3 CONSEQUÊNCIAS DA TEORIA DE CAUCHY

Documentos relacionados
2 TEORIA DE CAUCHY-GOURSAT

Análise Complexa e Equações Diferenciais 2 ō Semestre 2013/2014

Problemas Singulares e Métodos Assimptóticos Desenvolvimento da solução de uma EDO em série de potências na vizinhança de uma singularidade regular

Análise Complexa e Equações Diferenciais 1 ō Semestre 2014/2015

RESOLUÇÃO DO PRIMEIRO TESTE 31 DE OUTUBRO DE 2015 MEMEC,LEAN. f(x + iy) = x + x 3 + i(1 + y + y 2 )

6 SINGULARIDADES E RESÍDUOS

Invariância da integral por homotopia, fórmula de Cauchy e séries de Taylor

ANÁLISE MATEMÁTICA IV

Análise Complexa e Equações Diferenciais Guia 3 João Pedro Boavida. 21 a 28 de Setembro

Análise Complexa e Equações Diferenciais 1 o Semestre 2012/2013

ANÁLISE COMPLEXA E EQUAÇÕES DIFERENCIAIS. Apresente e justifique todos os cálculos

21 de Junho de 2010, 9h00

Fichas de Análise Matemática III

ANÁLISE MATEMÁTICA IV FICHA SUPLEMENTAR 1. (1) Descreva as regiões do plano complexo definidas por z i c z, onde c é um número real não negativo.

3 ā Prova de MAT Cálculo IV - IFUSP 2 ō semestre de /12/2009 Prof. Oswaldo Rio Branco de Oliveira

Convergência, séries de potência e funções analíticas

1 Primeira lista de exercícios

Convergência, séries de potência e funções analíticas

ANÁLISE COMPLEXA E EQUAÇÕES DIFERENCIAIS AULA TEÓRICA 7 5 DE MARÇO DE 2018

ANÁLISE MATEMÁTICA IV FICHA 3 TEOREMA DOS RESÍDUOS EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA ORDEM

Prova: Usando as definições e propriedades de números reais, temos λz = λx + iλy e

Análise Complexa e Equações Diferenciais 1 ō Semestre 2013/2014

Análise Matemática IV Problemas para as Aulas Práticas

1.1 Função Exponencial

(x, y) = 0. Análise Complexa e Equações Diferenciais 2 o Semestre 2016/ de abril de 2017, às 9:00 Teste 1 versão A

4.1 Função Complexa de uma Variável Real. 4.2 Contornos. 1. Calcule as seguintes integrais: Z =4 e it dt. Z 1 e wt dt; (Re w > 0) (c)

Análise Complexa e Equações Diferenciais 2 ō Semestre 2009/2010

Análise Complexa e Equações Diferenciais Guia 6 João Pedro Boavida. 19 a 28 de Outubro

Análise Matemática II - 1 o Semestre 2001/ o Exame - 25 de Janeiro de h

ANÁLISE MATEMÁTICA IV LEEC SÉRIES, SINGULARIDADES, RESÍDUOS E PRIMEIRAS EDO S. disponível em

Análise Matemática IV

EXERCÍCIOS DE ÁLGEBRA LINEAR

3.1 Limite & Continuidade

1.1 Números Complexos

Análise Complexa e Equações Diferenciais 1 o Semestre 2012/2013

EXERCÍCIOS DE ÁLGEBRA LINEAR


Cálculo Diferencial e Integral I

Cálculo Diferencial e Integral II 1 o Teste (Versão A)

Cálculo Diferencial e Integral II

ANÁLISE COMPLEXA E EQUAÇÕES DIFERENCIAIS AULA TEÓRICA 5 28 DE FEVEREIRO DE 2018

GABARITO. 1 a PROVA - DISCIPLINA MTM 5186: CÁLCULO IV Professor: Matheus C. Bortolan

17 a Aula AMIV LEAN, LEC Apontamentos

1 Números Complexos e Plano Complexo

13 AULA. Regra da Cadeia e Derivação Implícita LIVRO. META Derivar funções compostas e funções definidas implicitamente.

Apostila de Cálculo Diferencial e Integral 3 - Funções de uma Variável Complexa.

