Resumo: O dinamismo e a competitividade sempre caracterizaram a indústria automobilística, a qual está em constante busca por inovações que agreguem valor ao seu processo produtivo, reduzindo custos com ganho de eficiência e qualidade. Assim, novos modelos de gestão surgem dentro do contexto de Supply Chain Management (SCM), que visam à otimização da cadeia produtiva. O presente estudo aborda o arranjo do Consórcio modular, executado pela Volkswagen, analisando suas vantagens, desvantagens e relacionando-as com o conteúdo da disciplina. 1- Objetivos e métodos Devido às novas exigências impostas pela atual realidade do mundo corporativo, as empresas precisam estar constantemente inovando seus processos de modo a atender as expectativas do mercado. No caso do setor automobilístico, em que a concorrência e a volatilidade são fatores determinantes, os novos modelos de gestão surgem em resposta a esse ambiente. O presente trabalho visa à conceituação do Consorcio Modular, sua aplicação e desenvolvimento na empresa Volkwasgen, em sua fábrica de caminhões e ônibus em Resende-RJ, e uma modesta análise e discussão com os conceitos aprendidos na disciplina de Gestão de Sistemas de Logística. As informações pertinentes para a elaboração da análise foram obtidas por meio de pesquisas na internet, revistas científicas eletrônicas e periódicos, além do site oficial da Volkswagen e a bibliografia proposta pela disciplina, de modo a identificar o conceito e princípio do modelo de Consórcio Modular na empresa Volkswagen e relacioná-los com os temas explorados em sala de aula. 2- Introdução As grandes indústrias sempre tomaram a frente quando se trata de inovação, tanto na produção, quanto nos processos organizacionais, decorrentes da alta competitividade e
dinamismo característicos do ambiente corporativo. O setor automobilístico é um dos maiores responsáveis pelos avanços tecnológicos e gerenciais que revolucionaram a organização do trabalho e transformaram as montadoras em modelos de referência. Visando à melhoria nos processos, as empresas buscam reduzir custos, otimizar procedimentos e tempos de produção de modo a satisfazer o mercado, ganhando competitividade e elevando seus lucros. Nesse contexto, surge uma necessidade de reestruturação que permita o melhor atendimento dos requisitos impostos pelo setor e assim, novas ferramentas são desenvolvidas como o Supply chain management SCM ( Gestão da cadeia de suprimentos ), que engloba as relações a montante e a jusante com fornecedores da empresa e seus clientes, a fim de entregar um valor superior ao menor custo para a cadeia de suprimentos (CHRISTOPHER, 2011). Diante desse novo cenário, mais dinâmico e exigente, as montadoras começam a utilizar novas estratégias voltadas à integração da cadeia com seus fornecedores principais, fortalecendo suas relações que viabilizam novos arranjos produtivos. A Volkswagen foi pioneira ao implementar essa nova configuração da cadeia de suprimentos, o chamado Consórcio modular em sua fábrica de caminhões e ônibus localizada em Resende RJ, onde uniu seus fornecedores e transferiu a montagem das peças para dentro de sua planta. 3- Revisão da literatura O Consórcio Modular pode ser definido, segundo Pires (1998), como um caso radical de terceirização entre uma montadora e um número muito reduzido de fornecedores diretos, no qual os fornecedores assumem a montagem prévia do módulo sob sua responsabilidade e sua posterior montagem diretamente na linha de produção da montadora. Nesse modelo, o fornecedor também é responsável pelos investimentos em equipamentos e ferramentas, assim como o gerenciamento da cadeia de suprimentos do módulo. Diante deste contexto, as empresas passaram a ter a necessidade de focar em seu negócio-chave (core business), tendo que delegar as outras empresas atividades inerentes a seu processo de produção. Portanto, os relacionamentos entre as empresas da mesma cadeia ganharam uma grande importância, pois geram uma fonte de vantagem competitiva.
