APELANTE: ALFA PREVIDÊNCIA E VIDA S/A APELADO: MARIA SHIRLEA PACÍFICO ROSA RELATORA: DES. INÊS DA TRINDADE CHAVES DE MELO

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1 APELANTE: ALFA PREVIDÊNCIA E VIDA S/A APELADO: MARIA SHIRLEA PACÍFICO ROSA RELATORA: DES. INÊS DA TRINDADE CHAVES DE MELO APELAÇÃO CIVEL. INDENIZATÓRIA. CONTRATO DE SEGURO DE VIDA. RECUSA DA SEGURADORA EM PAGAR A INDENIZAÇÃO, SOB ARGUMENTO DE QUE O CONDUTOR ENCONTRAVA-SE SOB EFEITO DE ÁLCOOL. SENTENÇA DE PROCEDENCIA PARCIAL, CONDENANDO A RÉ AO PAGAMENTO DO VALOR DO SEGURO. CLÁUSULA CONTRATUAL DE EXCLUSÃO DE RESPONSABILIDADE. DO CONJUNTO PROBATÓRIO DOS AUTOS, RESTOU DEMONSTRADO O AGRAVAMENTO DO RISCO, NOTADAMENTE, PELO EXAME DE ALCOOLEMIA ÀS FLS. 56, NO SENTIDO DE QUE FORA DETECTADO 3,2 DG/L DE ÁLCOOL POR LITRO DE SANGUE, E LAUDO DO DEPARTAMENTO DE CRIMINALÍSTICA DA SECRETARIA DE POLICIA CIVIL DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO (FLS. 58/75), DESCREVENDO QUE O CONDUTOR DO VEÍCULO SEGURADO, AO PERDER A DIRIGIBILIDADE DO SEU VEÍCULO, OCASIONANDO A ROTAÇÃO DO MESMO, INGRESSOU EM SUA CONTRA-MÃO DE DIREÇÃO, VINDO, ENTÃO, A INTERCEPTAR A TRAJETÓRIA DO OUTRO VEÍCULO, RESTANDO, DESTA FORMA, DEMONSTRADO O NEXO CAUSAL ENTRE O ESTADO DO CONDUTOR E O ACIDENTE. ADEMAIS, DE ACORDO COM O CÓDIGO DE TRANSITO BRASILEIRO, A DIREÇÃO DE VEÍCULOS APÓS O CONSUMO DE ÁLCOOL, EM QUALQUER QUANTIDADE, É TERMINANTEMENTE PROIBIDA, TANTO QUE É FATO GERADOR DE MULTA ADMINISTRATIVA GRAVÍSSIMA E DE PERDA DA CARTEIRA DE HABILITAÇÃO, EM RAZÃO DO AGRAVAMENTO DO RISCO À VIDA DO PRÓPRIO CONDUTOR E ATÉ DE TERCEIROS INOCENTES. LEGÍTIMA A RECUSA DO PAGAMENTO DA INDENIZAÇÃO PELA SEGURADORA CONFORME EXPRESSA PREVISÃO CONTRATUAL. APELAÇÃO QUE SE DÁ PROVIMENTO, PARA REFORMAR A SENTENÇA E JULGAR IMPROCEDENTE O PEDIDO AUTORAL, INVERTENDO-SE OS ÔNUS SUCUMBENCIAIS. Vistos, relatados e discutidos estes autos da Apelação Cível- Processo nº , em que é Apelante ALFA PREVIDÊNCIA E VIDA S/A e Apelada MARIA SHIERLEA PACIFICO ROSA, ACORDAM os Desembargadores que integram a Sexta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por UNANIMIDADE, em PROVER O APELO PARA REFORMAR A SENTENÇA, E JULGAR IMPROCEDENTE O PEDIDO AUTORAL, nos termos do voto da Desembargadora Relatora

2 VOTO Cuida-se de apelação cível contra a sentença de fls.227/233, que julgou parcialmente procedentes os pedidos formulados, na ação de indenizatória, proposta por MARIA SHIRLEA PACÍFICO ROSA, em face da ALFA SEGURADORA S/A E OUTROS. Em suas razões sustenta a Apelante a legitimidade a recusa do pagamento da indenização do seguro de vida, já que o condutor estava sob influência de álcool na condução do veículo, no momento do acidente, o que excluí sua obrigação, conforme cláusula limitativa expressa do seguro da qual é beneficiária a Autora, ora Apelada. Busca, assim, a Ré reforma da sentença com a improcedência dos pedidos autorais. Contrarrazões às fls. 249/254, pugnando pela manutenção da r.sentença, uma vez que não há prova da embriaguez pelo condutor, não sendo a mera ingestão de bebida alcoólica causa suficiente a afastar a responsabilidade da seguradora. É o relatório. O recurso é tempestivo e estão presentes os demais requisitos de admissibilidade. A demanda versa sobre a validade clausula limitativa de risco em contrato de seguro. Não assiste razão ao Apelante. Sustenta a Autora, na inicial, que é beneficiária de contrato de seguro de vida junto à Apelante Plano Pro 14, em nome do Sr. Israel Oliveira Rosa, que faleceu em razão de sinistro ocorrido em 24/12/10, em razão de acidente automobilístico

