S - Socialização: Do Conhecimento Tácito para Conhecimento Tácito
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- Alexandre Veiga Rios
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1 Resumo Aula-tema 03: Teoria da Criação do Conhecimento Organizacional. Conforme começamos a estudar na aula tema anterior, a criação do conhecimento está na interação entre conhecimentos tácito e explícito. Lembramos que o conhecimento tácito é pessoal, ligado ao contexto, à experiência do indivíduo e suas crenças. Lidar com o conhecimento tácito é um grande desafio. Imagine um bom funcionário prestes a se aposentar. É possível que o conhecimento acumulado ao longo de uma vida na empresa se perca quando de seu afastamento. Essa é uma das tônicas da Gestão do Conhecimento: reter o conhecimento de funcionários que se afastam ou se aposentam. Os representantes de companhias, que lidam com informação, falam em seus discursos que seus funcionários são o seu maior ativo. A maior riqueza das organizações está no conhecimento tácito, traduzido em idéias, julgamentos, talentos individuais e coletivos, relacionamentos, perspectivas e conceitos, armazenado na mente das pessoas ou inserido em produtos, serviços e sistemas. A seguir são descritos os processos que compõem o modelo de criação de conhecimento SECI ou espiral do conhecimento, proposto por Nonaka e Takeushi, autores de nosso livro texto. S - Socialização: Do Conhecimento Tácito para Conhecimento Tácito A socialização é um processo de compartilhamento de experiências e, a partir daí, da criação do conhecimento tácito, como modelos mentais e habilidades técnicas compartilhadas. Um indivíduo pode adquirir conhecimento tácito diretamente de outros indivíduos, sem usar a linguagem. Os aprendizes trabalham com seus mestres e aprendem sua arte não através da linguagem, mas sim através da observação, imitação e prática. Socialização está associada a aprender pelo exemplo e a aprender fazendo. O segredo para a aquisição do conhecimento tácito é a experiência. Sem experiência compartilhada é extremamente difícil para uma pessoa projetar-se no processo de raciocínio do outro indivíduo. A mera transferência de informações muitas vezes fará pouco sentido se estiver desligada das emoções associadas e dos contextos específicos nos quais as experiências
2 compartilhadas estão embutidas. Vimos na aula tema anterior como o engenheiro compreendeu o método de sovar pão do mestre padeiro (tinha que torcer a massa, não bastava esticar). Outro exemplo que podemos citar é o desenvolvimento de periféricos de computador para deficientes físicos. Muitas vezes impedidos de se comunicar, o projetista deve observar atentamente a forma como o deficiente utiliza teclados e mouse e assim começar a desenvolver seu protótipo de mouse ou teclado adaptado (lembrar, porém, que ao redigir ou desenhar o projeto, já estará em outra forma de conversão de conhecimento, a externalização). E - Externalização: Do Conhecimento Tácito para Conhecimento Explícito A externalização é um processo de articulação do conhecimento tácito em termos explícitos. Pode ser definido também como um processo de criação do conceito, na medida em que o conhecimento tácito se torna explícito, expresso na forma de conceitos, imagens ou representações por modelos e desenhos. Dentre os quatro modos de conversão do conhecimento, a externalização é a chave para a criação do conhecimento, pois cria conceitos novos e explícitos a partir do conhecimento tácito. Para converter o conhecimento tácito em conhecimento explícito de forma eficiente e eficaz usamos sequencialmente a metáfora, analogia e modelo. Essas idéias serão retomadas na próxima unidade. Um exemplo de Externalização simples que podemos imaginar é a ação de um inspetor de segurança encarregado de examinar as instalações e atitudes dos funcionários de uma