Entrevista: Consultor Jean-Yves Carfatan

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1 Informativo da Associação Novilho Precoce/MS - Edição 13 - ABRIL/MAIO/JUNHO 2009 Associação reúne elos da cadeia e fala sobre desafios AINDA NESTA EDIÇÃO: PECUÁRIA BOVINA - A carne sem pecado ambiental PÁG 2 Entrevista: Consultor Jean-Yves Carfatan PÁG 5 Produtor, frigorífico, varejo, trading e analista de mercado estiveram reunidos em um mesmo evento para discutir a Cadeia Produtiva da Carne Bovina: da Produção a Comercialização. O encontro aconteceu em maio passado, na Capital, e proporcionou uma discussão conjunta sobre os desafios da cadeia tendo como desfecho a produção de um documento já entregue a instituições de classe e também ao governo do Estado de modo a contribuir na tomada de decisões por parte destes. Matéria completa nas páginas 3 e 4.

2 02 EDITORIAL EXPEDIENTE PRESIDENTE Nedson Rodrigues Pereira VICE-PRESIDENTE Alexandre Scaff Raffi SECRETÁRIO GERAL Celso Pess Júnior TESOUREIRO Carlos Alberto Baldasso VICE-TESOUREIRO José Carlos Franco de Souza Caros associados e produtores rurais, Fala-se muito de como o mundo vem evoluindo e em uma velocidade muito alta, tão alta que às vezes nos assustamos com tantas mudanças. Uma determinada novidade de hoje pode em um prazo muito curta já se tornar obsoleta, ou ser substituída por coisa melhor. Junto com essa evolução vêem as exigências do mercado consumidor, e é sobre isso que vou comentar neste momento. Até o ano passado, os nossos clientes (frigoríficos e varejo) pouco se preocupavam com a classe produtora, pois sempre tiveram o produto que necessitavam sem ter que fazer muito esforço. Sentimos isso na pele sempre que buscávamos conversar com esses dois outros elos (exceção apenas do grupo Carrefour a qual mantemos uma parceria desde o ano 2000 ), e nunca conseguia avançar em nenhuma negociação. Porém, não sei se pela crise, ou pela falta de bois, ou pelas exigências do consumidor e ONGs, nos últimos tempos todas as empresas estão mostrando vontade de conversar e formar parcerias com a classe produtora, exemplo disto são os diversos programas e projetos que as empresas têm lançado, ou pretendem lançar, como marcas próprias, parcerias com empresas de outro ramo a fim de assegurar qualidade do produto, e outros. Amigos produtores só quero lembrá-los que quem exige tem que pagar. Por exemplo, quando vamos comprar um carro, e queremos com air-bag, DVD, ar condicionado, ou qualquer outro item opcional, pagamos mais por eles, e assim tem que ser com a carne. Se temos que fazer rastreabilidade, cuidar do meio ambiente, garantir procedência, bons tratos aos animais, sistema de produção sustentável, entregar novilhos jovens, bem acabados e sadios, garantindo assim a segurança alimentar, então isso tem que ter um preço. Na minha opinião, temos sim de trabalhar para atender essas exigências e garantir ao mercado um produto de qualidade, mas temos de nos organizar e nos unir, para sermos melhor remunerados por todo este trabalho. Como prova que as coisas estão mudando, conseguimos fechar uma parceria com o frigorífico Bertin, e também estamos participando de um projeto de marca própria do grupo Carrefour, onde a marca da Associação Novilho Precoce MS estará na etiqueta dos cortes de carne, comprovando a procedência desta carne, além disso, outras empresas inclusive do exterior, tem nos procurado tentando achar uma forma de fazer algum trabalho em conjunto. Vamos trabalhar, mas com o cuidado para não ficarmos só com o trabalho e o lucro ir para as mãos de outros. Os negócios só são bons e duradouros quando todos ganham. Um abraço e bom trabalho a todos. NEDSON RODRIGUES PEREIRA Presidente Assoc. Novilho Precoce MS DIRETOR TÉCNICO Antônio João de Almeida DIRETOR DE MARKETING Ezequiel Rodrigues do Valle JORNALISTA RESPONSÁVEL Cristiane Nantes Sandim - DRT 003/MS CRIAÇÃO E ARTE A3DIGITAL.COM.BR - (67) ENDEREÇO Av. Mato Grosso n. 942 Campo Grande/MS CEP Prezado Leitor, mande sua opinião, sugestão e/ou artigos para o novilho@terra.com.br ou entre em contato pelo telefone (67) Acesse o nosso site: ARTIGO PECUÁRIA BOVINA A carne sem pecado ambiental ROBERTO GIANETTI DA FONSECA* Creio que a maioria das pessoas não tem uma noção da dimensão da cadeia produtiva da Pecuária bovina no