12 AULA. ciáveis LIVRO. META Estudar derivadas de funções de duas variáveis a valores reais.

4.1 Preliminares. 1. Em cada caso, use a de nição para calcular f 0 (x) : (a) f (x) = x 3 ; x 2 R (b) f (x) = 1=x; x 6= 0 (c) f (x) = 1= p x; x > 0:

Cálculo Diferencial e Integral II 2012/13 1 o semestre

ANÁLISE MATEMÁTICA IV

LEEC Exame de Análise Matemática 3

7 temos que e u =

Funções analíticas LISTA DE EXERCÍCIOS

Aula 1 Análise Complexa e Equações Diferenciais 2 o Semestre 2018/19 Cursos: LEIC-A MEBiol MEAmbi MEEC MEQ

Cálculo II Exame de 2 a Época, 28 de Junho de 2000

ANÁLISE MATEMÁTICA IV 1 o Teste (LEAM, LEBL, LEC, LEEC, LEM, LEGM, LEMAT, LEN, LEQ, LQ) Justifique cuidadosamente todas as respostas.

Sobre Desenvolvimentos em Séries de Potências, Séries de Taylor e Fórmula de Taylor

Universidade Federal do Espírito Santo Prova de Álgebra II Prof. Lúcio Fassarella DMA/CEUNES/UFES Data: 07/05/2015

Análise Complexa e Equações Diferenciais

Revisão do Teorema de Green

Primitivas e a integral de Riemann Aula 26

Mais Alguns Aspectos da Derivação Complexa

ANÁLISE MATEMÁTICA 3 APONTAMENTOS DAS AULAS TEÓRICAS PARTE A ANÁLISE COMPLEXA

Análise Complexa e Equações Diferenciais 1 o Semestre de 2011/ o Teste - Versão A LEAN, LEIC-A, MEAer, MEEC, MEMec) 5 de Novembro de 2011, 10h,

Máximos e mínimos UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CÁLCULO II - PROJETO NEWTON AULA 22. Assunto: Máximos e mínimos

Integrais. ( e 12/ )

n=1 a n converge e escreveremos a n = s n=1 n=1 a n. Se a sequência das reduzidas diverge, diremos que a série

Exercícios de revisão

Sucessões. , ou, apenas, u n. ,u n n. Casos Particulares: 1. Progressão aritmética de razão r e primeiro termo a: o seu termo geral é u n a n1r.

Um espaço métrico incompleto 1

Matemática 2. Teste Final. Atenção: Esta prova deve ser entregue ao fim de 1 Hora. Deve justificar detalhadamente todas as suas respostas.

Séries de Laurent e Teoremas de Cauchy

Concluímos esta secção apresentando alguns exemplos que constituirão importantes limites de referência. tan θ. sin θ

Provas de Análise Real - Noturno - 3MAT003

Espaços vectoriais reais

c + 1+t 2 (1 + t 2 ) 5/2 dt e 5 2 ln(1+t2 )dt (1 + t 2 ) 5/2 dt (c 5/2 + (1 + t 2 ) 5/2 (1 + t 2 ) 5/2 dt ϕ(t) = (1 + t 2 ) 5/2 (1 + t).

1 o Semestre 2018/2019 MEC

Notas Sobre Sequências e Séries Alexandre Fernandes

Valores e vectores próprios

Análise Matemática I 1 o Exame (Grupos I, II, III, IV, V e VI) 2 o Teste (Grupos IV, V e VI)

Análise Matemática II TESTE/EXAME

Exercícios Complementares 6.3

Álgebra. Exercícios de auto-avaliação

Derivadas Parciais Capítulo 14

1.1 Teorema fundamental da álgebra

Exame de Matemática II - Curso de Arquitectura

Espaços vectoriais reais

Cap. 5 Estabilidade de Lyapunov

Universidade Estadual de Montes Claros Departamento de Ciências Exatas Curso de Licenciatura em Matemática. Notas de Aulas de

Notas sobre primitivas

Bola Aberta UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CÁLCULO II - PROJETO NEWTON AULA 10. Assuntos: Continuidade de funções e limite

MAT146 - Cálculo I - Extremos Locais e Globais. Alexandre Miranda Alves Anderson Tiago da Silva Edson José Teixeira