fábrica. Primeiro ele se mistura aos funcionários, aprende suas atitudes e comportamento (Socialização), depois redige um relatório de melhorias para elevar a segurança do local (Externalização). C - Combinação: Do Conhecimento Explícito para Conhecimento Explícito A combinação é um processo de sistematização de conceitos em um sistema de conhecimento pré-existente. Esse modo de conversão do conhecimento envolve a combinação de conjuntos diferentes de conhecimento explícito. Os indivíduos trocam e combinam conceitos através de meios como documentos, reuniões, conversas ao telefone ou redes de comunicação. A reconfiguração das informações
3 existentes através da classificação, do acréscimo, da combinação e da categorização do conhecimento explícito (como realizado em bancos de dados de computadores) pode levar a novos conhecimentos. Um exemplo de Combinação é a educação formal neste curso. Pense como você assiste as web aulas, lê os artigos e discute no fórum o que entendeu com seus colegas para produzir as avaliações de aprendizagem. Nesse ambiente aberto ao debate ocorre a Combinação de conceitos. Na indústria, há inúmeros exemplos de evolução e aperfeiçoamento de produtos que ocorrem por meio de discussões internas entre os departamentos. Nonaka e Takeuchi (autores do livro texto) entendem que ocorre Combinação quando administradores intermediários decompõem um conceito geral, como a visão corporativa da empresa, em um conceito de negócios ou produto. Citam o exemplo da cerveja cujo lema do fabricante era Asahi para pessoas vivas e que inspirou o desenvolvimento de uma nova categoria de cerveja com mais sabor e intensidade, reafirmando a marca. Esse tema será retomado nas aulas tema 4 e 5. I Internalização: Do Conhecimento Explícito para Conhecimento Tácito Internalização é o processo de incorporação do conhecimento explícito que se converte em conhecimento tácito. Se no início do ciclo (Socialização), dizíamos que o conhecimento tácito derivava da experiência individual, agora essa experiência pode ser compartilhada pelo grupo, ajudando-as a vivenciar indiretamente as experiências dos outros e iniciando assim uma nova espiral de criação do conhecimento. Por exemplo, se ler ou ouvir uma história de sucesso faz com que alguns membros da organização sintam o realismo e a essência da história, a experiência que ocorreu no passado pode se transformar em um modelo mental tácito e ser incorporado ao conhecimento das pessoas. Quando a maioria dos membros da organização compartilha de tal modelo mental, o conhecimento tácito passa a fazer parte da cultura organizacional. Uma forma de entender a internalização é imaginar que a experiência acumulada agora foi multiplicada e todos a possuem. Segundo NONAKA & TAKEUCHI (1997, p. 79), para se tornar uma empresa que gera conhecimento, a organização deve completar uma espiral do conhecimento, espiral esta que vai de tácito para tácito, de explícito a explícito, de tácito a explícito, e finalmente, de explícito a tácito. Logo, o conhecimento deve ser
4 articulado e então internalizado para tornar-se parte da base de conhecimento de cada pessoa. A espiral começa novamente depois de ter sido completada, porém em patamares cada vez mais elevados, ampliando assim a aplicação do conhecimento em outras áreas da organização (daí a idéia de espiral). Os processos da Espiral do Conhecimento são apresentados na Figura 1. Figura 1: Espiral do Conhecimento Extraído de NONAKA, I. & TAKEUCHI, H., (2008). A criação do conhecimento organizacional é uma interação contínua e dinâmica entre conhecimento tácito e explícito. A expansão desse ciclo ocorre em espiral, na medida em que seu alcance é cada vez maior (do indivíduo para o grupo, para a organização, para outras organizações e assim por diante). Na Figura 2 é apresentada outra representação para a espiral do conhecimento.