O objetivo dessa estrutura é proporcionar agilidade nas trocas de informação entre os membros da cadeia e o desenvolvimento de novas competências (PIRES, 1998) que resultam em melhorias dos aspectos logísticos e eficiência na linha de montagem. O autor Schonberger (1998) ressalta que alguns dos principais pontos que representam vantagens dos modelos modulares de produção são que fábricas convencionais de veículos têm de lidar com um número excessivo de componentes, sendo que ao mesmo tempo fornecedores não têm a capacitação para "produtos completos", sendo responsáveis por poucos itens. Com isso, tanto os fornecedores ficam com suas posições enfraquecidas, como as montadoras têm de gastar muito com atividades não agregadoras de valor como armazenagem e movimentação de materiais, logística e planejamento de compras e produção, atividades que em si não agregam valor ao produto, ou seja uma fábrica ganha eficiência ao reduzir o número de fornecedores. Em modelos modulares a questão fundamental é a obtenção de coordenação entre empresas compradoras e fornecedoras. Na verdade, a grande questão é se o gerenciamento dos relacionamentos com fornecedores de fato levarão a reduções substanciais em custo e aumento de lucros. Collins and Bechler (1999) colocam este ponto de forma concisa: a terceirização da manufatura é uma escolha estratégica que requer avaliação crítica não apenas do ponto de vista da estrutura e dinâmica do mercado em que a empresa compete, mas também do seu posicionamento e também considerando se a terceirização vai levar a uma vantagem competitiva sustentável. 4- Relação entre os conceitos de Logística e o Consórcio Modular Volkswagen em Rezende RJ O consorcio modular consiste em ter um mínimo de fornecedores, para ter melhor controle da cadeia produtiva, e ter com esses fornecedores um forte elo, ao ponto dos fornecedores participarem do desenvolvimento de produtos da empresa, no nosso caso a Volkswagen. Dessa forma transferir novas responsabilidades para os fornecedores (empresas de auto peças), que não mais fornecem apenas peças, mas sim módulos.
As empresas modulistas como são chamadas, participam da montagem do produto final em conjunto, são elas que montam o produto dentro da planta produtiva da empresa líder, todas trabalham simultaneamente. A empresa líder assegura a qualidade do produto, dando valor e credibilidade no mercado. Dessa forma se constitui o processo de Outsourcing que vamos relacionar abaixo: 4.1- Outsourcing Popularmente chamada de externalização é uma pratica onde a empresa contrata uma outra empresa para realizar para si tarefas que não lhe convém fazer ou que essa terceira é especialista. Nesse caso, principalmente nas áreas de produção e logística, mas podendo se aplicar em outras áreas. Existem também vantagens e desvantagens desse modelo, incluindo alguns riscos. Vantagens como, aumento da competividade, reduzir a complexidade da gestão do negocio, visibilidade e transparência e acesso as melhores praticas e experiências. Como desvantagens, facilidade para perda de controle do negocio, divergências de expectativas, partilha de informações e receio da partilha de informações, entre outras. Alguns riscos, perda da confiabilidade e risco de copia pela concorrência, conflitos éticos e de interesse e falta de credibilidade na redução de custos. 4.2- JIT (just in time) interno O Just in time é uma pratica oriunda do Japão do Toyotismo, onde nenhum produto ou matéria prima absolutamente nada deve ser comprado, transportado ou produzido antes da hora exata. Com isso se elimina os estoques, tendo grande economia com isso, pois manter estoque custa muito caro. Os produtos finais são vendidos antes mesmo de serem produzidos, e são produzidos sob encomenda. RJ 5- O Consórcio modular e a fábrica de caminhões Volkswagen em Resende Em 1996, a Volkswagen implementou seu projeto de gestão inovador, o Consórcio modular em sua fábrica de caminhões e ônibus de Resende, no estado do Rio de Janeiro. O modelo consiste na formação de parcerias entre a empresa e seus fornecedores (modulistas), para que haja a transferência da montagem de conjuntos totais de peças para dentro da planta
da Volkswagen, com o objetivo de diminuir os custos de produção, investimentos, estoques, tempo de produção e principalmente agilidade na produção de veículos diferenciados. Atualmente, a Volkswagen conta com sete fornecedores: Maxion, Arvin Meritor, Remon, Powertrain, AKC, Carese e Continental. Os fornecedores da VW e suas atribuições (disponível em: http://www.vwcaminhoeseonibus.com.br/pt/company_factory_brasil_modular-consortium.aspx) Assim, a responsabilidade pela montagem dos produtos fica a cargo dos modulistas e a Volkswagen pode se comprometer com outras áreas, como a qualidade final do produto, logística e distribuição, marketing, interface com o cliente e com o desenvolvimento de novos produtos. A qualidade dos componentes deve ser assegurada pelos fornecedores. Dentro desta configuração, as empresas fornecedoras não participam dos lucros finais dos produtos, apenas dividem a mesma infraestrutura da fábrica da VW, além de todos os funcionários receberem o mesmo padrão de remuneração e benefícios e estarem submetidos a um único acordo coletivo. É importante destacar que tanto os riscos, como os investimentos são compartilhados entre a montadora líder do consórcio e seus fornecedores, uma vez que todo o negócio é influenciado diretamente pela demanda do mercado, ou seja, se a demanda por caminhões diminuir, consequentemente a demanda por peças e componentes também será afetada negativamente.