Universidade de São Paulo Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz Departamento de Ciências Exatas

ANÁLISE MATEMÁTICA IV

Critérios de Avaliação A avaliação ao longo das actividades lectivas será periódica, sendo efectuados dois testes. Os testes serão nos dias 7 de Abril

A Derivada. Derivadas Aula 16. Alexandre Nolasco de Carvalho Universidade de São Paulo São Carlos SP, Brazil

Proposta de Resolução do Exame do 12º ano Matemática A (Prova 635) Grupo I

QUESTÕES ABERTAS ESPECÍFICAS PARA OS FORMANDOS DE BACHARELADO. b) cos (α + β) = cos (α) cos (β) sen (α) sen (β) e (valor: 10,0 pontos)

Revisão : máximo, minimo em dimensão 1

7.3 Diferenciabilidade

Transcrição:

3 CONSEQUÊNCIAS DA TEORIA DE CAUCHY A teoria de Cauchy-Goursat, desenvolvida na secção 2 (TEORIA DE CAUCHY- GOUR- SAT), permite-nos tirar algumas propriedades importantes sobre as funções f que são diferenciáveis num conjunto aberto U: Uma primeira consequência surge do facto de considerando u Re f(x + iy) e v Im f(x + iy); a função derivada de f; ser dada para qualquer x + iy 2 U; através de qualquer uma das igualdades seguintes: f 0 (x + iy) = + i i : Mas como f 0 é contínua em U; por ser também diferenciável em U; podemos concluir que então são igualmente funções contínuas no aberto = f : x + iy 2 Ug ; e que, por conseguinte, f é uma função holomorfa em U: Logo ter f diferenciável em U é equivalente a que f seja holomorfa em U: 3. FUNÇÕES HARMÓNICAS Uma função real que seja de classe C 2 num conjunto aberto R 2 ; e que satisfaça para cada 2 ; a equação de Laplace @2 + @2 0; 2 2 diz-se uma função harmónica em : Casos concretos de funções harmónicas são-nos dados pelas funções que são parte real ou parte imaginária de uma função, f; que seja holomorfa num dado conjunto aberto, U C; isto é, pelas funções u Re f(x + iy) e v Im f(x + iy); de nidas no aberto = f : x + iy 2 Ug R 2 : Para isso tenhamos em conta que Re f 0 (x + iy) = Im f 0 (x + iy) = e que o Teorema 7 da secção 2.2 (FÓRMULAS INTEGRAIS DE CAUCHY) garante que f 0 também é diferenciável em U: Então destas relações podemos concluir que existirão necessariamente em ; todas as derivadas parcias de segunda ordem, quer de u; quer de

v; e que as correspondentes equações de Cauchy-Riemann são veri cadas. Assim, para qualquer 2 ; @ @ @ @ e também @ @ @ @ ou seja, @ 2 u @2 v @ 2 @ 2 v @ 2 u @ 2 2 u @2 v 2 2 v @2 u : 2 Além disso, ainda por ser uma função diferenciável em U; f 00 é uma função contínua neste conjunto, podendo-se então a rmar que também todas as derivadas de segunda ordem são funções contínuas em ; ou seja que u e v são funçõess de classe C 2 em : Então a igualdade entre as derivadas parciais cruzadas de segunda ordem permite-nos concluir que, para qualquer 2 ; u @2 u + @2 u 0; 2 2 v @2 v + @2 v 0: 2 2 Logo, em tais circunstâncias, podemos a rmar que, na verdade, u e v são funções harmónicas. Dada uma função harmónica num dado conjunto R 2 ; se existir uma função complexa de variável complexa, f; holomorfa em U = fx + iy : 2 g tal que a função Re f(x + iy); Im f(x + iy) é chamada de harmónica conjugada de u: Notemos ainda que a diferenciabilidade de f 0 leva a que para qualquer x + iy 2 U; f 00 (x + iy) = @ + i @ = @ i @ = @ + i @ = @ i @ 2