Brasil: com um rebanho de aproximadamente 198 milhões de cabeças dito o maior rebanho comercial do mundo, responsável por cerca de 8% do PIB, além de exportações de carne e couro que conjuntamente em 2008 superaram a cifra de US$ 8,5 bilhões ela é de importância capital para a economia nacional. Talvez por conta desse inequívoco sucesso do setor, hoje em dia são a pecuária bovina e a indústria de abate e processamento da carne que sofrem as maiores pressões por conta da sustentabilidade socioambiental. De fato, o vertiginoso crescimento desse setor nos últimos anos se deu de forma desorganizada, prevalecendo em larga escala a produção informal, seja na pecuária, seja na indústria de abate; e também em passado não muito distante não havia no País a menor preocupação ambiental, haja vista que até os anos 1980 ainda se ofereciam benefícios fiscais e financeiros para a expansão da pecuária bovina em estados das Regiões Centro-Oeste e Amazônica. Portanto, é mais do que hora de promover a sua estruturação em bases sustentáveis, de acordo com a legislação socioambiental em vigor. Isso pelo menos é o que deseja a indústria organizada e moderna da carne bovina, pela ação estratégica da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec). A recente campanha de demonização do setor que vem sendo irresponsavelmente promovida por ONGs sensacionalistas e por alguns jornalistas com viés ideológico não apresenta nenhuma solução inteligente para o futuro, que combine o necessário aumento da produção de alimentos e o objetivo comum a todos brasileiros de preservação do meio ambiente, especialmente referindo-se à floresta amazônica. Não reconheço nessas ONGs nenhuma autoridade moral para tratar o assunto ambiental dessa forma que vem ocorrendo, pois a preocupação sobre este tema não é sua exclusividade. Passar fome no meio de um jardim botânico não me parece que seja um cenário desejável para cerca de 30 milhões brasileiros que hoje habitam aquela extensa e pobre região do País. Na vida não é proibido errar. O que deveria, sim, ser proibido é mentir. Basta da hipocrisia dessas ONGs estrangeiras que por aí circulam impunemente no nosso país e vamos direto aos fatos e dados que interessam à população brasileira em geral. As atividades de cria, recria e engorda de gado de corte ocupam cerca de 172 milhões de hectares do território brasileiro, principalmente nas Regiões Sudeste e Centro-Oeste, onde se concentram ao redor de 106,7 milhões de cabeças, ou seja, cerca de 53,9% do rebanho total. Na Região Norte/Amazônica encontram-se cerca de 38,5 milhões de cabeças (19,4% do total), distribuídas por mais de 500 mil propriedades de grande, médio e pequeno porte, com forte concentração no sul do Pará e em Rondônia. Portanto, para implantar um confiável sistema de rastreamento ambiental nessa região, primeiramente, deve-se regularizar a estrutura fundiária, ainda caótica. Há dois índices de produtividade setorial no Brasil que ainda são muito ruins: a taxa de suporte de cabeças por hectare, cuja média nacional é de apenas 1,15 cabeça por hectare, por causa da predominância da criação extensiva em pastagens naturais de baixa qualidade; e a taxa de desfrute, que se refere ao número de abates sobre o rebanho total, que no caso do Brasil é de pouco mais de 22%, ou seja, cerca de 44 milhões de cabeças abatidas por ano, diante de um rebanho de 198 milhões. Especialistas no tema indicam que se houvesse no futuro próximo um adequado investimento público e privado em diversas frentes, poderíamos no período de uma década aumentar a taxa de suporte para até 1,5 cabeça por hectare e a taxa de desfrute, para algo ao redor de 30%. Isso significa que o Brasil poderia vir a abater em 2020 cerca de 75 milhões de cabeças por ano, com um rebanho de 250 milhões, sem que fosse necessária a expansão adicional de sequer um hectare de terra, ou até ao contrário, poder-se-iam disponibilizar áreas de pastagens degradadas na própria Região Amazônica, até mesmo para a recuperação ambiental. Para enfrentar esses enormes desafios é preciso que haja uma ação articulada em todos os elos da cadeia produtiva, do pecuarista ao varejo, com a efetiva participação da sociedade civil por meio de associações de classe. Somente pelo diálogo racional será possível a construção de soluções efetivas e duradouras, que venham no futuro confirmar a posição brasileira de potência ambiental e de maior produtora e exportadora de alimentos no mundo. Que venha logo a boa crítica, para nos ajudar a cumprir essa difícil missão. *Economista e empresário, é presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne ABIEC/Trecho do artigo publicado no Jornal O Estado de São Paulo