3 Aduz mesmo após preencher todos os requisitos, com assinaturas, envio de documentos, a seguradora deixou de pagar o prêmio da apólice. A Ré, ora Apelante, sustenta em sua defesa que não houve o pagamento da indenização, porque o segurado teria ingerido bebida alcoólica, sendo legítima a exclusão dos direitos, conforme previsto contratualmente. Não obstante a r.sentença julgou procedente em parte o pedido autoral, com os seguintes fundamentos, in verbis: Pretende a Autora, em síntese, a condenação das Rés ao pagamento de indenização por danos morais decorrentes da recusa de pagamento do seguro de vida de seu falecido marido Israel Oliveira Rosa, além de danos materiais consistente no dobro do valor do seguro de vida deixado pelo segurado. (...) No tocante ao mérito, vê-se que a recusa da Seguradora está fundada no argumento de que foi exonerada do dever de pagar o seguro em decorrência do fato de que o esposo da Autora faleceu em acidente automobilístico no qual conduzia o veículo alcoolizado. Ocorre, entretanto, que a embriaguez somente exonera a seguradora da obrigação de indenização quando for comprovado, pela Seguradora, que a embriaguez foi a causa determinante do acidente. Neste sentido está a reiterada jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, consoante se extrai de alguns de seus precedentes: (...) A Seguradora, 2ª Ré, contudo, não produziu a prova de que o fato de estar o marido da Autora com percentual elevado de álcool por litro de sangue em relação ao permitido pela legislação de trânsito fosse a causa determinante do evento. Na verdade, o laudo de exame em local de acidente do Departamento de Criminalística da Secretaria de Policia Civil do Estado do Espírito Santo (fls. 58/75), consignou que: O veículo SEAT/CORDOBA - UT1 - trafegava pela faixa de tráfego de sentido RJ- Vitória, quando ao passar pelo trecho sob exame, por razão não determinada, seu condutor perdeu sua dirigibilidade, ocasionando a rotação do veículo, ingressando em sua contra-mão de direção, vindo, então, a interceptar a trajetória do veículo MERCEDES BENZ/ATEGO 2425 (...) (fls. 64). Não tendo sido comprovado, por meio de prova idôneo, que o acidente ocorreu por conta da embriaguez do falecido marido da Autora, não poderia a 2ª Ré negar o direito ao pagamento do respectivo seguro. (...) Pelo exposto, JULGO PROCEDENTE, EM PARTE, o pedido em relação à 2ª Ré, para condená-la ao pagamento de do valor do seguro, devidamente corrigido a partir do sinistro e acrescido de juros moratórios de 12% (doze por cento) ao ano, contados da citação por se tratar de ilícito contratual (RSTJ 10/414, 11/422, 17/324, etc.)

4 Inconformada com a r.sentença apela a Seguradora sustentando a correção da recusa do pagamento da indenização, uma vez que o condutor do veículo encontrava-se alcoolizado, o que afastaria os direitos do segurado, conforme expressa cláusula contratual. Na forma do artigo 757 do Código Civil, pelo contrato de seguro, de natureza jurídica bilateral, o segurador se obriga com o segurado, mediante o recebimento do prêmio, a indenizá-lo pela ocorrência do sinistro, resultante de um evento futuro, possível e incerto - risco, previsto no contrato, que se instrumentaliza pela apólice. Assim, diante do contrato de seguro um risco é transferido pelo contratante/segurado para a companhia de seguros, que deve reembolsar os sinistros cobertos, o que se viabiliza pelo princípio do mutualismo, uma vez que a seguradora pulveriza os custos das perdas entre todos os segurados. Com efeito, o contrato de seguro tem o escopo de restabelecer o equilíbrio econômico perturbado, retornando ao status quo ante, na medida que visa restabelecer a situação econômica que se encontrava antes do evento coberto pelo seguro ocorrer, nem mais nem menos. Dentre as várias classificações do contrato de seguro a que aqui se discute é quanto a de Responsabilidade Civil, que se destina à pessoas físicas ou jurídicas que sejam responsáveis civilmente a pagar indenizações por danos causados a terceiros - o beneficiário, conforme a cobertura contratada. Os contratos de seguros são regidos pelos princípios do mutualismo e expressamente pelo Princípio da boa-fé objetiva, na forma do artigo 765 do Código Civil de 2002: Art O segurado e o segurador são obrigados a guardar na conclusão e na execução do contrato, a mais estrita boa-fé e veracidade, tanto a respeito do objeto como das circunstâncias e declarações a ele concernentes