ou seja que f 00 (x + iy) = @2 u + v 2 i@2 @2 v 2 i @ 2 v = i @2 u @2 u 2 i@2 @ 2 u v : 2 Mas como ainda pelo Teorema 7 da secção 2.2 (FÓRMULAS INTEGRAIS DE CAUCHY) também f 00 também é holomorfa, existem igualmente todas as derivadas parciais de terceira ordem de qualquer das funções u e v: Prosseguindo continuamente este processo, podemos assim concluir que quer u; quer v; admitem no conjunto ; todas derivadas parciais de todas as ordens. Logo u e v são ambas funções de classe C em : 3.2 TEOREMA DE LIOUVILLE Uma outra consequência simples das fórmulas integrais de Cauchy reporta-se ao teorema seguinte, comummente atribuído ao francês Joseph Liouville (809-899). Teorema (Teorema de Liouville) Qualquer função inteira limitada é constante. Dem.: Com z 2 C; temos para qualquer circunferência, C r (z); de centro em z e raio r > 0; simples e positivamente orientada, f 0 (z) = f(w) 2i (w z) dw: 2 C r(z) Então supondo que jf(z)j M; para qualquer z 2 C; obtemos que jf 0 (z)j M 2 r 2r = M 2 r : Da arbitrariedade de r > 0; concluímos que f 0 é identicamente nula em C: Logo f é constante em C: 3.3 TEOREMA FUNDAMENTAL DA ÁLGEBRA Teorema 2 (Teorema Fundamental da Álgebra) Qualquer polinómio de grau superior a um tem pelo menos uma raiz. Dem.: Seja p(z) = a n z n + ::: + a z + a 0 um polinómio de grau n > e suponhamos que p(z) não admite qualquer raiz. Nestas circunstâncias, temos que p(z) 6= 0; qualquer que seja z 2 C; e por conseguinte a função é uma função inteira. f (z) = p(z) 3

De jp(z)j = z n a n + a n + ::: + a z z + a 0 n z n = jzj n an + a n z + ::: + a z n + a 0 z n ; podemos concluir que jp(z)j! +; quando jzj! + e consequentemente que jf (z)j! 0; quando jzj! +: Ou seja, existe R > 0 su cientemente grande tal que jf (z)j < ; quando jzj > R: Porém, sendo f inteira, em particular f é contínua em C; e como tal limitada na bola fechada B R = fz : jzj Rg : Em suma, f é uma função inteira limitada. Mas em tais circunstâncias, o teorema de Liouville, leva-nos a a rmar que f é uma função constante. Mas isto implica que todos os coe cientes do polinómio a; :::; a ; são nulos, e que portanto p(z) é um polinómio de grau zero, o que é absurdo. 3.4 TEORIA DE CAUCHY GLOBAL A teoria de Cauchy permanece válida em condições mais gerais, como mostraremos a seguir com base no conceito de homologia, o qual é construído através do índice de uma linha em C, relativamente a um ponto w =2 im, I(; w) = 2i z w dz: Duas linhas fechadas no aberto U; dizem-se homólogas em U sempre que, I(; w) = I(; w), para cada w =2 U: Se se reduzir a um ponto de U; será homóloga a em U se I(; w) = 0, para cada w =2 U; caso em que se diz homóloga a um ponto de U; ou 0-homóloga em U. O conceito de homologia pode ser estendido de uma maneira formal a conjuntos de linhas, com alguma vantagem prática. A um conjunto nito de linhas = f ; :::; n g chamaremos uma cadeia. Uma cadeia diz-se um ciclo se cada linha que compõe for fechada. Por im = im [ ::: [ im n ; designaremos a imagem da cadeia. Se f for uma função contínua em im, ao valor f = nx k= chamaremos integral de f ao longo de : Por comprimento de entenderemos o valor k f c( ) = nx c( k ): k= 4