3 REPORTAGEM ESPECIAL Associação reúne elos da ca 03 Produtor, frigorífico, varejo, trading e analista de mercado estiveram reunidos em um mesmo evento para discutir a Cadeia Produtiva da Carne Bovina: da Produção a Comercialização. O encontro aconteceu em maio passado, na Capital, e proporcionou uma discussão conjunta sobre os desafios da cadeia tendo como desfecho a produção de um documento já entregue a instituições de classe e também ao governo do Estado de modo a contribuir na tomada de decisões por parte destes. A iniciativa foi reconhecida pelo público presente sendo também destacada na fala das autoridades que participaram do evento, a exemplo do discurso da secretária de Produção (Seprotur), que ressaltou a importância das associações de produtores em desenvolver e vencer os desafios da produção. Dentre os importantes avanços obtidos pelos representantes, Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias destacou o empenho da Novilho Precoce MS em harmonizar o relacionamento entre a indústria e o varejo. Vivemos um novo momento, precisamos de novas idéias, a pecuária precisa mudar, e a Associação mostra que é possível ir além, elogiou. O presidente da Federação da Agricultura no Estado (Famasul), Ademar da Silva Junior, também lembrou da importância do trabalho conjunto, principalmente nas negociações com as empresas que enfrentam dificuldades no setor, e, elogiou a ação inédita da associação em recuperar o prejuízo de produtores junto a um frigorífico do Estado. A Novilho Precoce trilha o caminho que o agronegócio de Mato Grosso do Sul tem que trilhar, concluiu. Entre os assuntos discutidos dentro do tema proposto pelo evento, os participantes acompanharam palestras com o Professor do Departamento de Economia da ESALQ/USP, Sérgio De Zen, que discorreu sobre Entendendo a Cadeia Produtiva da Carne: Problemas e Soluções ; o Diretor Nacional de Açougue da Rede Carrefour, Luiz Carlos Paschoal, falou sobre O Varejista na Cadeia Produtiva da Carne ; o Presidente da Novilho Precoce MS, Nedson Rodrigues, transmitiu a A Visão do Produtor na Cadeia Produtiva e suas Sugestões ; já os Gerentes de Compras Contratuais e de Derivativos Agropecuários do Frigorífico Bertin, Cristiano Botelho e Celso Affonso Filho (respectivamente), esclareceram O Papel do Frigorífico na Cadeia Produtiva como Elo de ligação Entre Produtor e Consumidor Final. O seminário fechou as discussões com o Representante da Trading Vion no Brasil, Paulo Gustavo Schmitz, palestrando sobre o Mercado Europeu: Oportunidades e Ameaças. O evento contou com a parceria do Grupo Carrefour e dos frigoríficos Bertin, Peri Alimentos e Navicarnes, e também com o apoio do Governo do Estado, através da Seprotur, Embrapa Gado de Corte, Alvorada Produtos Agropecuários, Sementes Ponto Alto, Suplementar Nutrição Animal, Granos Corretora de Commodities Agrícolas e Hotel Exceler. Abertura com o Presidente da Novilho Precoce MS, Nedson Rodrigues Pereira Presidente da Famasul, Ademar Silva Júnior Secretária de Estado (Seprotur), Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias Sérgio De Zen, Professor do Departamento de Economia da ESALQ/USP Luiz Carlos Paschoal, Diretor Nacional de Açougue da Rede CarrefouR Cristiano Botelho, Gerente de Compras Contratuais do Frigorífico Bertin

