado pelo magistrado sentenciante, não se presumem, ao revés, exige-se plena comprovação. No caso dos autos, a limitação da função mastigatória decorrente da perda de dentes, não tem o condão de autorizar a percepção da indenização pretendida, eis que ausente, na hipótese, qualquer limitação à capacidade laborativa do autor. Ademais, o laudo é claro ao afirmar que apenas a função mastigatória restou comprometida, não havendo se falar em perda ou inutilização de membro, sentido ou função ou mesmo incapacidade permanente para o trabalho ou enfermidade incurável. Assim já entendeu o Tribunal de Justiça da Paraíba: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA. SEGURO DPVAT. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO. IRRESIGNAÇÃO. PRELIMINAR SUSCITADA EM CONTRA-RAZÕES. AUSÊNCIA DE INTERESSE PROCESSUAL. ESGOTAMENTO DA VIA ADMINISTRATIVA. DESNECESSIDADE. REJEIÇÃO - O recebimento do seguro DPVAT não está condicionado ao esgotamento da via administrativa. MÉRITO. PERÍCIA JUDICIAL QUE ATESTA Vanda Elizabeth Marinho Juíza Convocada
PERDA DE DENTES E CONSEQUENTE COMPROMETIMENTO PARCIAL DA FUNÇÃO MASTIGATÓRIA. INOCORRÊNCIA DE DEBILIDADE QUE AFETE A CAPACIDADE LABORATIVA DO AUTOR. AUSÊNCIA DO DEVER DE INDENIZAR. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. APELO DESPROVIDO. - Os requisitos exigíveis ao pagamento da indenização, estão corporificados na comprovação do acidente e do dano causado, conforme previsto na Lei 6.194/74, artigo 52, caput. - A perda de dentes, com consequente comprometimento parcial da função mastigatória, por não comprometer minimamente a capacidade laborativa do autor, não importa em dano apto à autorizar o pagamento de indenização decorrente de seguro obrigatório. TJPB - Acórdão do processo n2 05420060004931001 - Órgão (2 4 Câmara Cível) - Relator DESA. MARIA DE FATIMA M. B. CAVALCANTI - j. em 21/07/2009 As alegações do autor, que sofreu debilidade permanente na função mastigatória, não merecem prosperar, posto que sua incapacidade total ou parcial para o trabalho, não restou comprovado nos autos, tarefa esta que lhe cabia, a teor do art. 333, I do CPC. Frise-se, por oportuno, que a Lei de Regência não permite deduzir que o prejuízo da função mastigatória possa ser tida como fato gerador da indenização, deixando claro como hipótese de incidência somente a invalidez permanente, seja parcial ou completa. (511is o legislador, ao utilizar a expressão de "invalidez permanente", alcançar aqueles casos em que a lesão sofrida pela vítima o incapacite ao desempenho às atividades laborais, sendo insuficiente à caracterização lesões que, embora afetem permanentemente a compleição física, não impedem o desempenho do seu trabalho. O conceito de invalidez, neste caso, está ligado à ausência de autonomia, à incapacidade da pessoa de realizar por si própria as tarefas profissionais que desempenhava anteriormente ao acidente. Nos autos, o exame pericial de fl. 11 revela que o autor, em decorrência do acidente, sofreu um prejuízo da função mastigatoria, mas que, conforme atesta o laudo, não gerou incapacidade para o trabalho tampouco debilidade permanente. Logo, como não restou comprovada a incapacidade da parte a permitir o pagamento da indenização por invalidez permanente, como determina a Lei 6.194/74, não faz, o autor, jus a referida compensação. Vanda Elizabeth Marinho Juíza Convocado
Destarte, amparado em todos os fundamentos expostos, nego provimento ao recurso apelatório, mantendo incólume a sentença guerreada. É como voto. DECISÃO A Câmara decidiu, por votação unânime, negar provimento ao recurso, nos termos do voto da relatora. Presidiu o julgamento o Excelentíssimo Desembargador Frederico Martinho da Nóbrega Coutinho, com direito a voto, dele participando - a De Vanda Elizabeth Marinho (juíza convocada para substituir o Des. João Alves da Silva), relatora, e o Desembargador Romero Marcelo da Fonseca Oliveira. Presente a. do Minis-tério Público, na pessoa da Excelentíssima Sra. Dra. Jacilene Nicolau Faustino Gomes, Procuradora de Justiça. Sala das Sessões da Quarta Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Paraíba, em 03 de abril de 2012 (data do julgamento). João Pessoa, 09 de abril de 2012. Vanda Elizabeth Marinho Juíza Convocada Vanda Elizabeth Marinho-Juíza Convocada