Se for um ciclo, consideraremos o índice de em relação a um ponto w =2 im, como sendo o número inteiro nx I( ; w) = I( k ; w): k= Deste modo, diremos que dois ciclos e 2 são homólogos no aberto U, se I( ; w) = I( 2 ; w) para cada w =2 U. Um ciclo dir-se-á homólogo a um ponto de U ou 0-homólogo em U se I( ; w) = 0; para cada w =2 U: Posto isto, podemos enunciar a seguinte versão do teorema de Cauchy. Teorema 3 (Teorema de Cauchy Global) Seja f uma função holomorfa no aberto U e um ciclo 0-homólogo em U. Então: (i) f(z)i( ; z) = f(w) dw; para cada z 2 Unim ; 2i w z (ii) f = 0: Dem.: Comecemos por observar que (i) ) (ii): Na verdade, tomando um ponto z 0 2 Unim ; através de F (z) = (z z 0 )f(z), constituímos uma função diferenciável em U e, por (i), f(z)dz = F (z) dz = F (z 0 )I( ; z 0 ) = 0: 2i 2i z z 0 ) Iniciemos a demonstração de (i) com a formulação da função auxiliar g : U U! C, dada por 8 < f(w) f(z) ; se w 6= z; g(w; z) = : w z f 0 (z); se w = z: Trata-se de uma função contínua em U U: Na verdade, a esse respeito, apenas os pontos do tipo (u; u); u 2 U, poderão merecer dúvidas. Ora, qualquer que seja " > 0; pela continuidade de f 0 ; existe > 0; tal que jz uj < ) jf 0 (z) f 0 (u)j < "; facto que mostra ser jg(w; z) g(u; u)j < "; sempre que jz uj < e w = z: Por outro lado, para z e w tais que 0 < jz uj < ; 0 < jw uj < ; de f(w) f(z) = f 0 (v)dv e f 0 (u) = f 0 (u)dv: w z [z;w] [z;w] obtemos, jg(w; z) g(u; u)j = w z [z;w] (f 0 (v) f 0 (u)) dv < " c([z; w]) = "; jw zj o que prova a continuidade de g em U U: Deste facto resulta que, para cada w 2 U; xo, a função de nida por (z) = g(w; z); é diferenciável em U: Na verdade, possuirá, quando muito uma singularidade em z = w; mas por aplicação do teorema de Goursat, atendendo a que é contínua, teremos R @ = 0; para cada triângulo, ; contido em U; permitindo então o teorema de Morera concluir a diferenciabilidade de em U: 5

2) Tomemos agora a função, de nida em U, através de h(z) = g(w; z)dw: 2i Para z 2 Unim ; temos h(z) = 2i f(w) dw f(z)i( ; z); w z pelo que (i) equivale a mostrar que h é identicamente nula em Unim : A função h é contínua em U: Na verdade com z 0 2 U; se B(z 0 ; r) for uma bola fechada de centro em z 0 e raio r > 0; contida em U; atendendo a que, pela sua continuidade, g é uniformemente contínua no limitado e fechado im B(z 0 ; r); temos que para cada " > 0; existe 0 < r tal que jg(w; z) g(w; z 0 )j < 2" c( ) ; para (w; z) 2 im B(z 0 ; ). Como tal, jh(z) h(z 0 )j < 2" c( ) = ": 2 c( ) Além de contínua, h é holomorfa em U; já que é holomorfa em cada bola aberta contida em U: De facto, se for uma linha qualquer fechada contida nessa bola; temos h(z)dz = g(w; z)dw dz = g(w; z)dz dw; 2i 2i por aplicação do teorema de Fubini, atendendo à continuidade de g e a que os integrais em causa se resumem a integrais em intervalos fechados ou somas nitas de integrais deste tipo. Mas como para cada w 2 U, a função (z) = g(w; z) é, como vimos, diferenciável em U; e a bola considerada é um conjunto convexo, temos pelo teorema de Cauchy que R h(z)dz = 0; o que permite concluir por aplicação do teorema de Morera que h é holomorfa em U: 3) Seja agora W = fz 2 Cnim : I( ; z) = 0g : W é um conjunto aberto porque I( ; z) é uma função contínua na variável z que apenas toma valores inteiros e como é um ciclo homólogo a um ponto em U; temos que CnU W; o que implica, em particular que U [ W = C. Por outro lado, sabemos que a função F (z) = f(w) 2i w z dw é holomorfa em Cnim e, por conseguinte, também em W; além de que F (z) = h(z); se z 2 U \ W: Deste modo a função h(z); se z 2 U; H(z) = F (z); se z 2 W; 6