4 04 deia e fala sobre desafios Associação propõe alternativas ao setor Juntamente com os cerca de 200 participantes do seminário a Novilho Precoce MS discutiu sobre os entraves que dificultam a comercialização do produto pecuário e pontuou em um documento as possíveis alternativas para contornar os gargalos do setor. Com o intuito de contribuir na tomada de decisões por parte da política pública estadual, o documento discorre sobre três temas específicos com propósitos para o setor, sendo estes: 1 Garantias financeiras dos frigoríficos (Criação de condições que obriguem os frigoríficos a oferecer garantias reais de pagamento dos animais por eles comprados para abate, em apoio ao movimento de venda à vista; Obrigação dos frigoríficos apresentarem um balanço público,que mostre a transparência de suas contas; Fiscalização rigorosa dos governos nas indústrias); 2 Procedimentos para evitar abusos da indústria no abate (Criar uma legislação específica proibindo ou limitando que certos setores industriais frigoríficos/supermercados tenham produção Entrega do documento ao SEPROTUR própria; Implementação da lei para tipificação de carcaça bovina com o objetivo de forçar os frigoríficos a pagarem ao pecuarista pela qualidade da mesma; Ação junto ao ministério da agricultura e pecuária solicitando a exigência de padronização de abate em todas as indústrias) e 3 Marketing da carne bovina (Recolhimento de uma taxa simbólica por cabeça de gado abatida sendo que este valor seja dividido entre os elos da cadeia com o objetivo de aplicação dos recursos em marketing da carne bovina; Outra sugestão é o de conseguir junto à Confederação Nacional da Agricultura - CNA, uma percentagem do valor arrecadado com a contribuição sindical para ser investido em marketing; por fim, também houve a sugestão de que fosse destinado ao marketing da carne bovina estadual um percentual do valor arrecadado do pecuarista pelo FUNDERSUL). Segundo o presidente da Associação, Nedson Rodrigues, é importante trocar conhecimento entre os elos, assim poderemos propor soluções que possam trazer benefícios e melhorar a organização da cadeia da carne. O documento na íntegra está disponível no site Paulo Gustavo Schmitz, Representante da Trading Vion no Brasil Cortes de Novilho Precoce - Produto Garantia de Origem Carrefour Churrasco de Novilho Precoce, produto Sul-Mato-Grossense Hora do almoço - degustação de carne de Novilho Precoce MS

5 FIQUE POR DENTRO Novilho Precoce fecha novas parcerias durante Feicorte A diretoria da Novilho Precoce MS esteve em São Paulo, em junho passado, onde participou da 15ª Feicorte, maior evento indoor da categoria. Durante dois dias, além visitar os estandes os diretores mantiveram contato com representantes do Grupo Bertin e cumpriram agenda com o Grupo Carrefour. A boa notícia é que com ambos os grupos foram fechadas novas parcerias, ampliando assim as estratégias de comercialização dos associados a Novilho Precoce MS. No caso do Carrefour, com quem a Novilho Precoce MS participa do Programa Garantia de Origem (G.O), a parceria foi ampliada para uma nova linha de produtos que o Grupo irá lançar no mercado: a linha Selecion, sendo um dos produtos Seleção Novilho Precoce MS Mato Grosso do Sul. Já a parceria com o Grupo Bertin, visa por parte deste assegurar o fornecimento de carne no padrão específico para cada mercado, o que eles definem como novo conceito. Agora, precisamos dar um passo adiante: firmar contratos com padrões de animais pré-definidos, de forma que possamos programar a produção por mercados. É com esse objetivo que estamos negociando com a Novilho Precoce-MS. Queremos comprar carne e não boi., disse o gerente de compras contratuais do Bertin Cristiano Botelho em entrevista a Revista DBO (edição n.º 344/junho). A primeira escala com o novo parceiro aconteceu no dia 3 de julho, com o abate de 689 animais na unidade Bertin da Capital. O contrato de compra e venda de bovinos prevê um abate anual de 65 mil animais incluindo um diferencial para os animais provenientes de propriedades habilitadas para exportação à União Européia (constando na lista Trace). Palestra destaca Associação como case de sucesso A pecuária de corte passa por uma necessidade contínua de aperfeiçoamento. Por estar atenta a esse cenário a Novilho Precoce MS foi convidada a participar do Workshop Pecuária Sustentável, onde palestrou sobre sua experiência, destacando a união dos produtores com foco em um objetivo comum: a qualidade dos animais como indutor de alianças mercadológicas. Promovido pelo portal BeefPoint, o evento aconteceu em 16 de julho, em São Paulo. Com formato inovador, reuniu 16 palestras rápidas com cada palestrante indo direto ao ponto e apresentando o que há de mais relevante sobre seus temas. Entre os assuntos foram abordados: os exemplos positivos que a pecuária nacional já tem para apresentar; sustentabilidade na cadeia; como