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Transcrição:

Rotor quântico Vamos tratar o caso da rotação de um corpo rígido, que corresponde a 2 massas pontuais, ligadas por uma barra rígida e sem massa. Consideremos rotação livre em torno de um eixo perpendicular à barra. A energia cinética é então: Quanticamente o rotor é descrito por uma função de onda, tal que: l A função de onda do estado estacionário é dada por: sendo ψ e E determinados pela equação: que nos remete aos harmônicos esféricos. Assim: com os autovalores da energia dados por: Assim, as funções de onda dos estados estacionários são univocamente determinadas por: 1

Notem que as energias só dependem de, e que cada apresenta 2 + 1 diferentes funções de onda, correspondentes a diferentes valores de m. Ou seja, temos 2 + 1 estados degenerados para cada E. As funções de onda são normalizadas e são autofunções dos operadores L 2 e L z : e Por conta da dependência em φ dos harmônicos esféricos, a densidade de probabilidade é independente de φ: Essa propriedade está ligada ao princípio da incerteza. A relação entre L z e φ é a mesma que a relação entre p x e x: px ih e Lz ih Assim: x φ Como Ψ m é autofunção de L z, a incerteza em L z é zero e a em φ é infinita, portanto a distribuição nessa variável é uniforme. Vejamos algumas densidades de probabilidade angulares, para o caso = 1: e 2

Harmônicos esféricos 3

As distribuições em são mostradas nas figuras ao lado: a distância da origem até a linha representa o valor da probabilidade naquela direção. A independência de φ permite a visualização da distribuição de probabilidade no espaço imaginando a figura formada pela rotação das figuras desenhadas, como sugerido no gráfico. Suponhamos agora que desejemos medir a probabilidade de encontrar o rotor em uma certa orientação. Preparamos um conjunto com muitos rotores idênticos, todos com a mesma energia E. Como os estados são degenerados, 2 + 1 para cada E, temos que fazer a média sobre as densidades de probabilidade dos diferentes estados. No caso = 1: e 4

O resultado constante reflete a simetria rotacional do problema. O resultado independe dos ângulos porque a dinâmica não pode identificar uma direção privilegiada no espaço, que poderia ser usada como escolha do eixo z. Paridade Descreve o comportamento de uma função quando de uma operação de inversão de coordenadas: x x; y y; e z z. No caso de coordenadas polares esféricas essa inversão é um pouco mais complexa: r r; θ π θ; e φ π + φ. 5

No caso dos harmônicos esféricos, ficamos com: Que mantém seu módulo, mas pode mudar o sinal. As autofunções de são dadas pelos polinômios: sendo os P conhecidos como polinômios de Legendre. Nesse caso, a operação de paridade produz uma mudança de sinal, pois: pois Os polinômios de Legendre têm a propriedade de serem compostos de potências pares de para par e potências ímpares para ímpar. Portanto: E, assim, os P m comportam-se como: 6

Portanto, a dependência das autofunções de é: E, assim, a paridade dos harmônicos esféricos fica: Dessa forma, vemos que os estados estacionários, além das propriedades associadas ao momento angular, têm paridade bem definida, que é determinada apenas por : estados com par, têm paridade par e com ímpar, paridade ímpar. Isso vai ser importante mais tarde. Quantização da energia Até agora só tratamos da parte angular, que dependia apenas da simetria do problema, ou seja, do fato da força ser central. A dinâmica depende da forma de V(r), e se manifesta na solução da parte radial: que pode ser escrita de forma equivalente como: 7

que é análoga à eq. de Schrödinger em 1D. Definindo novamente um potencial efetivo: ficamos com uma forma análoga àquela que nos definiu as propriedades das funções de onda ψ(x). Portanto as soluções rr(r) para um potencial V eff (r) devem apresentar as mesmas propriedades que as ψ(x) para um potencial V(x). Alguns cuidados são necessários, pois x varia em [, ] e 1D, enquanto r varia em [0, ] em 3D. Isso nos leva a concluir que a paridade não se aplica à dependência em r, ficando restrita à parte angular. Como no caso em x, a eq. de Schrödinger deve apresentar uma família de soluções apropriadas, correspondendo a um conjunto de energias permitidas. Uma solução com energia E será aceitável se houver uma função R(r) que seja contínua, unívoca e finita no intervalo [0, ]. A dependência explícita de V eff com é importante, pois mostra que a forma da eq. diferencial muda com a escolha de. Isso mostra que cada deve ter uma seqüência de soluções para E e R(r) e que elas devem depender de um par de índices, correspondentes a dois números quânticos: e 8

Então podemos reescrever a eq. da parte radial como uma eq. de autovalores: Assim, as soluções estacionárias devem apresentar a seguinte estrutura: E podemos notar que o nosso problema 3D requer, como esperado, o aparecimento de 3 números quânticos. Como vimos, e m estão associados à parte angular da função de onda: e E Ψ deve ter paridade bem definida, pois deve obedecer: na transformação E, finalmente: e podemos assumir que n indica os níveis de energia para um dado, de tal forma que as energias cresçam com n, como no caso 1D. Sabemos que a energia de um estado aumenta com o número de nós da função. Isso deve também ser verdade para rr(r), pois satisfazem eqs. análogas. Assim, n deve ser um número quântico dos nós radiais, indicando o número de nós na função rr(r). 9

Então podemos tirar uma primeira conclusão a respeito do problema de forças centrais: devem existir funções de onda que sejam autofunções simultâneas da energia, do quadrado do momento angular e de sua componente z. Isso significa que podemos determinar essas 3 quantidades ao mesmo tempo e com incerteza 0. Devemos também notar que o número quântico m não aparece como índice da energia quantizada. Isso é assim porque ele não aparece na equação diferencial e portanto as soluções correspondentes não podem depender dele. Isso indica a existência de uma degenerescência, uma vez que E n não depende de m. Para cada valor de E n existem 2 + 1 funções de onda diferentes, uma para cada possível valor de m. Essa degenerescência é mais uma conseqüência da simetria rotacional da força central. A força não provê uma direção natural para a escolha do eixo z, e, portanto, observáveis como a energia não podem depender de m, o número quântico associado a essa escolha. Uma observação importante, de caráter geral, pode ser tirada examinando a eq. radial para r pequeno: 10

2 dos termos à esquerda vão a infinito se r 0. Vamos assumir que a energia potencial varie mais lentamente do que r 2 (comoaso do potencial coulombiano), de forma que possamos desprezar o termo V(r) para r 0. A solução radial próxima da origem deve ter a forma: se substituindo, temos: para Esses resultados mostram que, se V(r) é bem comportado, na origem o comportamento da função é dominado pela parte centrífuga, que depende de. Note que essa parte é sempre repulsiva e tende a afastar a função de onda da origem. Vamos analisar um caso simples: 11

Observáveis Determinação de probabilidades: medidas de Ψ(r,θ,φ,t) 2 num dω em torno de uma certa orientação θ, em um número grande de sistemas. Mas o elemento de volume em coordenadas esféricas é: Pela condição de normalização, temos que: Portanto: 12

E pela propriedade de normalização dos harmônicos esféricos, temos que: O que nos permite introduzir uma densidade de probabilidade radial, dada por: sujeita à condição de normalização: 13