encontra-se bem de nida em todo o plano complexo e nessa qualidade é mesmo uma função inteira. 4) Se mostrarmos que H(z)! 0 quando jzj! +; provamos, em particular que H é limitada, e como tal constante, pelo teorema de Liouville. Da própria condição no in nito resulta então que H é identicamente nula em C, o que prova ser h = 0 em U: Para tal, comecemos por notar que sendo im um conjunto limitado, qualquer ponto z 2 U com jzj su cientemente grande se acha em W. Assim, para z tal que jzj > r; é H(z) = F (z) e, por conseguinte, Ora, se r > max w2im jh(z)j 2 max w2im jf(w)j max w2im jw zj c( ) jwj ; temos para w 2 im ; qualquer, jw zj jzj r; donde jh(z)j 2 max jf(w)j c( ): w2im jzj r Logo fazendo jzj! +; obtemos H(z)! 0; o que completa a demonstração do teorema. Observemos que este teorema é válido quando o ciclo é constituído por uma única linha fechada homóloga a um ponto em U. Nestas circunstâncias (ii) exprime um resultado mais geral que a versão indicada do teorema de Cauchy, o mesmo sucedendo a (i) relativamente à primeira fórmula integral de Cauchy. Notando que uma linha de Jordan, ; num aberto U; tal que int U; é homóloga a um ponto de U, pois CnU ext; obtemos a seguinte versão do teorema de Cauchy para linhas de Jordan: Corolário 4 Se f é uma função holomorfa no aberto U e é uma linha de Jordan em U; cujo interior se encontra contido em U, então f = 0: Para a homologia entre ciclos temos: Corolário 5 Se f é uma função holomorfa no aberto U e e 2 são dois ciclos homólogos em U então f(z)dz = f(z)dz: Dem.: Se = f ; :::; n g e 2 = f 2 ; :::; 2n g ; basta tomar o ciclo = ; :::; n ; 2 ; :::; 2n ; o qual é homólogo a um ponto de U, pois I( ; z) = I( ; z) I( 2 ; z) = 0; para cada z =2 U: Então pelo teorema vem f(z)dz = 0 = f(z)dz f(z)dz: 2 2 7

3.5 EXERCÍCIOS RESOLVIDOS. Sejam e duas funções harmónicas num conjunto aberto R 2 : Mostre que a função complexa de variável complexa dada por @ @ @ f (x + iy) = + i + @ é holomorfa em U = fx + iy : 2 g : 2. Seja u x 3 3xy 2 5y: a) Veri que que u é uma função harmónica em R 2 : b) Determine, v a harmónica conjugada de u tal que v (0; 0) = 0: 3. Considere a função v e x2 y 2 cos (2xy) : a) Veri que que v é harmónica em R 2 : b) Determine uma função inteira f; tal que f (0) = i e Im f (x + iy) = v : 4. Justi que que em R 2 ; v 2xy é harmónica conjugada de u x 2 y 2 : 5. Mostre que não existe uma função holomorfa, f; tal que Re f (x + iy) = y 4 + x 2 : 6. Sabendo que num conjunto R 2 ; v é harmónica conjugada de u; determine uma harmónica conjugada de v em : 7. Seja p (z) um polinómio de grau n: Para que valores de n é possível que =p (z) seja uma função inteira? 8. Considere as seguintes linhas do plano complexo: (t) = 2 ei2t ; t 2 [0; 2] ; 2 (t) = 3e i2t ; t 2 [0; 2] ; 3 (t) = e i2t ; t 2 [0; 2] : Quais destas linhas são homólogas entre si nos seguintes conjuntos abertos do plano complexo: a) U = fz : jzj > =3g : b) U = fz : jz 2j > =2g \ fz : jz + 2j > =2g : 8