5 A boa-fé objetiva se traduz no dever das partes, no desenvolver de uma relação jurídica, de se comportar com fundamento na confiança que deve existir entre os contratantes, de maneira correta e leal; de acordo com a legítima expectativa gerada, pressupondo o fiel cumprimento do estabelecido. Pois bem. A correspondência trazida pela Ré, Às fls. 211, informa à beneficiária, ora Apelada, que a indenização do seguro não será paga caso o haja agravamento do risco na forma do artigo 768 do CC/02 e ainda pela prática de atos ilícitos pelo segurado, com a seguinte redação, in verbis: São Paulo, 1/ Abril de À Sra. MARIA SHIRLEA PACIFICO ROSA C/C: Assuã Corretora de Seguros Ref.: PROCESSO SINISTRO: e SEGURADO SINISTRADO: ISRAEL OLIVEIRA ROSA CONTRATO PREVIMIL PREVIDENCIA COMPLEMENTAR S/A COBERTURA DE MORTE ACIDENTAL Considerando a documentação encaminhada, procedemos à análise técnica do processo de sinistro em Referência e constatamos que o Segurado faleceu em 24/12/2010, em decorrência de Politraurnatisme - Acidente de Transito. Não obstante ao evento apresentado, informamos sobre a não caracterização da cobertura pleiteada em virtude do evento apresentado estar inserido nos Riscos Excluidos do seguro contratado, de acordo com as Condições Gerais abaixo descritas. DEFINIÇÕES E GLOSSÁRIO DE TERMOS TÉCNICOS À Agravamento do Risco: Circunstâncias ou alterações que aumentam a intensidade e/ou a probabilidade da ocorrência do risco RISCOS EXCLUÍDOS Excluem-se ainda das garantias de indenização Especial de Morte por Acidente, Invalidez Permanente Total ou Parcial por Acidente e Invalidez Permanente Total por Acidente, além dos riscos conceituados no item 13 das Condições Gerais deste seguro: a) Os acidentes ocorridos em conseqüência de: a.3) Prática, por parte do Segurado, de atos ilícitos ou contrários à lei; 24 - INDENIZAÇÃO - 5 -

6 Perda de Direito da Indenização A Seguradora não pagará qualquer indenização com base no presente seguro, caso haja, por parte do Segurado, seus prepostos ou seus beneficiários: d) Agravamento do risco, objeto do contrato, pelo Segurado, conforme dispõe o artigo 768 do Código Civil Brasileiro. NOVO CÓDIGO CIVIL Art. 768, O segurado perderá o direito à garantia se agravar intencionalmente o risco objeto do contrato. A cláusula de exclusão se justifica pelo agravamento do risco que tais situações caracterizam. E aí está o cerne da questão, não se discute que a vítima tenha consumido ou não bebida alcoólica, mas sim que a ingestão da substância e o estado da vítima tenham sido as causas determinantes do acidente. No caso, do conjunto probatório dos autos verifica-se que o condutor do veículo segurado, dirigia após ter ingerido bebida alcoolica, quando, ao perder a dirigibilidade, ocasionando a rotação do veículo, ingressou em sua contra-mão de direção, vindo, então, a interceptar a trajetória do outro veículo, conforme o laudo do Departamento de Criminalística da Secretaria de Policia Civil do Estado do Espírito Santo (fls. 58/75) e do exame de alcoolemia realizado pelo I.M.L., às fls. 56, no sentido de que fora detectado 3,2 dg/l de álcool por litro de sangue, logo, é possível inferir que o acidente decorreu da ingestão da bebida, retirando os reflexos do condutor. Confira-se o trecho abaixo do laudo de criminalística, in verbis: "O veículo SEAT/CORDOBA - UT1 - trafegava pela faixa de tráfego de sentido RJ- Vitória, quando ao passar pelo trecho sob exame, por razão não determinada, seu condutor perdeu sua dirigibilidade, ocasionando a rotação do veículo, ingressando em sua contra-mão de direção, vindo, então, a interceptar a trajetória do veículo MERCEDES BENZ/ATEGO 2425(...) Ademais, de acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, direção de veículos após o consumo de álcool, em qualquer quantidade, que é terminantemente proibida, tanto que é fato gerador de multa administrativa gravíssima e de perda da carteira de habilitação, em razão do agravamento do risco à vida do próprio condutor e até de terceiros inocentes, conforme artigo 165 do CTB, verbis: Art Dirigir sob a - 6 -