5.1- Vantagens da integração Para as empresas fornecedoras, ter um cliente fixo como a Volkswagen pode ser considerado como vantajoso, pois cria uma relação de exclusividade e dependência entre os membros da cadeia, que gera estabilidade no longo prazo. A proximidade física decorrente do arranjo modular favorece as tomadas de decisão, viabilizando a flexibilidade da linha de produção o que permite uma diferenciação cada vez maior de seus produtos. A comunicação é outro fator a ser observado dentro da estrutura, pois as trocas de informação devem ser priorizadas de modo a manter o fluxo em ambos os sentidos da cadeia, e assim, poder evitar erros e imprecisões. 6- Modelos derivados do consórcio modular 6.1- General Motors fábrica de Gravataí RS No ano 2000, a General Motors inaugurou uma fábrica caracterizada pela adoção de um sistema inovador, o Condomínio Industrial, cujo arranjo está configurado de forma que um pequeno número de fornecedores diretos está instalado fisicamente próximo à montadora, de modo a abastecê-la em um sistema Just in sequence, porém esses fornecedores não participam da montagem final, a qual está sob responsabilidade da montadora. A fábrica com sede em Gravataí, no Rio Grande do Sul, tem como objetivo alcançar menores custos, riscos, gastos com mão de obra e custos sociais e o descarte dos custos de estoque, obtendo-se assim uma economia que pode ser repassada ao cliente final. Com a intenção de não se perder a cultura organizacional na empresa, a GM se diferenciou do modelo de Consórcio Modular dos caminhões Volkswagen, optando pelo Condomínio Industrial a fim de evitar o risco de enfrentar questionamentos trabalhistas dos funcionários de terceiros. 6.2- Mercedes Benz em Juiz de Fora MG A fábrica da Mercedes Benz faz parte do grupo Daimler-Chrysler e suas atividades tiveram início em 1999. Seu modelo de produção também é similar ao Condomínio Industrial,
no qual seus principais fornecedores, localizados próximo a planta da montadora, entregam os módulos prontos para serem montados. Há também o compartilhamento dos riscos, redução dos custos e ganho de flexibilidade presentes no modelo do Consórcio modular. 6.3- Fiat em Betim - MG A montadora foi a primeira fabricante brasileira de veículos a desenvolver, na sua unidade de Betim, MG, o conceito de trazer novos fornecedores de autopeças para Minas Gerais, para as proximidades da fábrica da Fiat. Os resultados alcançados devem-se à redução dos custos por meio da escolha de alguns grandes sistemistas para fornecer módulos completos diretamente na linha de montagem. A alavancagem de ganhos de produtividade deve-se à terceirização da montagem de módulos e a instalação de unidades das empresas sistemistas nas proximidades de Betim, além de algumas serem acomodadas dentro da própria fábrica da Fiat, consolidando-se assim uma combinação dos modelos de Condomínio Industrial e Consórcio Modular 7- Análise crítica Os riscos e incertezas atribuídos a este modelo de gestão são certamente os principais alvos de críticas, uma vez que a longo prazo, essa transferência de tecnologia de produção pode levar a uma perda de competências tecnológicas, o que levanta o questionamento sobre o futuro da montadora, cuja responsabilidade se restringe apenas ao gerenciamento de sua marca, sem tomar parte na produção e montagem de seus componentes. Uma das consequências adversas do consórcio modular estaria na possível absorção de competências distintivas da Volkswagen por parte de alguns de seus fornecedores que poderiam repassá-las à concorrência, ou seja, o modelo está sujeito ao oportunismo de terceiros, o que mostra a vulnerabilidade da estratégia da empresa. Um dos grandes desafios que podem surgir dentro desse ambiente é o nível de complexidade organizacional decorrente não só das condições impostas pelos contratos, como também do choque entre culturas de funcionários de diferentes empresas compartilhando o mesmo espaço e tendo que alinhar seus objetivos com os da montadora.