9. Sejam z 0 ; z 2 C e r < jz z 0 j =2 e C r (z 0 ) ; C r (z ) circunferências de raio r e centros em z 0 e z ; respectivamente, simples e positivamente orientadas. Seja uma linha de Jordan contendo no seu interior C r (z 0 ) e C r (z ) : Justi que que: (z z 0 ) (z z ) dz = C r(z 0 ) (z z 0 ) (z z ) dz + C r(z ) (z z 0 ) (z z ) dz: 0. Seja f uma função holomorfa no conjunto aberto U = fz : jzj > g e designe-se por E a elipse simples e positivamente orientada dada pela equação x2 + = : 4 9 Justi que que f (z) E z dz = f (z) dz (n 2 ) n C r zn para qualquer circunferência, C r ; simples e positivamente orientada de centro na origem e raio r > : 3.5. RESOLUÇÕES. Como e são de classe C 2 ; as funções u @ @ @ @ v + são ambas de classe C : Além disso são veri cadas as equações de Cauchy-Riemann. Na verdade de concluímos que @2 @ 2 2 @2 @2 + 2 atendendo à igualdade das derivadas cruzadas e a que, por se harmónica, se tem Analogamente, de resulta que @ 2 @2 : 2 2 @2 @ 2 2 @2 @2 + 2 : Logo f é holomorfa em U = fx + iy : 2 g : 9

2.a) Veri quemos que 8 2 R 2 se tem Ora por diferenciação obtemos Logo u 0: 3x2 3y 2 @ 2 u ; 6x; 2 6xy 5; @ 2 u 6x: 2 u @2 u + @2 u 6x 6x = 0: 2 2 2.b) Procuremos uma função inteira f tal que A função Re f (x + iy) = u : v Im f (x + iy) será então uma harmónica conjugada de u: Tendo a atenção a diferenciabilidade de f; as funções u e v relacionam-se entre si pelas equações de Cauchy-Riemann. Isto é, v será tal que Assim, temos que e 3x2 3y 2 ; 6xy + 5: 8 2 R2 : Então por primitivação em ordem a y e a x; respectivamente, concluímos que v 3x 2 y y 3 + c (x) ; v 3x 2 y + 5x + c 2 (y) onde c (x) e c 2 (y) designam funções exclusivamente dependentes das variáveis x e y; respectivamente. Por comparação podemos então concluir que v 3x 2 y + 5x y 3 + K; onde K é uma qualquer constante real. Da condição v (0; 0) = 0 podemos a rmar que K = 0 e que portanto v 3x 2 y + 5x y 3 : 3.a) Pelas regras de derivação temos que 2xex2 cos (2xy) e x2 y 2 2y sin (2xy) ; 0

@ 2 v 2ex2 2 cos (2xy)+4x 2 e x2 y 2 cos (2xy) 8xye x2 y 2 sin (2xy) e x2 y 2 4y 2 cos (2xy) ; 2yex2 cos (2xy) e x2 y 2 2x sin (2xy) ; @ 2 v 2ex2 cos (2xy)+4y 2 e x2 y 2 cos (2xy)+8xye x2 y 2 sin (2xy) e x2 y 2 4x 2 cos (2xy) : 2 Logo, na verdade v e x2 y 2 cos (2xy) : v @2 v + @2 v 0: 2 2 3.b) Procuremos uma função u tal que f (x + iy) = u + iv seja uma função inteira. As equações de Cauchy-Riemann indicam-nos que u deverá ser tal que Assim temos que e 8 2 R2 : 2yex2 cos (2xy) 2xe x2 y 2 sin (2xy) ; 2xcex2 cos (2xy) + e x2 y 2 2y sin (2xy) : Da primeira destas relações, observemos que pela regra de derivação do produto de funções o que implica que 2yex2 = e x2 y @ 2 = @ e x2 cos (2xy) 2xe x2 y 2 sin (2xy) ; @ sin (2xy) ex2 y 2 sin (2xy) ; u e x2 y 2 sin (2xy) + c (y) ; sin (2xy) ; onde c (y) é uma qualquer função dependente apenas da variável y: Analogamente da segunda relação temos que 2xex2 cos (2xy) + 2ye x2 = e x2 y @ 2 sin (2xy) = @ e x2 y 2 sin (2xy) ; y 2 sin (2xy) @ e x2 y 2 sin (2xy)