lucrar mais, vendendo produtos diferenciados para consumidores exigentes; entre outros. Veja a reportagem completa na próxima edição do Informativo Novilho Precoce. Mapa autoriza projeto inédito de rastreabilidade em MS Blindar definitivamente a sanidade animal de Mato Grosso do Sul sem ônus para os produtores é o cerne da proposta de rastreabilidade bovina do Governo do Estado e que recebeu aval do Ministro da Agricultura (Mapa), Reinhold Stephanes, em audiência no mês de maio em Brasília. A informação foi anunciada pela secretária Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias (Seprotur), durante o I Encontro Novilho Precoce MS. Tereza adiantou que um grupo multidisciplinar para a implementação experimental da proposta será montado e contará com a participação da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), SFA/MS (Superintendência Federal de Agricultura do Estado), Iagro (Agência Estadual de Sanidade Animal e Vegetal), Famasul (Federação de Agricultura e Pecuária do Estado), Sindicatos Rurais, Universidades e entidades de classe. Vamos discutir democraticamente todos os pontos desta proposta e temos pressa em que isso ocorra o quanto antes, enfatizou. ENTREVISTA 05 Jean-Yves Carfatan Religiosamente as Organizações Não Governamentais (ONG s) vem pressionando, através da imprensa, a cadeia produtiva da pecuária brasileira por conta da sustentabilidade socioambiental da atividade. Entre as acusações e cobranças essas instituições exigem, por exemplo, um confiável sistema de rastreamento ambiental. Conhecedor da demanda mundial por alimentos, em especial a carne bovina, o consultor Jean-Yves Carfatan fala sobre o assunto em entrevista ao Informativo Novilho Precoce MS. 1 O Mercado Europeu é extremamente exigente. Qual a percepção que eles têm do Brasil na atual circunstância, quando as ONG s mais do que expõem as fragilidades da atividade agropecuária nacional? Qual é o peso das considerações de uma ONG para o consumidor europeu? O consumidor europeu tem hoje em dia uma visão bastante polêmica do agronegócio brasileiro em geral e do setor da pecuária especificamente. Nos últimos quatro anos, as noticias que foram transmitidas lá não ajudaram os consumidores a terem uma visão positiva: volta da febre aftosa, boicote à carne brasileira, dificuldades de implementação de um dispositivo de rastreabilidade, desmatamento, trabalho escravo, etc. O que me parece preocupante é o seguinte: o discurso das ONG s tem um enorme impacto e os profissionais brasileiros estão deixando a essas ONG s o quase monopólio da comunicação sobre o agronegócio nacional. Enquanto não houver uma iniciativa e um investimento na criação de uma central de informação feito por profissionais brasileiros, não vejo como mudar essa percepção que os consumidores europeus têm. 2 Nossos importadores em geral têm a preocupação com a procedência e qualidade dos produtos que consomem. São atentos aos impactos da produção no meio ambiente, por exemplo. Quais seriam outros fatores que poderiam comprometer o produto brasileiro? Uma coisa me parece essencial hoje: estabelecer um canal de comunicação entre as grandes empresas varejistas internacionais e o agronegócio brasileiro. Pois se existe uma ameaça a curto ou médio prazo, ela pode vir de decisões estratégicas tomadas por essas empresas. Todas elas anunciaram nos últimos anos que o tema da sustentabilidade ia se tornar um eixo essencial da estratégia delas. Os grandes varejistas estão mudando completamente a sua postura em relação a temáticas como a da preservação ambiental, a do comércio justo (fair trade). Se o agronegócio brasileiro e a pecuária, em particular, quiserem conquistar novos mercados e reconquistar os mercados perdidos, devem estabelecer um canal de comunicação com as grandes empresas varejistas. Se não criarem uma nova parceria com essas empresas, existe sim o risco de varias regiões do Brasil sofrerem grandes prejuízos devido ao fechamento de mercados importantes. 