Outro fator a ser observado é que os modelos derivados do consórcio modular não seguem seus padrões a rigor, optando por utilizar o modelo de condomínio industrial, deixando de trazer os fornecedores para dentro de suas fábricas, o que aponta que o Consórcio Modular pode ser um exemplo falho de benchmarking para outras empresas. 8- Conclusão O arranjo estrutural do consórcio modular foi disposto de forma a minimizar a distância entre os fornecedores e a montadora a fim de agilizar o abastecimento da linha de montagem, o que leva à redução dos lead times e dos custos relativos a estoques, além do ganho de eficiência e flexibilidade. Quanto ao relacionamento entre a Volkswagen e seus fornecedores, reina um clima de cooperação e ao mesmo tempo, competição, no sentido em que algumas das empresas fornecedoras também são concorrentes no mercado, mas devem colaborar dentro do modelo para que a estratégia se concretize. Há também ressalvas quanto ao futuro desse modelo no que tange à sustentabilidade das parcerias, uma vez que ao transferir as competências relativas à montagem de seu produto para terceiros, a montadora corre o risco de criar uma dependência com seus fornecedores e consequente perda de poder nas relações que compõem o modelo. Em comparação com os modelos derivados, o consórcio modular não teve todos os seus elementos implementados por outras empresas, pois estas precisam adaptar suas estratégias de acordo com suas necessidades. Porém todas têm o objetivo comum de reduzir os custos, estoques, tempos de produção, aumentar a flexibilidade e compartilhar os riscos inerentes às parcerias.
FCA - Unicamp GL605B Gestão de sistemas de logística Consórcio modular na fábrica de caminhões e ônibus da Volkswagen em Resende - RJ Grupo 10 Regina Okatsu RA: 103920 Samira Freitas RA: 104049 Tales Souza RA:093010 Limeira - 2012
9- Referências bibliográficas CHRISTOPHER, Martin - Logistics & Supply chain management, 4ª edição, 2011 Gestão inovadora Disponível em <http://www.vwcaminhoeseonibus.com.br/pt/company_factory_brasil_modularconsortium.aspx> Acessado em 04/09/2012. RESENDE, A. P.; COSTA, F. W. A.; RUTKOWSKI, J.; CARVALHO, L. J. L.; ALMEIDA, R. J. S.; SILVA, W. Consórcio modular: o novo paradigma de produção. Disponível em <http://www.abepro.org.br/biblioteca/enegep2002_tr15_0436.pdf> Acessado em 04/09/2012. FIRMO, A. C.C.; LIMA, R. S. Gerenciamento da cadeia de suprimentos no setor automobilístico: um estudo de caso no consórcio modular. Disponível em <http://www.producaoonline.org.br/rpo/article/view/381/454> Acessado em 04/09/2012. PIRES, S. R. I. Gestão da cadeia de suprimentos: conceitos, estratégias, práticas e casos. Ed. Atlas, São Paulo, 2004 PIRES, S.R.I. Gestão da cadeia de suprimentos e o modelo de consórcio modular, Revista de Administração, São Paulo, 1998. BUENO, M. J. C.; VENDRAMETTO, O.; ALISANCIC, A. O consórcio modular como fator de competitividade: um estudo de caso na Volkswagen Resende e São Bernardo do Campo. Disponível em <http://www.aedb.br/seget/artigos07/1113_resumo.pdf> Acessado em 25/09/2012. CORRÊA, H. L. VW Resende: Mudanças no projeto inicial e uma breve avaliação. Disponível em <http://www.correa.com.br/biblioteca/artigos/a22_simpoi_iii_resende.pdf > Acessado em 09/10/2012. CARNEVALLI, J. A.; MIGUEL, P. A. C.; SALERNO, M. S. Estudo de caso sobre a aplicação da modularidade em empresas fabricantes de motores automotivos. Disponível em <http://www.abepro.org.br/biblioteca/enegep2010_tn_sto_117_767_16122.pdf > Acessado em 09/10/2012. DI SERIO, L. C.; SAMPAIO, M.; PEREIRA, S. C. F. Evolução dos conceitos de logística: um estudo de caso na cadeia automobilística do Brasil. RAI Revista de administração e inovação, São Paulo, v. 4, n. 1, p. 125-141, 2007. CORRÊA, H. L. Os modelos modulares de gestão de redes de suprimentos. Disponível em <http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/3007/rel%2029-2001.pdf?sequence=1> Acessado em 05/11/2012.
GUARNIERI, P.; HATAKEYAMA, K.; RESENDE, L. M. Estudo de caso de um condomínio industrial na indústria autmobilística: caso GM Gravataí. Disponível em <http://producaoonline.org.br/rpo/article/download/199/312> Acessado em 22/11/2012 NASCIMENTO,R. P.; SEGRE, L. M. Competitividade no setor automobilístico: um modelo de análise da flexibilidade no Brasil. Revista Gestão Industrial v. 02 n. 03 p.154-173, 2006 Uno Mille: 10 anos de sucesso e evolução. Disponível em <http://www.fiatpress.com.br/releases/gerenciarreleases.do?operation=visualizarrelease&id Release=858>...Acesso em 22/11/2012