e que por conseguinte u e x2 y 2 sin (2xy) + c 2 (x) ; para uma qualquer função c 2 (x) que apenas dependa da variável x: Comparando os dois resultados obtidos podemos então concluir que para uma qualquer constante real u e x2 y 2 sin (2xy) + K; e que f (x + iy) = e x2 y 2 sin (2xy) + K + ie x2 y 2 cos (2xy) : Por m a condição f (0) = i ca equivalente a K + i = i; donde resulta que K = 0: Logo f (x + iy) = e x2 y 2 sin (2xy) + ie x2 y 2 cos (2xy) : 4. Facilmente se observa que f (x + iy) = u + iv = x 2 y 2 + i2xy = x 2 + i2xy + i 2 y 2 = (x + iy) 2 : Como f (z) = z 2 é obviamente uma função holomorfa, de u Re f (x + iy) ; v Im f (x + iy) concluímos que u e v são de facto harmónicas conjugadas. 5. Supondo que existia uma função holomorfa, f; tal que Re f (x + iy) = y 4 + x 2 : num certo conjunto U C; então a função y 4 + x 2 teria de ser necessariamente harmónica em = f : x + iy 2 Ug : Ora por derivação temos que o que implica que @ 2x; @ 2 2; 2 @ @ 2 4y3 ; 2 2 ; @2 2 + @2 2 2 + 2: Ora como 6= 0; 8 2 R 2 ; temos que não é harmónica em nenhum conjunto R 2 : Logo não existe nenhuma função holomorfa, f; tal que Re f (x + iy) = y 4 + x 2 : 2

6. Se v é harmónica conjugada de u; num certo conjunto R 2 ; então existe uma função f; holomorfa em U = fx + iy : 2 g ; tal que u Re f (x + iy) ; v Im f (x + iy) ; 8 2 : Assim, além de serem harmónicas temos que u; v 2 C em e que são veri cadas as equações de Cauchy-Riemann e 8 2 : O que se pretende é determinar uma função w 2 C em para a qual exista uma função g holomorfa em U tal que v Re g (x + iy) ; w Im g (x + iy) ; 8 2 : Nestas condições devem igualmente ser satisfeitas as equações de Cauchy-Riemann: @w e @w ; 8 2 : Assim w será tal que, para qualquer 2 ; o que implica que @w @w : w u + K: Logo w = u é uma harmónica conjugada de v: 7. Se n > 0 então pelo teorema fundamental da Álgebra, p (z) possui pelo menos uma raíz z 0 : Nessas circunstâncias não pode de nir-se em z 0 um valor para =p (z) ; já que lim z!z 0 p (z) = ; facto que não permite que aquela função seja diferenciável em z 0 : Quando n = 0; tem-se p (z) = c e este entrave não acontece se for c 6= 0: Logo =p (z) será uma função inteira se e só se p (z) for um polinómio de grau zero não identicante nulo. 8.a) Seja w =2 U; isto é w tal que jwj =3: Temos que I ( ; w) = I ( 2 ; w) = 2; I ( 3 ; w) = 2: Logo em U; apenas e 2 são homólogas. 8.b) Seja w =2 U; isto é w tal que jw + j =2 ou jw j =2: Temos agora I ( ; w) = 0; I ( 2 ; w) = 2; I ( 3 ; w) = 0: Logo em U; apenas e 3 são homólogas. 3

9. A função f (z) = (z z 0 ) (z z ) é holomorfa em U = Cn fz 0 ; z g : Os ciclos = fg e 2 = fc r (z 0 ) ; C r (z )g são homólogos pois e I ( ; z 0 ) = I (; z 0 ) = ; I ( 2 ; z 0 ) = I (C r (z 0 ) ; z 0 ) + I (C r (z ) ; z 0 ) = + 0 = ; I ( ; z ) = I (; z ) = I ( 2 ; z ) = I (C r (z 0 ) ; z ) + I (C r (z ) ; z ) = 0 + = Como tal, pelo Corolário 5 temos (z z 0 ) (z z ) dz = 2 (z z 0 ) (z z ) dz; ou seja, (z z 0 ) (z z ) dz = C r(z 0 ) (z z 0 ) (z z ) dz + C r(z ) (z z 0 ) (z z ) dz: 0. Para qualquer n 2 ; a função f (z) =z n é holomorfa em U: Além disso E e C r são linhas homólogas em U já que I (E; w) = I (C r ; w) = ; para cada w =2 U: Logo pelo Corolário 5 temos que f (z) z dz = f (z) n C r z n E dz: 4