3 É possível cumprir a missão de conciliar a posição brasileira de potência ambiental e de maior produtora e exportadora de alimentos no mundo? Acho que se a gente esperar até todos os elos da cadeia produtiva da pecuária se reunirem, existe o risco de a gente perder o bonde que esta passando. Acho que a prioridade é reunirmos todas as pessoas e entidades efetivamente comprometidas com o objetivo de sustentabilidade. Já existem experiência no Brasil que mostram que ao adotar regras de sustentabilidade consegue-se melhorar a rentabilidade econômica da atividade. Existem experiências que mostram que as mesmas iniciativas que visam melhorar a qualidade das pastagens levam também a uma diminuição das emissões de metano pelo rebanho. Se todas as entidades comprometidas com a temática da sustentabilidade conseguissem intensificar a troca de experiências e ampliar a escala do seu trabalho, isso contribuiria com certeza a mostrar que não existe incompatibilidade entre os dois objetivos. A incompatibilidade pode sim continuar existindo nas nossas cabeças. Por isso a necessidade de informar, comunicar, explicar. 4 Por fim, qual é a sua boa crítica de todo esse cenário? Acho que o positivo em tudo isso é que o agronegócio brasileiro tem doravante a obrigação de prestar atenção ao que esta acontecendo fora. Se quiser conquistar o mundo, precisa prestar atenção ao mundo e não se limitar a cuidar de assuntos locais, de polêmicas entre integrantes da mesma região. Essa mudança é fundamental para o futuro. Tenho a certeza de que o agronegócio brasileiro e a pecuária em especial podem tirar grandes benefícios dessa abertura. Mas vale a pena repetir: o bonde da historia esta passando agora. A causa da sustentabilidade veio para ficar. E é agora que o mercado começa a selecionar os produtores e as cadeias comprometidas com esse objetivo. Enquanto consultor, estou à disposição dos profissionais brasileiros para entrar mais a fundo nessas questões e ajudar na criação de novas parcerias com o mundo do varejo.

6 06 Suplementação Animal KLAUSS MACHARETh* Nos sistemas de produção da fazenda, a raça e o manejo alimentar que vão garantir o grau de acabamento das carcaças são os principais fatores que influenciam na qualidade da carne. A menor idade e o melhor acabamento ao abate estão relacionados à precocidade da raça e ao manejo alimentar que o animal recebe. A deposição de gordura no corpo do bovino é o que vai dar o acabamento de carcaça. A gordura de cobertura e marmoreio, são importantes para conferir um acabamento adequado, em termos de resfriamento da carcaça e sabor da carne. Uma estratégia de suplementação adequada é aquela que objetiva maximizar a produção de carne fornecendo os nutrientes que permitirão ao animal melhorar a produção de proteína microbiana no rúmen, conseqüentemente aumentar a população de microorganismos e a digestibilidade das fibras, resultando no aumento da ingestão total de matéria seca (MS). No intuito de maximizar o desempenho de bovinos a pasto, deve-se pensar não só na suplementação durante o período seco, mas também durante o período de transição secas-águas e até nas águas, época de maior crescimento forrageiro. O maior problema no período da seca é o baixo desempenho dos bovinos em pastejo, resultado de uma pastagem de baixo valor nutricional. Os animais não recuperam a condição corporal necessária para manter o ciclo reprodutivo e apresentam baixas taxas de ganho de peso. O baixo teor de proteína é o fator limitante das pastagens nessa época do ano, e sua correção, normalmente, resulta em aumento no consumo e digestibilidade da pastagem. O sucesso da suplementação mineral depende tanto do equilíbrio e boa qualidade da mistura que vai ser fornecida quanto do consumo estar dentro da faixa esperada. O objetivo das misturas minerais protéicas energéticas é estimular o consumo dos pastos secos, através do fornecimento de níveis adequados de proteína e energia para a flora ruminal, e não, o atendimento das exigências nutricionais dos animais. Para que o programa de suplementação na seca seja técnica e economicamente viável, é imprescindível a disponibilidade de forragem. Este tipo de manejo nutricional, não só resulta na redução da idade de abate, como também no aumento do desfrute do rebanho e na melhoria da eficiência do empreendimento, com maior giro de capital. Dentro deste contexto, a suplementação a pasto tem se mostrado uma alternativa técnica economicamente viável, para melhorar o desempenho dos animais possibilitando dessa forma a produção de novilho precoce. *Veterinário e assistente técnico Novilho Precoce MS