7 influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência: Infração - gravíssima; Penalidade - multa (cinco vezes) e suspensão do direito de dirigir por 12 (doze) meses; Medida Administrativa - retenção do veículo até a apresentação de condutor habilitado e recolhimento do documento de habilitação. Com efeito, entendo que restou demonstrado o agravamento do risco, demonstrado o nexo de causal entre o estado do condutor e o acidente. Nesse sentido: CONTRATO DE SEGURO. RECUSA DE COBERTURA. CONDUCAO DE VEICULO AUTOMOTOR SOB A INFLUENCIA DE ALCOOL. AGRAVAMENTO DO RISCO. PROVA SUFICIENTE. IMPROCEDENCIA DO PEDIDO INDENIZATORIO Apelação Cível. Ação de indenização. Contrato de seguro de automóvel. Negativa de cobertura em razão da condução do veículo em notório estado de embriaguez. Boletim de atendimento médico que comprova que o segurado, no momento do acidente, conduzia o veículo sinistrado em visível estado de embriaguez, fato confessado pelo próprio autor na inicial. Invocação de que consumiu pequena quantidade de álcool sem perda de reflexos que não tem o condão de impor o cumprimento da cobertura securitária. Direção de veículos após o consumo de álcool, em qualquer quantidade, que é terminantemente proibida, tanto que é fato gerador de multa administrativa gravíssima e de perda da carteira de habilitação, em razão do agravamento do risco à vida do próprio condutor e até de terceiros inocentes. Desnecessidade de aferição da quantidade de álcool por exame específico, já que o estado de embriaguez foi percebido pela equipe do nosocômio onde o autor foi socorrido. Prova suficiente para subsidiar a tese da seguradora de agravamento do risco. Negativa de cobertura securitária legítima e conforme disposto na apólice acostada pelo próprio segurado, na cláusula 30.3 alínea f. Disposição contratual que não impõe a realização de teste específico para a constatação do consumo de álcool, sendo a prova colacionada aos autos e a confissão do segurado suficientes para a exclusão da cobertura e a perda do direito à indenização. Precedente deste Tribunal neste sentido. Provimento do 1º recurso, para julgar improcedente o pedido, invertidos os ônus sucumbenciais, observado o art. 12 da Lei nº 1.060/50, restando - 7 -

8 prejudicado o 2º recurso APELACAO - DES. GILBERTO DUTRA MOREIRA - Julgamento: 12/12/ DECIMA CAMARA CIVEL DIREITO CIVIL. Seguro de vida. Ação proposta por beneficiária de seguro de vida em face de seguradora a buscar sua condenação a pagar indenização securitária por morte do filho, falecido em acidente viário no qual se envolveu ao conduzir motocicleta, bem assim a reparar dano moral decorrente da recusa. Sentença de improcedência. 1. São lícitas as cláusulas de seguro de vida que excluem cobertura caso o sinistro decorra de acidente viário em que o segurado conduza veículo automotor sem habilitação e/ou alcoolizado.2. Restando induvidoso que o segurado, além de conduzir sem habilitação, tinha alcoolemia de 1,55g de álcool por litro de sangue, o que notoriamente implica embriaguez, sendo 258,33% superior ao limite mínimo de tal quadro, segundo o art. 276 do CTB, na redação vigente na data, nenhuma ilicitude há na recusa da seguradora.3. Nas circunstâncias, não há dano moral indenizável.4. Recurso ao qual se nega seguimento na forma do art. 557, caput, do CPC APELACAO - DES. FERNANDO FOCH LEMOS - Julgamento: 28/10/ TERCEIRA CAMARA CIVEL Dessa forma, não há como se manter a r.sentença, devendo ser afastada a responsabilidade contratual da seguradora pelo pagamento da respectiva indenização securitária. Pelo exposto, VOTO PELO PROVIMENTO AO RECURSO, PARA REFORMAR A R.SENTENÇA E JULGAR IMPROCEDENTE O PEDIDO AUTORAL, INVERTENDO-SE OS ÔNUS SUCUMBENCIAIS. Rio de Janeiro, 13 de agosto de DES. INÊS DA TRINDADE CHAVES DE MELO Relatora - 8 -