5 Figura 2: Outra representação da espiral do conhecimento. O processo de Externalização é a chave para a criação do conhecimento, pois é ele quem cria conceitos novos e explícitos a partir do conhecimento tácito. O processo de Externalização trilha um caminho que passa pela noção de metáfora, analogia e, finalmente, modelo lógico. A seguir, são apresentadas cinco condições que favorecem a execução dos processos da espiral do conhecimento (SECI). Condição 1: Intenção Organizacional Relacionada à estratégia corporativa, a empresa deve elevar o comprometimento dos funcionários, querer e bancar as condições que favoreçam o novo conhecimento. Um exemplo é quando uma empresa resolve aglutinar áreas para o desenvolvimento de um novo produto. Para isso ela deve estabelecer critérios de
6 julgamento bastante sólidos que serão seguidos por todos. No nível de influência individual sobre os funcionários, a Intenção Organizacional deve dar um sentido coletivo que promova maior comprometimento dos funcionários com a empresa, isso está muito relacionado à Visão e à Missão da empresa, que devem ser conhecidas e orientadoras dos funcionários. Condição 2: Autonomia A Autonomia está relacionada à liberdade de criação e ação dos funcionários. Ao permitir que os funcionários atuem de forma autônoma, aumentam as possibilidades de motivação dos indivíduos, o compartilhamento de informações e a geração de novos conhecimentos. Condição 3: Flutuação e Caos criativo Estão relacionados à interação da organização com o ambiente externo. Os autores Nonaka e Takeuchi apontam a necessidade de um processo contínuo de questionamento e reconsideração das premissas existentes, favorecendo assim o pensamento novo e a criação do conhecimento organizacional. Duvidar de verdades, mergulhar na ambigüidade e procurar ordem a partir do ruído, são exemplos de Flutuação. O Caos está ligado à idéia de crise (queda no desempenho da empresa ou crescimento da concorrência), mas também pode haver uma pseudocrise, evocada na fala dos próprios executivos no sentido de provocar tensão criativa ao propor metas desafiadoras, que é também chamado de caos criativo. Condição 4: Redundância O objetivo da Redundância é facilitar a criação do conceito (lembre-se de que isso ocorre no processo de Externalização). Informações intencionalmente de sobra facilitam a expressão de imagens baseadas no conhecimento tácito. Na esfera da organização, a Redundância permite que os indivíduos invadam o limite funcional de outros, pois ela amplia os canais de comunicação. Um exemplo da abordagem da sobreposição que ilustra a idéia de Redundância ocorre quando um produto é
7 desenvolvido em diferentes departamentos funcionais que trabalham juntos em uma divisão indistinta de tarefas. Outra forma de gerar Redundância ocorre por meio da rotação de funcionários entre departamentos diferentes, por exemplo, RH e Marketing. Informações extras mantidas pelos indivíduos através de diferentes funções ajudam a organização a expandir sua capacidade de criação do conhecimento. Um risco da redundância é o excesso de informação e a queda da eficiência operacional. Condição 5: Variedade A condição Variedade está ligada à necessidade de flexibilizar a rigidez da estrutura das organizações. Todos na organização precisam ter assegurado o acesso rápido à ampla variedade de informações necessárias, percorrendo o mínimo de passos. Uma das idéias de promover a Variedade é por meio de redes eficientes de comunicação. Variedade tem a ver com igual acesso às informações. Outros artifícios são a rotação de pessoal que permite que os funcionários tenham conhecimento multifuncional ou a alteração da própria estrutura da organização. Conceitos Fundamentais Ambiguidade: Significa duplicidade de sentido em uma construção sintática. Um enunciado é ambíguo quando permite mais de uma interpretação. Analogia: É uma relação de equivalência entre duas relações e que destaca o caráter comum de duas coisas diferentes. Brainstorming: Processo que envolve um grupo de pessoas para geração de idéias.
8 Capital humano: Considerado por muitos autores recentes como o principal ativo de uma organização, é normalmente associado ao foco das pessoas pela melhoria contínua, aprendizado e excelência no desempenho. Cultura organizacional: Conjunto de hábitos e crenças compartilhados pelos membros de uma organização. Flutuação: É qualquer perturbação ao estado normal das coisas. Metáfora: No contexto de geração de conhecimento novo, é uma forma um tanto intuitiva que ajuda a disparar a criação de um novo conceito. É uma forma de perceber ou entender uma coisa, imaginando outra simbolicamente, e que serve de inspiração para os desenvolvedores da organização pensarem o novo conceito. Modelo Lógico: No contexto de geração de conhecimento novo, é um protótipo composto por conceitos explícitos que, após amadurecidos, não deve conter contradições e no qual as proposições devem ser expressas em linguagem sistemática e com lógica coerente. Protótipo: É uma representação do produto que está sendo desenvolvido. Pseudocrise: É uma falsa crise. Redundância: Termo que se refere a excesso, repetição excessiva ou pleonasmo. Referência 1) NONAKA, IKUJIRO; TAKEUCHI, HIROTAKA. Gestão do conhecimento. 1ª ed. Rio de Janeiro: Bookman, 2009, v.1.
Existem duas classes de barreiras à criação de conhecimento novo nas empresas: as barreiras individuais e as barreiras organizacionais.
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